Edward & Emily escrita por Laurus Nobilis


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá! Obrigada por se interessar por minha estranha one-shotzinha. Já aviso que eu estava insone quando tive essa ideia.

Vou admitir que não assisto "A Mansão Mal-assombrada" há muito tempo, então me baseei apenas no básico que lembro e no que li na Wikipedia. Se houver alguma incoerência, desculpe, considere como "licença poética." Se bem que esta história se passa numa realidade alternativa onde os filmes nunca aconteceram.

Ah, tente imaginar a Emily como uma pessoa, em versão real, não como animação. Estou falando porque eu mesma tive essa dificuldade enquanto escrevia. Imagine algo como a Christina Ricci zumbi.



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Era uma madrugada especialmente fria. A lua cheia, única fonte de luz, estava encoberta pelas nuvens. Uma densa neblina se espalhava pela grama alta do cemitério abandonado. Era possível ouvir apenas o suave cricrilar dos grilos – e passos. Passos de fantasma.

Edward Gracey caminhava lentamente por entre as lápides, trazendo, em sua mão translúcida, uma rosa murcha. Por que um morto estaria visitando os mortos?, você me pergunta. Bem, Edward não podia juntar-se totalmente aos outros falecidos, no Além. Ele estava condenado a vagar por entre os vivos, com apenas seu fiel mordomo de companhia, até que se livrasse de sua última e eterna angústia, a dor de um amor perdido. E que péssimo destino era aquele. Se ele pudesse se matar, o faria, mas já tentara uma vez e não havia dado muito certo.

Logo ele alcançou o túmulo onde havia seu próprio nome, ao lado do de sua amada. Estavam ambos enterrados, mas não juntos. Com um suspiro, ele deixou a flor em cima da poeira. Quando o dia clareasse, alguém talvez passaria por ali, veria aquela rosa e imaginaria quem a deixara. Embora ninguém mais lembrasse dos Graceys e de sua trágica história. Já fazia quase 150 anos.

— Elizabeth, meu amor… Quando morri, achei que fosse te encontrar. Mas parece que eu não era bom o suficiente. Será que você ainda sente minha falta, onde quer que esteja? - lamentou Edward, deixando escapar algumas lágrimas efêmeras.

Nesse momento, ele sentiu uma mão rígida em seu ombro. Virou-se, sobressaltado, para encontrar uma moça com um sorriso amável estampado no rosto magro.

— Quem é você? Como entrou aqui? Ninguém sólido conseguiria atravessar aquelas grades!

— Que falta de educação… Eu estava tentando ser gentil. - resmungou ela em voz baixa, para logo depois voltar a sorrir. - Meu nome é Emily. Eu moro aqui, embaixo da terra. Consegui sair por um tempo para respirar um pouco de ar puro… Embora eu não respire. Estou morta. Assim como você, aparentemente.

Ele logo se recuperou do susto e deu uma rápida olhada nela. Sua palidez e pele gelada eram inconfundíveis – sem dúvida estava morta. Mas possuía um corpo, ainda que putrefato. Edward e seu mordomo eram apenas frágeis projeções do que haviam sido um dia.

— Sou Edward Gracey. Nunca vi uma morta como você antes.

Emily deu uma risadinha, lisonjeada com aquilo que havia interpretado como um galanteio.

— De onde eu venho, todos são como eu. Alguns são apenas esqueletos…

Edward ficou interessado naquilo, mas achou que seria indiscreto perguntar logo de primeira, então mudou de assunto.

— Que vestido bonito… Apesar de um pouco encardido.

— Ah, é meu vestido de casamento. Fui enterrada com ele. Eu ia me casar. - Com o dedo ossudo, ela indicou um rasgo na região da costela. - Foi bem aqui onde meu noivo enfiou a faca.

Edward quis olhar, mas sua vista se demorou nos seios sem pulsação dela. Essa coisa de ter um corpo… Ele tentou disfarçar, fingindo interesse no cascalho no chão.

— Eu também ia casar. Mas quem morreu foi minha noiva. Alguém, com inveja da nossa felicidade, envenenou seu vinho. Então eu me suicidei. Não diria que tive sucesso.

Emily sorriu largamente, como se não tivesse achado a história nem um pouco triste.

— É essa a tal da Elizabeth? Desculpe, eu estava ouvindo você falar sozinho. Talvez você tenha tido outra chance.

— Como assim outra chance? - questionou ele, amargo. - Todas as minhas chances se perderam. Ela foi para algum lugar melhor, enquanto eu continuo aqui, nesse purgatório. Talvez tenha até encontrado outro homem por lá. Não sei ao certo como funciona.

— Bem, ela pode ter sido o amor da sua vida, mas agora você está morto, e ainda é capaz de amar. E eu também.

Com isso, ela lançou os braços em torno de seu pescoço e juntou seus lábios aos dele. Seu rosto atravessou levemente o dele, e se ele ainda tivesse olfato, não iria apreciar muito o hálito da mulher em decomposição. Porém, Edward ignorou tudo isso – era a primeira vez que o tocavam em muito, muito tempo. Ele apoiou uma mão na cintura de Emily e retribuiu seu beijo vorazmente.

Fizeram indescritíveis indecências, deitados no túmulo dele, até amanhecer. Então precisariam se separar – porque fantasmas eram fotofóbicos, o tempo de Emily no mundo dos vivos era limitado e alguém poderia aparecer.

— Venha comigo. - praticamente ordenou ela, puxando-o pela mão após terminarem de se vestir. - Vou te levar para meu lar. Não é isso que você chama de Além, mas é tão bom quanto.

Edward concordou sem pensar duas vezes. Juntos, eles pularam dentro do sepulcro de Emily e foram parar em uma pequena cidade subterrânea, cheia de simpáticos defuntos encarnados que não discriminaram Edward por ser apenas um espírito. Afinal, ele se tornara o tão almejado noivo da Noiva Cadáver.

E viveram felizes para sempre. Para sempre mesmo.


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Notas finais do capítulo

Já viram casal mais perfeito que esse? Espero que tenha gostado. Um comentário me deixaria imensamente feliz. Aceito críticas construtivas.

Feliz Halloween adiantado!