Eu ainda estava irritado com James quando me sentei para jantar, mas, seguindo os conselhos de Henrique e Arthur, deixei isso para lá. Eu e meus amigos falávamos pouco e em tom controlado, ao contrário da mesa da Grifinória onde James estava, mas eu percebi que, em pouco tempo, a simples presença dos meus colegas passou a ser algo agradável e acolhedor. Parece que James tinha certa razão. Eu me enturmei bem rápido com as serpentes. Eu também sou uma serpente. E não vejo porque isso seria algo ruim.

— Ei, vocês acham que a professora Reyna e o professor Ivan têm alguma coisa? - Henrique perguntou de forma casual.

— O que quer dizer? - Arthur perguntou confuso, e Henrique gesticulou discretamente em direção à mesa dos professores.

Olhei naquela direção, e vi que os dois conversavam um com o outro, sem parecer dar importância aos outros professores. Ou melhor dizendo, a professora Reyna falava, parecendo animada com algo, enquanto o professor Ivan a escutava em silêncio.

— Ah, que bobagem. - Helena falou um pouco impaciente, como se não tivesse tempo para fofocas - Há inúmeros motivos para dois professores conversarem.

— Mas o professo Ivan não parece ser do tipo que gosta de jogar conversa fora com os outros professores - Stella argumentou.

— Pode ser algo sobre o trabalho - Scorpius falou como se não fosse nada importante - Algo importante.

— Ou eles podem ser amigos - Elizabeth argumentou.

Fiquei em silêncio. Não é como se isso fosse influenciar minha vida, mas não podia deixar de ficar curiosos. Culpa do Henrique, que tocou no assunto. Eu poderia descobrir, se tivesse a Capa da Invisibilidade do meu pai, mas James, como primogênito, foi quem herdou a capa.

— Ei, pessoal - Henrique chamou, esquecendo o assunto anterior - Tenho uma ideia - ele falou em uma animação contida.

— Qual? - Stella se inclinou um pouco para frente, também contendo a animação.

— Terminamos nosso primeiro dia em Hogwarts, não deveríamos comemorar a ocasião? - ele sugeriu.

— Comemorar o primeiro dia? A maioria das pessoas espera o fim do ano para comemorar - Irina falou com leve deboche.

— Eu gostei da ideia - Elizabeth comentou - Digo, não uma festa ou algo assim, mas algo pequeno.

— Minha mãe me mandou uma caixa de bombons, podemos dividir enquanto conversamos - Scorpius sugeriu.

Seguindo a sugestão de Arthur, levamos alguns bolinhos da sobremesa do jantar e fomos até nosso Salão Comunal. Eu fui com Scorpius até o dormitório para pegar os bombons, e Elizabeth também tinha em seu quarto uma caixa de doces guardada. Voltamos a nos reunir no Salão Comunal e formamos uma semicírculo ao redor da lareira, sentados nas poltronas, pufes e Stella sentou-se no chão, pegando apenas uma almofada para ficar confortável.

— Já sei - a menina sorriu, depois que os doces já estavam no meio do semicírculo e nós já tínhamos começado a comer - Vamos fazer assim: cada um de nós faz uma pergunta, e os outros são obrigados a responder honestamente.

— Como verdade ou desafio, mas sem a parte do desafio - comentei.

— Sim, e assim vamos nos conhecer melhor! - disse Stella.

— Mas e se alguém tiver algo que não quer compartilhar? - Irina questionou.

— É algo válido - Helena apoiou - Pode ser algo pessoal demais.

— Então, cada um tem o direito de não responder uma pergunta - Scorpius sugeriu.

— Tudo bem, eu começo! - Stella falou animada - Quais os seus piores medos?

— Fogo - Helena foi a primeira a responder - Não como as tochas daqui, quero dizer. Estou me referindo a incêndios.

— Tenho medo de porões - Henrique contou - Porque meu irmão mais velho me trancou dentro do nosso uma vez. Nossos pais não estavam em casa, e eu passei a noite lá dentro.

— E eu achava que James era ruim - brinquei.

— E qual o seu medo, Albus? - Henrique me perguntou.

— Altura. - respondi.

— Então, não vai seguir os passos dos seus pais no Quadribol? - Stella perguntou em tom divertido.

— Claro que não! James pode ficar com essa parte - respondi.

— E quando tivermos nossa primeira aula de voo? - dessa vez foi Scorpius quem perguntou.

— Não se preocupem, já tenho tudo planejado! Já comecei a praticar para fingir que estou passando mal no dia. - brinquei (apesar de ter um fundo de verdade), fazendo os outros (exceto Irina e Helena) rirem.

— Eu não vou responder essa pergunta - Irina comentou - Não me levem a mal, mas qualquer um de vocês pode estar contra mim no futuro, e meu maior medo seria algo que poderiam usar contra mim.

— Por que levaríamos isso a mal? - Scorpius falou com ironia.

— Qual o seu medo, Scorpius? - perguntei com curiosidade, olhando para ele (Scorpius estava ao meu lado, sentado no mesmo sofá).

— Meu avô. - ele respondeu prontamente, fazendo o grupo rir brevemente mais uma vez.

— Eu tenho medo de insetos. - Elizabeth contou.

— Eu tenho medo de lobisomens - foi Arthur quem disse.

— Qual o seu maior medo, Stella? - Henrique perguntou, mas a garota riu de forma travessa.

— Quem fez a pergunta não precisa responder.

— Minha vez - Henrique declarou - O que há de mais belo, para vocês?

— Mais belo do que? - Arthur perguntou, confuso.

— Qualquer coisa. - Henrique respondeu.

— O brilho de quando a luz do Sol bate na água - mais uma vez, Helena foi a primeira a responder

— Que poético - Scorpius sussurrou ao meu lado.

— E qual a sua resposta, então? - Helena questionou, voltando seu olhar ao meu amigo, que pareceu um pouco surpreso. Tenho certeza que não era para Helena ter ouvido, mas foi apenas por um instante. Ele logo sorriu e respondeu.

— Verde.

— Verde?

— Sim, verde, a cor. É a minha cor favorita.

— Como os olhos do Albus - Stella observou, com um risinho. Por algum motivo, aquele comentário me fez ficar completamente vermelho.

— Sim, como os olhos do Albus - ele concordou, e pude ver que seu rosto também estava corado.

— Eu acho que minha resposta é... Pássaros - Elizabeth continuou o jogo, para a minha felicidade - Não, acho que coelhos...

O jogo de perguntas seguiu normal, calmo, enquanto comíamos os doces. Era divertido estar na companhia deles, e tranquilo. Na minha vez de perguntar, perguntei o que eles gostavam de fazer no tempo livre. Descobri que Elizabeth desenha e Helena compõe poemas. Irina sabe tocar piano e harpa. Scorpius gosta de poções, e Arthur de quadribol. Henrique contou que gosta de bordar e tricotar. Stella afirmou que ama ler, principalmente histórias de aventura.

Scorpius seria o último a perguntar.

— Quais os seus sonhos? - foi a escolha dele.

— Vou seguir carreira como jogador de Quadribol profissional - Arthur respondeu - E, depois, quando eu me aposentar dos torneios, vou me tornar Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. E você, Helena? - ele perguntou. Sério, acho que Arthur desenvolveu algum tipo de adoração por Helena.

— Eu serei Primeira Ministra da Magia - ela respondeu prontamente e cheia de confiança, e Arthur a olhava com admiração.

— Ah, eu ainda não decidi o que eu quero, profissionalmente - Elizabeth falou - Mas um dia, eu quero ir para o Polo Norte, e ver a Aurora Boreal.

— Bem, eu também quero trabalhar no Ministério - Henrique contou - Departamento de Mistérios.

— Eu serei o maior pocionista dessa geração - Scorpius falou com tanta confiança quanto Helena.

— Ei, quem fez a pergunta não precisa responder! - Henrique lembrou.

— Mas eu queria falar - Scorpius respondeu com calma. - E você, Albus?

— Quero ser um auror. - comentei, com certa timidez. Eu queria me tornar o melhor auror, tão admirado que ninguém nunca mais me veria como o filho do Harry Potter, pois eu seria visto como um herói maior do que ele. Ele é que ficaria conhecido como o pai de Albus Severus Potter. Mas eu não tinha coragem de falar tudo isso em voz alta.

— Eu quero viajar pelo mundo todo, conhecer o mundo trouxa, ver a floresta amazônica e conhecer todo tipo de lugar, aprender sobre culturas novas - Stella falou com empolgação.

— Agora só falta você, Irina - Scorpius falou em tom de incentivo à ruiva.

— Eu me tornarei a maior bruxa das trevas dessa geração - ela falou em tom sombrio.

Uau, ela é mais assustadora do que a Helena.

Ninguém soube como responder a esse comentário agradável, então, como já tínhamos acabado de comer todos os doces e tínhamos aula no dia seguinte, resolvemos ir dormir. Fui com os garotos para o nosso quarto e me joguei na cama. Foi um bom primeiro dia, apesar de tudo.