Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 1
Ser com asas


Notas iniciais do capítulo

Sem demora, aqui estamos no primeiro capítulo. Espero que gostem
E... Cuidado com o cupido.

Boa leitura :)



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 Kismet Diner é sem dúvida a lanchonete preferida dele. Ele aparece aqui toda santa noite e por incrível que pareça, pede apenas uma bebida. É como se ele não tivesse fome, vem até aqui somente para marcar presença. Fica sentado na última mesa, olhando para os lados e quase sempre para mim. Tem um ar misterioso. Sempre usando roupas escuras, às vezes jaqueta de couro, gola da camisa bagunçada, jeans que parece ter sido fabricado para ele, e aquele olhar que você não suporta encarar nem por três segundos. 

Ele é sem dúvida a criatura mais bonita e intrigante que já entrou aqui na lanchonete. 

Mas ele é tão misterioso que me irrita. 

Tenho que tomar coragem para perguntar o pedido dele, todas as noites. Ele sempre pede o mesmo, em seguida me segue com o olhar. Eu me encolho e preparo sua bebida. É essa minha rotina noturna.

Apesar dos clientes mal-humorados, das horas extras, das crianças que jogam ketchup e mostarda no chão — e vomitam de vez em quando — eu gosto de trabalhar aqui no Kismet Diner. Já vai completar quatro anos. 

Ele apareceu no ano passado, e agora não para de vir pra cá. Eu queria fazer tantas perguntas para ele, mas ser tímida me faz uma garota invisível. Por incrível que pareça, foi meu pai quem me disse isso, uma vez.

Eu sei, estou falando muito dele. Quem é ele? Qual é o nome dele? Por quê é tão bonito de uma forma exagerada? Por quê mexe tanto comigo? Eu também não sei. Já tem mais de um ano que esse cara vem aqui e eu não sei nem mesmo o nome dele, logo eu, que sei o nome de praticamente todos os nossos clientes.

— Cassandra! — Dolph me chamou, de lá da cozinha. Foi bem fácil de ouvir porque a cozinha é aberta, todos os clientes conseguem nos ver preparando seus pedidos. Dolph é o dono do Kismet Diner, mas também trabalha aqui. Somos uma dupla. Somos somente nós dois trabalhando, o lugar é pequeno e damos conta. Para mim Dolph é quase um segundo pai, só que magricelo e com bigode.

— Desculpa — Corri até a cozinha. Alguns clientes estavam esperando, mas eu estava lá no fundo, limpando algumas mesinhas, esperando o rapaz misterioso chegar, mas ele estava demorando um pouco mais do que o normal. Já ia dar dez da noite, o Kismet Diner fecha às onze. 

— Posso ajudá-la? — Sorri para uma mulher de meia idade, que tinha no rosto tédio misturado com ignorância. Logo me lembrei dela. Seu nome era algo parecido com Mary ou Mabel. Um dia ele veio aqui, pediu um sanduíche, comeu metade e logo depois jogou o restante na lixeira, bem em minha frente. Eu passei o resto daquela tarde deprimida, me lembrando da mulher que jogou o sanduíche que fiz com tanto carinho.

— Vocês só têm isso? — Ela olhou para cima, lendo o nosso cardápio. Logo piorou as expressões de seu rosto.

— D-desculpe, nós estamos fazendo o possível para aumentar nosso cardápio. A senhora não vê? Acrescentamos mais três tipos de bebidas e sanduíches. — Sorri para ela. Detestava o fato de que uma senhora não gostava de mim, nem dos meus sanduíches. Me sentia mal. Eu iria ganhar a simpatia dela!

— Quer saber, eu vou comer em outro lugar. — E se virou, me deixando ali. Dolph percebeu que fiquei mal, então colocou sua mão em meu ombro e me pediu para sentar, que ele tomaria o meu lugar. Eu agradeci com um sorriso triste. 

Me sentei em uma das mesas da lanchonete, cansada. Havia trabalhado o dia todo, desde manhãzinha e sentia que minhas pernas iriam desmoronar. Bufei de cansaço e apoiei meus braços na mesa. 

Comecei a brincar com o porta-guardanapos, tentando aliviar a tensão do dia de hoje. Olhei ao meu redor e abri um leve sorriso quando observei os clientes comendo, conversando, rindo. Isso animava meus dias e fazia com que minhas dores musculares não passassem de pequenos incômodos. Um casal conversando, uma família jantando, um executivo comendo apressadamente para ir embora logo...

A lanchonete iria fechar em quarenta minutos, quando a porta se abriu e o sininho tocou. Tomei um leve susto, e quando olhei para frente, era ele.

O rapaz misterioso.

Mas agora ele estava acompanhado.

Acompanhado de um amigo, talvez. Um amigo tão bonito quanto ele, só que de cabelos claros e compridos, parecido com um surfista. Eles eram a atração do momento. Eram poucas pessoas que estavam ali, mas praticamente todos olhavam para os dois. Eu ri com a cena do namorado repreendendo a namorada por ficar secando a atração do momento.

Eles se assentaram na mesa do fundo. Riam e conversavam. Olhei discretamente para eles, e não pude deixar de reparar que também olhavam para mim.

— Cassandra! — Dolph chamou a minha atenção e eu me levantei. A garçonete sentada...

Rapidamente peguei meu bloquinho e caminhei até os dois, um pouco receosa.

— Qual é o pedido? — sorri sem mostrar os dentes, os dois me olharam, e aquela sensação foi um tanto estranha. Os olhares. Eles tinham algo em comum, era estranho, não podia descrever. Desviei o olhar e franzi minhas sobrancelhas, tentando afastar o sentimento esquisito.

— O que você vai querer, meu amor? — O de cabelo estilo surfista perguntou para o rapaz misterioso. Confesso que fiquei surpresa.

— Deixa de ser babaca. — O rapaz misterioso respondeu, em seguida se aproximou do outro para dar um soco no ombro.

Eram como irmãos.

Não pude evitar, sorri com a brincadeira, e quando dei por mim, perguntei:

— São irmãos?

Os dois me encararam, o de cabelo comprido lançou um olhar para seu amigo e em seguida ergueu o olhar para mim, levantou uma sobrancelha e disse:

— Quase isso.

Assenti e olhei para baixo.

— Vocês poderiam me dizer seus nomes? Faz parte do... Do... — Fechei meus olhos, tentando inventar uma desculpa para descobrir o nome dos dois.

— Do? — O de cabelo comprido debochou de mim, enquanto o outro abriu um sorriso. 

— Do processo de... Fazer pedidos.

— Acredito que não precisamos dizer nossos nomes. Você sabe em que mesa estamos, não é, Cassandra? — Ele continuou.

Franzi minha testa de novo, não custava nada dizer os nomes! E... Como ele sabia o meu nome?
       Como se adivinhasse o que eu estava pensando, ele, o rapaz misterioso, disse:

— Sabemos o seu nome por causa do seu chefe. 

Me esqueci que Dolph não para de gritar meu nome. 

Eles fizeram o pedido e não me disseram seus nomes. Os dois pediram apenas bebidas. Como se tivessem vindo até aqui com outra intenção. Comer e beber era a última coisa que os dois queriam.

➴  ➵ ➶

Os dois acabaram de partir, assim como todos os outros clientes. Eu não podia evitar, estava intrigada com eles. Queria saber por que faziam tanto mistério, por que usavam os sucos de laranja como pretexto para vir ao Kismet Diner.

Quando acabaram de sair, corri até o Dolph.

— Você pode fechar sem a minha ajuda hoje? Eu preciso muito ir embora! — Falei para ele, como se fosse uma criancinha apertada para ir ao banheiro.

— Tá, tudo bem, pode ir. — Ele hesitou. Beijei sua bochecha e saí da lanchonete feito um furacão, com minha bolsa de pano no ombro.

Olhei para os dois lados, logo os avistei partindo. A noite estava muito escura. Não era recomendável andar pelas ruas do Brooklyn a essas horas. Mas eu não podia evitar, estava tão intrigada que ainda nem tinha tirado o meu avental sujo com molho.

Eu segui os dois me escondendo atrás de postes e muros. Eles não desconfiaram em nenhum momento. 

Quando comecei a ficar cansada e arrependida, eles pararam pertinho de um beco sem saída. Uma rua escura e vazia. Será que eram marginais? Eu estou perseguindo marginais? Estou encantada e intrigada por um criminoso?

Mas uma coisa tão estranha aconteceu...

Eles tiraram a camisa. Os dois. Coloquei minhas duas mãos na boca.

E em um piscar de olhos, das suas costas surgiram asas. Asas gigantescas, como asas de anjos. Eram brancas e me fez tirar toda a expressão de horror do rosto e ficar admirada. Eu quase sorri.

O de cabelo comprido logo começou a bater as asas, ele saiu do chão, começou a voar, literalmente, e quando estava alto o bastante ficou invisível. Eu não podia mais enxergá-lo. Mas ele foi sozinho, deixando o rapaz misterioso na rua. Ele. Eu não sabia o que sentir...

O rapaz misterioso parecia ter notado a minha presença. Parecia desconfiado. Não sei como isso aconteceu, mas ele veio até mim na velocidade da luz. Voltei a fazer aquela expressão de horror e temi o que aconteceria comigo naquela noite. Ele era uma criatura sobrenatural! Isso estava mesmo acontecendo!

— O que faz aqui, Cassandra? — Ele me perguntou, dizendo meu nome como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Disse meu nome de uma forma tão terna, com carinho. Mas ao mesmo tempo, havia desespero em sua voz.

Pensei em gritar, mas não fiz isso. Ele me pegou pelos braços e me colocou contra a parede do beco escuro.  Eu estava ofegante, ainda sem acreditar que ele, o meu rapaz misterioso, era uma ser com asas iguais a de um anjo.

Eu esperava tudo.

Esperava que ele fosse um agente do FBI investigando o Kismet Diner.

Esperava que ele fosse um serial Killer.

Esperava qualquer coisa.

Mas nunca um ser com asas.

— V-ocê, você... Você tem asas! — Falei alto, ele teve que fechar minha boca com uma das mãos, mesmo não querendo fazer isso.

Ele olhava para os lados. Parecia preocupado, procurando as palavras certas para me dizer.

E eu ainda estava indignada com aquelas asas. Eram maravilhosas e ao mesmo tempo... Assustadoras. 

Pensei em fazer várias coisas. Dar um chute e sair correndo, morder sua mão... Mas estava assustada demais para fazer isso.

— O que eu faço com você, Cassie?... — Ele sussurrou, como se eu não estivesse ali. Ele olhava para baixo e procurava uma solução, ainda me segurando.

O lugar estava frio e escuro. Meu peito subia e descia. Eu estava com tanto medo. Murmurei algumas coisas, ele pareceu ficar preocupado e tirou a mão da minha boca.

— O que está acontecendo aqui? — Fechei meus olhos para não ter que encará-lo, nem suas asas.

— Cassie, você não vai conseguir entender mesmo que queira.

— Não... — Respirei fundo — Não me chame de Cassie! Você nem me conhece! — Naquele momento senti vontade de chorar.  — Me larga! — Gritei, sentindo a parede fria contra minhas costas.

— Não grite. — Ele falou, e naquele momento olhei em seus olhos. Aquela mesma sensação esquisita. A sensação que faz você estremecer, como se estivesse olhando para alguém que não fosse um humano. Agora eu sabia o motivo dela. Ele definitivamente não era um humano.

Mas minhas expressões aliviaram. Ele me fazia sentir segura, por algum motivo. Ficou um pouco mais perto e colocou uma de suas mãos em minha bochecha.

— Não faça isso. — Falei, fechando os olhos mais uma vez e tentando me acalmar.

Ele ainda parecia frustrado. Aposto que ele não queria que eu tivesse visto tudo isso.

— Me desculpe por isso. — Ele falou.

Fiquei confusa, mas tirando todas as minhas dúvidas, ele me envolveu em seus braços, bateu suas asas, e na velocidade da luz, me levou para os altos. 


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Notas finais do capítulo

➴ ➶ ➴➶➴

O próximo capítulo eu posto logo!

Se gostaram, deixem sua opinião, pleaaaase ♥

Até logo ♥