WSU: Azathoth escrita por Lucas, WSU


Capítulo 2
Capítulo 2 - A Semente.




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O dia nasce. Erik e seus olhos arregalados acompanham os movimentos do ventilador. Os braços de Mika cobrem seu peito e são retirados com tanta delicadeza que faria Hitler ter ataques de fofura.

Ele veste seu blazer preto; O café escorre. Mika se mexe; Ele ajeita sua arma. A porta abre; Erik volta. Mika desperta; Ele a beija. Mika adormece novamente; Erik sai. A porta fecha.

 

Em uma sala está Adrian Reznik, ex-namorado de Ellen Matsui. Catrina tatuada no pescoço, barba por fazer. Seu cigarro queima; Erik entra.

Erik: Essa cidade tem um sério problema de tabagismo...

Adrian fala devagar e pausadamente.

Adrian: Nós... adiantamos a morte. O fim... imutável.

Erik: Está bêbado, Sr. Reznik?

Adrian abaixa a cabeça, respira fundo e olha para Erik.

Adrian: Ela foi assassinada... por seja lá o que. Vocês vão até minha casa... me chamam para depor... como se eu fosse suspeito...

Erik: Nosso trabalho é esse. Me fale sobre ela.

Adrian: Ellen não... não costumava seguir os padrões... sociais. Conheci ela... à beira da rodovia, era garota de programa...

Erik: Essa é a parte que sabemos, Adrian...

Adrian: ... A tia dela morava na comunidade, casa P24 ... ao Sul da estrada, estive lá... algumas vezes.

Erik: A mãe dela morava lá, não a tia.

Adrian: Huh... começaram mal...

Erik: O que quer dizer?

Adrian: Bria Matsui... é a tia...

Erik se irrita.

Erik: A mãe... os registros de Ellen... Diziam que era filha de Lana Matsui!

Adrian: Lana se matou... Ellen tinha 5 anos...

Erik: E por que ela fez isso?

Adrian: ... Ninguém sabe, detetive. Ellen mencionou algumas vezes que... sua mãe era fanaticamente... religiosa.

Erik: Certo... quanto a Sra. Bria, sabe se ela ainda reside na comunidade?

Adrian: Oh... não! é um lugar muito pequeno... seria fácil perguntar por lá... mas acho que ela se mudou...

Erik: Sim... o que tem feito da vida, Sr. Reznik?

Adrian: Eu? Acordo, fumo... bebo, brigo... e durmo.

Erik: ... Vou mandar te liberarem, falarei com você pessoalmente se precisar.

Erik deixa a sala e anda pela delegacia com o suor deslizando por sua pele.

— Podem liberá-lo — diz.

Ele aciona o alarme, os pinos das portas levantam-se. Erik entra; Azathoth está no banco de trás.

Erik: Pensei que só saísse à noite.

Azathoth: Não sou um morcego.

Erik: Se fosse, seria mais fácil...

Azathoth: Estive nos polos industriais, encontrei alguém lá que pode ajudar...

Erik: Quem?

Azathoth: Uma faxineira, Igraine, trabalha em alguma das fábricas centrais, encontre-a logo.

Erik: Vou ter que deixar para depois... Tenho que achar os familiares dela!

Azathoth: Prometi que cuidaria disto...

Erik: Não! Se algo ruim acontecer, eu lhe avisarei primeiro. Um cafetão foi assassinado horas atrás, tente descobrir o que houve.

Azathoth: Não há muito o que saber sobre ele...

Erik esfrega as duas mãos no rosto, inspira e balança a cabeça negativamente.

Erik: Mais um? De graça? Vai matar essa cidade inteira!?

Azathoth: Torturaria, mas ele falou 'menores'...

Erik: Não sei até quando vou poder esconder isso.

Azathoth: Eu também não, Erik.

Azathoth sai do carro.

Erik dá partida e vê pelo espelho o Mito de trajes góticos solitário, caminhando entre as folhas movimentadas pela brisa.

Azathoth amedronta o medo.

Azathoth corrói o ácido.

Azathoth enfrenta o invencível.

Azathoth é humano.

Azathoth é Victor.

Victor tem um ponto fraco.

Victor ama.


Dirigindo por uma grande metrópole, as buzinas e vozes penetram o carro de Erik; As rádios tocam Neil Young - Heart Of Gold.

O crucifixo pendurado no retrovisor gira como um vórtex, pronto para romper tudo que existe à sua volta. Sua mão circula rápida pelo volante, as ruas parecem um portal para Aztlan. Um paraíso, sem desgraça, sem morte, sem nós.

As vestes de Azathoth jogadas em uma mesa. A pele de Victor à mostra. Cicatrizes. Queimaduras. Marcas. Sua vida transposta em seu couro.
Ele cuida dos ferimentos que a noite causa. O álcool desce por sua pele. A gaze se enrola entre os dois. Fracos sentem a dor. Fortes são a dor. Hideyoshi observa os movimentos ligeiros de um perturbado Victor.

Hideyoshi: ''Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia''.

Victor: Coríntios. Capítulo 4 versículo...

Hideyoshi:...?

Victor: Ah, 16. Capítulo 4 Versículo 16... Achei que o Cristianismo nunca havia sido difundido no Japão.

Hideyoshi: A fé não precisa ser divulgada, nós acreditamos e... acreditamos.

Victor: Quando descobrimos que nossa estadia aqui na Terra acaba invariavelmente, criamos a fé, criamos Deus, criamos algo que aliviasse a dor da morte...

Hideyoshi: Não.

Victor: Não? Pergunte à alguém com câncer em estado terminal, 'No que você acredita?' A resposta terá todos os nomes possíveis de deus.

Hideyoshi: Deus serve como fim e meio, mas só temos a verdade revelada quando o FIM está próximo, não se espante quando a fé se manifestar no último instante.

Victor: Me espanto com o caos dilacerando o mundo e Deus, do alto de sua arrogância, deixando isso acontecer.

Hideyoshi: O livre arbítrio...

Victor: Existe a bíblia e o plano divino, senhor Hide, sabemos tudo o que acontecerá, o livre arbítrio se torna inútil... O senhor acha que deus é capaz de criar uma rocha tão forte que nem mesmo ele conseguiria erguê-la?

Hideyoshi: Podendo ele tudo, sim.

Victor: Exato, se ele pode criar, não pode levantar. Sua onipotência é falha.

Hideyoshi: A onipotência não é demarcada pela razão ou lógica, mas sim por ele mesmo.

Victor: Os verdadeiros deuses são as pessoas que praticam a benevolência ao próximo... as que ajudam os necessitados... o senhor sabe melhor do que eu, mais vale uma mão ajudando, do que cem milhões de bocas rezando.

Hideyoshi: Acredita em Deus, garoto?

Victor: Eu sou meu próprio deus, senhor Hide.

Hideyoshi: Então comece a agir como um.

 


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Notas finais do capítulo

A criança, quando criança, não sabia que era criança, tudo para ela tinha alma e todas as almas eram uma só. (Asas do Desejo - 1987).



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