Greater Good — Interativa escrita por Excelsior


Capítulo 5
IV. ❝The Beginning of the End




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CHAPTER IVThe Beginning of the End

ANTES

— Por favor.

Ela continuou andando a passos largos, encarando a frente com o queixo erguido e os ombros para trás, uma sombra de determinação brilhando nos olhos azuis, ignorando completamente o fiel companheiro, que fazia o máximo para acompanhá-la — e enfiar algum senso em seu cabeça.

— Uma vez na sua vida. Uma vez na vida. É tudo que peço. Me escute.

Ela não escutou.

Ele soltou um grunhido exasperado, e como última alternativa, segurou seu braço, fazendo com que parasse em meio a caminhada.

Quando o encarou, contragosto, seus olhos ferviam.

— Me solte. — ordenou.

— Não antes de colocar algum senso na sua cabeça! — ele também fervia. Borbulhava. — Coloque a mão na consciência. Skyhaven não pode ajudá-la. Ou a Ronan. Está acabado. A esta hora…

— Não. — com um puxão brusco, se libertou do aperto do homem antes que ele pudesse prosseguir. — Eu não quero a ajuda de Skyhaven, eu quero meu irmão.

Uma risada incrédula.

Cassian? O que diabos Cassian poderia fazer contra milhares de homens armados e um palácio cercado? A Irlanda está perdida.

Helena lançou um olhar para a porta aberta no fim do corredor. Quando voltou a encará-lo, seus olhos haviam se acalmado, como uma tempestade apaziguada. Ela fazia muito isso. Às vezes se perguntava para onde ia todo aquele turbilhão.

— Eu sei o que estou fazendo, Lucy, — sua voz era cautelosa, mas forte. Olhou dentro de seus olhos como apenas ela conseguia fazer. — Confie em mim.

Ele engoliu em seco, sentindo-se desolado por dentro. Desolado porque jamais conseguiria dizer não a ela, não quando ela assumia aquela postura, quando olhava dentro de seus olhos e mostrava a ele que era sua soberana, sem precisar dizer nada.

Sem mais uma palavra, a seguiu para fora. Cruzaram o portal para dar de cara com o enorme pátio, onde uma pequena aeronave a esperava.

— Você vem? — perguntou, oferecendo a ele sua mão e um sorriso no canto dos lábios, desafiadora. — Ou está cansado de me seguir por aí?

Ele pegou, soltando um suspiro derrotado, e entrelaçou os dedos nos dela.

— Eu te seguiria até o fim do mundo, Helena Schreave.

E foi o que fez.

TEMPOS ATUAIS

Rowan passou o pulso pelo sensor infravermelho do balcão e retirou o copo de café das mãos de uma atendente mal-humorada.

Não hesitou em deixar o estabelecimento do mesmo modo como entrara: silenciosa e furtivamente, mergulhada nos próprios pensamentos. O restante do mundo que a perdoasse, mas todos os dias Rowan agradecia silenciosamente a falta de interação humana que a tecnologia propiciava. Podia fazer o trajeto inteiro de seu apartamento até o prédio do The Illean Times sem ter que lidar com gente impaciente e grosseira — e isso era uma bênção. Se havia algo que aquela cidade não carecia às sete da manhã, num dia particularmente chuvoso, era de gente pronta para liberar sua fúria contra o primeiro azarado desavisado.

Molhou os lábios no café quente e puro, saboreando o cheiro por alguns momentos. Acima de si, a cidade tão nublada que cobria desde plataformas aéreas até o topo dos prédios mais baixos foi o que a motivou a deixar o carro na garagem e fazer o curto percurso até o trabalho nos meios menos convenientes. Isto, e o fato de que não havia levado o carro para o apartamento de Lorcan na noite passada.

E pelo movimento nas ruas, parecia que quase a cidade inteira havia decidido fazer o mesmo — deixar o carro na garagem, não dormir no apartamento de Lorcan.

Balançou a cabeça e tomou outra golada de café. Decidiu que gostava de andar, que tornava seus pensamentos mais claros. Tentou desviá-los da temida bomba-relógio que era seu amante e focar em outra coisa. Qualquer coisa.

Os ataques.

Na rua, pequenos estandes mostravam pequenas projeções holográficas do atentado da semana passada — ainda um tópico polêmico e assustador entre os illeanos. 46 mortos, 26 feridos. Rowan havia escrito um artigo inteirinho sobre ele, mas foi interceptado pela editora chefe do jornal, pois era “um dedo na ferida que o povo de Illéa não precisa num momento tão delicado, de tanta dor e terror”. E isso veio de Barbara Hastings, a mulher que incentivava o criticismo ácido de Rowan como oxigênio incentiva o fogo.

Aparentemente, era hora de se compadecer pelas vítimas, aliar forças e combater os terroristas. Havia uma certa linha que não podia ser ultrapassada pelo jornalismo profissional, e essa era geralmente a exploração de tragédias. Mas havia certos pontos que não podiam ser ignorados, como o fato dos ataques terem se dado no mesmo dia da coroação de Cassian Schreave, e os terroristas terem sido imediatamente levados pelas forças armadas, que se recusou a dizer mais que o discurso padrão do exército para qualquer ocasião: “está tudo sob controle”.

Alguém deveria bordar a frase nos uniformes deles.

Isso não mudava o fato de que qualquer jornalista investigativo com algum senso daria a alma pela chance de conseguir uma entrevista com um deles. Rowan Goselyn daria muito mais que apenas a alma.

Atravessou a rua em passos largos e adentrou o enorme prédio dedicado exclusivamente à imprensa. Correu para o elevador e tolerou os excruciantes minutos de música-ambiente até o último andar. Existem carros voadores e cidades no espaço, mas ainda somos incapazes de criar elevadores rápidos — ou música de elevador que preste. Francamente.

Antes que pudesse escrever todo um artigo sobre o tema na cabeça, as portas se abriram, uma voz horrível anunciou o piso e ela saiu. Imediatamente, foi recepcionada pelo agradável e familiar cheiro de tinta fresca e caos intelectual; Gente falando nos telefones, buscando pelo próximo furo de imprensa, gente reclamando, gente discutindo.

Estava em seu ambiente natural.

Deu mais um gole no café atravessou a sala central. Felizmente, seus dias de cubículos apertados eram coisa do passado; Rowan tinha sua própria sala com vista e uma parede que exibia, orgulhosa, seus grandes feitos, —  diplomas, premiações e matérias emolduradas. O único ponto negativo…

— Yale! — viu uma cabeleira loira pular do próprio escritório, lado-a-lado com o seu.

Falando no demônio…

— Bom dia pra você também, Michael.

— Está atrasada. — Ele constatou, seguindo-a para dentro da sala, onde os sons externos foram quase todos abafados.

— Não sabia que tinha que bater ponto pra você. — Respondeu, tirando o casaco de cashmere e cobrindo o encosto da cadeira com ele. Olhou para o colega, que continuava no centro da sala com um sorrisinho no rosto, e suspirou pesadamente. — Você não tem nada mais importante para fazer, tipo atormentar modelos anoréxicas e se esconder atrás de arbustos?

Ele não pareceu muito afetado pelo tom dela. Simplesmente se sentou em uma das cadeiras dispostas em frente a mesa dela e cruzou os dedos.

— Acho que você se beneficiaria em me ter como amigo nesse exato momento, Row-Row. E não é uma boa ideia insultar amigos.

Amigos? — ela riu, e pressionou a palma na mesa para despertar o sistema desligado do computador. — Certo. O que quer?

— A pergunta é: o que eu posso te dar.

— Corta essa, Vizsl. Vá direto ao assunto.

O rosto dele se iluminou como o de uma criança que acorda na manhã de natal.

— Ah! Você não sabe.

Ela odiava não saber. Mas ergueu as sobrancelhas. Michael se recostou na cadeira com um sorrisinho triunfante no rosto.

— Você é uma escritora de Pulitzers, Rowan Goselyn. Espera-se que leia as manchetes do jornal da manhã. Ou assista a elas, — ele atirou uma noz para o alto e a recuperou com a boca.

Aquilo a irritava. Ela lia as manchetes diárias quase religiosamente, mas não quando dormia com Lorcan. Quando estavam juntos, não havia tempo para assuntos tão… mundanos.

— Você…-

— Permita-me. — Michael deu dois toques suaves no material sensível da pulseira, interagiu com uma projeção que apenas ele podia ver por alguns segundos e deslizou os dedos em direção à mesa de Rowan, passando o que quer que estivesse vendo para o sistema dela.

A SELEÇÃO?

REI CASSIAN ADMITE TER “PLANOS PARA REAPROXIMAÇÃO DA MONARQUIA COM O POVO”  APÓS O ATAQUE DO DIA 11;

Numa coletiva de imprensa na noite do dia 15 de Outubro, o recém-coroado Rei Cassian Schreave deixa clara suas intenções quanto ao futuro próprio e de Illéa.

“Não é de agora que o abismo entre os governantes e a população existe, mas este nunca esteve tão profundo,” disse ele, e ainda acrescentou: “Queremos deixar claro que estamos trabalhando em planos para a reaproximação do povo de Illéa e sua monarquia, que estamos unidos. Somos como um só, ligados pela aliança de um matrimônio invisível — um suporte durante tragédias e progressos, alegrias e tristezas.”

Estaria o soberano deixando pequenas pistas, implícitas para quem desejar vê-las?  É de conhecimento e intriga geral que, pela primeira vez em quase um século e meio, um Rei ascende ao trono sem sua Rainha. A declaração empolgada de Vossa Majestade leva a crer que deseja estreitar os laços entre a realeza e o povo, numa “aliança de um matrimônio invisível”, e o que melhor que alianças um pouco mais físicas?

Todos se lembram da Seleção, onde príncipes e princesas escolhiam seus parceiros e parceiras entre a população…

Ela desviou os olhos do artigo.

— O que é isso, Viszl? Quem escreveu?

Ele deu de ombros, mas seu sorrisinho triunfante dizia tudo que precisava ser dito.

— Matérias envolvendo política real são minhas.

— O jornal tinha que sair hoje de manhã, Goselyn. Ontem à noite você esteve incomunicável. Danna tentou falar com você, mas-

Mas eu estava incomunicável. Perdida nos braços, travesseiros e lençóis de Lorcan.

Retomou a leitura com um aceno impaciente da mão. Ao chegar no fim do artigo, congelou momentaneamente.

— Rowan Goselyn. — disse ela.

— O quê?

— Está assinado como Rowan Goselyn, e eu não escrevi esse artigo, Michael. Você escreveu. Por que tem meu nome aqui?

Novamente, ele se recostou na cadeira e ergueu uma sobrancelha arrogante.

— Nomes têm poder, Rowan Goselyn, ganhadora de dois prêmios Pulitzer, jornalista de política crítica número um do The Illean Times, — ele tamborilou os dedos contra a mesa de vidro, se aproximando mais ainda. — Você tem credibilidade. As pessoas gostam de ler o que você tem a dizer.

— E ainda assim, não fui eu quem disse! — protestou, erguendo as mãos no ar. — Isso é- Isso é fofoca. Teoria da conspiração. Irrelevante. Pelo em porco, agulha no pinheiro. Eu jamais escreveria algo do gênero!

Michael fingiu analisar as unhas bem manicuradas.

— Eu diria que fiz um belíssimo trabalho. Embora Danna tenha comentado que ficou imparcial demais para um artigo escrito por você.

— De onde você tirou isso? A Seleção?

Ele deu de ombros, despretensioso.

— Foi só um pouquinho de pão, minha querida. Logo virá o circo, — ele sorriu, um sorriso feral, monstruoso, que enviou arrepios por toda a pele exposta do corpo de Rowan. — E os espectadores estão ávidos por um bom espetáculo

Rowan tentou ligar para Lorcan assim que Michael deixou sua sala.

Uma, duas, três vezes. Nada.

Nem do dia seguinte, ou no dia depois desse, ou na semana após esta. Uma, duas, três vezes. Nada.

Nada.

— É com imenso prazer que me disponho àquilo que tem sido alvo de especulações a semana inteira, — ela viu o rei sorrir para a câmera, embora seus olhos não acompanhassem. — E anuncio o retorno tão aclamado da Seleção. Vinte mulheres, entre 25 e 35 anos, que passarão a temporada no palácio, com cobertura completa dos mais variados meios de imprensa. No fim, apenas uma delas restará, e a aliança no dedo representará muito mais que o casamento entre duas pessoas. Tenha uma boa noite, Illéa.

A sala irrompeu em vozes, desesperadas por qualquer informação vinda do rei, que simplesmente passou reto, evitando os flashes e perguntas com maestria.

Rowan olhou para as próprias mãos, para o bloquinho onde anotava as inspirações. Ela havia feito aquilo. Não ela, exatamente — mas seu nome. Causara tanto rebuliço que ali estava, diante de uma sala que acabava de se recuperar do anúncio inusitado de uma antiga tradição, já há muito esquecida.

Empunhou a caneta e escreveu.

— Você.

Ela encarou Danna, estática, enquanto seus neurônios lutavam para processar a informação. Faziam uma semana e meia que não tinha uma boa noite de sono, não desde que Lorcan decidira por não retornar suas chamadas.

— Eu? — piscou duas vezes para a editora, tentando recobrar os sentidos.

— Você. — repetiu.

Cruzou as mãos sobre a mesa, respirando calmamente.

— Eu não sou jornalista de fofoca, Danna, — respondeu, por fim. — Peça a outra pessoa.

A mulher suspirou, passando os dedos pelos cachos.

— Você foi quem começou isso. Seu nome é importante, principalmente quando se trata da família real. Escreva sobre o evento num geral; deixe a fofoca para os outros. Nós precisamos-

— -de credibilidade, eu sei, — Rowan enterrou a cabeça nas mãos e a balançou. — Se eu cobrir o evento, eu quero um aumento.

O rosto de Danna se iluminou.

— Até dois, querida.

— E ninguém, ninguém, além de mim usa o meu nome.

— Feito.

Ela engoliu em seco.

— Então eu vou.

Observou enquanto a chefe deixava sua sala, xingando-se em silêncio, os lábios contraídos. Não demorou muito para que a porta se abrisse de novo para revelar uma visita indesejada.

— Vizsl.

Ele tinha as mãos casualmente enfiadas nos bolsos do colete, a cabeleira loira perfeitamente alinhada.

— O que quer? — perguntou.

Ele sorriu. Àquela altura, ela estava acostumada a temer aquele sorriso.

Michael se aproximou, e deixou que um envelope pardo caísse com um baque surdo sobre a mesa dela.

Ela congelou conforme puxava o conteúdo do envelope para fora.

Ela, nua, entrelaçada nos braços de um homem. Ele, nu, com uma das mãos enterrada nos fios negros dos cabelos de Rowan.

Ergueu os olhos.

Vizsl continuava a sorrir.

— Vamos falar sobre você e o duque.


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Notas finais do capítulo

HEYO! Espero que tenham gostado do capítulo :D Vou fazer de tudo para postar semana que vem, e responder aos comentários de vocês a tempo. Estou amando escrever a história, e espero chegar ao final. As personagens de vocês estão MARAVILHOSAS.
Valendo 5 pontos:
Escreva o mínimo de um parágrafo sobre a opinião pessoal das personagens de vocês sobre o retorno da Seleção.
Valendo 3 pontos:
Escreva o mínimo de quatro linhas sobre a opinião pessoal das personagens de vocês sobre os artigos da Rowan.



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