Ele escrita por G Rodrigues


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712914/chapter/1

Às vezes eu me pergunto como demorou tanto pra que ele se tornar meu amigo, nos conhecemos no primeiro dia de aula ainda no do lado de fora da escola, não acho que ele se lembre da garota, que estava sentada ao lado dele, mas eu me lembro certamente, impossível esquecer uma bunda tão redondinha igual aquela.

Ele estudava comigo e sentava ao meu lado, mas acho que ele nunca notou isso. Ele fingia ser um rebelde e também fingia ser péssimo aluno, mas eu era muito observadora pra não notar isso. Ele era o tipo de pessoa que estava sempre com expressão fechada no ônibus, mas que cedia o lugar pra gestantes e auxiliava os idosos a descerem com as sacolas.

Ele era calado nas aulas e raramente se metia em brigas e quando brigava ele sempre terminava na enfermaria e como sempre eu estava do lado dele. Ele nem percebeu quando começou a conversar comigo e muito menos que em poucos minutos de conversa eu já sabia até o tipo sanguíneo dele.

Ele tentava não rir das minhas piadas idiotas e algumas vezes ele tentava me evitar, mas é impossível se esconder quando se tem um moicano verde florescente, ou dreads vermelhos, ou longos cabelos azuis, eu ficava impressionada com o fato do cabelo dele nunca ficar ressecado.

No começo eu só queria irritá-lo e chamar atenção pra mim, não esperava que realmente nos tornássemos amigos, os abraços pela manhã tornaram-se rotinas e eu amava o jeito como ele sorria, amava ficar perto dele e sempre que eu podia eu pegava na bunda dele e isso rendia muitas corridas pela minha vida.

Ele era minha alma gêmea e eu nunca tive dúvidas disso, embora ele fosse teimoso feito uma mula e tivesse resistido bastante ao fato de que eu já fazia parte da rotina e da vida dele, ele tinha problemas em casa, ele precisava trabalhar depois da aula e ele tinha um cachorro muito fofo.

Ele era o tipo de pessoa que deitava no meu colo e me deixava fazer cafuné nos cabelos dele até se sentir confortável pra desabafar, ele também fazia o melhor bolo de chocolate da vida. Ele estava sempre tentando me arrumar um namorado e ficava profundamente mal-humorado quando eu aceitava ficar com alguns.

Não sei dizer em que momento da vida as coisas mudaram entre nós, talvez tenha sido no dia que desmaiei na rua devido ao calor e ele acabou me levando pra casa dele, ou talvez tenha sido no dia que sentei no chiclete e todo mundo riu de mim, aquela foi a primeira vez que ele acertou um soco em alguém.

Ele me trazia a segurança que eu tanto buscava, e aquela sensação de está protegida que eu sentia quando ele me abraçava era tudo que eu precisava pra ficar bem. Não sei dizer em que momento comecei a passar mais tempo na casa dele, do que na minha, quando notei o cachorro dele já me obedecia e minhas roupas já estavam no guarda-roupa dele.

Ele ficava furioso quando eu ganhava dele no truco, no dominó ou na sinuca e sempre zoava o fato de que eu não conseguia pular o muro pra cabular aulas. Ele começou a trabalhar como tatuador e eu comprei uma bicicleta.

Ele tinha mania de sair e não avisar aonde ia ou que horas ia voltar, e eu não conseguia dormir sem saber se ele estava bem de fato, alguns dias eu nem mesmo pisava na casa dele, outros dias eu chegava destruindo a casa.

Ele tinha medo de baratas e gritava de um modo histérico toda vez que uma aparecia, ele esforçava ao máximo pra fazer pose de mal, mas toda vez que tocava Lady Gaga ele dançava como se não houvesse amanhã, ele saia pra correr todo dia de manhã e quando chegava todo suado ele me abraçava apenas pra fazer gritar de nojo.

Ele amava me deixar irritada, pois segundo ele eu fazia um biquinho muito fofo quando estava brava, algumas vezes ele colocava o pé na frente pra que eu tropeçasse e morria de remorsos quando minha falta de coordenação me fazia cair.

Ele se recusava a usar os óculos e isso sempre fazia com ele pegasse o ônibus errado e fosse parar em locais totalmente estranhos. Quando ele ficava bêbado, ele sempre me ligava chorando sem saber onde estava, ou onde morava e algumas vezes ele estava na garagem da própria casa, perdi as contas de quantas madrugadas eu saio de pijama pra ir buscá-lo.

Ele tinha a mania de morder meu ombro após me abraçar e de beijar meu pescoço, ele sempre dizia que me amava e ficava louco da vida quando eu não respondia que também o amava, mas isso era visível pra qualquer um.

Eu não sei como demorei tanto tempo pra perceber que estava apaixonada por ele, todos os nossos amigos diziam que iriamos nos casar um dia, que éramos perfeitos um pro outro, ele sempre dizia que aquilo era bobagem e que eu era somente a melhor amiga dele.

Eu não sei dizer em que momento ele de fato se apaixonou, mas talvez tenha sido no dia que nos beijamos na biblioteca e uma das estantes caiu quebrando uma janela e tivemos que ficar na diretoria o dia todo além de pagar pelo concerto, talvez tenha sido na primeira vez que fiquei bêbada o bastante pra dizer tudo que sentia por ele e acabei dormindo na casa dele, ou pode ter sido na primeira vez ele me pegou tomando café apenas de calcinha na cozinha da casa dele.

Ele conseguia notar em pouco segundos que o dono da padaria tinha um caso com a recepcionista do pet shop, mas demorou anos pra perceber que estava apaixonado por mim, mas acho que se não tivesse sido desse jeito não seria ele. E ele é tudo que eu sempre quis.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido tudo, espero ter agradado.