Amor Problemático escrita por Carol Costa


Capítulo 7
Capítulo 07




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/712810/chapter/7

Através das pálpebras sonolentas semicerradas, ainda que de modo pouco nítido, Shikamaru focalizou o semblante fechado de Temari dirigindo-lhe um olhar nada amistoso. As íris de jade cintilavam num brilho selvagem, devorando-o numa hostilidade aterradora. Não fora preciso que ele lhe indagasse o motivo para tremenda carranca. Nara já podia imaginar que Temari encontrava-se profundamente desgostosa com sua atitude nada prudente de voluntário suicida que por pouco não custou-lhe a própria vida, ainda que ele tivesse se colocado entre ela e Seiji para protegê-la. No entanto, ele não se importou, e achando-se indiferente quanto a postura mortífera ostentada pela Sabaku — desmanchou-se num poço de alívio ao vê-la viva e aparentemente livre de ferimentos graves. Ele quis expandir as laterais de seus lábios ressecados num sorriso maior que a própria cara; porém conteve-se ante a possibilidade de Temari encarar isso como uma forma de provocação. O que muito provavelmente contribuiria para tornar ainda pior seu claro mau humor.E uma experiência de quase morte já fora o suficiente para Nara.

Sorvendo uma generosa porção de oxigênio, Shikamaru abriu seus olhos por completo e descobriu-se num ambiente desconhecido. Identificou-o como sendo um quarto; espaçoso e aconchegante. Velas acessas dispostas sobre os móveis de cores quentes eram as únicas responsáveis por iluminar o local mergulhado num silêncio profundo. Nara apoiou as mãos sobre o emaranhado de lençóis espalhados pelo colchão, e sob certa dificuldade, sustentou o peso do torso até que conseguisse equilíbrio para pôr-se sentado. Descansando a coluna na cabeceira da cama, ele abaixou o olhar por toda sua região abdominal coberta por bandagem. Shikamaru suspirou, e voltou sua atenção para Temari que, sentada a seu lado, mantinha os olhos grudados em si.

— Você está bem? — como usual consequência do recém-despertar, a voz de Shikamaru era arrastada e pouco audível. Ele limpou a garganta apenas para descobri-la incomodamente seca.

Temari meio que riu, meio que bufou.

— Está me perguntando se eu estou bem? — ela deu proposital e forte ênfase a "eu".

— Está ferida? — insistiu ele

— Não. — ela não hesitou em aplicar grande grosseira na voz baixa. Novamente, Shikamaru não se importou. Estava feliz demais para sentir-se ultrajado ou mesmo irritado com o comportamento arisco da loura.

— Onde estamos? — perguntou ele após passado alguns breves instante de silêncio, dos quais ambos limitaram-se apenas a se encararem mutuamente.

— Na mansão dos Tanaka.

— Eu dormi por quanto tempo?

— Um dia e meio.

— E os Tanaka?

— Estão bem.

— O que houve com Koji e Yukari?

— Fugiram. Mas graças a denúncia feita pelos Tanaka à polícia local, é só uma questão de tempo até serem achados e presos. Eles não irão longe.

Nara hesitou por um momento antes de prosseguir:

— Seiji...?

Temari suspirou, porém sua expressão não se alterou.

— Está morto.

Shikamaru piscou, atordoado.

— O...o que?

— Eu o matei. — confessou ela numa naturalidade quase tediosa.

Faltaram palavras ao Nara pelo o que pareceu o tempo de toda uma vida.

— Você o matou? — ainda que tivesse escutado-a perfeitamente, seu cérebro parecia incapaz de processar tal informação.

— Quando notou que você havia levado o golpe que deveria ser para mim, ele resolveu finalizar o serviço. Você caiu no chão, sangrando em profusão e inconsciente, e Seiji se aproximou para dar o golpe final. Mas eu fui mais rápida, e o atingi antes que ele conseguisse matá-lo de vez. Eu e os Tanaka fomos te socorrer, enquanto Koji e Yukari fugiram após eu ter matado Seiji.

Shikamaru fitou-a de cenho franzido no quarto mal iluminado num misto de incredulidade e compaixão. Novamente, ele achou-se sem palavras. Temari havia matado seu melhor amigo de infância para protegê-lo, e mediante isto, ele não soube se deveria sentir-se espantado ou somente maravilhado ante este tremendo ato amoroso.

— Somos amigos desde que me entendo por gente. E embora nunca tenha sido nada além que um completo idiota, por muitos anos, Seiji foi mais como um irmão para mim do que Gaara e Kankuro. — dizia ela distraidamente com os olhos perdidos no próprio colo. Falava com notório pesar, embora seu rosto continuasse impassível. Nara quis confortá-la, mas não haviam indícios de que Temari estava arrependida pelo o que fez. Ele também não poderia dizer que sentiu-se comovido pela morte de Seiji. Shikamaru o odiava desde o primeiro momento que colocou seus olhos no garoto de cabelos muito claros.

Tendo-se arrastado mais alguns momentos dos quais nenhum dos dois dissera algo, Temari suspirou longamente e reassumiu a expressão irada ao grunhir entredentes:

— Faz alguma ideia do quanto minha mão está coçando agora? Eu quero enchê-lo de porrada até a pele dos meus dedos esfolar!

Ele nada disse, somente bufou e revirou os olhos. Já esperava que não conseguiria escapar do jorro de sermões que a Sabaku furiosamente despejaria sobre si.

— Será que pode me explicar que merda foi aquela, Nara? — continuou ela, mirando-o profundamente com os braços cruzados sobre o busto. Shikamaru quis rir. Tal pose tornou-a iconicamente parecida à sua mãe, Nara Yoshino.

— O quê? — ele investiu numa tola tentativa de passar-se por desentendido.

— Quando foi a última vez que usou aquele ninjutsu?

— Foi a primeira vez que eu o usei.

Temari bufou

— Poderia estar morto, entende isso?

— Mas eu não estou. — ele deu de ombros

— O que pensa que estava fazendo?

— Se Seiji tivesse conseguido apunhá-la nas costas, teria morrido instantaneamente.— Shikamaru sentia que explicava algo ridiculamente óbvio a uma criança.

— Baixas em missões são perfeitamente comuns. E Tsunade foi bem clara quando disse que não importando o que acontecesse, deveríamos levar os Tanaka a salvo para Konoha.

Shikamaru bufou, olhando-a com certa irritação.

— Esperava que eu simplesmente assistisse enquanto ele a matava?

— Nosso foco é proteger os Tanaka, e não um ao outro.

— NÃO IMPORTA!!! — o berro de Shikamaru explodiu pelas paredes do cômodo, produzindo um eco ruidoso.

Num ato intuitivo, Temari reagiu a abrupta alteração comportamental dele ao afastar-se para a beirada da cama. Ela descruzou os braços e encarou-o num misto de surpresa e receio. Nara soltou o ar pelas narinas infladas num arfar pesado, e após dar-se conta de que sua impaciência o venceu ao ponto de permitir-se uma atitude impulsiva, desviou seus olhos do rosto de Temari para baixo — amaldiçoando-se por ter gritado com ela.

— Estou perfeitamente ciente do risco que corri, Temari. E estou disposto a fazer isto novamente quantas vezes mais for necessário. — ele tornou a diminuir o tom após esfregar as têmporas com as pontas dos dedos.

— Mas por que...?

Nara suspirou e reergueu os olhos para ela.

— Por egoísmo.

Temari franziu as sobrancelhas em confusão.

— Egoísmo?

— Como um senhor feudal é zeloso para com seus patrimônios líquidos, pois são o centro de seu mundo e o há de mais precioso para ele, eu sou tão egoísta que preciso manter intacto e conservado aquilo que existe de mais importante para mim. Do contrário, eu jamais conseguiria tocar com minha vida, pois não teria o que é essencial para vivê-la. Eu não a protegi para poupar sua vida, Temari, mas para poupar a minha própria. Eu simplesmente não seria capaz de viver num mundo do qual você não existe. Eu não a deixei morrer para que eu não morresse, por que preciso de você para continuar vivo. Você é meu mundo. Você é minha vida.

Suas palavras realizaram uma façanha jamais imaginada: deixaram a inabalável Sabaku No Temari, pela primeira vez, muda. Ele vislumbrou uma sequência incoerente de sentimentos destintos atravessarem seu rosto exótico numa velocidade surpreendente, e aguardou ansioso pelo o momento em que ela se pronunciaria. No entanto, ela não o fez, por isso Shikamaru resolveu dar continuidade:

— Eu amo quem você é. Amo você, Temari. Eu quase tive de perdê-la para finalmente perceber isso, e espero que me perdoe por tê-la feito chegar a este ponto. — fez uma curta pausa para suspirar — Estou realmente disposto a fazer o que quer que precise ser feito para reparar os erros que cometi com você. Quero te fazer feliz tanto quanto você me faz. Quero cuidar de você tão bem quanto cuida de mim. Preciso de você, preciso do seu amor. E algum dia, vou torná-la minha esposa e mãe dos meus filhos. Não importa quanto tempo leve, ou o que eu precise fazer, você será minha...para sempre. — ele mirou-a numa intensidade desconcertante e pousou sua palma cálida na maçã facial direita dela.

Temari sustentou seu olhar firme, vasculhando as orbes amendoadas em busca de hesitação, nervosismo ou falsidade. Porém tudo que encontrara nos olhos de Nara foi uma veracidade feroz absolutamente perceptível. Suas palavras gotejavam de uma sinceridade extrema, e Temari quase constrangeu-se por um momento por ter achado que ele mentia. A loura desmanchou-se ante a confissão franca e carregada de um significado imensurável. Temari foi tomada pela emoção de tal modo que viu-se perto de entregar-se ás lágrimas. Dizer o mesmo dito por ela naquela noite no trem arrancou da loura um suspiro pesado, que Nara não soube identificar como sendo de júbilo ou frustração. Ela pareceu perturbada, confusa até. Seu rosto explicitava o quão caótica sua mente estava no momento. Embora quisesse dizer-lhe mais alguma coisa, ele deu-lhe algum espaço e aguardou pacientemente até que ela se visse capaz de falar algo.

— Bom, então acho que isso nos torna quites. — disse ela quando Shikamaru acreditou que não o faria devido ao silêncio ensurdecedor que perpetuou o cômodo por longos minutos. Sua expressão suavizou-se, e ela até mesmo esboçou um sútil sorrisinho nos lábios pouco carnudos.

Ele arqueou a sobrancelha, curioso

— Por que?

— Porque matei Seiji por egoísmo também.

Temari apanhou algo sobre o mesinha de cabeceira e estendeu-lhe o objeto desconhecido sob a iluminação trêmula das velas.

— O que é isso?

— Seu maldito maço de cigarros. Você pode tê-lo de volta agora. Sempre abominei este seu vício, no entanto sei que não posso obrigá-lo a parar.

Shikamaru sorriu abertamente e tomou a cartela das mãos dela apenas para pô-la novamente no lugar onde estava. Temari olhou-o incrédula.

— Eu decidi que quero parar de fumar. — disse ele com um ar quase petulante.

Temari crispou os lábios e o fuzilou com o olhar, porém não pôde deixar de sorrir.

— Eu o perdoo, Nara. — ela finalmente disse as palavras que ele tanto ansiou ouvir nos últimos meses. — Mas terá de mostrar que tomei a decisão correta.

Ele bufou, fingindo impaciência.

— Mulher problemática...! Duvida da minha promessa?

— Apenas cumpra-a.

— Seu pedido é uma ordem, problemática.

Ela ampliou o sorriso cujo o brilho assemelhava-se ao da luz do Sol. Os olhos de Shikamaru perderam-se em seu rosto até que fixaram-se nos lábios róseos. Ele fechou a curta distância que havia entre seus corpos ao inclinar-se sobre ela e trazê-la para mais perto pela cintura. Temari enrubesceu delicadamente e manteve seus olhos fixos nos dele.

— Deixe-me lembrar do gosto doce dessa boquinha linda? — ele murmurou contra a pele sedosa e quente de sua bochecha. Ela soltou um gracioso risinho malicioso e envolveu-o carinhosamente pelas costas nuas.

Temari nada disse. Porém o respondeu com seu pedido.

•••

Os Tanaka encarregaram-se de lavar e remendar as vestes de Shikamaru. Ele tornou a vesti-las pela manhã após banhar-se com a ajuda de Temari. Ela forçou-o a engolir alguns comprimidos para dores musculares, trocou seus curativos e as bandagens umedecidas em gaze que cobriam-lhe toda a região abdominal, onde a perfuração profunda causada pela Kunai de Seiji fora costurada. Eles juntaram-se aos Tanaka para o café-da-manhã, e à mesa, o casal de nobres evitou fazer quaisquer menções ao ocorrido com Seiji e seu bando no galpão abandonado. Temari e Shikamaru mostram-se gratos por isso. Ambos não queriam recordar-se deste deprimente episódio tanto quanto a família.

Ao fim da refeição, os Tanaka anunciaram já estarem com tudo preparado para partirem para Konoha. Temari tentou insistir para que que não fossem, afinal, por conta dos últimos acontecimentos turbulentos, era perfeitamente aceitável que eles decidissem cancelar a viajem de negócios para a Folha afim de recuperarem-se com seus filhos. Porém, o Sr.Tanaka mostrou-se fortemente relutante ao assegurar de que estavam bem e que precisavam levar isto até o final tendo em vista a importância que esta viajem teria para seus negócios financeiros. Mediante isto, Shikamaru e Temari nada puderam fazer além de somente acatar a ordem do rico senhor. E mais tarde naquele dia, os Tanaka subiram em sua carruagem particular enquanto Temari e Shikamaru os acompanhavam à cavalo alguns poucos metros a frente.

•••

De volta à Konoha, Shikamaru e Temari reportaram a Tsunade todo o ocorrido durante a missão que, felizmente para todos, terminara melhor do que o esperado. Ao término do relato do casal, a Hokage somente suspirou e lamentou a situação crítica a qual a Sabaku fora sujeita tendo de matar um amigo próximo para proteger seu parceiro. Temari, por outro lado, dispensou educadamente os respeitos concedidos pela Godaime. Se ter sido a responsável pela morte de Seiji havia-a de fato abalado de alguma forma, ela estava saindo-se perfeitamente bem em ocultar isso. Por fim, Tsunade os parabenizou pela missão cumprida e os dispensou, alegando que o pagamento seria entregue em suas respectivas residências em cinco dias ou menos. Após a saída de Temari e Shikamaru, Tsunade recebeu os Tanaka para enfim tratarem dos assuntos que lhes eram relevantes.

Ao fim do dia, Temari já havia recolhido e organizado todos os seus pertences, e após pagar por sua estadia num hotel situado no centro comercial da aldeia, deparou-se com Shikamaru que aguardava-a próximo a entrada do hotel.

Os dois andaram lado a lado em silêncio até os portões da Folha, e antes de virar-se para seguir viagem de volta para Suna, ela largou sua bagagem no chão e aproximou-se do Nara, despedindo-se dele com um beijo. Ele a convidou para jantarem juntos quando retornasse a Konoha. Antes de sair, Temari sorriu e aceitou, porém lembrou-o que só estaria de volta a Folha dali a três meses. Ele, no entanto, somente esboçou um sorrisinho condescendente e pareceu não se importar, pois como havia dito, esperaria pelo tempo que fosse necessário por ela.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que todos tenham tido um ótimo Natal, e que 2017 seja absolutamente maravilhoso para todos vocês! ^^
Este foi o último capítulo. Eu pretendia escrever mais um capítulo contando um pouco sobre a vida conjugal e familiar de Shikamaru e Temari depois de adultos, no entanto decidi terminar a fic por aqui mesmo pois queria fugir um pouco destes clichês previsíveis, e também por que acredito que tenha ficado óbvio o que acontece depois disso.
Espero do fundo do coração que todos tenham gostado, obrigada à todos que leram e acompanharam a fic e por favor não se esqueçam de deixar um comentário logo abaixo!
Gostaria de divulgar algumas das minhas fanfics ShikaTema prediletas da minha amiga KL. Os link serão deixados abaixo. Vale a pena conferir cada uma delas! ;)

Troublesome Love Stories
https://fanfiction.com.br/historia/714969/Troublesome_Love_Stories

Make It Rain
https://fanfiction.com.br/historia/718845/Make_It_Rain

Coexist
https://fanfiction.com.br/historia/707631/Coexist/

Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amor Problemático" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.