I still walk escrita por Claymore


Capítulo 6
Capitulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713047/chapter/6

 

Consegui balançar a cabeça em um movimento afirmativo , para que ele soubesse que eu entendia a informação, eu não ia passar por uma completa tapada , não ainda. Era tão estranho aquele homem com um pouco de barba por fazer, olhos gentis castanhos , cabelo curto castanho, blusa xadrez vermelha e jeans me olhando. Quase me estudando. Limpo e nem mesmo um arranhão. Unhas limpas e delicadas.  Parecia um estudante de direito ou administração, alguma coisa limpa e organizada. Eu conseguia visualiza- ló, mais com um terno cinza e gravata azul do que com as roupas simples que ele estava. Como se ele n vivesse no mesmo mudo que nos durante esses últimos anos.

Ele parecia aqueles meninos metidos e populares da minha cidade, os mesmos meninos que eu queria tanto que me chamassem para sair. Me lembro de ir com minha mãe visitar algumas faculdades que seriam opção para mim e ver esses meninos passeando pelo campos. Lembro de me sentir deslocada, mas mesmo assim, querendo chamar a atenção de algum deles. Mas eu era obviamente uma aluna de segundo ano, magrela de mais, passeando com a mãe e uma blusa florida verde fora de moda e caipira.  Se eu tivesse ido com a Meggie teria tido mais chances e ela me impediria de usar aquela roupa horrível que papai me deu de natal há dois anos atrás.

Eu estava a usando pela primeira vez naquela manha de sábado em homenagem a ele. Papai havia se formado naquela faculdade, por isso era importante para ele que eu voltasse para casa e contasse como eu estava apaixonada pelo lugar.  E esse era o papel da mamãe na viagem, garantir que eu visse o melhor que o lugar pudesse me oferecer. Provavelmente daria certo se eu já não tivesse meus próprios planos. De jeito nenhum eu passaria os próximos anos infiltrada na biblioteca da universidade Drexel, na Pensilvânia.  Não me entenda mal, provavelmente era uma ótima faculdade com muito a oferecer, afinal era para Meggie estar nos acompanhando, mas apareceu um seminário de ultima hora,  foi o que ela disse.

Aquele lugar era para Meggie e papai, que são os tipos de pessoas que se encaixam em qualquer lugar. São o tipo de pessoas que todos querem ser seus amigos. Não era meu caso, então meu futuro já tinha me respondido e aparentemente eu tinha sorte, ou alguém no céu tinha pena de mim, pois a minha carta de aceitação estava me esperando na minha escrivaninha,  dentro de um livro de álgebra. Meu destino estava em New York.  Eu só precisava encontrar a melhor maneira de contar isso para o papai.

Acabou que o melhor momento acabou sendo somente no final do verão seguinte, quando quase perdi o prazo de inscrição. Mas eu sempre tive sorte de ter o melhor pai do mundo. Compreensivo e amoroso meu pai sempre foi o tipo de homem que te passa à vontade de se abrir e compartilhar seus segredos.

No final o meu medo era de decepciona-lo, eu não queria machucar ele ou talvez o meu medo fosse de me destacar pelos motivos errados mais uma vez da minha família.  No final das contas  ele ficou feliz por mim e ate me levou para conhecer o campos da Juilliard, foram 3 dias muito divertidos e me arrependo de não ter aproveitado mais .

Eu estudaria composição clássica, realizaria meu sonho, me tornaria uma compositora. Nunca quis ser famosa ou aquele tipo de cantora clichê, mas sempre sonhei em viver da musica escrevendo minhas letras que era onde eu me encaixava.   Acabou que não tive tempo de frequentar as aulas, nem por um dia,  não tive oportunidade porque logo que voltamos os do final de semana em New York,  mortos ganharam vida e essa loucura começou.  Engraçado pensar que meu maior problema era contar ao meu pai que eu queria ir para outra faculdade.

— Porque você não vem comigo? Eu te mostro a casa. – Michonne me tirou da minha viagem ate o passado e me fez perceber que Spencer ainda me olhava.

— Claro. Obrigado pelas roupas.- disse a ele.

— Sem problemas, nos vemos amanha – Ele me deu um sorriso meigo que chegou ate seus olhos, e logo já estava fora da casa. Decidi não comentar o fato de que ele parecia amigável até de mais .

Me virei para seguir Michonne pela escadaria de madeira branca que levava até o andar de cima, e tive o prazer de perceber que Daryl estava me encarando da janela. Aparentemente ele não havia se mexido, não deu tempo de perceber seus olhos, mas parecia que alguma coisa o estava deixando inquieto, preocupado.

Seguimos até o andar superior e fomos ate um corredor com as paredes nas mesmas tonalidades claras, novamente sem nenhum quadro nas paredes. Tudo muito simples. Agora eu conseguia ver as portas e diferente da porta principal, as daqui de cima tinham a cor de marrom escuro. Eram de madeira e as maçanetas eram redondas na cor cobre. Pensando melhor agora a casa parecia com casas de mostruário ou que estavam sendo alugadas. Nada pessoal, somente uma tela branca para que uma dona de casa pudesse entrar e visualizar as possibilidades do lugar. Um lar feliz.

Michonne parou no meio dos dois corredores e em frente a uma porta. - Aqui é o banheiro. Do lado esquerdo fica o quarto de Karl o meu e do Rick. E do outro, o do Daryl, o seu e a ultima porta desse corredor ao lado do quarto do Daryl.

— Judith fica onde?- Tentei distrair minha mente e não pensar que meu quarto ficava ao lado do Daryl.

— Comigo e com Rick.

— você e Rick?

Michonne sorriu para mim meio sem graça e colocou a mão sobre meu ombro. -As coisas mudaram um pouco.

— Notei. – Michonne e Rick? Quem diria.

— Bem , teremos tempo para conversar mais tarde. Tome um banho e coloque suas coisas no quarto. Te encontro lá em baixo. Vou arrumar alguma coisa para você comer.

— Tudo bem. Obrigada.

Ela me deixou e desceu as escadas logo atrás de mim. Girei a maçaneta que estava fria e entrei no banheiro. Era tudo branco, de cerâmica, tinha um espelho sobre a pia branca, tinha duas torneiras de bronze. Uma de agua fria e outra de agua quente eu imaginei. A área do chuveiro era branca também, com um suporte para sabonetes vazio. Aparentemente todos tinham o mesmo quite de limpeza que o meu. Pois não havia sabonetes, shampoos ou escovas de dente. Novamente um cômodo sem nada de pessoal nele.

Me olhei no espelho e meu cabelo estava molhado e amarrado em um rabo de cavalo meio solto. Algumas mechas haviam fugido e meu cabelo loiro estava opaco e eu podia ver que tinha uma boa camada de sujeira.

Meu rosto tinha marcas de lágrimas que limpavam uma camada de poeira que cobria toda minha bochecha, não tinha percebido que tinha chorado tanto. Meus olhos estavam enormes e assustados. Agora eu conseguia ver porque meu apelido no maternal era Bambi. Parecia uma garotinha assustada e perdida. Bem diferente da mulher corajosa e destemida que eu acreditei que havia me tornado. E isso era frustrante, eu não queria aparecer aqui daquele jeito.

Tirei a besta que estava presa a minha coxa e logo depois o punhal preso na minha cintura, e logo em seguida minha roupa que estava molhada e pesada. Assim que tirei a blusa e fiquei somente de sutiã percebi o quanto estava magra. Conseguia ver meus ossos do esterno salientes em baixo da fina e lisa camada de pele. Mais branca que o normal, sobre a luz azul do banheiro. Retirei o sutiã rosa claro que agora estava quase marrom, grande de mais para mim.

Retirei a calça do exercito que estava sendo presa por um cinto que eu tive que fazer dois furos a mais para que ficasse firme. Como a calça era boca de sino, bem largas eu consegui tirar antes das botas de acampamento. Quando as retirei estavam cheias de lama e as duas meias que usei não impediram que minhas unhas dos pés ficassem cheias de terra preta.

Peguei a bolsa de couro marrom que Spencer me falou que tinha produtos de limpeza e entrei no chuveiro feliz em notar a agua quente sobre meu corpo gelado. Era estranho sentir o conforta da agua limpa e quente batendo sobre meus ossos e pele.

Abri a sacola depois de um minuto em baixo da agua e notei que tinha dois frascos de plástico com tampas. Uma vermelha que estava escrito Shampoo com uma caneta preta em uma letra desajeitada de forma e outra azul que era o condicionador segundo a embalagem caseira. Mas a letra era diferente, dessa vez bonita e uniforme, com uma caneta roxa. Também tinha uma saboneteira, com um sabonete branco dentro, tinha um cheiro bom de laranja, uma escova de dente rosa e um tubo de pasta de dente de uma marca que eu não conhecia.

Peguei um pouco de shampoo , menos do que normalmente pegava em casa, mesmo que meu cabelo estivesse vários centímetros maiores que naquela época, eu não tinha certeza se receberia um kit novo.  Comecei a lavar meu coro cabeludo. Desliguei o chuveiro, mas isso era um costume que eu adquiri com minha mãe. Ela sempre era preocupada com os recursos naturais e sempre falava que iriam acabar um dia. Se ela estivesse aqui para ver como era difícil conseguir um copo de agua limpa, mas minha mãe era legal de mais para dizer “ Eu te avisei”.

Em quanto fazia espuma com o milagroso Shampoo que tinha cheiro de camomila comecei a pensar em tudo o que tinha acontecido e é claro que meu pensamento foi até ele. Será que ele estava bravo com a minha volta?

Tentei vasculhar na minha mente meus últimos momentos com ele, mas não conseguia lembrar de alguma coisa que eu pudesse ter feito, para chateá-lo. O que eu poderia ter feito?  Eu não pensei muito no assunto, mas e se ele não quisesse me buscar? Eu sabia que fui um peso para ele e para todo o grupo no passado, mas e se ele ficou feliz em me sequestrarem? Feliz talvez não, mas e se as coisas tivessem melhorado para ele depois? Daryl sempre foi pratico, e carregar uma garota desajeitada por ai, não era nada pratico.

Ele viria atrás de mim quando tivesse a oportunidade disso eu sabia, mas ele não iria fazer isso com qualquer pessoa do grupo? Eu não tinha pensado nisso. E se ele foi atrás de mim por obrigação, ou porque tinha alguma consideração por causa do meu pai? Eu pensei que talvez eu fosse importante para ele , mas e se ele somente seguiu as orientações. Todos estavam com ele. Talvez ele não estivesse me procurando, talvez Rick ou talvez Meggie estivesse atrás de mim.

Quando a prisão foi invadida e eu consegui fugir com Daryl era claro, que ele não estava feliz, mas eu realmente achei que as coisas estavam diferentes depois de um tempo.  Quando ele praticamente admitiu que eu houvesse feito mudar de opinião em relação às pessoas. Aquilo me fez pensar que talvez ele estivesse sentindo algo por mim. Que eu o fiz sentir esperança. Que ele tive estivesse começando a gostar de mim. Sentir um sentimento que eu só notei que existia quando fiquei longe dele.

No segundo ano minha professora de artes nos levou a uma exposição de arte contemporânea, boa parte dela era abstrata, então ela sugeriu que déssemos alguns passos para trás, que nos afastássemos. De longe teríamos uma visão melhor do todo da obra, assim entenderíamos melhor o desenho.  Foi assim que compreendi meus sentimentos, ao me afastar pude entender meus sentimentos que eram confusos e abstratos como aquelas obras.

De longe aqueles emaranhados de sentimentos foram tomando forma, e mesmo que não fossem fáceis de aceitar, eu conseguia compreender.

Aquele pensamento me fez sentir um aperto na garganta, me fazia sufocar. Eu não tinha pensado nisso. Não tinha cogitado essa possibilidade. Depois de acordar fiquei tão focada em me recuperar que não pensei em muito.

Abri o chuveiro e enxaguei meu cabelo, peguei um pouco de condicionador e passei no comprimento. Enquanto deixava um pouco o hidratante na cabeça, peguei o sabonete e a bucha e passei pelo meu corpo tirando toda a sujeira. A agua desceu escura pelo ralo quando terminei.

Alcancei a toalha dentro da bolsa com roupa , ela era azul e tinha algumas manchas vermelhas, dessas que você consegue quando lava peças coloridas juntas, não era nova , mas era o suficiente. Enxuguei-me e prendi a toalha nos cabelos fazendo um turbante. Peguei a bolsa e vasculhei o que tinha dentro: uma vestido curto rodado branco com renda, sem mangas de alça de cetim, uma calça jeans escura, uma blusa preta de manga com botões no decote, uma sapatilha de pano preta, uma calcinha , um sutiã preto e uma escova de cabelo.

Decidi pelo vestido, mesmo que não quisesse mostrar as pernas e os braços, por causa dos hematomas e machucados. A calça jeans obviamente ficaria enorme e eu não queria usar aquele cinto de novo. Não queria nunca mais usar aquelas roupas de novo. Então coloquei a roupa fazendo uma nota mental para ir ao galpão vermelho que Spencer disse para trocar. Calcei as sapatilhas e agradeci eternamente que a numeração estava correta.

Me olhar no espelho escovando meu cabelo era engraçado. Agora meu cabelo estava liso por causa do peso da agua, meu rosto parecia eu de novo e até meus olhos não estavam tão esbugalhados como antes. A adrenalina deixava meu corpo e isso facilitava a respiração. Escovei meus dentes e coloquei a roupa suja dentro da sacola que antes tinha o vestido branco. Peguei tudo e sai do banheiro, percorri todo o corredor e fui ate o quarto.

Ao entrar percebi que era um quarto de menina, provavelmente esse era o motivo dele estar vazio. As paredes eram roxas e tinha uma cama de solteira com um colchão branco, a roupa de cama estava em cima do colchão esperando para ser estendida. O chão era de madeira escura e tinha uma janela que estava aberta com as cortinas cor bege aberta.  Agora eu podia ver que a chuva se tornara um chuvisco leve, e o vento frio que caminhava para dentro, deixava o clima do quarto perfeito para uma noite de sono. Tinha uma penteadeira de madeira branca com um espelho grande em uma moldura elaborada com uma cadeira branca obviamente do mesmo conjunto. Ao lado uma porta dupla de madeira branca, aberta de um armário embutido com alguns cabides de madeira pendurados.

Deixei tudo o que estava em minhas mãos em cima da penteadeira e coloquei a toalha aberta no encosto da cadeira para secar. Antes de me virar para deixar o quarto pude ter uma bela vista de mim por inteira. A visão me deixava em um contexto confuso. Vendo-me de vestido, banho tomado e atrás um quarto bonito e iluminado. Lembrou-me de quem eu era, me lembrou de como as coisas eram, minha visão ficou turva e notei que estava chorando. Mas eu não podia fazer aquilo agora eu precisava me concentrar e enfrentar o que me esperava lá embaixo. Eu precisava enfrentar o Daryl.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "I still walk" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.