Amor Problemático escrita por Carol Costa


Capítulo 2
Capítulo 02




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...E lá vinha ele novamente.

Pela terceira vez naquela semana, Temari dava as caras em Konoha na presença deste garoto desconhecido. E embora Shikamaru não soubesse por quê, isso já estava começando a lhe dar nos nervos.

Uma das mãos do rapaz envolvia Temari pela cintura, de modo a manter uma aproximação íntima demais entre seus corpos. Vez ou outra, ele beijava-lhe a têmpora ou a testa ,arrancando gargalhadas açucaradas da loira descontraída. O galanteador sorriso torto jamais deixava o rosto sereno que Shikamaru adoraria espancar. Temari revivia animadamente uma memória de sua infância, contando ao rapaz que costumava transformar os irmãos Gaara e Kankuro em verdadeiros manequins humanos ao vesti-los e maquiá-los como suas personagens preferidas de contos de fadas. Ele a acompanhava nos risos espontâneos, embora estivesse visualmente alheio às palavras dela. Temari não pareceu importar-se com o desinteresse demonstrado por seu ouvinte, ou simplesmente não o notou.

Shikamaru odiou com todas as suas forças o olhar terno que Temari direcionava ao rapaz; odiou o brilho etéreo dos sorrisos luminosos que ela sem esforços oferecia à ele; odiou o modo como ela afagava carinhosamente o ombro esquerdo dele onde sua mão estava pousada. Nara lutou contra a onda de ciúmes que ameaçou arrebentar-se sobre seu rígido ego masculino. Mas ele não pôde deter a enxurrada de pensamentos violentos que permearam sua mente acerca de todas as possíveis mortes brutais que ele daria àquele rapaz, caso ele não tirasse as mãos de Temari.

À poucos metros do ninja carrancudo que aguardava a irmã do Kazekage de braços cruzados, próximo aos portões de entrada da Folha — Temari e seu acompanhante detiveram sua caminhada despreocupada para se despedirem. Ela se apoiou sobre os dedos dos pés para abraçá-lo e beijá-lo na bochecha rapidamente. Ele, por outro lado, pareceu querer prolongar o momento ao apertá-la fortemente contra o peito e depositar um demorado beijo estralado no topo da cabeça dela. Temari riu nervosamente para o amigo, e ainda que de modo tímido, retribuiu ao gesto dele. Diferentemente da própria Temari, o rapaz estava ciente do olhar fulminante que um certo ninja moreno lhes direcionava, e a tentativa de exibir profundo afeto físico com ela diante de Shikamaru de certo fora proposital. Shikamaru, atento aos movimentos do rapaz, pôde facilmente notar isso; e o ímpeto de sacar uma faca Kunai dos bolsos e fincá-la no pescoço do garoto tornava-se cada vez maior.

Por fim, o rapaz a soltou e após algumas finais cerimônias, ele girou nos calcanhares e deu as costas à loira ligeiramente ruborizada. Temari surpreendeu-se por um momento ao se deparar com a presença até então imperceptível de Shikamaru ali. Confusa, Temari somente sustentou o olhar duro que ele lhe lançava, intrigada quanto ao motivo para tal expressão amarga.

— Namorado novo?— o tom de Shikamaru era tão seco quanto as areias de Suna.

Temari franziu a testa.

— Seiji é apenas um velho amigo. Costumávamos brincar juntos quando éramos crianças.

— E ao que tudo indica ainda gostam de brincar juntos... 

Temari quase riu. O cenho franzido em estranhamento.

— O que?

— Você e seu amigo Seiji têm brincado de médico juntos?

Shikamaru cutucou a leoa adormecida dentro dela.

— Mas que merda está dizendo, Nara...?!

— Quando iria me contar sobre ele?

— Não há absolutamente nada para ser dito. Não há nada entre mim e ele. Ele veio à Suna em missão e ficará hospedado em nossa casa por alguns dias.

— Mas por que ele sempre tem de estar por perto?! Você passa mais tempo com esse pentelho do que jamais passou comigo!

Um sorriso malicioso aos poucos foi se abrindo no canto dos lábios de Temari à medida que ela pôde compreender o motivo para o humor terrível do Nara.

Ela arqueou a sobrancelha esquerda e fitou-o de soslaio.

— Está com ciúmes, Nara?

Shikamaru corou até seu último fio de cabelo. Constrangido sob o olhar traquina da loira, ele desviou seus olhos para o lado e abaixou a cabeça, embora fosse tarde demais para tentar esconder seu rubor. Ele proferiu alguns resmungos incompreensíveis antes que finalmente conseguisse dizer:

— Não estou com ciúmes, mulher. Não estou interessado no seu relacionamento com esse cara.

Temari duvidava muito disto.

— Ah,é? — ela cruzou os braços sobre o busto.— Então por quê me ver com ele te incomoda tanto?

Shikamaru teria-lhe respondido prontamente se ele próprio soubesse a resposta para esta pergunta. Com um suspiro, ele acabou por simplesmente mudar de assunto:

— Venha logo. Vou te acompanhar até o escritório da Hokage, tenho que chegar à tempo para minha missão com Ino e Chouji. Eles estão esperando por mim.

Shikamaru não deu à ela chances de dizer algo. Ele virou-se e logo estava caminhando em direção ao destino mencionado. Temari riu, para então segui-lo. Embora a ideia de um Shikamaru ciumento no mínimo a divertisse, Temari não pôde deixar de perguntar-se se tal sentimento possessivo provinha do princípio de uma afeição amorosa, ou se era somente uma súbita manifestação de sua excessiva testosterona juvenil. De qualquer maneira, não havia como ela saber. Shikamaru era tão bom em ocultar seus verdadeiros sentimentos quanto era bom em Shogi. E as raras porém repentinas ocasiões em que ele se permitia relevar um pouco do que havia em seu coração, punha Temari aborrecida; pois não eram o bastante para saber se ele sentia o mesmo que ela.

(...)

Shikamaru não pôde facilmente ignorar a presença constante de Seiji pelos próximos dias como gostaria. O amigo de Temari por diversas vezes fora o principal assunto debatido nas intermináveis discussões do casal. E mesmo que muitos desses bate-bocas tivessem terminado em sussurros de prazer, beijos sôfregos e roupas espalhadas pelo chão —Shikamaru somente deu término à essa incansável implicância quando Seiji finalmente deixou Suna para retornar à seu país de origem.

Porém, semanas mais tarde, o casal explosivo encontrara um novo tema para debater entre si através de berros estridentes e ofensas quando um passou a queixar-se com o outro sobre a falta frequente de tempo que tinham para passar juntos.

•••

Shikamaru desejou com todas as suas forças poder cavar um túnel subterrâneo sob o assoalho do escritório presidencial da Godaime e desaparecer em seu interior. Nara perguntou-se quais emoções estariam compondo sua face naquele momento, e algo no olhar felino de Temari o fez acreditar que seria melhor que ele não soubesse. Por razões às quais Nara desconhecia, ele conteve o fluxo de respiração, e o maxilar fortemente tensionado fazia seus dentes cerrarem uns nos outros. Rever Temari após tanto tempo encheu-lhe o peito com um tipo estranho de nostalgia. Ele perguntou-se se de algum modo ela estava ainda mais linda desde a última vez que a vira, ou se ele havia somente esquecido-se do quanto era linda. 

Shikamaru considerou a primeira hipótese como a mais provável.

A face de Temari, no entanto, era um pergaminho ancestral cujo as escrituras parecem ter sido feitas para jamais serem decifradas.

O manto denso de silêncio teria-os encoberto por inteiro se não fosse pela fala despreocupada proferida pela Hokage, que parecia completamente alheia à tensão ambiental que havia entre o casal de ninjas.

— Chegou bem à tempo, Temari.— a Hokage retomou ao assunto relevante antes abordado.— Eu explicava ao Shikamaru a respeito da missão. E como já havia lhe falado sobre ela na carta que te enviei, acredito que não haja necessidade de repetição. 

— Sra.Tsunade, o que o Nara faz aqui?— Temari desviou sua atenção dele para a Hokage.

Tsunade a olhou como se tivesse-lhe feito a mais ridícula das perguntas.

— Ele a acompanhará na missão para trazer a família de nobres até Konoha.

— Não vejo por que há necessidade de ter um acompanhante. Eu sei que posso realizar esta missão por conta própria.

— Não duvido disso, Temari. Mas não posso confiar a segurança desta família nas mãos de uma única kunoichi. Deve levar em consideração que os filhos do casal são crianças, ou seja, é preciso que haja auxílio extra.

— Pois então protegerei estas crianças como se fossem minhas. Jamais mancharia a honra da Areia ao falhar numa missão que envolva inocentes.

Shikamaru chateou-se mediante o nítido fato de que Temari não desejava tê-lo consigo.

Tsunade suspirou profundamente, endurecendo o olhar direcionado à irmã do Kazekage.

— Temari, isso não está em discussão. Não duvido da sua competência, tampouco de suas habilidades. Mas enviar um único ninja para esta missão é um risco imprudente que não posso me dar ao luxo de correr.— a Godaime fez uma curta pausa.— Fim de papo.

Temari expirou com força através dos lábios entreabertos; o rosto impaciente.

— Muito bem.— Tsunade apanhou um par de pergaminhos e os deu à Temari, dizendo:— Aqui estão as instruções e coordenadas que os levarão até a pousada onde a família está esperando por vocês. Estejam prontos para partirem em três horas ou menos. E, Temari, quando retornar por favor agradeça ao Kazekage por tê-la disponibilizado para realizar esta missão conosco. A Folha sempre será imensamente grata aos nossos aliados da Areia.

— Eu direi, Hokage-sama.

Tsunade suspirou ao cruzar os braços sobre o busto protuberante.

— Aguardo o retorno de vocês em no máximo três dias. Estão dispensados. Boa sorte e boa missão.

 Expressando evidente insatisfação por ter de realizar esta missão com Shikamaru, Temari girou nos calcanhares e em poucos passos alcançou a maçaneta da porta. Ao passar por ele, evitou contato visual direto, e sussurrou rapidamente que o estaria aguardando nos portões de entrada de Konoha até o fim da tarde. Em seguida, ela deixou o escritório da Godaime, aplicando mais força que o necessário ao bater a porta.

•••

— Uma missão? Você e Temari? Juntos...sozinhos?! — a empolgação eminente de Ino fazia parecer que Shikamaru havia acabado de lhe dar a melhor das notícias, e não que estava prestes a sair em missão com a ex-amante que no mínimo estava o odiando agora.

Nara ainda não compreendia o que o impulsionou a voltar a recorrer a colega de time para compartilhar dos acontecimentos conturbados de sua muito problemática vida amorosa. Shikamaru bufou, perguntando-se como e/ou por quê a ida ao País das Ondas com Temari de alguma forma poderia ser motivo para alegria segundo Ino. Em três dias, ele teria sorte se Temari não o partisse ao meio com sua técnica 'Foice de Vento'; e de acordo com o quê ele pôde ver na sala da Hokage—muito provavelmente é isso que ela gostaria de fazer. Embora parte de si estivesse feliz com o tempo que teria a sós com a garota que jamais deixara seus pensamentos mais íntimos nos últimos meses, em contra-partida, outra parte estava fortemente inclinada a fazê-lo pedir à Tsunade que o retirasse desta missão. Shikamaru odiou-se profundamente por mais uma vez estar se acovardando de maneira tão miserável. Se ele sequer era capaz de tomar para si o fardo da culpa de ter magoado Temari o bastante para que ela nunca mais desejasse revê-lo, como a teria de volta?

Sentindo que sua própria mente tornara-se um labirinto ao qual todas as passagem não levam-no à lugar algum, Shikamaru se debruçou sobre a bancada do caixa registrador da Floricultura Yamanaka, e evidenciando transbordante frustração, perguntou à Ino o quê devia fazer. Ino pareceu ponderar sobre a atual situação do amigo por um instante, e pouco depois Shikamaru quase pôde ver uma lâmpada acender-se acima da cabeleira loira pálida. Ela pediu que ele aguardasse e retirou-se ás pressas para o estufa situada nas extremidades do interior da loja. Em questão de instantes, Ino estava de volta com um arranjo de orquídeas-amarelas. Ela sorriu de modo espontâneo, e passando as flores ao Nara, disse:

— Por conta da casa! Ah, e há uma loja de conveniência há apenas uma quadra daqui. Sugiro que passe lá e compre um bichinho de pelúcia, e por que não uma caixa de chocolates também! — Ino lançou ao Nara confuso uma piscadela amigável.

Shimakaru somente franziu as sobrancelhas. Observando o arranjo em uma de suas mãos, utilizou a outra livre para coçar a nuca.

— Ino, não quero parecer ingrato, mas tenho quase certeza de que algo assim não vai funcionar com a Temari. Ela vai contra toda e qualquer coisa que uma garota normalmente gosta!

Ino bufou, e revirando os olhos, cruzou os braços.

— Você a quer de volta, certo?

— Mais do que qualquer outra coisa.

— Pois então prepare-se para começar a apelar para o lado clichê do romantismo! Por ora, essa será sua melhor opção de estratégia para reconquistá-lá.

Shikamaru suspirou, decidindo apenas render-se ás circunstâncias nada favoráveis da situação. Ino mais uma vez sorriu, e aproveitando-se da notória vulnerabilidade emocional do amigo, soprou-lhe algumas rápidas dicas sobre paquera e conquista; cuja a efetividade, para ele, eram no mínimo questionáveis.

Aceitar as sugestões e conselhos de Ino era uma opção, ignorar as palavras dela e agir por conta própria,— era outra. Porém, para ele ambas pareciam improváveis demais para serem cogitadas como "a melhor decisão a ser tomada". Eram grandes as suspeitas de Shikamaru de que se fizesse conforme Ino o conselhou, muito possivelmente iria apenas acabar adiando o momento em que teria o punho doloroso de Temari acertando-lhe na face.Por outro lado, suas chances de fracassar eram infinitamente maiores se somente resolvesse agir por conta própria. "Conquista", "amor", "romantismo" e afins—definitivamente não eram palavras com as quais os significados Nara estava familiarizado.

Com um último suspiro,  Shikamaru agradeceu à amiga pela ajuda e paciência, e deixou a Floricultura Yamanaka—caminhando a esmo pelas ruas de Konoha com a arranjo de orquídeas em mãos e imerso em pesamentos conflitantes.


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Notas finais do capítulo

N/A:Os flashbacks ShikaTema no início do capítulo (itálico) retratam acontecimentos que ocorreram até o momento em que Temari resolve deixar Shikamaru (capítulo 01).Estes momentos não seguem necessariamente uma cronologia específica;e não são necessariamente fatos que se passaram um em sequência do outro.
Pelos próximos capítulo haverão mais destes momentos ShikaTema para que vocês possam ter maior facilidade em compreender o que realmente houve entre os dois.
(...)
Muito obrigada por ler!! ^^Por favor não deixe de postar um comentário dizendo o que achou do capítulo.Estou abertura á críticas,sugestões e elogios.Sua opinião é extremamente importante para contribuição do desenvolvimento da fic e claro,fará-me muito feliz.Portanto,não deixe de colaborar.Caso esteja interessado(a) em acompanhar a fic,não se esqueça de marcá-la para acompanhamento e favorite-a também.
Beijos e até breve! ♥♥♥



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