De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 22
Poderia aceitá-los?


Notas iniciais do capítulo

Eu não tinha notado como o capítulo ficou grande até começar a corrigi-lo! XD
O capítulo desse mês saiu um pouco mais cedo, não é mesmo? Isso porque a partir de agora tentarei postar a cada 20 dias, ao invés de a cada 30 como antes, sei que é pouco, mas já faz alguma diferença, não é?
Vamos ver até quando consigo manter isso kkkkk



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Era dia 13 de fevereiro, sábado, Rin estava em frente à escola esperando por Sesshoumaru-Sama, — pois desde que a temperatura começara a baixar consideravelmente ele passara a ir descaradamente buscá-la no portão, sem se importar com o que diziam as regras — ela estava congelando ali fora e estava mais empacotada do que se lembrava de ter estado nos últimos meses, e ainda assim ela estava tão feliz que mal podia ficar parada, dando a todo o momento pequenos pulinhos de um pé para o outro.

Ou talvez fosse apenas o frio.

Ela estava feliz que Sesshoumaru-Sama estava de volta, mas ainda não havia entendido porque, de repente, ele perguntar a ela onde estavam seus brinquedos e porque não havia nenhum ali.

A resposta era simples: Quando Rin fez as malas ela precisou colocar o máximo de roupas e itens críticos possíveis, e se tivesse colocado brinquedos ia perder uma parte valiosa do espaço.

Então, alguns dias atrás, Sesshoumaru-Sama parou em uma papelaria depois de buscá-la na escola, porque precisava comprar mais tinta para a caneta tinteiro que Kagome-chan lhe dera — porque mesmo que Sesshoumaru-Sama sempre agisse como se não se importasse com nada nem ninguém, na verdade ele tinha muito cuidado com qualquer coisa que lhe dessem — e quando ela por acaso ficara olhando para uma caixa de lápis de cor de setenta e duas cores — algo que sempre quisera, mas nunca ousara pedir, embora soubesse, ou então justamente por saber disso, que sua mãe faria de tudo para lhe dar a caixa de lápis de cor que ela queria — ele simplesmente comprou a caixa e lhe deu sem que ela precisasse dizer nada.

Não que fosse a primeira vez que ele fazia algo assim, mas ainda assim Rin ficava extremamente feliz sempre que Sesshoumaru-Sama lhe dava alguma coisa, fosse uma dúzia de pudins, um bolo ou uma caixa de lápis de cor.

Mas mais do que isso, foi também nesse dia na papelaria que, graças a toda a decoração e a venda de cartões, Rin finalmente se deu conta da aproximação de um dia comercial em especifico: O Valetine’s day.

Aos nove anos de idade Rin nunca dera importância àquele dia que deixava tantas garotas e garotos mais velhos afoitos por dar/receber chocolates, mas, naquele ano, parecia que algo de diferente aconteceria.

Pois Kagome-chan e Sango-chan pareciam ter planos para ela naquele dia.

—Chocolate de dia dos namorados? — repetiu.

—Isso. — Kagome-chan estava pintando as unhas da mão em cima do kotatsu de Sesshoumaru-Sama — Será na semana que vem e Sango e eu queremos fazer alguns chocolates, você não quer fazer conosco Rin-chan?

Rin inclinou a cabeça de lado.

—Mas... Eu só tenho nove anos, não acho que já tenha idade para fazer chocolate.

Sem compreender o sentido real de suas palavras Kagome-chan esfregou seus cabelos com a palma da mão, tomando bastante cuidado para não borrar as unhas.

—Que bobagem Rin-chan, você faz coisas bem mais difíceis do que chocolate, e só tem nove anos! Com certeza ficará bem, além disso, Sango e eu estaremos lá com você, certo?

—Eu não estava falando disso. — tratou de explicar — É que eu não tenho porque ou para quem fazer chocolates. — involuntariamente ela fez uma careta — Eu só tenho nove anos ainda.

Dessa vez sim Kagome-chan pareceu compreender o que ela dizia.

—Oh. — ela fez — Entendi. Mas Rin-chan eu não estava me referindo chocolates Honmei, esse tipo de chocolate que as meninas fazem para dar aos meninos de quem gostam.

Rin franziu o cenho.

—Não estava?

—Não.  Nesse dia as garotas não dão chocolate apenas aos garotos de quem gostam. Há também os chocolates giri, os obrigatórios. Sabe? O tipo de chocolate que fazemos para as pessoas de quem gostamos para agradecê-las por algo, e há também vários outros tipos de chocolate que se pode dar no dia dos namorados, não se deixe levar apenas pelo nome do dia. — mas ao perceber o olhar de Rin, Kagome-chan franziu o cenho — Rin-chan... Você nunca deu chocolates?

Lentamente Rin balançou a cabeça.

—Não. — disse finalmente.

Kagome-chan a olhou.

—Rin-chan. — chamou — Está me dizendo que nunca fez nem chocolates obrigatórios?

Rin inclinou a cabeça de lado.

—Uma vez mamãe trabalhou temporariamente numa confeitaria para ajudar porque estava tudo muito movimentado por causa do dia dos namorados e trouxe para casa alguns chocolates que sobraram, mas eu não acho que seja a mesma coisa.

—Não, não são. — Kagome-chan negou — Então está decidido, certo Rin-chan? Eu, você e Sango iremos a três juntas preparar chocolates para esse dia dos namorados. Nós vamos fazer chocolates tomo, chocolates da amizade, entendeu?

Agora Kagome-chan estava passando o óleo secante nas unhas.

Francamente Rin não entendia o porquê de tanto trabalho já que Kagome-chan teria que tirar tudo antes de ir para a aula no dia seguinte.

De novo Rin franziu o cenho.

—Você e Sango-chan não vão fazer chocolates para tio Inuyasha e Miroku-kun?

—Vamos. — ela ergueu os olhos — Por quê?

—Nada. — respondeu — Nada não.

Lentamente Rin inclinou a cabeça de lado, agora parecia é que Kagome-chan é quem não entendia muito bem a diferença entre os tipos de chocolates.

Pensando nisso, alguns dias depois, no dia anterior ao citado dia dos namorados, Rin decidiu perguntar sobre isso na escola:

—Os tipos de chocolate? — repetiram suas amigas, Soten e Shiori, durante a hora do almoço.

Rin balançou a cabeça afirmativamente.

—Sim, vocês sabem, como os chocolates obrigatórios e os outros.

—Eu... Nunca fiz chocolates obrigatórios para ninguém, nem... De nenhum outro tipo. — Shiori respondeu tímida como sempre.

Já Soten cruzou os braços e anunciou toda orgulhosa:

—Pois ano passado eu entreguei fami chocolates, e vou entregar de novo esse ano!

As outras duas meninas a olharam impressionadas, apesar de que se tratava apenas de chocolates que se dão a membros da família.

—É mesmo? — perguntou Rin.                                               

—Sim. — confirmou Soten — Meu irmão me ajudou a fazer um bolo de chocolate, tinha até cobertura.

—E... Para quem era o bolo? — Shiori perguntou.

—Para o meu irmão é claro! — Rin e Shiori quase caíram de suas cadeiras — Visto que ele é o meu único parente que eu realmente gosto e que gosta de mim, nada mais justo do que ser ele a pessoa a quem eu dei meu chocolate.

—Mas... Não tem problema a pessoa a quem você vai dar o chocolate te ajudar a fazer os chocolates? — Shiori perguntou em duvida.

Soten limitou-se a encolher os ombros.

—O meu irmão não reclamou. — respondeu — Mas... Por que é que você quer saber disso Rin?

Nesse momento a atenção das duas voltou-se para Rin e a menina não pôde evitar se sentir um pouco constrangida.

—Bem, é que... Kagome-chan e Sango-chan, que são amigas do meu tio Inuyasha e às vezes cuidam de mim, me convidaram para fazer chocolates junto com elas.

As duas meninas continuaram olhando para Rin a espera de mais explicações, e Soten inquiriu:

—Bem, e daí? O que tem demais nisso?

—É que eu não sei se elas sabem direito o que são chocolates de amizade...

—Por que diz isso Rin? — Shiori perguntou.

—Porque os chocolates são para o meu tio e o amigo dele, Miroku-kun, e acontece que Sango-chan e Kagome-chan gostam deles.

—Gostam? — repetiu Shiori.

—Gostam.

—Eles são namorados? — perguntou Soten.

—Não, apenas gostam um dos outros, mas Sesshoumaru-Sama diz que são idiotas demais para perceberem, e ele também não fala nada porque “não é da conta dele”. — fez uma careta — Mas na verdade eu acho que ele se diverte com isso, ele é um homem meio cruel.

Soten esfregou o queixo.

—Acho que já entendi onde está a sua dúvida. — disse — Afinal como podem ser chocolates de amizade se estão fazendo para os garotos de quem gostam? Mesmo que elas não saibam disso.

Rin acenou com a cabeça.

—É isso mesmo. — confirmou.

As duas se puseram pensativas por um momento, até que Shiori interveio:

—Se elas acreditam que são chocolates de amizade, então são chocolates de amizade. — Rin e Sonten se voltaram para Shiori, que se sentiu constrangida pela atenção, mas ainda assim continuou: — Se... Elas não são as namoradas deles e não estão fazendo os chocolates com intenção de se declararem, então são chocolates de amizade, ainda que elas gostem deles, quer saibam ou não.

Rin e Soten estavam impressionados.

—Acho que está certo. — Rin concordou.

E Soten assentiu de maneira entusiasmada:

—Sim, como esperado de nossa querida Shiori-chan!

Com o elogio Shiori corou mais um pouco e agradeceu, embora insistisse que não era nada demais.

Assim Rin mal podia esperar para que chegasse o dia seguinte, pois seria quando Sango-chan, Kagome-chan e ela fariam os chocolates depois da escola para entregar no outro dia, e agora Rin queria muito fazer aqueles chocolates! Então hoje sua agitação para ir para casa era tanta que ela não sabia se pulava mais pela ansiedade ou pelo frio.

O que ela não esperava era que certo imprevisto — porque afinal nunca se espera um imprevisto — ocorresse naquele dia que, se não fosse atrapalhá-la por completo, ao menos a desanimaria consideravelmente.

Então, lá estava Rin pulando de um pé para o outro em frente à escola quando o “imprevisto” bateu em seu ombro, porque com tantas camadas de roupa se tivessem apenas a cutucado ela dificilmente sentiria.

—Rika? — surpreendeu-se ao virar-se.

Desde que Rika descobrira quem era o pai de Rin ela havia deixado de atormentá-la na escola, mas nem por isso se tornaram amigas, Rika sempre resmungava um “Bom dia Kimura-chan” para ela, e mais nada, daí a surpresa de Rin quando ela espontaneamente veio falar com ela.

—Quando... Quando o seu pai vem te pegar? — resmungou constrangida puxando o cachecol sobre os lábios.

No frio extremo Rika estava agasalhada com casaco, luvas, cachecol e botas, mas nem de longe estava tão empacotada quanto Rin, ainda que aquele estivesse sendo o dia mais frio do ano — embora para Rin todos os dias de fevereiro parecessem ser o dia mais frio do ano.

—O que? — Rin piscou surpresa.

—T.S.-Sama! — Rika gritou de repente, batendo o pé no chão fazendo Rin pular de susto — Quando T.S-Sama vem?!

—Sesshoumaru-Sama? Eu... Eu não sei, ele já devia estar aqui, ele dificilmente se atrasa, então com certeza chegará logo...

Na verdade Sesshoumaru-Sama sempre a mandava esperar dentro da escola quando ele se atrasasse, pois era perigoso que uma criança ficasse ali sozinha por tanto tempo — além de que ela não parecia muito compatível ao frio.

—Hum... — Rika resmungou se postando ao seu lado.

—O que você...?

—Eu vou esperar com você! — ela encolheu-se escondendo ainda mais a boca e o nariz atrás do cachecol e resmungou: — Não é óbvio?

—Ah... — Rin não sabia o que dizer — Tudo... Tudo bem.

As duas ficaram alguns segundos em silêncio olhando para a rua, mas devido ao desconforto, quase pareceram horas.

Rin a olhou.

—Hum... Eu...

—Não fale comigo! — Rika irritou-se.

—Desculpe! — Rin respondeu assustada, olhando novamente para frente.

E um minuto inteiro se passou.

Aquilo já estava demorando demais... Onde estava Sesshoumaru-Sama afinal?! Rin estava se sentindo muito desconfortável...!

—Rin. — Sesshoumaru-Sama a chamou.

Rin virou-se mais feliz do que o habitual.

—Sesshoumaru-Sama! Por que demorou...?

Ela parou ao perceber as roupas de Sesshoumaru-Sama.

Não eram as mesmas roupas de sempre — camisa de mangas, jeans surrados e tênis desgastados, com o sem o sobretudo cinzento — ao invés disso usava um suéter azul escuro com uma gola tão alta que quase lhe cobria um pedaço do queixo, jeans cinzentos, coturnos pretos e um casaco que parecia entre o meio termo do azul e do cinza.

Rin inclinou a cabeça de lado.

—Sesshoumaru-Sama? — chamou — Que roupas são essas?

—São as minhas roupas, é claro.

—O senhor nunca usou essas antes.

—Eu estava com vontade de usar essas hoje. — respondeu virando-se — Vamos?

—S...!

Rin estava prestes a concordar, quando Rika passou a sua frente:

—T.S. – Sama! — chamou passando por Rin ao correr para postar-se a frente de Sesshoumaru-Sama.

Sesshoumaru-Sama parou com as mãos nos bolsos.

—Sim? — respondeu.

—É... Eu... Hum... — Rika parecia muito constrangida, remexendo-se sem parar com o rosto ficando muito vermelho. — Eu sei que hoje ainda não é dia quatorze, mas... Mas... É que amanhã é domingo então... Então... Por favor, aceite isso!

Ela fechou os olhos quando estendeu as mãos segurando o que parecia ser uma caixinha de chocolates.

Chocolates!

Aquilo não era justo, Rin queria ter sido a primeira a dar chocolates para Sesshoumaru-Sama!

Pondo-se ao lado de Sesshoumaru-Sama, Rin o olhou para ver sua reação, mas ele permaneceu impassível enquanto Rika continuava a falar:

—Eu sinto muito por incomodá-lo com isso, mas é que eu realmente o admiro muito T. S.-Sama então... Por favor, aceite!

Rin piscou.

Estava dando chocolates a ele porque o admirava? Então eram chocolates de admiração? Espera, e isso por acaso existia?

Sesshoumaru-Sama arqueou uma sobrancelha.

—Entendo. — Sesshoumaru-Sama tirou uma mão do bolso e pegou o chocolate de Rika, naquele dia ele também estava usando luvas negras — Agradeço os seus sentimentos.

Rika corou ainda mais.

—E-então era isso. — gaguejou — Eu estou indo agora!

Ela virou-se e correu para casa.

—Vamos. — ele a chamou virando-se.

Mas Rin olhou de um lado para o outro e não viu o carro de Sesshoumaru-Sama, e quando se deu conta ele já ia longe.

—Ah! Sesshoumaru-Sama espera! — ela correu atrás dele — Onde está seu carro?

—Emprestei. — respondeu.

—E como vamos para casa?

—De metrô.

—Mas o senhor odeia andar de metrô nos horários de pico.

—Odeio. — confirmou.

Isso a deixou confusa, afinal por que e para quem Sesshoumaru-Sama emprestaria seu carro?

—Rin. — ele voltou a chamá-la.

E de repente Rin percebeu que havia ficado de novo para trás e que Sesshoumaru-Sama já estava longe novamente.

—Ah! Sim! — respondeu correndo para alcançá-lo mais uma vez.

—Rin. — olhou-a de canto quando ela passou a caminhar ao seu lado.

—Sim?

—Você gosta de chocolates?

—Hã? — ela o olhou — Sim, eu gosto.

—Muito bem. — ele tirou os chocolates de Rika do bolso — Então fique com esses.

Os chocolates de Rika... Sesshoumaru-Sama havia acabado de dar para ela os chocolates de Rika.

É verdade que eram chocolates comprados e não chocolates caseiros, e que Rin não gostava muito de Rika — e vice e versa —, mas ela claramente havia se esforçado para entregar aqueles chocolates a Sesshoumaru-Sama, que ele gentilmente aceitara... E agora os passava adiante como se não fossem nada.

—R-R-R-Rin-chan! — Kagome-chan alarmou-se quando ela e Sango-chan foram buscá-la no apartamento, depois que ela não subiu para o apartamento de Sango-chan como tinham combinado, e a encontrou no quarto, sentada na cama de tio Inuyasha prendendo o choro — O que houve?

—S-Sesshoumaru-Sama. — soluçou.

Kagome-chan e Sango-chan a olharam por alguns instantes e então ambas suspiraram.

—Sim? O que tem Sesshoumaru? — Kagome-chan perguntou sentando-se ao lado dela na cama e lhe fazendo carinho na cabeça.

Já Sango-chan parecia um pouco mais irritada.

—Sim. — ela fechou os olhos levando dois dedos à testa — O que foi que ele fez dessa vez?

—S-Sesshoumaru-Sama! — Rin voltou a soluçar, agora com as lágrimas represadas já começando a vazar.

E de repente sem conseguir mais segurar ela começou a chorar compulsivamente, apertando firmemente um travesseiro contra o rosto, porque não queria que Sesshoumaru-Sama a ouvisse.

E só depois de quase dez minutos inteiros chorando foi que ela conseguiu — entre muitos soluços e gaguejos — explicar como Sesshoumaru-Sama aceitara os chocolates de Rika e depois os dera a ela, e como agora ela não queria mais dar chocolates a ele porque mesmo se ele aceitasse ele iria apenas dar a outra pessoa depois, mas ela realmente queria fazer chocolates para Sesshoumaru-Sama, e por isso não conseguiu parar de chorar.

Ao fim, quando ela terminou de explicar tudo, Kagome-chan segurou um lenço de papel sobre seu nariz para que ela assuasse.

—Rin-chan. — disse logo depois — O Sesshoumaru não passaria seu chocolate adiante, não precisa se preocupar com isso.

—Isso, Rin-chan. — Sango-chan, que agora também já havia se sentado com ela na cama concordou — Porque nós vamos fazê-lo engolir tudo antes disso!

Completou socando a própria mão.

Mas Rin balançou a cabeça.

—Eu também não quero obrigar Sesshoumaru-Sama a aceitá-los.

Kagome-chan e Sango-chan se entreolharam como se não soubessem mais o que dizer.

Foi quando tio Inuyasha entrou.

—O que estão fazendo aqui? — perguntou quando as viu — Não iam fazer chocolate no apartamento da Sango hoje?

—Nós já estávamos indo. — Kagome-chan respondeu usando mais alguns lenços para secar o rosto de Rin.

Parecia que ela tinha uma caixa inteira deles dentro da bolsa, garotas carregavam as coisas mais estranhas possíveis.

—Ah, então Rin vai com vocês? Você vai fazer chocolate para o Sesshoumaru, Rin? — ele cruzou os braços — Boa sorte com isso, eu acho que aquele cara lá odeia chocolate, sempre foi assim, desde o ginásio no dia dos namorados ele levava duas sacolas de papel bem grandes, e sempre voltava com elas lotadas de chocolates, e aí perguntava “vocês gostam de chocolates? Muito bem, então fiquem com esses” e aí virava as duas sacolas inteiras na mesa da cozinha, mamãe brigava, dizia que ele tinha que ter mais consideração pelas meninas, mas ele apenas a ignorava, e ela acabava comendo mesmo assim então... E-ei por que está fazendo essa cara?!

Parou quando percebeu a cara de choro de Rin.

Kagome-chan e Sango-chan lançaram a tio Inuyasha um par de olhares tão assustadores que ele arregalou os olhos e, sem dizer nada, foi recuando lentamente com as mãos erguidas até sair do quarto e fechar a porta.

As duas se voltaram para ela.

—Apenas ignore-o, ele não sabe do que está falando. — Sango-chan girou os olhos — É claro que o Sesshoumaru não odeia chocolate!

—Sim, eu até o vi comer M&Ms esses dias. — Kagome-chan acrescentou. — Vamos Rin, você quer dar chocolates ao seu papai, não é?

Rin apertou os lábios.

—Ele... Ele me deixou morar aqui, e também tem cuidado de mim por todos esses meses. — disse baixinho — Ele me deixa dormir com ele quando tenho pesadelos, e me comprou um bolo no meu aniversário...

—Ah sim, o seu aniversário, não pense que já esquecemos daquilo. — Sango-chan a interrompeu.

Rin a olhou.

—Daquilo o que?

—Você não nos contou que era seu aniversário!

—É verdade. — Kagome-chan concordou — Você parecia muito feliz por Sesshoumaru ter descoberto o seu aniversário e se importado com ele mesmo você não dizendo nada que não falamos nada no dia, e depois ficamos esperando você dizer por que não nos disse nada.

—E depois o Sesshoumaru viajou, e você sempre fica cabisbaixa quando ele não está por perto então deixamos quieto. — Sango-chan fez uma careta — Mas isso não significa que esquecemos, por que não disse nada Rin-chan?

—Teríamos te dado os presentes no dia certo! — Kagome-chan exclamou.

Rin corou, Kagome-chan, Sango-chan, tio Inuyasha e Miroku-kun havia entregado seus presentes a ela cinco dias depois de seu aniversário.

 Kagome-chan lhe deu uma máquina de sorvete caseiro da hello kitty, Sango-chan deu galochas verdes e uma capa de chuva com capuz de sapo para combinar, Miroku-kun deu uma concha que tinha o formato do monstro do lago ness, com patinhas que a deixavam ficar de pé na panela e parecia que o monstro estava espiando de dentro da sopa, ou o que quer que ela estivesse cozinhando, e tio Inuyasha deu uma forma de bolo com a forma de um dragão adormecido em volta de três ovos (e isso não tinha nada haver com o fato de que eles dois eram quem mais se beneficiava da comida dela).

—Nós só demoramos tanto porque Inuyasha não sabia o que te comprar e queríamos dar os presentes todos juntos. — Kagome-chan continuou. — E no fim os idiotas ainda te deram aquela concha e a forma de bolo, eu juro que quis dar com uma panela na cabeça deles dois.

Suspirou irritada.

Rin riu nervosa, apesar de Kagome-chan dizer isso, Sango-chan foi a única que não lhe deu algo relacionado à comida.

—M-mas foi exatamente por isso que eu não disse nada. — respondeu — Eu não queria incomodar ninguém...

—Você não nos incomoda Rin-chan. — Sango-chan a pegou pela mão e a puxou para fazê-la levantar da cama — E, além disso, se eu não te der um presente como posso te exigir um no meu aniversário?

—Isso. — Kagome-chan concordou se levantando — Então vamos, ainda temos que fazer aqueles chocolates.

Fazer chocolates foi divertido, elas optaram por fazer biscoitos, Kohaku-kun se tornou o provador oficial delas e até gostou disso, mas Sango-chan disse que ele só poderia ganhar os seus chocolates no dia certo.

De fato, foi tão divertido que Rin até esqueceu-se da ansiedade de antes, mas no momento em que os biscoitos ficaram prontos e foram guardados na geladeira ela voltou com força total.

Rin havia feito os chocolates, mas será que teria coragem de entrega-los para Sesshoumaru-Sama? Ela havia guardado os chocolates de Rika e queria perguntar para Sesshoumaru-Sama porque ele os descartara, ela queria desesperadamente perguntar a ele.

Mas não tinha coragem.

—Rin. — ele a chamou saindo da varanda, Rin realmente não sabia como ele conseguia estar lá fora desagasalhado naquele frio (!), quando a viu entrar na sala pela manhã — Venha aqui.

Ela foi, e só percebeu que não o olhava nos olhos quando Sesshoumaru-Sama pôs a mão fria — claro que estava fria, ele estivera numa varanda do quinto andar de um prédio em Tóquio em plena uma manhã de fevereiro! Surpresa era ela não ter congelado e caído — em seu queixo e o ergueu para olhá-la.

—Você está com olheiras. — afirmou soltando-a — Não dormiu direito?

Rin engoliu em seco, passara a noite revirando-se no futon, pensando nos biscoitos e se os daria ou não a Sesshoumaru-Sama.

—Teve pesadelos novamente? — Ele insistiu — Por que não veio a mim?

—Eu...

—Foi Inuyasha que não a deixou dormir?

—Do que já está me acusando Sesshoumaru? — tio Inuyasha perguntou entrando na sala.

—De manter Rin acordada durante a noite. — Sesshoumaru-Sama respondeu o olhando — Está querendo voltar a dormir na sala, cachorrinho?

Sesshoumaru-Sama deu um sorriso incrivelmente cruel.

Tio Inuyasha recuou.

—Ei! Não vá me acusando sem provas! — ele defendeu-se.

Sesshoumaru-Sama avançou mais um passo ainda com o mesmo sorriso cruel, quase assustador agora.

—Está com problemas para respirar enquanto dorme Inuyasha? Precisa de ajuda para parar de roncar?

Ele estava esticando a mão em direção a tio Inuyasha que, por sua vez, recuou mais um passo.

—Ei! Se afaste Sesshoumaru, eu estou falando sério!

Rin impediu Sesshoumaru-Sama de continuar avançando, espalmando as mãos em seu abdomêm.

—Não é culpa do tio Inuyasha, Sesshoumaru-Sama! Eu apenas tive um pouco de insônia.

Ele a olhou.

—Você está com algum problema? É a escola de novo?

Rin balançou a cabeça.

—Não, não, é que às vezes eu me deito e simplesmente percebo que não consigo dormir, é normal, mamãe também era assim. — tentou parecer o mais convincente possível.

Ela sentia-se mal por mentir para Sesshoumaru-Sama, talvez pelas horas exaustivas todos os dias, mas Mariko sempre apagava antes mesmo de deitar a cabeça no travesseiro e, até a morte da mãe, Rin nunca havia tido problemas para dormir.

Mas Sesshoumaru-Sama pareceu acreditar nela, e saiu da sala dizendo que naquele dia ele faria o desejum, enquanto Tio Inuyasha seguia logo atrás reclamando que ele deveria ter provas antes de sair acusando alguém.

Sesshoumaru-Sama provavelmente não tinha a menor ideia de que dia era aquele, ou então simplesmente não se importava.

...

Kagome-chan e Sango-chan chegaram ao inicio da tarde, quando Rin e tio Inuyasha assistiam uma estranha gincana na televisão.

—Rin-chan, Rin-chan. Eu trouxe os biscoitos para você dar para Sesshoumaru. — Kagome-chan segredou-lhe baixinho, ponto os biscoitos embrulhados em suas mãos.

—Onde está Miroku? — Sango-chan perguntou num tom mais alto, olhando a volta.

—Ah, eu e ele estávamos conversando ontem à noite, e ele não parava de reclamar pelo dia de São Valetim ter caído justo num Domingo esse ano, eu disse a ele que com certeza todas as garotas da escola que quisessem dar algum chocolate a ele na escola já teriam dado ontem ou esperariam até amanhã, mas ele insistiu que ficaria o dia todo em casa hoje para o caso de alguma menina ir procurá-lo com chocolates... Rin! — tio Inuyasha chamou de repente — Não me diga que foi a luz do celular que te manteve acordada! Você é sensível a isso?

—Não, não, tio Inuyasha, eu já disse, não teve nada a ver com você. — ela sorriu.

Foi quando começaram a ouvir algo estalar e Rin perceber o pacote de biscoitos nas mãos de Sango-chan sendo esmigalhado.

—Aquele...! Eu tive tanto trabalho para fazer os biscoitos e ele nem se digna a vir até aqui?! — ela perguntou entre os dentes.

—Bem Sango, tecnicamente são as garotas que têm que ir entregar os chocolates para os garotos, e não eles que têm que vir buscar... — tio Inuyasha começou a dizer, mas parou bruscamente, fingindo uma tosse quando percebeu o olhar de Sango-chan — Quer dizer, que falta de consideração! Depois de todo o seu trabalho e ele nem sequer vem até aqui! — se corrigiu — Eu vou agora mesmo ligar para ele!

—Não, deixa. — Sango-chan o impediu. — Se Miroku quer uma entrega a domicílio, então ele terá.

Virando-se ela saiu da sala e foi embora do apartamento batendo a porta.

Tio Inuyasha pigarreou.

—Acho que eu deveria avisar Miroku sobre o que está a caminho...

—Melhor não. — Kagome-chan o interrompeu — Ele pode tentar fugir e isso só pioraria as coisas.

—Verdade. — ele concordou — Tem razão, Kagome. Ele que se vire!

Kagome-chan foi se sentar ao lado dele.

—Vamos, aqui estão os seus. — anunciou os estregando.

—Eu espero que você não os tenha queimado esse ano! — tio Inuyasha riu.

—Calado, não queimei nada!

—Certamente porque Rin estava lá para ajudá-las! — Ele provocou.

—Idiota, se não os quer eu os tomo de volta! — Kagome-chan corou tentando pegá-los.

Mas tio Inuysaha riu agarrando-se aos biscoitos.

—Nem pensar! Agora são meus.

Rin resolveu deixá-los sozinhos e, tomando uma boa dose de coragem, foi ao quarto de Sesshoumaru-Sama para entregar os seus biscoitos também.

Ela bateu na porta do quarto dele.

—Sesshoumaru-Sama? — chamou... Talvez ele não a tivesse ouvido. — Sesshoumaru-Sama?

Voltou a bater, nada.

Rin tentou a maçaneta, mas a porta estava trancada. Sesshoumaru-Sama havia saído? Ele era sempre tão silencioso que às vezes era ifícil saber quando ele estava ou não em casa.

Quieta Rin voltou à sala, onde Tio Inuyasha ainda provocava Kagome-chan.

—Estão mesmo no ponto! — ele dizia — Nem queimados, nem muito duros, confesse foi Rin quem os fez!

—Já disse que todas nós ajudamos! — Kagome-chan retrucou.

Tio Inuyasha a viu.

—Foi você quem fez, não é? Não precisa protegê-las!

Kagome-chan se virou.

—Rin-chan, diga a ele que...! — e então viu os biscoitos em suas mãos — Por que ainda está com os biscoitos...? Sesshoumaru os recusou?

—Se Sesshoumaru não os quer eu posso ficar...! — tio Inuyasha se adiantou, mas Kagome-chan lhe bateu com o cotovelo. — Ai!

—Rin-chan, vamos de novo tentar dar os biscoitos, ok? Eu vou com você e tenho certeza que dessa vez...

—Sesshoumaru-Sama não está em casa, eu não o tinha visto sair. — esclareceu e aproximou-se para sentar ao lado de Kagome-chan — Vou esperar aqui até ele voltar.

Avisou.

Tio Inuyasha e Kagome-chan se entreolhou, mas nada disseram.

Só que... Já passavam das 19h e Sesshoumaru-Sama ainda não havia voltado.

—Já chega! — reclamou Kagome-chan, impaciente — Eu vou ligar para ele!

Tio Inuyasha havia ido para a cozinha dizendo que faria alguma coisa para o jantar, embora suas habilidades nessa área não fossem das melhores — Kagome-chan dizia que as notas dele em economia doméstica eram sempre as piores.

—Ele pode estar no apartamento de cima, não pode? — sugeriu a olhando, Kagome-chan nada disse — Ele pode, não pode?

Sesshoumaru-Sama quase nunca saia, e geralmente quando saia eles comentavam que ele podia “estar no aparatamento de cima”.

—É. — Kagome-chan respondeu — Provavelmente.

Rin acenou, levantou-se e saiu da sala.

—Então eu vou até lá.

—O que? — Kagome-chan veio correndo até ela. — Rin-chan, não pode!

—Se eu continuar esperando aqui pode ser que já seja até dia 15 quando Sesshoumaru-Sama voltar! — afirmou. — Tio Inuyasha. — chamou à porta da cozinha — Qual o número do apartamento de cima ao qual Sesshoumaru-Sama sempre vai?

Tio Inuyasha estava concentrado em tentar desgrudar... O que quer que fosse da frigideira e respondeu sem nem parecer perceber:

—11-4.

—Obrigada! — Rin curvou-se e correu.

—Inuyasha! — Ouviu Kagome-chan o repreender — Por que disse a ela?!

—O que? O que eu disse?

Rin ainda estava esperando pelo elevador quando Kagome-chan a alcançou.

—Rin-chan você realmente não deveria ir até lá! — alertou-a.

Rin a olhou.

—Por que não?

—Por quê? Bem porque... Você sabe como Sesshoumaru pode dizer algumas coisas cruéis às vezes, Eleonor é igual a ele, e quando estão juntos os dois são ainda piores. E acho que nenhum dos dois tem muita noção sobre o que é ou não adequado aos ouvidos de uma criança.

Rin olhou para os números do elevador descendo.

—Afinal o que Sesshoumaru-Sama faz tanto por lá? — perguntou — Ele passa bastante tempo lá... Até quando Tio Inuyasha ficou doente, Sango-chan disse que ia buscá-lo e subiu as escadas, então ele estava lá com Eleonor-Sama, não é?

—Ah, bem, Eleonor e Sesshoumaru...

—E onde ele dorme quando fica lá?

Por alguma razão Kagome-chan corou.

—I-isso...!

Mas Rin estava imaginando se Eleonor-Sama teria um quarto em seu apartamento para Sesshoumaru-Sama, ou se ele dormia no sofá no tempo em que ficava lá, assim como fazia tio Inuyasha dormir antes, se fosse isso ela certamente teria de convencê-lo a levar mais algumas cobertas extras, porque mesmo que Sesshoumaru-Sama fosse resistente ao frio isso não o tornava imune a uma virose. E por ficar ainda mais no alto o apartamento de Eleonor-Sama devia ser ainda mais frio que o de Sesshoumaru-Sama!

—Essa Eleonor... Sama. Ela é amiga do Sesshoumaru-Sama?

—Pode-se dizer que sim, eu acho. Pelo que sei os dois se conhecem desde o colegial.

—E... Eleonor-Sama conheceu a mamãe?

Além de Sesshoumaru-Sama, Mariko nunca falava sobre ninguém de seu passado, então Rin sempre ficava ansiosa e feliz por poder conhecer alguém assim.

—Eu não sei...

—Ah! O elevador!

E antes que Kagome-chan pudesse fazer qualquer coisa Rin saltou para dentro do elevador e fechou as portas.

—Rin-chan...!

—Está tudo bem Kagome-chan! — Rin gritou de dentro do elevador.

E apertou o botão para 11° andar.

...

Rin parou indecisa em frente à porta do apartamento 11-4, ela havia ido até ali, mas... E agora? Ela deveria bater? Será que estava tudo bem se ela simplesmente batesse e perguntasse por Sesshoumaru-Sama? Mas e se ele não estivesse lá?

—Hum... — ainda hesitante ela tocou a porta com a palma da mão, ainda segurando os biscoitos na outra.

Estava aberta.

A menina olhou de um lado para o outro do corredor vazio, e deu um passo a frente, colocando a cabeça para dentro do apartamento.

—Desculpe a intromissão. — disse, mas ninguém respondeu.

Cuidadosamente Rin entrou, fechou a porta atrás de si, e deixou os sapatos antes de ir à busca de Sesshoumaru-Sama.

—Sesshoumaru-Sama? — chamou — Sesshoumaru-Sama o senhor...?

—Então, o que você tem a me dizer? — ela ouviu Sesshoumaru-Sama perguntar de algum lugar.

Sorrindo avançou em direção à voz.

—Esqueça a menina, eu não me importo com ela! — Arregalando os olhos Rin congelou onde estava. — Apenas abandone tudo e venha comigo!

—O que você está me dizendo? — a voz de Sesshoumaru-Sama, inexpressiva como sempre, perguntou.

—Eu estou dizendo que te amo! IDIOTA!

Assustada, Rin invadiu a cozinha — de onde vinham as vozes.

—Sesshoumaru-Sama! — gritou correndo em sua direção.

Ele virou-se em sua direção.

—Rin? O que faz aqui?

Ela agarrou-se a ele.

—Não vá! — suplicou — Não me deixe! O senhor também não!

Ela o sentiu colocar a mão sobre sua cabeça e então o ouviu dizer:

—Ao que parece, a menina acreditou na sua atuação Eleonor.

—Atuação? — Rin piscou.

—Oh, Sesshoumaru, crianças são fáceis de cativar! — a mulher respondeu com descaso — Pegue uma pequena o bastante, escolha o tom certo e ela vai comemorar até se você disser que a ultima calota polar acaba de derreter.

O seu tom de voz era frio e completamente diferente da voz desesperada e chorosa que Rin ouvira a pouco, como se fosse uma pessoa completamente diferente, quase sem perceber Rin começou a olhar em volta em busca de mais alguém no cômodo.

—Pode ser — Sesshoumaru-Sama concordou — Mas você está fazendo o teste para uma personagem de um shoujo, e geralmente quem assiste isso são adolescentes românticas que sonham em um dia ter uma história de amor como as desses desenhos, e cativá-las é basicamente a mesma coisa que cativar uma criança.

—Mas acontece, Sesshoumaru, que antes de poder cativar crianças e adolescentes com minha voz eu preciso cativar o diretor para me contratar.

—Cativar... Com a voz? — Rin estava confusa — O que...? Do que estão falando?

Ambos a olharam, parecia até que tinham se esquecido dela ali.

—Eu sou uma profissional da voz. — a mulher lhe respondeu — Eu dou voz a personagens de animação e a empresto para filmes estrangeiros ou até livros às vezes.

—Hã?

—Eleonor é dubladora, Rin. — Sesshoumaru-Sama explicou — Uma mulher de mil vozes, eu diria.

—Ah.

—Bem, eu não diria que chega a tantas vozes... — Eleonor-Sama arqueou uma sobrancelha.

—Você com certeza já deve ter visto dois ou três desenhos com a voz dela.

—Ah. — soltando-se de Sesshoumaru-Sama, Rin agora olhava para a mulher tentando reconhecer a voz dela de algum lugar.

E agora Eleonor-Sama também a estava olhando.

—Hum... Então é você a filha da enfermeira?

Rin balançou a cabeça.

—Não senhora. Minha mãe não era...

—Não? — Eleonor-Sama arqueou a sobrancelha — Filha da professora então?

Sesshoumaru-Sama disse que costumava chamar Mariko de “professorinha”, mas mesmo assim... Novamente Rin balançou a cabeça.

—Desculpe. Não senhora.

—A mãe de Rin era uma aluna como eu e você, Eleonor. — Sesshoumaru-Sama intrometeu-se.

—Uma aluna é? Não parece muito ser do seu feitio — ela desviou sua atenção para Sesshoumaru-Sama — Quer dizer que além de um jovem devasso você foi também um desencaminhador de jovens?

Ela falava de maneira desinteressada, quase tão desinteressada quanto Sesshoumaru-Sama costumava falar, e os dois tinham quase a mesma falta de expressão também, agora olhando para os incomuns cabelos loiros de ambos Rin começava a pensar na possibilidade de serem parentes.

—Nesse caso acho que foi mais ela que me desencaminhou do que o contrário.

—Acho difícil de acreditar... Espere, estamos falando de Setsuka?

—Não, ela veio antes de Setsuka, e pare de tentar você não a conheceu, de qualquer forma ela está morta agora.

—Então é a filha de uma mulher morta.

Eleonor-Sama limitou-se a encolher os ombros — agora Rin entendia o que Kagome-chan quis dizer com Sesshoumaru-Sama e Eleonor-Sama poderem dizer coisas cruéis às vezes, e serem ainda piores juntos.

—De qualquer forma, ela entrou sem bater, você não está educando essa menina Sesshoumaru?

Sesshoumaru-Sama franziu o cenho.

—Eu só estou com ela há poucos meses, toda e qualquer educação que ela recebeu ou deixou de receber até agora foi responsabilidade da mãe.

—Mas não se deve falar mal dos mortos, então agora é responsabilidade sua. — ela voltou a focar-se em Rin. — Eu estava ensaiando para um teste que terei em breve. — contou — E como Sesshoumaru, como sempre, não estava fazendo nada...

—Eu estava trabalhando. — Sesshoumaru-Sama a interrompeu.

—Eu te vi assistindo série no notebook.

—Não se pode forçar a inspiração, é preciso esperar que ela venha naturalmente.

—E como Sesshoumaru, como sempre, não estava fazendo nada. — ela repetiu. — Eu pedi a ele que me desse sua opinião.

—Estava bom. — Sesshoumaru-Sama afirmou com o mesmo tom desinteressado de sempre, fechando o notebook.

Eleonor-Sama girou os olhos e deu as costas a eles.

—Afinal por que essa criança está aqui? — perguntou remexendo na geladeira — A última vez que um deles veio te procurar aqui foi porque seu irmão havia contraído... Tuberculose?

—Pneumonia.

—É, isso. — ela virou-se novamente, deixou uma lata de cerveja sobre a mesa e abriu outra para si mesma — Ele está bem agora?

Mesmo perguntando isso ela não parecia realmente preocupada, era mais como... Perguntar por educação.

—Está. — Sesshoumaru-Sama abriu a própria lata de cerveja e tomou um gole.

Eleonor-Sama sorriu.

—Claro que está se houvesse a mínima possibilidade de ele ainda estar doente você estaria a quilômetros daqui.

Sesshoumaru-Sama nem se incomodou em negar.

E então a atenção de ambos voltou-se para ela, eles, afinal, ainda não sabiam o que ela havia ido fazer ali.

—Eu... Eu vim entregar seus chocolates, Sesshoumaru-Sama.

Sesshoumaru-Sama franziu o cenho.

—E por que isso seria razão para subir até aqui?

—É que da última vez o senhor demorou dias para descer!

—Bastava colocá-los na geladeira.

Rin piscou.

—O que?

—A geladeira. — repetiu, e tomou mais um gole de cerveja — Se os colocasse na geladeira não estragariam, claro que um daqueles parasitas os comeriam, mas então você poderia fazer outros, de qualquer forma não é nada importante, você cozinha o tempo todo.

—Mas estes aqui são importantes! — ela conseguiu dizer — E é importante que os receba hoje!

Sesshoumaru-Sama a olhou por cima da lata de cerveja.

—Por quê? — ele colocou a lata sobre a mesa.

Rin abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada, será possível que ele havia se esquecido dos chocolates de Rika? Ou havia dado tão pouca atenção a ela que sequer ouvira o que ela estava dizendo?!

—Sesshoumaru você está cuidando de uma menina agora, tenha um pouco mais de sensibilidade. — censurou Eleonor-Sama jogando sua própria lata de cerveja, já vazia, no lixo — Não faz ideia de que dia é hoje? Não faz tanto tempo assim que você ia com sacolas de papel para o colégio nesse mesmo dia do ano...

Sesshoumaru-Sama franziu o cenho... E então ergueu as sobrancelhas em súbita compreensão, e olhou para Rin. Ela baixou a cabeça, envergonhada.

—São chocolates obrigatórios, para agradecer por estar cuidando de mim durante esse tempo. — confessou — Mas também são fami chocolates... Porque o senhor é meu pai.

—Entendo. — foi tudo o que ele disse — E onde estão os chocolates?

Rin arregalou os olhos, suas mãos estavam vazias!

—Eu... Eu devo ter deixado cair quando...!

Ela saiu correndo da cozinha.

O saquinho de biscoitos estava caído no corredor, Rin devia ter os deixado cair quando entrou correndo na cozinha, ela abaixou-se para pegá-los com um suspiro de alívio.

—Rin. — Sesshoumaru-Sama a chamou parando atrás dela, com o notebook debaixo do braço.

Rin olhou-o por cima do ombro e ele lhe estendeu a mão, ela aceitou a ajuda para levantar. Agora ele estava olhando para o embrulho em suas mãos, mas ao invés de entregá-los ela recuou um passo, apertando-os contra o peito. Sesshoumaru-Sama arqueou uma sobrancelha.

—Rin?

Rin fechou os olhos com força.

Ela havia feito aqueles biscoitos, e até mesmo tomara coragem e subira até ali para entregá-los, mas e se ele simplesmente os aceitasse por obrigação, e então os passasse adiante, como fizeram com os chocolates de Rika e todos os outros antes desses?

E para quem ele os passaria? Eleonor-Sama?

Rin não queria isso, ela havia feito os biscoitos para Sesshoumaru-Sama, ela não queria que ele os passasse adiante.

—Rin?

Rin empurrou os biscoitos contra Sesshoumaru-Sama e fugiu.

Acovardou-se porque não queria vê-lo passá-los adiante.

É claro que Kagome-chan e tio Inuyasha ficaram preocupados quando ela entrou correndo e trancou-se no quarto, ela sabia que era injusto trancar tio Inuyasha para fora do próprio quarto, mas mesmo assim não abriu a porta.

Ela também ouviu quando Sesshoumaru-Sama voltou e Kagome-chan começou a lhe dar sermão, perguntando o que ele e Eleonor-Sama haviam dito para ela lá em cima. Não ouviu qualquer resposta de Sesshoumaru-Sama, ele provavelmente nem sequer a estava escutando.

De novo.

Assim, sem perceber, ela adormeceu.

...Quando acordou já passava da 1h, Kagome-chan já havia ido embora e tio Inuyasha estava dormindo sentado no chão ao lado da porta.

Ela o cobriu com um cobertor, beijou seu rosto e pediu desculpas por aquilo.

E Sesshoumaru-Sama estava escrevendo na cozinha.

—Rin. — ele a chamou, fazendo-a se sobressaltar, porque ele nem sequer havia erguido os olhos do notebook, e ela tinha certeza que não havia feito nenhum barulho — O que houve?

—A-ah, eu só vim pegar um copo de água.

—Não. Antes. — ele disse — Domadora disse que você entrou correndo sem dizer nada, e se trancou no quarto. Ela também disse uma porção de outras coisas, mas eu não estava ouvindo.

Claro que não estava.

Ela sentou-se numa cadeira, pondo as mãos sobre a mesa, mas sem coragem de encará-lo.

—Isso...

—Você achou que eu diria que os biscoitos estavam ruins?

—Eles estavam ruins?! — ela olhou-o com os olhos arregalados.

—Não. — ele respondeu — Então o que houve?

Rin baixou os olhos.

—Eu... Achei que o senhor ia dar meus biscoitos para Eleonor-Sama.

—Por quê?

—Tio Inuyasha disse... Que quando o senhor estava no colégio sempre dava para os outros os chocolates que recebia no dia dos namorados.

—Inuyasha aquele...!

—E ontem o senhor me deu os chocolates de Rika! — ela apressou-se a dizer, antes que ele fosse atrás de tio Inuyasha, Sesshoumaru-Sama parou e olhou-a, Rin respirou fundo — Todos aqueles chocolates, os de Rika também, caseiros ou comprados prontos, todos continham algum tipo de sentimento especifico e foram entregues especialmente para o senhor... Se não os queria... Devia só ter dito que não queria. — secou uma lágrima do canto do olho — É muito cruel aceitá-los e então simplesmente se desfazer deles! O senhor... O senhor também fez isso com minha mãe? Aceitou os chocolates dela e então os passou adiante como se não fossem nada?

—Nunca recebi chocolates da professorinha. — ele respondeu — Já não estávamos mais juntos em fevereiro e eu já tinha me mudado.

—Mas mesmo assim o senhor me deu os chocolates de Rika, então também vai dar os meus para alguém...

Ele a olhou por alguns segundos.

—Rin me dê aqueles chocolates.

Ela o olhou confusa, mas levantou-se e foi até a geladeira, onde estavam não só a caixa de chocolates de Rika como também os seus biscoitos — ainda intocados — ela pegou ambos e entregou a caixa para Sesshoumaru-Sama.

Surpresa viu-o abrir a caixa de chocolates e por vários minutos observou-o comer cada um dos chocolates, quando terminou ele colocou a caixa vazia sobre a mesa e estendeu a mão para ela novamente.

Agora com os olhos brilhantes ela entregou a ele os biscoitos.

E ficou assistindo quieta, mas sorridente, com o rosto entre as mãos e os cotovelos sobre a mesa enquanto Sesshoumaru-Sama comia seus biscoitos.

—Rin. — ele chamou — Pegue um copo de leite para mim.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades do Japão:
O dia dos namorados no Japão!
Assim como o Natal, o dia dos namorados também foi adotado pelos japoneses, chamado por eles de “Valetine’s Day”, à moda americana.
No entanto os japoneses acrescentaram ao dia o seu próprio toque: nessa data a tradição é que as mulheres presenteiem aos homens com chocolates. Mas embora o foco da data seja o romance, esse não é o único propósito dos chocolates XD
Por isso os chocolates se dividem em duas categorias principais: Honmei (chocolates de teor romântico, trocados entre casais ou até usados como forma de declaração) e Giri (chocolates “obrigatórios” e sem nenhum teor romântico, ideais para serem trocados, por exemplo, entre colegas de trabalho).
Entre os chocolates Giri ainda há uma série de “sub-divisões” e algumas delas são:
Sewa-choko: Chocolates de agradecimento.
Tomo-choko: Chocolates de amizade.
Fami-choko: Chocolates para membros da família.



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