Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 7
Convivendo




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Assim que abri meus olhos e percebi que não estava em casa, me senti tão confusa. Era como se tivesse acabado de acordar de um pesadelo e ter notado que tudo aquilo era realidade. Me sentei na cama do David lentamente e cocei meus olhos, em seguida vasculhei o quarto dele inteirinho com um olhar novamente, como sempre tenho feito. 

Era tudo tão novo, acordar em um quarto que não fosse o meu, ou na casa da minha mãe. Acordar na casa de um quase-estranho.

Sentada na cama do David, tentei imaginar o que aconteceria comigo. O que eu faria quando me levantasse dessa cama, afinal? Sempre me levantei apressada para chegar ao restaurante a tempo, sempre me vesti com muita pressa, optando por visuais que deixariam as crianças do Kismet me verem de forma agradável.

Assim que coloquei meus pés no chão, temi o que viria pela frente. Mal sabia o que fazer. Lá no andar de baixo haviam quatro garotos me esperando.

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Assim que desci para a sala, encontrei o que temia. Colin, Bruce e David nos sofás, dormindo. A mesa de centro denunciava os três. Diversas garrafas vazias.

Não pude segurar uma risada silenciosa. Eram uns preguiçosos. Colin dormia de bruços, parecia babar. David dormia de lado, de costas para mim e parecia querer abraçar o sofá. Bruce estava deitado com uma mão para cima e outra jogada no chão, em um sono intenso.

Eu só não conseguia encontrar Franklin e acho que agradeci por isso. Depois de presenciar essa cena, olhei para a porta inicial. Se eu quisesse, nesse exato momento poderia abri-la e sair correndo. Voltar para a lanchonete e pedir a ajuda do Dolph, pedir para ele não deixar ninguém me levar novamente. Mas depois de tudo o que vi, depois de ter sido pega por um tal de Jason e depois de bater com a cabeça e ter dormido por dois dias seguidos, decidi que ficar perto de criaturas que não são humanos vai me manter mais segura. Desse mal, nem Dolph nem minha mãe podem me proteger. Então decidi conhecer um pouco mais a casa que me abrigaria durante um tempo. Era melhor tê-los dormindo.

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Depois de ter vasculhado cada um dos quartos bagunçados dos meninos, descoberto onde ficam os banheiros e onde ficava a cozinha, decidi que deveria fazer algo. Depois de tanto tempo trabalhando em uma lanchonete, eu podia fazer algo decente para eles comerem. Fiquei indignada quando entrei na cozinha e vi apenas caixas de pizzas vazias, uma pia de louça suja e uma geladeira com pouquíssimos ingredientes e coisas nada saudáveis.

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— Quê isso? — Bruce murmurou após me ver abrindo as cortinas da casa. O reflexo do sol bateu no rosto de todos eles, os três resmungavam sem parar.

— Apaga a luz! — Colin gritou de olhos fechados.

Esperei cada um deles abrirem os olhos. David se levantou lentamente, ficou sentado no sofá, apoiou os cotovelos nas pernas e começou a coçar os olhos, Bruce fez a mesma coisa e Colin se rejeitava a levantar.

— Cassandra? — Bruce me olhou. — Mas que horas são, hein? Estou morrendo de dor de cabeça.

Olhei para baixo. Não me sentia muito confortável em acordá-los, muito menos em viver com cada um deles. Segurei minhas próprias mãos.

— É... Eu preparei uma coisa para vocês. Algo para... Para me desculpar pelas coisas que fiz. É também um agradecimento por me deixarem ficar aqui e por me protegerem. — Falei baixo, sem encará-los.

Eles se encararam, Bruce agradeceu enquanto se levantava. David ainda tentava se acostumar com a luz do sol que entrava pelas janelas, olhou para mim e sorriu. Eu retribuí o sorriso. Era ele. O rapaz misterioso do Kismet Diner, que aparecia todas as noites e pedia apenas uma bebida. O rapaz que me fez cometer a loucura de descobrir toda a verdade sobre as asas.

— Venham. — Os chamei, indo direto à cozinha.

Quando os três entraram, pareceram surpresos e era exatamente isso o que eu estava esperando. Era como se tivesse acabado de servir um prato delicioso à um cliente faminto. Era esse o meu verdadeiro prazer, ver as pessoas fascinadas diante de um prato, e logo em seguida, vê-las satisfeitas.

— Isso é incrível, Cassandra. — Colin me elogiou, puxou uma cadeira e se assentou à mesa. 

Eles sorriam e se assentavam.

— Como é que conseguiu preparar isso? — Bruce perguntou — Aliás, eu não fazia ideia que tínhamos isso em casa.

— Vocês estavam dormindo, então eu precisava fazer alguma coisa. 

— Você é demais, Cassie. — David me elogiou e se juntou ao Colin e ao Bruce. Senti que todo aquele esforço valeu a pena. Eu estava feliz por simplesmente ter agradado um bando de rapazes que eu mal conhecia.

Na mesa haviam alguns hambúrgueres, uma sopa que preparei rapidamente e alguns salgadinhos que encontrei nos armários. Eles comiam com um sorriso, então me juntei a eles e me servi.

— Eu já tinha me cansado das pizzas, por incrível que pareça. Vou dizer uma coisa, David tirou a sorte grande em ter você como escolhida. — Disse Colin.

Olhei de relance para David.

— Por favor, podem me chamar de Cassie. — Brinquei com a colher em minha sopa. 

— Tudo bem então. — Bruce concordou, terminando seu hambúrguer.

— É... Vocês sabem para onde Franklin foi? — Decidi perguntar. A casa ficava diferente sem o loiro oxigenado soltando suas ironias e respostas sarcásticas. Além disso, a briga de ontem deixou um clima tenso e eu precisava saber se já estava tudo bem entre eles.

— Ele deve ter ido fazer seu trabalho. Digo, ajudar a escolhida dele — Colin deu uma pausa para mastigar — De nós três, Franklin é o que mais deseja voltar a ser um humano. Às vezes ele se levanta muito cedo para procurar o par da escolhida dele.

Eu assenti, e naquele momento senti um pouco de pena dele. Aliás, de todos eles. Talvez o que eles mais querem é voltar a ter uma vida normal, sem asas, sem esse negócio de encontrar um parceiro para alguém. Apenas ser um humano novamente. Naquele momento eu gostaria de fazer tantas perguntas para eles. A cada dia que se passava, mais curiosa eu ficava, queria muito saber como mantinham a casa em ordem e como conseguiam dinheiro para sobreviver. Mas eu tinha quase certeza de que esse mesmo chefe de quem tanto falam, é quem fornece tudo o que eles precisam. Aliás, o que eles fazem é quase como um trabalho e eu faria de tudo para saber como funciona.

➴ ➵ ➶

David apareceu enquanto eu terminava de organizar a cozinha. Estávamos só nós dois ali.

— Você sabe que não precisa fazer isso. — David se referiu à minha repentina vontade de ajudar nos afazeres.

— Me sinto bem fazendo isso. — Respondi sem parar de fazer o que estava fazendo, enxugando um copo de frente com a pia. — Me faz lembrar da lanchonete. Do Dolph.

Quando olhei para ele, ele parecia sentir pena.

— Você sabe que estamos fazendo isso somente para te proteger, não é?

Assenti, apertando os lábios e tentando não chorar.

— As coisas aconteceram tão rápido que mal deu tempo de te explicar, Cassie. Tudo o que você precisa saber por enquanto é que não está segura lá fora e que um cara muito perigoso quer vê-la morta.

Eu assenti rapidamente.

— Tudo bem... Eu só quero que isso acabe de uma vez. Prometo fazer qualquer coisa para colaborar. Eu só não sei como.

— Mas eu sei. Quanto mais rápido eu encontrar alguém para você, mais rápido nos livraremos desse problema. Uma vez que eu encontrar a sua alma gêmea e ter completado minha missão, estarei livre e não deverei mais nada à sociedade de cupido, eles não poderão me punir por nada. Você também estará livre e eles não poderão tocar em você, porque estará com o seu escolhido. Eles não podem destruir histórias de amor, é a regra principal deles, jamais poderão te tocar se você estiver em um relacionamento com a pessoa certa.

— Se ele pensa que já morri, ele não destruiu minha história de amor de qualquer forma? Meu escolhido ficará pra sempre sem mim?

— Se vocês ainda não se conheceram, então ele pode fazer isso. Ele apenas não poderia te matar se você já tivesse conhecido seu escolhido, porque seu escolhido se lembraria para sempre de você e sentiria sua falta eternamente, amaria outras mulheres mas ainda pensaria em você. Por isso é importante que você encontre sua alma gêmea e inicie um relacionamento, assim Jason nunca poderá tocar em você.

— Isso é loucura... E-eu não posso simplesmente fingir que você conseguiu apagar a minha memória e continuar com a minha vida?

— Os superiores têm acesso a uma parte da memória dos humanos. Através dos seus olhos, que não mentem, ele saberia da verdade. Não há como enganá-los, Cassie. Você está sob a mira deles de qualquer forma, eles voltarão para conferir se você realmente está morta ou não. 

— Mas... Eu nem sei se é isso o que eu quero, e se... — Engoli um seco assim que pensei em algo. — E se eu for conhecer a pessoa dos meus sonhos somente daqui a um ano? Ou pior, dez?! Eu terei que ficar aqui por dez anos? — Aquilo me espantou de uma forma inexplicável, me imaginei sem nunca mais poder ver Dolph ou minha mãe até poder encontrar alguém que me ame.

— Cassie, olhe aqui, eu não vou deixar que coisas ruins aconteçam com você, mas terá que colaborar. Encontrar alguém para você é a única maneira de fazer com que Jason não queira te ver morta. Aliás, ele pensa que você já está, mas isso não significa que ele não voltará para conferir. Não se preocupe, você não vai ficar aqui dentro o tempo todo, aliás, temos que encontrar o seu parceiro, e seja quem for, ele não está aqui dentro.

Olhei para ele e depois olhei para baixo, logo em seguida assenti. Suas palavras, como de costume, me acalmaram e minha respiração voltou ao normal em pouco tempo.

— Tudo bem, descanse um pouco e mais tarde podemos ir até a sala conversar, preciso te fazer algumas perguntas. — David disse, colocando uma mão em meu ombro, assenti mais uma vez e ele me deixou ali.

➴ ➵ ➶

Quando anoiteceu, apareci na sala e David já estava lá, me esperando, sentado no sofá. Me senti bem naquele momento, observando aquela sala e David ali, naquela luz alaranjada, a grande janela ao lado da porta inicial, coberta por uma cortina, aquela mesinha no centro dos sofás, com um cinzeiro em cima e as garrafas da noite passada.

Me assentei ao lado do David e ele logo começou as perguntas. Era algo relacionado com encontrar o meu par ideal. Algo me dizia que precisávamos fazer isso o mais rápido possível para que eu não morra.

— Bom, vamos lá. Você tem alguém em mente? Alguém que você imagina que pode ser a pessoa certa? Aliás, você está apaixonada por alguém? — David me perguntou e rapidamente fiquei pensativa. Eu nunca diria que ele foi a única pessoa que despertou meu interesse durante esses últimos quatro anos trabalhando no Kismet Diner. 

— Bom, se eu estivesse você saberia, não é mesmo? 

— Tem razão, era o que eu temia. — Ele comentou, apoiando os braços nos joelhos e olhando para baixo, pensando em alguma coisa. — Acho que você vai ter que começar a sair, Cassie. Procurar por alguém, e eu vou junto. Ficarei por perto o tempo todo e analisarei o cara, para ver se é a pessoa certa.

— Desculpe, mas não sei se vou me sentir à vontade sabendo que você vai estar me observando o tempo todo.

Ele riu.

— Cassie, a sua vida toda eu venho fazendo isso e você pareceu não se incomodar.

— É porque eu não sabia de nada!

— Tudo bem, tudo bem... Vamos voltar ao assunto. 

— Tá, mas como você vai saber que ele vai ser a pessoa certa? Existem tantos caras por aí! Como é que você vai ter certeza de que ele é o escolhido?

— Eu sou um cupido. Nós apenas sabemos. Você não entenderia, Cassie. Além disso, até agora, nenhum dos garotos que você já ficou deu algum sinal de que era o certo. Se lembra do Joshua Reed? Aquele garoto só tinha segundas intenções com você.

— Oh, não! David! — Coloquei minhas duas mãos no rosto — Como pode me lembrar de uma coisa dessas?

— Como é que ele falava, mesmo? Ah, lembrei: Cassandra, minha gata, vamos dar uma volta no parque? Quem sabe podemos dar uma passadinha na minha casa quando der meia-noite, gata. — David fez uma voz engraçada, porém parecidíssima com a voz de Joshua, um rapaz com quem saí algumas vezes e hoje me arrependo profundamente.

Quando dei por mim mesma, estava rindo sem parar, até faltar ar e deixar meu rosto completamente vermelho.

— Qualquer um podia ver que aquele cara não queria nada sério com você. 

— Tá bom, chega. Eu não acredito que você presenciou tudo isso... — Respirei fundo.

Assim que recuperei meu fôlego voltamos a falar sobre o assunto anterior. Passamos vários minutos planejando algo para começar a "caça ao meu escolhido". Mas a porta logo se abriu, olhamos diretamente para ela e lá estava Franklin, que havia desaparecido o dia todo e apenas agora à noite voltou.

Ele passou diretamente por nós, sem nem mesmo cumprimentar, estava com uma expressão nada boa.

— Não liga para ele. Aposto que teve um dia péssimo.

Eu concordei, enquanto contemplava somente o som da voz do David. A casa estava vazia, Colin e Bruce saíram para ir até suas escolhidas e tentar encontrar a alma gêmea delas. 

— Sabe, Cassie, apesar de toda essa confusão, e do risco de morte que corremos, estou feliz por você ter descoberto tudo. — David me disse, após um momento de silêncio.

— Como assim? Está?

— Estou.

— E por quê?

— Porque agora vai ser bem mais fácil encontrar o seu par. Enquanto eles saem por aí, se arriscando e tentando compreender a escolhida deles e se aproximar sem que elas descubram, eu tenho a minha escolhida bem aqui. Posso me considerar um cupido de sorte, não acha?

Acabei sorrindo. O rapaz misterioso era o único que conseguia me arrancar risadas de tirar o fôlegos e sorrisos em uma situação como essa.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo já está em processo para vocês.
Espero muito que estejam gostando, não deixem de acompanhar e me dizer um "olá".

Beijoooos, amo vocês.