Se Loreley pensava que depois da estreia, Tiago ia ficar mais tempo em casa e principalmente com ela, acabou percebendo que estava enganada. Depois do primeiro jogo, ele ficou mais calmo, é verdade, mas em compensação muito mais obcecado pelo quadribol.

A sua apresentação de gala foi assunto em todos os jornais bruxos irlandeses, ingleses, e no mundo bruxo em geral. Na semana seguinte Tiago viajou com o time para Madri, onde jogariam contra um time espanhol. E os treinos também ocupavam a maior parte do dia dele. Além disso, agora ele era de fato um jogador de quadribol famoso, e isso significava, embora Loreley achasse que isso fosse coisa de trouxa, compromissos com patrocinadores, e fãs.

Um dia ela foi junto com Tiago para o “lar” dos tigres, e ficou surpresa quando viu o outdoor, onde na primeira vez que esteve ali havia uma foto do time campeão mundial, agora tinha um anúncio da nova Firebolt, e ninguém mais ninguém menos que Tiago voando em uma delas.

— Bom, eu vou para o treino.

— Tá.

— Você quer ir ver? O Wood não vai se importar, ele já sabe que você não entende nada de quadribol, então...

— Não, acho melhor não. Quer dizer... — Loreley sentia vertigem só de lembrar a altura que os jogadores de quadribol voavam. — Eu espero aqui.

— Então tá bom. Te vejo mais tarde — Tiago sumiu na direção do campo e Loreley ficou perambulando pelo centro de treinamento, sem saber direito o que fazer, sem saber nem mesmo por que estava ali. Ficou um pouco na sala de troféus, admirando os muitos que o time já havia ganho ao longo da sua história.

— É, deve ser legal... — quando se virou, encontrou o rosto bonito e sorridente de Julian Parker; respirou fundo, verdade que um homem daqueles era difícil encontrar em qualquer pais.

— Miss Gilmore!

— Oi, Julian.

— Veio acompanhar o Tiago ao treino?

— É.

— Bom, e você não quer assistir ao treino? É verdade que o Olívio não gosta que ninguém veja o treino secreto do time dele, mas sempre é possível abrir uma exceção.

— Na verdade eu não quis mesmo ir, é que eu não sou muito fã de altura.

— Compreendo. Mas de qualquer forma da minha sala tem-se uma visão privilegiada do campo. Ou nós podemos simplesmente conversar — Loreley aceitou o convite e foi com Julian até a sala dele.

Ele tinha razão ao dizer que a vista era privilegiada; pelas janelas de vidro no andar mais alto do prédio, Loreley podia ver a extensão do campo de treinamento, e as manchas brancas que eram os jogadores voando em alta velocidade.

— Na verdade eu não quero atrapalhar você, quer dizer, seu trabalho.

— Não é nenhum incomodo nenhum. O Tiago está completamente adaptado ao time, é incrível como ele se encaixou bem — disse ele se juntando a Loreley na observação — Então você não gosta de quadribol?

— Não é que eu não goste, na verdade, tem mais a ver com a altura.

— Com licença, Julian — Katilin, a moça da recepção entrou na sala de Julian. — O Sr. Dale quer falar com você.

— Obrigado, Katilin, eu já vou. Bom, o dever me chama, Miss Gilmore, mas fique à vontade, daqui a pouco nós voltaremos a nos falar.

— Não se preocupe comigo, Julian.

— Eu te convido para tomar um chá.

— Claro — Julian saiu e deixou Loreley sozinha na sala; olhou um pouco mais o treino; não podia ouvir nada de longe, mas pelos gestos de Olívio Wood ele não estava gostando do comportamento do seu time.

Depois de ficar enjoada de tanto ver aquelas pessoas voando tão alto, ela ficou dando voltas na sala; sentou à mesa de Julian; era muito organizada; cada coisa em seu lugar e tudo muito elegante, como era o próprio Julian; uma foto dele e da irmã abraçados e sorrindo. Se levantou e sentou perto da mesa do centro; apanhou uma revista, Quadribol, e ficou folheando; percebeu que não poderia aprender mais lendo aquela revista do que com as explicações de Natan, mas tinha fotos de jogadores bonitos, por isso ficou olhando.

Mais tarde encontrou Julian no restaurante; ele já vinha de roupa trocada; agora ao invés do terno, usava roupas mais esportivas, estava mais parecido com um trouxa playboy do que com um bruxo para dizer a verdade.

— O Dale acabou me prendendo mais do que eu esperava, desculpe por deixar você esperando, Loreley.

— Imagina, eu é que estou atrapalhando aqui.

— De jeito nenhum — Julian puxou a cadeira para Loreley, que estava meio abobalhada, como sempre ficava vendo Julian. — Você não conhece muitas pessoas aqui, não é?

— É. Quer dizer, tirando o Tiago, você e a família Wood...

— Bom, se você quiser companhia, para sair, fazer coisas de mulher, eu posso pedir a minha irmã, Philipa, ela é uma ótima pessoa. Vocês podem se dar bem.

— Obrigada.

Enquanto esperava que o treino acabasse e Tiago aparecesse, Loreley ficou conversando com Julian; primeiro estava sem graça, não sabia o que dizer a ele, mas com o andamento da conversa foi ficando mais à vontade, principalmente por que Julian conversava de um jeito muito leve e descontraído, sem estar ocupado com o trabalho ele parecia ainda mais encantador.

— Eu queria ser jogador.

— E por que desistiu?

— Por que, cá para nós, eu sou muito ruim. Mas eu não poderia viver longe disso aqui, então me tornei o que eu sou. Eu finjo que o meu trabalho é importante, muito mais importante do que realmente é.

— Mas é importante não é? quer dizer, os jogadores realmente precisam de você, não é?

— Claro, se não fosse por mim, não sei como eles conseguiriam viver! — Julian deu uma risada divertida — Mas falando sério, em todo lugar existe aquele trabalho que ninguém gosta de fazer, mas tem que ser feito, aqui, sou eu quem faço.

— Então, quando o time viaja para jogar fora, você vai junto?

— Vou, normalmente eu vou antes para cuidar das acomodações, alimentação, enfim, infraestrutura pra recebe-los fora de casa. Nossa próxima viagem é para Tóquio.

— Como são essas viagens? Todo mundo aparata, voam de vassoura, Pó de Flú...

— Isso depende; no caso de Tóquio, o time vai de avião. Por que não há uma estrutura mágica para essa viagem; você já imaginou um time inteiro aparatando no meio de Tóquio carregado vassouras? Seria uma loucura; então para não chamar a atenção, às vezes usamos meios mais convencionais — a conversar durante o xá acabou demorando mais de uma hora; Loreley estava mesmo se divertindo.

No início da noite Julian já tinha contado sobre a sua infância, e até sobre quando fugiu de casa aos dezesseis anos. Só então o treino terminou; Loreley percebeu isso por que dois jogadores já tinha saído do campo. Tiago também não demorou a chegar ao restaurante, mas chegou de um jeito que Loreley não gostou muito; parecia que tinha esquecido que ela estava lá esperando por ele, vinha conversando animadamente com Natasha; Loreley não tinha ido com a cara da russa, e ainda menos depois que Tiago começou a ficar irritantemente amigo dela, e não cansava de dizer o quanto a Natasha era talentosa e blábláblá.

Assim que viu Loreley, Tiago ficou meio embaraçado, de fato tinha acabado esquecendo ela, mas se recuperou logo em seguida e foi até ela.

— Ei! Lembra da Natasha? — a jogadora deu um sorriso, e cumprimentou Julian, mas dispensou o convite para sentar junto com eles, se despediu de todos e foi comer com os outros jogadores.

— Bom, eu também preciso ir, agora você não está mais sozinha, Loreley — disse Julian e depois de cumprimentar Tiago mais uma vez, se despediu dos dois e saiu.

— Tudo bem se você quiser ir comer com os seus companheiros — na outra mesa estavam quatro jogadores, conversando animados, rindo e comentando sobre o treino.

— Não, tudo bem; então, o que você fez o dia todo?

— Nada demais, o Julian foi muito gentil, e... — Loreley parou e percebeu que Tiago estava prestando mais atenção à conversa dos colegas de time.

— Eles estão falando do Wood, ele pegou pesado hoje.

— Mesmo?

— Quando a Natasha não conseguiu defender o gol, eu pensei que ele ia ter um ataque do coração... — Tiago ficou falando do treino, Loreley não entendia nada do que ele dizia, mas ficou ouvindo; depois de esperar o dia inteiro estar com ele e ouvir a sua voz já era alguma coisa.

Mas essa foi a última vez que foi ao treino com ele, sabia que se fizesse isso mais vezes ia acabar perdendo a cabeça, e poderia causar problemas entre eles. Tiago pareceu nem perceber qualquer coisa errada.