Quanto tempo iria esconder tudo aquilo em ofensas sarcásticas? Conseguiria por mais tempo? Doía, doía muito; ver os lábios do ruivo abrindo um sorriso para outros. Antes era diferente, todos os sorrisos eram direcionados para Saruhiko. O mesmo estaria mentindo se falasse que não sabe quando esse ódio se propagou, pois esse era os motivos de suas crises, de sua angustia, de suas noites sem dormir, de seus insultos sarcásticos e maliciosos; aquele ruivo era o motivo de ainda querer viver; porém Fushimi não o tinha mais...

E não se quer pensar...! e o pensamento

Sempre a morder-nos bem, dentro de nos.

Querer apagar o céu – ó sonho atroz! –

O brilho duma estrela, com o vento!

Como queria-o agora, mas a realidade acordava-o, lembrava-o que não seria assim. Não iria protegê-lo, não receberia sorrisos, não iria vê-lo todos os dias, não estariam juntos, não ajudaria mais, não serviria para nada. Como ter-lo? Como ter alguém que agora, nutre ódio teu?

Como sustentar-se em lutas, lutas contra quem ama? Com quem é o motivo de seus sorrisos internos, mas também de seu sofrimento.

Insultos, mais insultos, sempre que encontravam-se era apenas isso; o único jeito de manter a atenção do ruivo em si, era isso. Insultos. Mas doía, doía vê-lo com ódio teu.

E não se apaga não... nada se apaga!

Vem sempre rastejando como a vaga...

Vem sempre perguntando: “O que te resta?...”

Sua vida agora cinza, girando em duvidas, igual uma bola de neve, não parava, apenas crescia; crescia o sofrimento; crescia a desilusão; a desesperança; o desespero.  Talvez, um remédio poderia aconselhá-lo agora, talvez dois, três parece-me bom, quatro, oito, já não esta bom? Por que não todo o frasco? E esta corda? Parece bonita com um nó...

    “Oh doce vida, por que parei de admira-la? 

Por que parece mais colorido agora que meu coração está mais lento? “

As lágrimas incessantes de Saruhiko pararam... O celular iluminado, aonde a luz propagava uma foto de Misaki, estava ao chão, alguns pés longe de Fushimi, que agora os mesmos não alcançavam o chão.

Angústia- Florbela Espanca.