Lado Obscuro escrita por suellencraft


Capítulo 5
Capítulo 5 - Novas interações


Notas iniciais do capítulo

Mais um, babys ♥



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Quarta-feira, 02 de Fevereiro

Alexia acordou cedinho com barulho do despertador que colocara no celular. Afinal, hoje seria o seu primeiro dia de aula no colégio dos seus sonhos. Pulou da cama e correu para o banheiro antes que Kentin acordasse. Agora tem que dividir o banheiro com alguém, o que ela não estava acostumada. Então prefere mil vezes ir na frente do que ficar para depois e correr o risco de não conseguir terminar de se arrumar.

Enquanto escovava os dentes, foi relembrando a noite do dia anterior. Sua amiga, Samara, dissera que havia sido aceita na Sweet Amoris no último dia, porque abriram uma vaga. Parece que alguém tinha desistido da matrícula, então deram a vaga para a ruiva, que estava tão feliz em rever os dois amigos que sequer percebeu a cara congelada de falso entusiasmo de Alexia. E ainda dissera que estava morando no prédio em frente ao deles.

Enxaguando a boca, espantou os pensamentos maldosos da sua mente e cuspiu as espumas na pia. Já estava de banho tomado, cara limpa e hálito agradável. Bem, estava pronta para sair do banheiro. Sorrindo, abriu a porta e saiu para fora no impulso, sem olhar.

E deu de cara com um Kentin descabelado. Literalmente de cara, pois os rostos estavam a centímetros de distância quando ela parou abruptamente e prendeu a respiração com o susto. Alexia ruborizou e abaixou os olhos para o chão enquanto recuava um passo.

— B-bom dia, Ken. Pode usar o banheiro agora.

Kentin riu lentamente, cheio de sono, e deu um passo para o lado, incentivando-a a passar. Seus óculos pendiam meio tortos. Alexia passou por ele apressadamente e entrou no quarto, ainda sem graça com a proximidade que chegaram poucos instantes atrás. Parada diante do armário, escutou ele fechando a porta do banheiro e só então, ela soltou o ar. Por que ficara tão nervosa?

Pegou uma blusa amarela de ombro caído largona que cobria até a sua bunda e colocou por cima de seu top esportivo preto. Procurou pela calça jeans preta, mas não a encontrou. Revirou o armário inteiro e nada. Tinha certeza de que a havia trazido, então onde estava?

Com as pernas de fora, Alexia fez uma verdadeira caça ao tesouro no quarto. No momento em que ela desistiu e sentou bufando na cama, Kentin abriu a porta do seu quarto. Agora, os seus cabelos estavam arrumados (em uma perfeita tigela) e ele já havia se trocado. O seu bom e velho suéter verde e calça jeans. Bom, o velho Ken de sempre.

Kentin se deparou com uma Alexia aborrecida sentada na cama, usando só uma blusa. Apesar da blusa cobrir até metade das coxas, ele ruborizou. As pernas da garota eram compridas. Ela ainda não tinha se tocado da sua “seminudez”. Até ver o rosto vermelho do seu amigo. Antes que pudesse se manifestar, ele gaguejou.

— L-Lex, vamos logo, senão vai rolar atraso no nosso primeiro dia, e não queremos ter que passar a vergonha de entrar na frente da sala cheia, certo? E.. Vendo você no estado atual... Acho que você estava procurando isso. – Kentin jogou uma calça preta na direção de Alexia. Ela não conseguiu pegar e caiu no chão. Rindo, esboçou uma pontada de dúvida e surpresa em seu rosto. Ele soube exatamente o que ela se perguntava. – Encontrei caído atrás do seu armário do banheiro quando procurava minha meia. Acho que você se trocou lá algum dia e caiu.

Fechando a porta atrás de si, Kentin suspirou. Essa garota mexia demais com ele. E ele precisava se controlar.

 

Na porta do prédio, encontraram a Samara esperando por eles. Ela usava um vestido tomara-que-caia que ia até metade das coxas, e ele era cheio de listras verticais, todo colorido, com uma fita de cetim rosa-bebê marcando a cintura. Suas botas prateadas na altura do joelho estavam combinando muito bem com o visual. Seus cabelos vermelhos estavam soltos, a franja reta perfeitamente penteada caindo nos olhos. Ela estava com uma mochila preta pendurada em um dos ombros e se encostava no poste de luz. Sorria radiantemente. Afinal, tudo o que ela queria era estar com Alexia e Kentin.

Alexia parou na sua frente e tentou sorrir naturalmente. Era o dia que ela tanto esperava, nem mesmo a Samara poderia estragar tudo. Certo? Virou-se e seguiu pelo caminho que os levaria ao colégio. A ruiva e o míope seguiram-na sem questionar.

Kentin percebeu uma tensão nas atitudes de Alexia ao ver Samara, mas preferiu fingir que não tinha percebido. Planejou perguntar a ela mais tarde quando estivessem sozinhos em casa.

Mal sabia ele que eles não teriam essa conversa tão cedo.

 

Chegaram ao portão de Sweet Amoris. Alexia, sendo sempre desastrada, esbarrou em uma menina de cabelos alaranjados ao entrar e caiu de bunda no chão.

— Oh, m-me desculpe! Deixe-me ajudá-la a levantar! – disse a garota estendendo a mão para Alexia, que aceitou de bom grado. Já em pé, esfregou a bunda fazendo careta. – Meu nome é Íris, e acho que nunca vi vocês três aqui no colégio. São novatos?

— Sim, somos de outra cidade e acabamos de nos mudar. – respondeu Samara abraçando a tal de Íris, cortando uma Alexia que estava prestes a responder. A garota dos cabelos azuis tentou disfarçar o aborrecimento virando-se para Kentin e ajeitando seus óculos. Ele apenas fitava as amigas em silêncio, sem entender. Por que raios a Alexia estava tão irritada pela presença da ruiva?— Meu nome é Samara, mas pode chamar de Samy! Esses aqui – gesticulou a ruiva em direção aos dois amigos – são Alexia e Kentin, mas pode chamá-los de Lex e Ken.

Kentin captou uma centelha de raiva que crepitou impiedosamente nos olhos cinzentos e repentinamente foscos de Alexia antes de piscar e voltar ao normal. Ela só ficava assim quando realmente está com vontade de estrangular alguém. Alguma coisa deve ter acontecido, e não era só pela presença de Samara, só restava a Kentin descobrir o quê.

Alexia piscou, dispersando a raiva enquanto colocava óculos de Kentin no lugar certo. Não devia. Não podia. Era o dia dela, e ninguém ia estragar isso. Estava decidida a recomeçar a vida, já que estava em um lugar que ninguém os conhecia. Podiam ser mais do que os esquisitos excluídos dessa vez. Mostrar que ela não era só um rostinho bonito. E faria de tudo para isso. Colocando no rosto um sorriso amigável, virou-se de volta para Íris e Samara.

— Bom, já que você é uma veterana, acho que pode nos ajudar a encontrar a diretora! Precisamos ajeitar as nossas matrículas antes de começarem as aulas de hoje.

— Claro! Venham, eu os levarei até a sala dela. – respondeu Íris toda alegre. Os três a seguiram em direção aos corredores. Kentin ficou surpreso com a rápida mudança de atitude de Alexia, mas ficou na dele, sem questionar.

Chegaram no corredor e viram a diretora rechonchuda ao longe, na porta de uma sala. Parecia que falava com alguém que estava dentro da sala. Ela sorria. Seus óculos meia-lua pendiam na ponta do nariz. Parecia uma daquelas vovozinhas de desenho japonês, usando um vestido todo rosa. Rindo consigo mesma, Alexia agradeceu Íris e seguiu na direção da velhinha. Samara e Kentin iam a alguns passos atrás.

Porém, antes que pudessem chegar até a diretora, Alexia trombou com alguém que virava o corredor lateral, caindo novamente de bunda no chão. E para sua surpresa, a mão que se estendia para ela veio acompanhado de uma voz familiar.

— Eaí, ceguinha? Derrubando muitas sacolas por aí?

Alexia levantou o rosto e viu o sorriso convencido e surpreso do ruivo, justamente aquele que não saía da sua cabeça. Sorriu ironicamente e segurou a mão do garoto. Ele a puxou com tanta força que ela foi jogada nos seus braços. Ambos se entreolharam, os rostos próximos. Olhos cinzentos nos olhos negros. Cabelos vermelhos roçando nos cabelos azuis. Desviando o olhar, ela se afastou dele e se endireitou. Não ia perder a deixa de zoar com a cara dele.

— Claro, ceguinho, e você? Vejo que não perdeu o hábito de derrubar garotas por aí. Precisa que eu retoque meus cabelos azuis? – sorriu Alexia maliciosamente. O ruivo olhou para ela de cima a baixo e riu.

 - Acho que não. Mas recomendo um par de óculos para você também.

Os dois se encaravam, ambos com sorrisos irônicos na cara. Kentin analisava a cena intrigado. Nunca tinha visto o ruivo na vida, então de onde a Alexia o conhecia? Sentiu uma pontada no coração. O que era essa sensação? Instantes depois, o ruivo percebeu a presença de uma plateia e fechou o semblante. Olhou para Kentin e bufou.

— O que está olhando, moleque? Quer uma foto minha ou o quê?

— Ei, ele é meu amigo, não fale assim. – defendeu Alexia, repentinamente séria. Ruivo olhou de Kentin para Alexia, e parece que entendeu a situação. Ia revidar, mas aí seu olhar capturou a presença da ruiva que o observava timidamente ao lado do garoto nerd. Seu olhar negro pareceu brilhar por um momento diante de outro par de olhos negros, antes de se virar resmungando para Alexia.

— Tanto faz, garota. – e se afastou.

Alexia o acompanhou com o olhar até sair de vista. Suspirando, pegou Kentin e Samara pelos braços e os arrastou rapidamente até a diretora. A velhinha estava na porta do Grêmio, pelo o que dizia a placa. Virando-se para a Samara, que a cutucara no braço, sorriu simpaticamente.

 - Olá, crianças! Devem ser os novatos, certo? Precisam concluir as inscrições, suponho. Bem, entrem aqui no grêmio e peçam ajuda para o representante, e quando estiver tudo certinho, é só me procurarem. Com licença.

 A diretora foi embora, os deixando na frente do grêmio. Alexia, obviamente, tomou a frente e entrou no grêmio. Como imaginava Kentin, ela trombou em uma garota de cabelos prateados e ondulados e caiu de bunda no chão. De novo.

 - Aaai, caramba, me desculpa! - exclamou a garota, estendendo a mão para levantar Alexia. Seus olhos azuis brilhavam de espanto. Ela usava uma blusa branca com fitas pretas trançadas no decote e uma saia plissada preta até o joelho. Suas sapatilhas vermelhas de veludo se destacavam no ambiente. Os cabelos prateados e perfeitamente alinhados ondulavam até a cintura. A menina era linda. E ela estava.... Ruborizada?

Olhando atrás da menina, Alexia viu o motivo de seu rubor. Sorrindo simpaticamente, estava ali um garoto de camisa social branca e gravata azul, calças sociais azuis e um tênis chique. Ele estava parado atrás de uma mesa cheia de pilhas de papel. Seus cabelos loiros levemente despenteados se misturavam aos seus olhos dourados e hipnotizantes. Bom, não é à toa que a garota estava nesse estado. O garoto era lindo.

— Eu sou a Ally. Bom, me desculpe novamente. Te machuquei? – murmurou a Ally enquanto puxava Alexia. Samara riu baixinho atrás de Kentin, que também sorria silenciosamente. Terceiro tombo de bunda do dia. Alexia sempre consegue se superar nas atrapalhadas.

— Imagina, eu estou bem, Ally. Sou Alexia, novata.

Ally quase saiu saltitando pela sala diante dessa frase. Seu sorriso era contagiante e verdadeiro. Alexia gostou dela imediatamente.

— Eu também sou novata! Na verdade, o Nathaniel estava me ajudando com a papelada aqui. Você já acertou as suas? – disse a garota apontando para o garoto loiro. Então ele só podia ser o tal representante. Nathaniel sorriu diante da menção de seu nome.

— Todos vocês são novatos, certo? Deixa eu ver aqui os papéis. Seus nomes?

— Alexia Hales.

— Samara Kess.

— Kentin Wood.

Nathaniel procura agilmente as fichas de cada um nas suas pilhas de papel perfeitamente organizados e os entrega sorrindo. Alexia percebeu que Ally não tirava os olhos do rapaz loiro.

— Bom, vocês quatro estão com a matrícula acertada. É só assinarem e entregarem essas fichas para a diretora. Ally, você já assinou, então é só entregar. – enquanto o garoto explicava, os três assinaram as fichas com a caneta que estava encima da mesa. – Os horários de aula e as salas de vocês estão na última folha, podem destacar e ficar com ela. Mais algo em que posso ajudar?

— Acho que por enquanto, não. Muito obrigada, Nathaniel. Vamos, gente. Temos que entregar as fichas e ir para a aula antes do sinal. – respondeu Alexia, destacando a última folha e acenando para os amigos seguirem ela. Parou na porta abruptamente quando lembrou da presença de Ally, fazendo Kentin quase bater de cara nas suas costas. Virou-se para a garota e abriu o sorriso mais convidativo que podia. – Ah, Ally, não quer se juntar à nós?

— E-eu... Quero sim! Obrigada por não me deixar sozinha. – exclamou a menina, animada pelo convite. Lançando um último olhar tímido para Nathaniel (que também a observava atentamente), seguiu o trio para fora da sala.

 

Nathaniel viu a porta se fechar atrás de Ally e suspirou. Os olhos azuis daquela garota eram tão... Sinceros! Pareciam as janelas da alma dela. E ele enxergou através delas os sentimentos que explodiram dentro de Ally assim que colocou os olhos nele. Além do rubor em seu rosto, é claro. Arrumando os cabelos, sorriu. Sorriu porque ainda sentia as próprias explosões incontroláveis dentro de si.

 

Kentin seguia Alexia em silêncio, rosto inexpressivo.

Samara andava atrás de Kentin, com pensamento longe. Ela ainda estava pensando no rapaz ruivo que vira conversando com Alexia. Quem era ele? Por que havia lançado aquele olhar diferente na sua direção? Por que tinha que ser tão lindo? Agora não sairia mais de sua cabeça. Droga.

Ally ia ao lado de Alexia. As duas haviam sentido uma conexão bacana entre si. Sabiam que dali ia surgir uma amizade valiosa. Sem precisar dizer nada, pois não era preciso. Bastava sentir.

Viram a diretora de costas no pátio falando com alguém. Aproximaram-se por trás dela. Quando chegaram perto, Alexia e Kentin bufaram ao mesmo tempo, enquanto Samara abria um sorriso discreto.

A diretora estava dando uma bronca naquele garoto ruivo.

Ao som das bufadas, ambos pararam de discutir e viraram para os recém-chegados. Diretora estava com uma cara de pura frustração, parece que o garoto estava a aborrecendo. O ruivo olhou para o grupo, parou no rosto de Alexia e revirou os olhos.

— Agora está me perseguindo, garota?

Alexia franziu o cenho, sorrindo torto. Aquele garoto era arrogante e convencido.

— Pense o que quiser com esse seu ego gigante, eu estou apenas aqui para entregar as nossas fichas de inscrição. – respondeu ela, virando-se para diretora com a ficha na mão. – Aqui está a minha ficha, diretora.

Os outros se adiantaram e estenderam as fichas também. Diretora suspirou, se acalmando e pegando os papéis. O ruivo agora encarava a ruiva, sem nem disfarçar. Samara fingiu que não tinha percebido e fitou as árvores ao redor.

— Obrigada pela agilidade de vocês. Agora, vão para as suas salas. As aulas já vão começar. – disse diretora para os quatro novatos. Virou-se de volta para o ruivo e fechou a cara. – Você também, senhor Castiel, antes que eu mude de ideia e te mande para detenção.

A velhinha foi embora sem olhar para trás. Alexia olhou para Kentin.

— Já olhou qual vai ser a sua sala?

Kentin confere a folha em sua mão rapidamente. Sala B. Samara e Ally fazem a mesma coisa.

— Eu sou da sala B, e vocês?

— Também! – exclamam as três meninas ao mesmo tempo. Às gargalhadas, eles se dirigem lentamente à sala B, que fica logo depois do grêmio. Alexia resolveu deixar Kentin abrir a porta dessa vez. Não estava disposta a trombar com mais ninguém e cair de bunda no chão.

O engraçado é que Kentin abriu a porta e bateu com força em uma loira bronzeada que estava atrás dela.

— AAAAI, moleque idiota! Você tem problema? Não se abre a porta com tanta força sem saber se tem alguém atrás dela, sabia? – gritou a loira sacudindo o dedo na cara de Kentin, deixando-o assustado. Recuou um passo e pisou no pé de Alexia, que gemeu de dor e andou para trás, afastando-se dele. Rindo cruelmente, a garota escandalosa esboçou uma cara de superioridade e colocou as mãos na cintura. Seus olhos verde-esmeralda faiscavam de maldade. Jogou os cabelos encaracolados até a altura das costelas para trás. – Já está na cara que você é um cego mesmo, mané!

Kentin respirou fundo e tentou ignorar a sensação de queimação que chegava. Ele não podia ficar com raiva. Não podia retrucar. Continue a fingir ser um fracote. Segue em frente, ignore ela. Ele ajeitou os óculos, abaixou a cabeça e tentou passar pela garota em silêncio. Bom, é óbvio que a loira não ia facilitar a sua vida. Estendeu as unhas compridas dela e cravou no seu braço, puxando-o de volta para sua frente.

— Não vai embora assim, não, nerdinho. Acha que é quem para jogar a porta em mim e querer sair de fininho? Você vai pagar por isso, boboca! – dizendo isso, a garota arrancou de seu ombro a mochila e jogou em direção à duas garotas que estavam próximas a ela. Uma asiática e uma altona de cabelos castanho-claro – Li, Charlotte, revistem aí e peguem toda a grana que ele tiver.

Alexia, diante da cena, ficou irada. Desviando de um Kentin paralisado, foi até a loira maluca e lhe deu um empurrão, passando por ela e indo até as duas garotas que estavam com a mochila de Kentin. Pegou a mochila com um puxão e voltou até a loira, que estava indignada e surpresa com a brutalidade e a coragem de Alexia. Aparentemente, ninguém a contrariava. Pensando nisso, Alexia parou na sua frente e sorriu malignamente. Nisso, a sala toda já estava em silêncio, atentos na confusão que ocorria na porta. A loira ia pagar pelo que fez.

— Olha aqui, sua oxigenada mimadinha, ninguém mandou você ficar aí esperando levar uma portada na cara. E nada te dá o direito de pegar grana de ninguém. Vai ser infantil na sua casa, não aqui. Com licença que ninguém está aqui para ver seu showzinho ridículo. – dito o que queria, Alexia acenou para que os amigos entrassem. Sem nem olhar para a loira, ela foi em direção ao fundo da sala com os amigos seguindo logo atrás, onde tinha carteiras vazias suficiente para todos eles. Os olhares dos alunos a seguiram, todos surpresos.

Sentou-se no cantinho da sala. Kentin sentou-se na sua frente, Ally ao seu lado e Samara na frente de Ally. Fecharam um quadradinho. Só depois disso é que Alexia levantou os olhos em direção à loira. Riu quando viu que estava sendo encarada. A garota estava parada no mesmo lugar, vermelha de raiva, braços cruzados na frente do corpo e batendo o pé. Sem saber o que fazer e muito sem graça por ter sido envergonhada na frente da sala inteira, a loira resolver ir se sentar. Jogou o cabelo de tal forma que Alexia caiu na risada. Mas parou no meio da risada. E gelou.

Cuidado, garota. A vingança está por vir.”

A voz feminina e rouca parecia vir de dentro da sua cabeça. Alexia olhou para os lados, mas seus amigos pareciam não ter escutado. Será que estava ficando doida? Sacudindo a cabeça, fingiu que nada havia acontecido e abriu a mochila para pegar o caderno. Foi nesse instante que uma garota se jogou na sua mesa.

— MENINA, de que planeta você veio? – sussurrou alto a menina. Ela tinha a pele de porcelana, olhos douradíssimos com os cabelos prateados como de Ally, porém lisos, que iam até metade das coxas. Suas roupas eram... Vitorianas? – Ninguém nunca enfrenta a Ambre! Você já virou uma espécie de heroína na sala, querida!

Alexia sorriu. Com certeza essa tal de Ambre ia odiá-la para sempre. E Alexia não tinha medo dela.

— Ela mereceu. Ninguém mandou mexer com Kentin. – Alexia deu ombros, como se fosse normal. Bem, na verdade, era mesmo normal para ela defender Kentin de situações como essas. Mas era a primeira vez que uma garota mexia com ele. E Alexia achou isso extremamente ridículo.

— Bem, você é a novata mais maluca que a gente poderia ter em Sweet Amoris. Como se chama? Adorei seu cabelo azul! Eu sou a Rosalya, mas me chama de Rosa. E gostei de você, garota. – seus olhos dourados brilhavam. Alexia respondeu seu nome e sorriu. Aquela garota tinha um jeitinho que fazia Alexia se sentir à vontade. – Bom, Alexia, agora é minha amiga. Esses aqui são seus amigos, certo? Então serão meus amigos também!

Rosa saiu abraçando todo mundo que ia se apresentando. Samara correspondeu o abraço toda animada. Kentin ficou levemente sem jeito, mas abraçou a garota vitoriana. Quando chegou a vez da Ally, as duas pararam e se olharam por um longo momento. Os seus cabelos eram de cores exatamente iguais. Prateados e brilhantes. Tirando isso, não eram nada parecidas. Uma tinha cabelo liso e longo, e outra, levemente cacheado e não tão longo. Uma tinha olhos dourados e outra, azuis. Mas a simpatia transbordava de ambas. E se abraçaram como se fossem velhas amigas. Soltando Ally, Rosa voltou-se para Alexia.

— Bom, Lex, deixa eu te apresentar aos meus amigos agora. – disse ela andando até a carteira ao lado de Ally. Ao seu redor, também fechado em um quadradinho, estavam dois garotos e uma garota. No canto, estava o tal do Castiel. Ele mexia no celular, sem querer olhar para Alexia e sua turma. O outro garoto estava sentado na sua frente e tinha os cabelos prateados também, além de se vestir de modo vitoriano, como Rosa. A garota estava na carteira na frente de Rosa. Ela tinha cabelos roxos e cacheados na altura dos ombros, e estava de fone, balançando a cabeça ao som de alguma música. Ela lançava olhares discretos para o garoto vitoriano que parecia estar perdido nos próprios pensamentos. – O ruivo ali é o Castiel. Sempre com cara de azedo, mas é uma boa pessoa. Esse aqui é o Lysandre, que eu chamo de Lys-fofo. Ele é irmão do meu namorado, Leigh. E essa aqui é minha amiga de infância, vulgo prima, que se transferiu para cá hoje, Brenda. Ela entrou na sala um pouco antes de vocês e por pouco não bateu a porta na Ambre.

Ao som de seus nomes, Lysandre e Brenda olharam para a Rosa. Quando perceberam que estavam sendo apresentados, sorriram. Castiel continuou olhando para o celular de cara amarrada.

— Esses são Alexia, Kentin, Samara e Ally. – apontou Rosa um por um, explicando para Lysandre e Brenda. – São novatos, e são legais. Vou adotá-los. Não morram de ciúmes, meus amores. Tem Rosa para todo mundo.

Brenda riu, o que fez Lysandre virar a cabeça em sua direção. Sua risada era cristalina. Pura. O garoto vitoriano gravou aquele som na sua mente. Brenda olhou de canto para Lysandre, que desviou o olhar rapidamente. Ela podia jurar que ele estava a encarando. Abaixou a cabeça e voltou para seus fones de ouvido.

— Bom, gente, alguém pode me explicar o que que deu naquela loira? Ou ela é sempre assim mesmo? – perguntou Samara em voz baixa, aparentemente intrigada com Ambre.

— Ambre, Li, Charlotte e Sarah são as quatro capetas do colégio. Sempre destruindo reputações e autoestimas. Tomem cuidado extra com Sarah. – desdenhou Rosa com uma cara de impaciência e nojo. Alexia estranhou. Tinha visto apenas três garotas. Pelo o que tinha entendido, a loira bronzeada era a Ambre. Li era a asiática, e Charlotte era a de cabelo castanho. Então... Quem era a Sarah?

— Er... Rosa, qual é a Sarah? – perguntou Kentin baixinho, pensando a mesma coisa que Alexia.

Rosa meneou a cabeça na direção da Ambre. Ela estava sentada na frente de Li e Charlotte. E ao lado de Ambre...

Estava lá uma garota loira. Não aquele loiro artificial de Ambre, mas um loiro puro, platinado. Ou melhor, um loiro natural e perfeito. Fios lisos indo até os pés. Seus olhos verde-água cristalinos estavam atentos no caderno. Era magrinha e alta. Rosto fino e delicado. Usava um casaco de lã branco que cobria até as coxas e um shorts legging preto. Simples e linda. Era a deusa da beleza em versão recatada. Aparentemente era alguém simpática e meiga.

Aquela era a Sarah?

— Rosa, você quis dizer... Aquela loira fofinha ao lado de Ambre... É a...?

Rosa assentiu, rosto subitamente sombria. Diante daquela reação, Alexia não teve dúvidas. As aparências podem enganar as pessoas. E aquela garota fisicamente inofensiva pode ser o maior perigo daquele colégio, sim.

— Certo, ficaremos de olho nela. – declarou Samara. Ela parecia não se importar muito com a Sarah. Bem, na verdade, ela estava ocupada admirando uma cabeleira ruiva do outro lado da sala. E o mais incrível foi receber olhares de volta. E eram olhares intensos. Céus! Como Samara queria mergulhar na escuridão dos olhos daquele ruivo metido à besta!

Alexia percebeu que os ruivos estavam se entreolhando de um jeito muito peculiar. E, sinceramente, ela não estava muito confortável com aquela situação. Afinal, aquele ruivo também não saía dos seus pensamentos. Suspirou e voltou a atenção para o caderno. O certo era certo. Ela devia pensar em Kentin, não o ruivo. E com essa afirmação, bloqueou as divagações e olhou para frente da sala. O professor estava entrando.

E ouviu-se um gritinho.

De Ambre.

— Professor! O garoto de óculos e a garota de cabelo azul ali do fundo da sala me agrediram! – acusou a loira na maior cara de pau. A sala inteira mergulhou em silêncio, esperando o desenrolar da cena. Ninguém tomou atitude de contradizer Ambre. E o professor olhava para os dois novatos com cara de assassino. Alexia bufou. Então a loira era queridinha dos professores também. Agora ia complicar pro lado deles de vez. – Ele bateu a porta com força em mim e ela me empurrou! A Li e Charlotte estão de prova!

— Certo. Vocês dois! – apontou professor para Alexia e Kentin. – Para diretoria AGORA!

Rosa olhou para a nova amiga, expressão aflita, mas sem dizer nada. Aparentemente, se contrariasse Ambre na frente do professor, sobraria para ela também. Alexia sorriu e deu ombros. Pegou a mochila, levantou-se sem dizer uma palavra e saiu da sala. Kentin pegou seu material e a seguiu olhando para o chão, as mãos em punho. Como essa loira atrevida ousa mentir na cara de pau? Vou acabar com ela! Não... Se controla, garoto! Kentin sentiu a centelha de poder crepitar dentro de si. Se ela soubesse com quem ela está mexendo... Eu mato ela com um peteleco! E ele começou a sentir a vertigem. Não, agora não. Não aqui. E o poder estava transbordando. Ele podia sentir as pontas dos dedos formigando.

Nesse instante, Sarah levantou o olhar do caderno, alarmada, e fixou os olhos em Kentin.

Mas ele segurou a onda e apressou os passos atrás de Alexia.

Ao saírem pela porta, Kentin segurou seu braço e a fez parar. A garota olhou para ele, intrigada. Kentin estava suando e parecia com dor.

— Vai para diretoria e avise que eu fui embora, Lex. Não estou me sentindo bem, tchau! – disse Kentin rapidamente e então saiu correndo sem olhar para trás.

— Mas Ken...

Alexia nem tentou chama-lo de volta. Parecia que realmente estava passando mal. Bom, mais tarde, quando chegasse em casa, conversaria com ele.

Mal sabia ela que não o veria tão cedo.

***

Kentin correu o mais rápido que podia para chegar em casa. Entrou e fechou a porta, passando a tranca. Cambaleou até o quarto e encostou no armário, respirando com dificuldade.

A raiva que tinha passado hoje por causa de Ambre o havia afetado demais. Somado ao ciúme que estava sentindo por causa dos olhares que Alexia dirigia àquele ruivo metido a besta, Kentin estava possesso. Sim, ele percebera que Alexia estava balançada por aquele ruivo idiota. Estava com raiva disso. E isso era muito, muito ruim.

Ele vinha controlando o poder que pedia para se libertar. O poder que o transformaria, o tornaria forte, poderoso. Para sempre.

Mas não queria. Kentin queria ser um garoto normal. Por isso se impedia de se transformar com todas as suas forças. Mas quando seu estado emocional se altera, o controle escapa do seu alcance. E ele nunca esteve tão alterado como naquele momento.

 Além de que o fato de se transformar colocaria todos ao seu redor em perigo. Recordou-se das palavras ditas por seu pai anos atrás...

“Kentin, meu filho... Lembre-se do que vou te dizer agora: você sabe o que herdou da sua mãe, e sabe que esse seu lado é algo perigoso. Esse poder só será controlável se você for treinado para isso. Porém, você sabe as regras e os riscos. Sabe que deve manter isso em segredo. Para o bem de TODOS.”

Ele sentiu várias pontadas dolorosas nas costas. A tontura que a força do poder causava o fez oscilar. Seu corpo não obedecia, havia uma tensão nos músculos. Não, não pode ser... Estava acontecendo...?

Um espasmo nas pernas o derrubou de joelhos no chão, as mãos cravando-se involuntariamente no carpete. A dor nas costas aumentou. Fechando os olhos, Kentin arquejou.

Ouviu-se o som de tecido se rasgando.

E houve a sombra.

***

Alexia ficou atordoada quando chegou a casa, correndo direto para o quarto de Kentin. Ela estava no intervalo antes da última aula quando recebeu uma ligação dele...

 

 — Lex? – disse Kentin do outro lado da linha, sua voz estava mais grave do que o normal. E parecia tenso. Alexia sentiu que havia algo de errado.

— Kentin? Está se sentindo melhor? Acabei passando na diretoria só para avisar que você tinha ido embora e voltei para a sala, Ambre quase infartou e...

— Não tenho tempo para explicar muita coisa, Lex, só escuta. – cortou Kentin, deixando Alexia perturbadamente confusa. Ele nunca a cortava, ainda mais tão rudemente. Mas se ele a cortou, então a coisa deve ser séria. Calou-se e escutou. – Meu pai está aqui. Estou arrumando as malas e vou embora com ele para uma escola militar. Ele disse que vai me tornar um homem de verdade. Um homem que não vai deixar se intimidar por garotinhas desprezíveis como Ambre. Só... Não se esquece de mim. E prometo que eu volto assim que eu puder. Tchau, Lex.

 E a ligação ficou muda.

 

Alexia ainda não estava acreditando. Sem nem esperar uma resposta dela, ele desligou. A ligação e o celular. E como a última aula era explicação do primeiro trabalho do semestre, ela não pôde ir para casa mais cedo.

Talvez seja por isso que Alexia só encontrou um vazio insuportável no quarto que era de seu melhor amigo.

Não queria aceitar a realidade. Seu Kentin a havia deixado sem ao menos se despedir pessoalmente. Alexia caiu de joelhos diante da solidão e chorou.

Agora estava sozinha.


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Notas finais do capítulo

Cadê as especulações sobre o que o Kentin é, galera? Quero ouvir!
Beijos



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