O Legado escrita por Luna


Capítulo 55
Capítulo 55


Notas iniciais do capítulo

Olá, todos.
Bem gente, já tenho muitos capítulos feitos que vou deixar agendado aqui p ir sendo postado automaticamente.
Me desmotivei um pouco em ir postando pela falta de interesse. Sei que é paia ficar cobrando comentários, mas uma coisa que já li outras pessoas falando e comecei a concordar é que se fosse algo só para mim eu não postava.
Mas enfim, vou deixar de bobagem e deixar uns capítulo já pra quem quiser continuar acompanhando saber o que está acontecendo com as nossas crianças.
Beijooos!!!



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Eu posso fingir um sorriso.

Eu posso forçar um riso.

Eu posso dançar e atuar.

Human – Christina Perri

Scorpius colocava as peças de roupa com lentidão, esperava ingenuamente que isso retardaria a volta para Hogwarts, gostaria de continuar no conforto e segurança da Mansão. Mas sabia que tudo seria inútil, em instantes Astória ou Draco subiriam para ver o motivo da demora, então o arrastariam até uma lareira e segundos depois ele estaria de volta a escola e sabia que tudo seria como o Primeiro Ano novamente.

Os jornais ainda estavam jogados pelo quarto, ele nem teve coragem de lê-lo todo, a capa e as primeiras páginas já davam uma boa margem do que mais teria lá dentro. As imagens ainda pareciam gravadas em sua mente, as palavras de ódio se repetiam uma vez e mais outra e novamente ele não conseguiu odiar aquelas pessoas, elas eram vítimas, tinham o direito de sentir medo e raiva, tinham direito de temer sua família.

— Scorp. – Albus empurrou a porta e colocou a cabeça para dentro.

Scorpius não se virou, ele fechou os olhos e reprimiu as lágrimas, colocou as últimas peças na mala e a fechou. Quando levantou o rosto viu seu reflexo no espelho, seu cabelo estava alinhado, vestia um suéter de cashmere cinza que deixava seus olhos tempestuosos, não havia qualquer resquício de sorriso em seu rosto, poder-se-ia dizer que não havia sentimento algum ali.

— Todos já estão lá embaixo. Você precisa de ajuda?

Albus colocou as mãos nos bolsos, nunca sabia o que fazer com elas quando ficava nervoso, elas suavam muito e ele sentia a necessidade de gesticular enquanto falava, o que transparecia o nervosismo. Scorpius o olhou e ele não sentiu o carinho que normalmente percebia quando o loiro o olhava, ele parecia estar olhando para uma parede.

— Claro, desculpe a demora.

Albus entrou em alerta, já fazia algum tempo que ele não via aquele Scorpius polido e distante, ele costumava ser assim no primeiro ano, sempre estava travado e parecia analisar cada coisa que dizia. Mas eles já tinham passado daquela fase, Scorpius sabia que podia ser ele mesmo agora.

— Ei, está tudo bem, Scorp. Nós estamos bem e vamos continuar assim.

Scorpius deixou que Albus o tocasse e encostasse seus lábios nos dele, mas assim que ele aprofundaria o beijo o afastou. Albus não entenderia, ele nunca entendeu, assim como Rose, eles eram filhos de heróis, Scorpius era um pária antes e voltaria a ser. O moreno sentiu a rejeição, mas não fez caso disso, passou pelo outro e foi em direção à mala mesmo com Scorpius protestando.

Eles caminharam em silêncio, mas antes de chegarem às escadas que os levaria para onde os outros estavam Albus o parou.

— Nós estamos juntos, nessa Scorp. Não importa o quão ruim esteja, nós sempre vamos estar juntos. – Albus assegurou.

— Vai ser bem ruim. – Scorpius falou, mas entrelaçou sua mão na de Albus. – Obrigado, Al.

Ele o soltou e desceu na frente, Albus ainda ficou parado alguns segundos. Com o passar dos dias ele viu seus amigos irem estremecendo, a cada manhã eles pareciam diminuir um pouco mais. Os únicos sorrisos que surgiam vinham de Adhara, que estava completamente alheia a toda aquela situação.

Eles não foram para a Toca no ano novo, não foram ao Beco Diagonal e não tinham permissão de andarem pelo jardim principal da mansão. Foi levantada a hipótese de voltarem mais cedo para Hogwarts, mas depois de tantos protestos os adultos desistiram da ideia.

Astória foi atacada quando foi fazer compras no boticário, se não fosse por Neville que agiu antes do feitiço alcança-la ela provavelmente estaria no hospital. Theodore teve sua sala no Ministério revirada e apenas pela intervenção de Hermione Eric não foi demitido do estágio.

Eles nem mais tentavam esconder os problemas, seria impossível. Draco, Hermione e Astória tiveram uma conversa com eles no dia anterior, falaram sobre o que eles deveriam esperar das pessoas naquele momento, fizeram advertências, todos escutaram com atenção.

Freya segurava a mão de Amélia com força, Tim mantinha Nicholas embaixo do braço, Scorpius estava sentado no extremo do sofá, com os braços cruzados e olhando fixamente para os pais.

— Isso significa que vocês deverão ficar com a cabeça baixa, não troquem insultos, não sejam ofensivos, não deem a eles uma desculpa para ataca-los. – Hermione falava com calma e olhando para Nicholas continuou. – Não os chame de cérebros de trasgos, mesmo que eles sejam tão estúpidos quanto um.

— Não levantem a varinha. – Astória disse.

— E se precisarmos nos defender? – Scorpius levantou a sobrancelha e Draco apertou a ponte do nariz.

Os três se encaram, Astória e Draco sabiam muito bem a resposta para aquela pergunta, mas os dois olharam para Hermione, ela decidiria aquilo.

— Nesse caso não percam. – Hermione deu um sorriso de lado. – Usem feitiços defensivos e de contenção, não ataquem primeiro, em hipótese alguma. E depois procurem um monitor, professor ou a diretora.

Amélia apenas assentia, ela parecia alheia a tudo aquilo. Albus não sabia onde o pensamento dela estava, ela andava sempre com um livro e lia sem parar, quando não estava com Eliza ou com James.

Albus desceu os últimos degraus e substituiu Lily no abraço apertado de Gina. Ele apoiou o rosto no ombro dela e viu Astória abraçando Scorpius enquanto sussurrava algo que ninguém conseguiria escutar. Theodore era o único homem lá, os outros tinham se despedido mais cedo e depois saíram apressados, ele conversava seriamente com Nicholas.

De um por vez todos entraram na lareira, o último a ver as chamas verdes foi Scorpius. A última coisa que ele viu antes de ser consumido pelas chamas foram os braços estendidos de Adhara em sua direção e seus olhos lacrimosos.

O último a chegar foi Scorpius, de todos ele era o que parecia pior, não que ele demonstrasse algo, era esse exatamente o problema. Freya parou de olhá-lo para olhar para Eveline, ver que a mulher os esperava não fez com que se sentisse melhor, para a menina a presença da professora sempre parecia um mau agouro.

— Todos já chegaram, então. – Eveline bateu uma mão na outra. – Ótimo. A Diretora pede desculpas por não ter podido recebê-los, mas algo importante precisou da atenção dela nessa manhã.

— Reunião da Ordem da Fênix? – Nicholas perguntou.

Freya soltou a respiração com calma. Ela sentia certa simpatia por Nicholas, mas ele tinha um ar ainda mais arrogante que o dela, sempre os olhava por cima e sempre soava como se soubesse de algo que eles não. Timothy teria que manter os dois olhos no garoto se quisesse que ele não fosse parar na enfermaria na primeira semana de aula.

— Sim, ela está na reunião. – A professora não tentou negar. – Imagino que vocês saibam como o mundo bruxo acordou e creio que já sabem como devem se portar fora dessas portas.

— Recebemos a devida instrução. – Scorpius falou. – A menos que queira acrescentar algo mais.

— Mantenha a varinha sempre na mão, principalmente se forem para os jardins.

Mau agouro.

Freya queria sair daquele lugar, se afastar o máximo que podia daquela mulher. Ela olhou ao redor para ver se mais alguém queria fugir também, mas todos estavam com os olhos na professora. Scorpius estava no meio entre Amélia, Rose e Albus, perto da mesa da diretora Timothy tinha o braço nos ombros de Nicholas e Lily estava parada muito próxima ao corvinal. Mais deslocado que ela somente Hugo Weasley, com seus pequenos olhos parecendo duas bolas, ele parecia genuinamente assustado. Talvez os outros estivessem também, mas depois de ouvir profecias assustadoras era mais fácil se manter centrado.

Ela foi indo em direção à porta sem falar com ninguém, sua saída teria passado despercebida se Eveline não a tivesse chamado.

— Creio que achará o que procura na biblioteca.

Freya colocou as mãos nas costas e ergueu o rosto, deu um sorriso de canto e falou com calma e gentileza.

— E o que estou procurando, professora?

— Respostas, é claro. – Eveline respondeu como se a dúvida dela não fosse razoável.

Freya não daria mais atenção do que ela já estava recebendo. Não sabia se a mulher fazia isso de forma inconsciente ou se era tão egocêntrica que sempre sentia a necessidade de ter os olhos voltados para ela, por isso fez um comprimento com a cabeça e bateu a porta quando saiu sem dar um segundo olhar aos seus amigos.

Ela foi descendo as escadas até chegar ao primeiro andar, olhou para o corredor que daria para a biblioteca e para as escadas que a levariam ao térreo. Ignorou aquela pontada em seu orgulho quando foi em direção ao corredor. A biblioteca estava quase vazia, ela não sabia o que estava procurando até encontra-lo, parecia que cada vez que o via ele estava um pouco mais diferente, hoje ele tinha penteado o cabelo para trás, usava uma blusa fina de mangas, mas mantinha o cachecol amarelo envolta do pescoço. O som das botas fazia barulho no piso, com a quietude do lugar ele logo percebeu a presença dela.

— Zabine, muito me honra ter sua presença neste dia tão belo.

Freya sorriu, ela tinha uma apreciação especial por aqueles que sabiam usar um sarcasmo elegante.

— Como foi o natal esse ano?

Thomas parou de olhar para o livro, Freya era muito diferente dos irmãos, sua pele pálida e seus olhos castanhos passavam suavidade, ela sempre estava arrumada, com o cabelo alinhado e roupas caras, não usava muita maquiagem, às vezes estava com os lábios rosados e as bochechas coradas, algo que transparecia saúde. Ao contrário de muitas meninas da sua turma que usavam batom muito forte ou pesadas sombras, Freya não precisaria dessas ferramentas para ser bonita. Ele quase poderia ter se deixado envolver por aquele sorriso encantador, se não fossem os olhos dela.

— Por que você não me diz o que veio fazer aqui? – Ele foi direto.

Ela ficou feliz quando pode parar de sorrir, aquilo era tão cansativo.

— Você leu os jornais?

— E quem não leu?

— E? – Ela lembrou-se de manter seu rosto impassível independente da resposta dele.

— Você não deve ter encontrado muitas pessoas ao caminho daqui. – Thomas sorriu. – Eu já ouvi muitas histórias, a minha favorita é a que diz que vocês foram passar o feriado em casa para poderem se iniciar no mundo dos Comensais. Que o ataque à vila trouxa foram obras dos pequenos filhotes de comensais.

Aquilo não era tão ruim, ela estava repetindo a si mesma.

— Você parece feliz. É só isso?

— Eu ouvi um grupo de corvinais conversando há duas noites, eles disseram que os pais falariam com o Conselho da Escola sobre os perigos de terem os filhos perto de pessoas perigosas. Olhe bem ao redor, Zabine. Pode ser a última vez que você vê essas prateleiras.

Freya jogou para longe a vontade de pegar o livro pesado que ele lia e bater-lhe a cabeça nele. Aquilo era um total absurdo, não tinha como o Conselho concordar com esse disparate, mas se eles concordassem teria Minerva alguma opção senão expulsar todos os filhos de ex-comensais?

— Professora McGonagall jamais aceitará isso. Ela sabe que não fizemos nada, que nossos pais não fizeram nada.

Thomas parou de sorrir e se debruçou na mesa para chegar mais perto dela, Freya sentiu o cheiro característico de alcaçuz e conseguiu ver pontinhos castanhos na íris azul.

— Dana O’Brien diz que ouviu Emory Flint e Emilia Burke comentando sobre o ataque, eles não pareciam tristes com o que tinha acontecido e falaram sobre uma carta que tinha chegado dos pais dizendo sobre um brinde aos últimos acontecimentos.

Freya deixou que a notícia fosse absorvida. Ela sabia que nem todas as pessoas se arrependeram de seus atos passados, apenas se conformaram com a nova situação. Mas supor que essas pessoas, conhecidos de seus pais, estavam envolvidas naquela chacina era algo horrível.

— Por que está me contando isso?

— Nem todos são inocentes. Pessoas morreram, Zabine. Crianças, homens e mulheres indefesas e aquilo foi magia. Pode não ter sido seus pais, os Nott ou os Malfoy, mas foi alguém. As pessoas estão com medo e elas têm razão em estar.

— E isso significa em tentar expulsar todos nós? É isso que você quer? Sua mãe também assinará a petição?

Thomas demorou um pouco a responder. Na verdade ele não sabia o que gostaria. Ele queria acreditar que Freya não sabia quem tinha feito àquela coisa monstruosa, mas não queria ser ingênuo e confiar em um Zabine.

— Você tem razão, McGonagall jamais permitirá que seus alunos saiam daqui. E a sra. Granger está no Conselho também, ela fará essa petição virar cinzas.

— Isso era para ter soado reconfortador?

Thomas sorriu.

— Isso era eu me desviando da sua pergunta. – Ele respondeu. – Por mais que eu tenha apreciado nosso momento juntos devo ir agora para o Salão Principal, o almoço será servido em alguns minutos. Nos vemos  por aí, Zabine.

Agora que ela sabia como realmente estava os ânimos dos seus colegas era mais fácil controlar a situação e como uma boa Zabine ela sempre controlaria a situação.

Sophia lia o jornal com uma felicidade mal disfarçada, cada palavra lá escrita parecia uma nota afinada de sua canção preferida. Seus planos não poderiam ter dado mais certo, na verdade para melhorar toda aquela situação seria melhor se os heróis de guerra desconfiasse de seus antigos inimigos, mas sabia o quão improvável era aquela ideia. Por isso se contentou em colocar todos os outros contra eles.

Nem teve que se esforçar. Bastaram algumas capas, máscaras, feitiços de levitação e a azaração da morte. Deixaram algumas pessoas vivas para que elas pudessem dizer aos aurores as informações corretas, alastrar o medo era sempre a melhor ferramenta em uma guerra.

O terror de ter os dias sombrios de volta poderia nublar a mais sensata das criaturas, grandes nomes como os Malfoy e os Nott seriam os mais visados. Sebastian e Lucius ainda eram vigiados, aquele era apenas o ponto de partida. Por muitos anos eles fingiram aceitar as normas da sociedade, respeitado os mestiços e aturando os nascidos trouxas, mas só porque não havia outra opção. Ela traria uma opção.

Sob suas mãos nasceria um novo mundo, um que eles não mais seriam subjugados pelos trouxas, não precisariam tolerar nascidos trouxas, eles seriam reis de seu mundo, o sangue mágico puro seria a regra e todo o resto seria massacrado.

— Minha Senhora, todos já a aguardam.

Sophia dispensou o bruxo com a mão se seus planos estavam caminhando na direção correta então Eliza iria para casa e com a chegada das férias sua última cartada seria dada. Aqueles que sobrevivessem ao ataque que ela estava planejando à Hogsmead não sobreviveriam uma segunda vez. Ela só tinha que assegurar que aqueles idiotas não machucassem seus netos, eles faziam parte da realeza, seria um enorme desperdício. Poderia até mesmo pensar em poupar Scorpius Malfoy, um sangue tão puro quanto o dele seria um bom casamento com Freya.

Ela colocou o jornal ao lado da taça de vinho e se levantou. Com sorte teriam mais aliados agora, pessoas dispostas a se sacrificar pelo bem maior. Na lógica de Sophia piões só serviam para morrer, mas não ela, ela era a rainha. A peça mais importante em todo aquele jogo, a única insubstituível.


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