Anseios escrita por Deusa Nariko


Capítulo 1
I - Sobre Mãos e Koto


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá e olá :)
Aproveitando que o universo de Akatsuki no Yona e seus personagens maravilhosos me fisgaram mesmo, decidi escrever uma coleção de One-shots para um dos meus personagens favoritos e para o meu mais recente OTP.
...
Essas one-shots terão como foco os sentimentos do Hak e, sim, VAI TER MUITO ROMANCE, eu preciso de alguma válvula de escape do mangá porque a lerdeza da Yona e do Hak me frustra demais ;-;
...
Enfim, espero que gostem e se divirtam tanto quanto eu estou me divertindo!
Boa leitura!



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Anseios

Por Deusa Nariko

I

Sobre Mãos e Koto

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Havia dias em que os pensamentos de Hak simplesmente se recusavam a obedecê-lo e se voltavam todos para o objeto secreto de sua afeição: a ingênua e mimada princesa Yona.

Como hoje, em que ele a observava deslizar os dedos pelas cordas do Koto, testando as vibrações com uma expressão tanto de concentração quanto de incerteza no rosto. O sol da manhã entrava através da porta escancarada e das janelas altas do cômodo espaçoso, porém vazio. No seu centro estava a princesa Yona, comportadamente sentada sobre uma almofada de brocado enquanto se debruçava sobre o grande instrumento, dedilhando-lhe as cordas com um ar pensativo mas determinado.

Hak estava quase deitado sobre o assoalho reluzente, próximo à porta, o rosto apoiado sobre um punho e os olhos pregados na silhueta miúda que se esforçava para aprender a tocar uma simples música. Ela mais errava as notas do que as acertava, mas, ainda assim, encontrava uma espécie de harmonia para a sua própria canção.

Os volumosos cabelos cor de carmesim haviam crescido notavelmente nos últimos anos e caíam em belos cachos ao redor do rosto e dos ombros da princesa. Ela era tão pequena quanto frágil. Os olhos violetas estavam mais claros naquela manhã, porém eram sombreados pelos grossos cílios negros que se debruçavam, como ela própria, sobre o Koto.

Os lábios rosados e comprimidos complementavam a feição meio emburrada da princesa. Oh, ela estava tendo dificuldades agora. Os dedos deslizaram mais lentos, mais incertos, mais receosos sobre as cordas. Uma nota particularmente irregular quebrou a harmonia frágil da música e reverberou pelo recinto como um grito.

Hak agora estava olhando apenas para as mãos dela: pálidas e femininas; os dedos eram finos de pontas cônicas e as unhas estavam sempre em perfeito estado. Não havia calos, não havia qualquer imperfeição. Eram mãos dignas de uma princesa.

Ele detestava admitir, mas adorava as mãos dela. Eram a antítese completa das dele: grandes, bronzeadas e calejadas, com dedos longos e articulações fortes. Hak as treinou desde cedo para serem as mãos de um guerreiro, as mãos de um guarda-costas.

Hak devaneou, durante um momento de fraqueza, como seria ter as mãos da princesa entre as suas. Como seria segurá-las contra o seu rosto, macias e perfumadas. Contra os seus lábios...

— Hak? — O chamado da princesa interrompeu sua fantasia na parte mais embaraçosa e ele pulou em resposta, terrivelmente envergonhado e consciente dos olhos dela sobre o seu rosto.

— O que foi, Hime-san?

A música dela havia terminado de vez agora e o silêncio apenas acentuava o seu embaraço.

— Estava me ouvindo tocar há muito tempo?

Ela piscou para ele aqueles incríveis olhos violeta de forma ansiosa e custou para o jovem Besta Trovão manter a sua compostura.

— E se eu estivesse? — replicou emburrado, virando o rosto para o canto oposto.

— Queria uma opinião honesta para saber se melhorei — ela admitiu com uma expressão um tanto descontente. — As damas do castelo apenas me adulariam.

Depois de um tempo, ela arriscou a pergunta que tanto queria fazer a ele:

— Acha que eu melhorei, Hak?

— Por que tanto interesse em aprender a tocar afinal, Hime-san?

Ah, ele tinha de perguntar. Já imaginava a resposta, mas ouvi-la da boca da princesa era bom para lembrá-lo de coisas que ele jamais deveria esquecer. Yona enrubesceu e desviou o olhar antes de balbuciar, encabulada:

— E-eu queria tocar para o Soo-won. Na próxima vez em que ele vier ao castelo.

A pontada no seu peito era tão familiar quanto bem-vinda. Hak às vezes sentia necessidade de ouvir essas pequenas e dolorosas doses de realidade, elas serviam para colocá-lo no seu devido lugar e para matar as fantasias que o seu coração teimava em tecer.

No fim, suas respostas ácidas para a princesa sempre seriam a sua defesa contra aqueles sentimentos:

— Hime-san, não há razão em atormentar o jovem mestre com essa cacofonia — disse com um sorriso torto, embora o seu peito ainda doesse pelas palavras dela.

— Ora, seu! — Yona devolveu com o rosto vermelho: — Nunca mais permitirei que me ouça tocar, Hak! Mesmo quando eu tiver melhorado, entendeu?!

Hak se sentou, apoiando as costas contra a parede, enquanto fingia uma expressão de indiferença.

— Meus ouvidos agradeceriam por isso, Hime-san.

Dessa vez, ela se afastou do grande instrumento com irritação. Andou de um lado para o outro, tempesteando a cada passada ruidosa para enfatizar a sua raiva e indignação.

— Qual é o sentido de ter o meu próprio guarda-costas se ele é incapaz de formular frases agradáveis?!

— Hime-san mesma disse que preferia uma opinião honesta à adulação — Hak a lembrou num tom monótono.

— Pois mudei de ideia!

— Sim, sim, Hime-san — ele se escusou, levantando-se dessa vez para sair do cômodo, de preferência antes que a princesa decidisse atirar o Koto sobre a sua cabeça.

Hak nunca revelaria isso a ninguém, muito menos para a princesa, mas ele adoraria ouvi-la tocar, de novo e de novo. Não porque ela brilhantemente acertava as notas e dedilhava as cordas. Mas porque era Yona, a sua princesa, tocando.

Não, era por Soo-won que ela praticava com tamanha obstinação. Era em Soo-won que ela pensava enquanto tocava. Apenas nele. Isso nunca mudaria.

E aquelas mãos que ele observara tão apaixonadamente durante quase toda a manhã jamais se moveriam ou tocariam por ele, jamais segurariam as dele de volta. Estavam fora do seu alcance.

Mas Hak estava bem com isso, ele esteve bem com isso desde o momento em que se percebeu apaixonado pela única pessoa que jamais poderia amar — ou era disso que se convencia.

Seu único papel era garantir que aquelas mãos perfeitas e delicadas jamais conhecessem a dor ou o sofrimento para que continuassem teimosamente tentando tocar o Koto. Para outra pessoa apreciá-las.

 

 


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Notas finais do capítulo

Pensar nos sentimentos do Hak dói, dói muito. Eu detesto vê-lo sofrendo, quero pegar no colo e ninar. Ai, ai. Espero que a Kusanagi-sensei dê alguma alegria pra ele futuramente, ele merece, poxa! =(
...
Nos vemos nos reviews e até o próximo! ;)