Amor Problemático escrita por Carol Costa


Capítulo 4
Capítulo 04


Notas iniciais do capítulo

Sugestão para música durante a leitura:
Ludmilla - Não Quero Mais (Part. Belo)
Link:https://www.youtube.com/watch?v=78Qei7xLqvQ



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A saliva amarga descera como pregos pela garganta seca de Shikamaru. Sob grande esforço, ele agarrou-se o quão firmemente pôde aos últimos fragmentos destroçados de determinação que restavam em seu íntimo, e expirou profundamente — o rosto absolutamente ilegível.

Temari encarou-o em silenciosa expectativa, aguardando pelo momento em que Shikamaru agiria como Shikamaru. Ela estava certa de que sua aberta e proposital rejeição à oferta dos presentes desencadearia uma reação típica dele. Ela o conhecia bem o bastante para saber que ele logo cansaria-se de sustentar a pose de “romântico incorrigível”. Nara jamais fora um especialista na arte de fingir.

Temari quase pôde visualizar o que ele faria a seguir em resposta à sua reação: Expressando transbordante apatia, Shikamaru daria de ombros de modo enfático e encheria a mão com uma porção generosa dos chocolates da caixa antes de levá-los à boca. Um gesto quase zombeteiro que explicitaria o quão despreocupado ele estava com a recusa dela aos presentes.

No entanto, para o grande espanto de Temari, ele fez exatamente o contrário que o previsto por ela.

Ainda em silêncio, Shikamaru abaixou-se para apanhar as bagagens dela dispostas ao seu redor e o Leque onde momentos atrás ela esteve apoiada. Nara lançou o Leque ás costas junto de sua mochila, enquanto que o restante dos pertences dela foram mantidos em mãos.

O queixo de Temari foi ao chão. Observando-o em muda perplexidade, ela perguntou-se quem era aquele jovem homem cujo a semelhança à Shikamaru era espantosa, mas que claramente não era ele. Dispor-se a carregar sua equipagem é algo que o Nara nunca faria. Sua preguiça era tanta que quando saia em missões, Shikamaru sempre ocupava-se em levar consigo menos do que era capaz de transportar. Se ele mal comprometia-se com sua própria bagagem, que dirá com a dos outros!

Temari, porém, não se pôs à isso. Embora soubesse que através desta atitude, Nara intencionava somente dar continuidade à sua estratégia cômica de conquista, tendo em vista que a entrega dos presentes fora um tremendo fiasco — Temari pegou-se verdadeiramente desgostosa ao constatar que ele ainda parecia querer insistir em manter este comportamento totalmente antiquado à sua real personalidade.

Mas que diabos...?!, praguejou ela internamente de cara-fechada, O que há com ele...? Ela afastou-se dos portões principais da Folha a passos rápidos. E Shikamaru tratou de segui-lá através da estrada de terra seca que circundava a regional mata silvestre fechada, em direção aos limites extremos do País do Fogo. Temari estava há pelo menos dez passos à frente de Shikamaru. O sobrepeso da carga levada por ele reduziu a velocidade de seus passos consideravelmente.

Shikamaru tinha os olhos fixos nas costas de Temari; seus pensamentos eram como peças de shogi desordenadamente espalhadas pelo tabuleiro. À este ponto, Nara já não soube o que estava fazendo e se todas as suas ações até presente momento estavam surtindo o efeito que ele desejava em Temari. De qualquer forma, ele soube que não haveria mais nada que pudesse ser feito para tornar a situação ainda pior. Portanto, ele nada tinha a perder prosseguindo com o que quer que estivesse tentando fazer!

•••

Konoha havia sido deixada para trás há pouco menos de três horas após o cair da noite. Felizmente para o casal exausto, havia uma estação ferroviária próxima a divisa do País do Fogo entre pequenas civilizações vizinhas. Mais do que rapidamente, Temari encarregou-se de conseguir bilhetes para o trem que partiria com destino ao País das Ondas dali a poucos minutos. Ainda em posse das bagagens, Shikamaru subiu à bordo do trem logo após Temari. Nara prontificou-se a pagar pela estadia e gastos adicionais na locomotiva, considerando que Temari havia pago pelas passagens.

Os ninjas foram recepcionados por um gentil condutor de meia-idade, que os guiou em direção à um quarto na ala designada aos aposentos dos passageiros. Segundo o condutor, havia apenas um único dormitório vago; portanto Shikamaru e Temari teriam de dividi-lo. Uma espaçosa cama de casal, uma cômoda de madeira frágil e um carpete surrado — eram tudo havia nos 2m² do recinto sem janelas selado por paredes com pintura desbotada. O cômodo era estreito demais para ser dividido por duas pessoas. No entanto, estava limpo e bem organizado, e ainda contava com um banheiro particular em suas extremidades.

O condutor deixou-os à sós após Shikamaru agradecer-lhe e requisitar que os servisse algo para comer. Temari já havia se retirado para um banho após a saída do bondoso senhor.

Ciente de que não poderia acender um cigarro à bordo do vagão até que as janelas fossem abertas ao amanhecer, Shikamaru decidiu distrair-se com um livro qualquer encontrado sobre a cômoda empoeirada enquanto aguardava Temari desocupar o banheiro.

Minutos depois, Temari deixou o banheiro e juntou-se à Shikamaru no finíssimo carpete estendido sobre o assoalho escuro para partilharem juntos da refeição recém-trazida. O casal jantou em silêncio, cada um perdido em seus próprios devaneios enquanto comia. Vez ou outra, os olhos de Shikamaru miravam de soslaio a figura delicada de Temari enfiada dentro de um yukata florido, os cabelos úmidos jogados sobre os ombros. Ele quis elogiá-la, comentar sobre a comida, ou trazer à tona quaisquer assuntos triviais que livrassem-os ao menos por alguns momentos do silêncio ensurdecedor que parecera ter erguido uma barreira impenetrável entre eles desde o início da viajem. Shikamaru sempre fora um ávido amante do silêncio, mas naquele momento ele desejou possuir a mesma espontaneidade que Naruto parecia ter para tagarelar entusiasmadamente mesmo nos momentos mais desconcertantes.

Tendo finalizado seu prato, Shikamaru deixou Temari para dirigir-se ao banheiro. Temari dispôs os pratos e talheres usados sobre a cômoda depois de saciada, e deslizou para o lado esquerdo do colchão envolto por lençóis brancos que cheiravam à sabão caseiro. Ela ainda estava acordada quando Nara retornou. Seus olhos encontraram-se por um momento, e Shikamaru achou-se repentinamente desolado ao deparar-se com um oceano de tristeza inundar as íris esmeraldinas dela.

— Eu menti. — sua confissão viera através de um murmúrio fraco, irrompendo bruscamente contra o denso silêncio.

Shikamaru piscou, atordoado.

— O quê?

Temari colocou-se sentada na cama com um suspiro. Seus olhos não deixaram o rosto dele.

— Eu não tenho intolerância à lactose, e não sou alérgica à flores e pelúcias. Eu menti para provocá-lo, e esperava que você notasse isso. Achou mesmo que seus presentinhos clichês iriam fazer com que eu voltasse correndo para os seus braços?

Ainda que de maneira um tanto impulsiva,Temari o confrontou; movida pela manifestação súbita do desejo de verbalizar tudo que havia confinado em seu peito. E ciente de que se não se prontificasse a pôr um fim nesta situação no mínimo constrangedora para ambos, — ele certamente não o faria.

Nara somente mostrou-se confuso.

— Onde quer chegar?

— Você não tem de fazer coisas que claramente não deseja fazer apenas por quê me quer de volta como sua prostituta particular.— ela fez uma pausa.— Achei que tivesse sido suficientemente clara quando declarei que não haveria mais nada entre nós. Não posso ser apenas uma diversãozinha para um garoto de 17 anos que ainda está se auto-descobrindo sexualmente. Mereço mais do que isso.

Quando pôde enfim compreender o quê ela intencionava dizer, Shikamaru bufou pelos lábios entreabertos; fitando-a com os olhos semicerrados.

— Isso não é apenas sobre sexo, Temari.— E de fato, não era. As intenções reais de Nara jamais foram tê-la de volta somente para sua satisfação carnal.

— Sobre o que é, então? Me diga!

— É sobre tentar consertar a bagunça que eu fiz.

Temari soltou um abafado riso de escárnio.

— Dando-me presentinhos, carregando minha coisas...Esta é a sua ideia de remediar-se com alguém?! Reparar um coração partido não é tão simples assim, Nara.

Shikamaru tinha o cenho franzido numa careta melancólica.

— Eu nunca quis chateá-la à esse ponto. Você se tornou muito mais importante para mim do que qualquer outra pessoa. Eu a quero comigo.

O rosto de Temari era um misto de incredulidade mesclado à repulsa.

— Ora, me poupe, Nara! Se eu houvesse sido importante para você em algum momento, você teria valorizado o meu amor!

Shikamaru não soube se não pôde ver que Temari estava apaixonada por ele por quê não era conhecedor das manifestações de tal sentimento, ou se simplesmente por quê era preguiçoso demais para importar-se em notar algo que parecera ter estado claro desde o princípio.

Nara limitou-se a manear a cabeça negativamente.

— Eu realmente quero consertar as coisas entre nós.— suas palavras eram francas, e ele esperava que ela acreditasse nelas.

— Não me admira que agora só dê valor à mim por quê me perdeu.

— Ainda posso fazer diferente. Não é tarde demais para nós. Me dê uma única chance, mulher, e eu juro pela minha vida que vou mudar. Serei o homem que você merece.

Novamente, ela riu de modo incrédulo.

— Mudar?! Não quero que mude quem você é! Nunca quis! Você não entende que...? — ela interrompeu-se abruptamente, vendo-se incapaz de prosseguir.

A loira quedou com os ombros em sinal de redenção, parecendo prestes a desabar em prantos. Shikamaru não sabia se suportaria vê-la chorando.

— Shikamaru... — ela soluçou baixo, mas lutava bravamente contra as lágrimas. Temari recusava-se a todo custo permiti-lo vê-la tão frágil.— eu amo você...! COMO NÃO PÔDE PERCEBER ISSO ATÉ AGORA,SEU IDIOTA...?! — esbravejou ela entredentes.— Eu jamais desejei mudar quem você realmente é para me fazer feliz. Eu jamais quis que fosse perfeito. Eu amo quem você é. Se permiti que se deitasse comigo por tantas vezes, foi por quê eu o amei tanto que soube que era você para quem eu queria me entregar. Eu esperava que através do sexo eu pudesse chegar ao seu coração. Mas eu fui uma tola. Eu deveria saber desde o princípio que você não estava interessado num relacionamento.

E Shikamaru de fato não estava. Um comprometimento amoroso era uma das responsabilidades das quais o Nara nunca desejou ter. Desde muito jovem, Shikamaru sentenciara à si mesmo que no decorrer de sua vida ,esquivaria-se de tudo aquilo que aos olhos dele pudesse de alguma forma ser...problemático. E o amor estava incluso nesta longuíssima lista. Ele queria apenas estar sempre livre de quaisquer conflitos e desavenças. Ao contrário de muitos outros ninjas de sua idade, Nara não constituía grandes ambições para o futuro. Suas expectativas para a própria vida eram escassas, e por isso, muitos o apontavam como um rapaz vazio. Porém não tratava-se disso. Ele somente amava o simples, o fácil — e se contentava com isso. Ele desejava ser um bom shinobi, mas não o melhor; talvez casar-se com uma mulher bonita, porém não a mais bela e ter dois filhos:uma menina e um menino e passar o resto de seus dias jogando shogi até que morresse de velhice antes de sua esposa.

No entanto, as palavras de Temari:"Eu amo quem você é...", tocaram-no de modo a despertar algo novo e avassalador em seu íntimo; capaz até de fazer com o que ele mudasse completamente seus conceitos sobre a vida que desejava para si.

— É por isso que não posso me contentar apenas com sexo.— continuou Temari, retirando Shikamaru de sua momentânea divagação e trazendo-o de volta ao dormitório apertado.— Quero muito mais do que isso. Decidi que deveríamos parar de nos ver quando finalmente pude perceber que você não sentia o mesmo.— os olhos marejados de Temari perderam-se em seu colo.

Shikamaru suspirou profunda e pesadamente, passando as mãos no rosto. Com o cenho fortemente franzido numa careta amargurada, ele subiu na cama e cuidadosamente aproximou-se da loira encolhida contra os travesseiros. Nara fez menção de envolvê-la pelos ombros num abraço, porém ela o impediu de fazê-lo, balbuciando:

— Fique longe de mim...!

Mas Shikamaru puxou-a para si, apertando o corpo dela tão fortemente contra o seu que pôde-se ouvir o estralar de suas juntas. Temari chacoalhou-se no colo dele, porém seus braços prendiam-na como grilhões de aço; obrigando-a a permanecer imóvel. Shikamaru fechou os olhos ao enterrar o rosto na curva do pescoço dela, inalando com força sua característica fragrância quente e doce.

Temari suspirou, evidentemente irritada.

— Temari...— ele murmurou ao pé de seu ouvido.— Me perdoe...? Ouça, eu não passo de um pivete arrogante e preguiçoso que acredita saber tudo sobre a vida. E eu sei que jamais serei o melhor que você pode ter. Mas ,mulher, se você realmente ama quem eu sou, farei isso valer a pena por todos os dias da minha vida! Me perdoe, por favor!

À este ponto, a excessiva fadiga após horas caminhando ininterruptamente a venceu, e Temari viu-se sem forças para continuar lutando contra ele. Aos poucos, ele pôde senti-la amolecer em seus braços, o corpo relaxando sobre o seu. Shikamaru aguardou por longos momentos, porém não obteve resposta alguma por parte dela. Ao finalmente abrir os olhos para espiar seu rosto, Nara encontrou-a dormindo. Temari ressonava baixinho, a face ligeiramente ruborizada.

Com um sorrisinho no canto dos lábios, ele a aninhou junto à si de modo a mantê-la o mais confortável possível e deitou-se para trás, trazendo-a consigo. Dentro de instantes, Shikamaru também fora levado ao mundo dos sonhos, abraçado à Temari.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada por ler!! ^^
Por favor não deixe de postar um comentário dizendo o quê achou do capítulo.Estou abertura á críticas,sugestões e elogios.Sua opinião é extremamente importante para contribuição do desenvolvimento da fic e claro,fará-me muito feliz.Portanto,não deixe de colaborar.Caso esteja interessado(a) em acompanhar a fic,não se esqueça de marcá-la para acompanhamento e favorite-a também.
Beijos e até breve! ♥♥♥



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