capítulo em memória de Cedric Diggory.

Cada músculo do meu corpo parecia contra sair do meu dormitório para a última prova do Torneio Tribruxo naquele dia, eu pressenti - sei lá como - que algo ruim aconteceria. Mesmo com meu coração apertado vesti uma calça jeans, coloquei uma camiseta básica e minha jaqueta, deixei meus cabelos soltos e ajeitei os botons de Cedric e Harry em minha camiseta. Desci as escadas e me arrependi, as pessoas do comunal estavam animadas com Cedric em meio a elas. Dei um pequeno sorriso para meu amigo que se aproximou de mim com os braços abertos, ele me abraçou apertado e eu senti vontade de pedir para ele não ir. 

Bobagem, o Torneio era aprovado pelo Ministério. As provas - mesmo mortais, eram feitas para conhecer o melhor e o pior de cada um, mas não matavam. 

— Você está estranha. - Diggory disse quando saímos do nosso Comunal. 

Eu, ele e Hannah caminhávamos na frente de uma legião de fãs do nosso capitão. Alguns alunos nos corredores desejavam sorte para ele, fazendo-o apenas sorrir seu melhor sorriso - o que mostrava todos os dentes, e bagunçar os cabelos loiros. 

— Não deixe subir a cabeça ou você vai voltar a ser insuportável. - eu murmurei, fazendo Abbott rir.

— Furacão Cho. - a loira murmurou ao que vimos sua amiga virando o corredor. Ela sorriu para nós três e se aproximou do lufano ao nosso meio, abraçando-o.

— Prometa que vai se cuidar. 

Ele  concordou com a cabeça e a puxou para seu lado. Andamos os quatro juntos até a próxima prova e quando eu vi o que esperava os quatro campeões, senti meu estômago afundar. 

Procurei Harry em meio as outras pessoas quando me afastei dos lufanos, o vi com Hermione, Rony e Alastor. Um frio me subiu pela espinha, eu costumava adorar quando Moody aparecia na casa de papai durante as reuniões da Ordem. O achava engraçado, mesmo que Tonks não gostasse tanto assim de quem tinha sido designado para sua formação em Auror. Mas aquele Alastor Moody não se parecia em nada com o que eu conhecia e conversava, ele me dava calafrios. Os olhos de Potter focaram em mim por baixo de suas lentes e ele sorriu, caminhou até mim e me abraçou. Eu correspondi, o apertando contra mim.

— Tome cuidado. - sussurrei — E volte vivo, entendeu? Volte vivo para nós.

O garoto que sobreviveu concordou com a cabeça e lhe dei um beijo na bochecha. Harry era família e eu daria apoio a ele, do jeito que papai tinha me dito e principalmente do jeito que uma irmã mais velha daria a seu irmão irresponsável e azarado.

— Fuja se algo der errado. De nada importa que você seja o campeão se tivermos que enterrar seu corpo.

— Sério, Ly, você precisa rever como dá um gás de ânimo para nosso menino Harry! Ele precisa ganhar, não pensar em morte numa hora como essa.  - a voz de George se fez ser ouvida quando o gêmeo passou o braço por meus ombros e revirei os olhos — Vai dar tudo certo, Har. Bote para quebrar.

— Estamos apostando em você, Harry! - ouvi a voz de Fred e revirei os olhos quando senti um beijo em minha bochecha — McKinnon, está  quase mais bonita do que ontem.

— Eu não preciso ver essa cena. - Potter sussurrou e virou de costa para nós, voltando para perto de Moody.

— Alastor está diferente. - murmurei.

— Ele sempre é sinistro. - meu melhor amigo disse e dei de ombros.

— Está mais sinistro, isso é um fato.  - meu namorado concordou comigo e me apoiei a ele quando senti seu braço em minha cintura — Vamos para a arquibancada? A prova já vai começar. 

Concordei com a cabeça e deixei que meus dedos se enroscassem aos de Fred, viramos nossos corpos e caminhamos, procurando um lugar para que pudêssemos sentar. Vi Fleur Delacour e acenei minha mão, com um pequeno sorriso. Ao ver Viktor perto de Karkaroff acenei com a cabeça, ele tinha um certo diálogo com Cedric vez ou outra e aquilo nos fez... Conhecidos? Não sei ao certo, ele ainda era um búlgaro sanguinário aos meus olhos. 

Subimos até onde Ginny estava, grudada a Luna e Neville. Sorri para Dean e vi alguns alunos da minha casa.

— Como está seu campeão? - Fred perguntou ao me abraçar por trás, deixando seu queixo apoiado no topo da minha cabeça.

— Animado com a última prova.

— E como você está? - quis saber, me embalando em seus braços.

Vi Angelina se aproximar e sorrir para nós, ficando ao lado de George.

— Com um pressentimento ruim.

Atrás de mim Weasley suspirou. Não tinha nada a ser feito quando meu coração estava apertado, eu já esperava o pior nesse momento - só não achei que o pior devastaria tudo naquele momento.

☾☾☾

A prova tinha começado há um tempo. Fleur foi a primeira a sair, atordoada. Viktor um tempo depois e então silêncio. 

Nós não ouvíamos nada. 

Meus olhos caíram para as pessoas que treinaram e esperavam os campeões. O olho mágico de Alastor parecia focado, em direção ao labirinto e aquilo arrepiou os cabelos curtos da minha nuca, já o tinha visto de muitas formas, mas daquele jeito? Moody parecia arrepiante. E desde que Hermione tinha me contado o que ele fez com Neville durante uma das aulas... Parecia que ele tinha sido abduzido e seu sistema tinha sido desfeito. Ao invés de proteger Olho Tonto Moody agora aterrorizava sonhos de seus alunos agora.

Amos, pai de Cedric, estava impaciente lá embaixo. Junto com todos os diretores das escolas. Não era possível que dois alunos de Hogwarts brigassem pela Taça, ainda mais sendo Ced e Harry. Meus olhos queriam derrubar toda a água que eu segurava, aflita. Apertei a mão de Fred e ele me abraçou apertado, me deixando descansar a cabeça em seu peitoral.

— Vai ficar tudo bem. - Johnson sussurrou ao meu lado, acariciando a lateral do meu rosto.

Tentei sorrir. 

Ficaria tudo bem se eu não soubesse das coisas estranhas que aconteciam com Harry. Ele era um imã de problema e tudo bem, nós dois sabíamos como escapar daquilo. Mas Diggory não sabia. 

Cedric era bom. Bom de verdade. O coração nobre e o sorriso bondoso. Quando soube o que alguns alunos faziam, os botons se desfazendo de Harry, logo me deixou encarregada de lidar com cada um e fazê-los se arrepender daquilo. Era divertido quando você o deixava entrar e tinha um dos melhores abraços de urso do mundo. Quando Ced te abraça parece que você está abraçando um enorme urso de pelúcia com aroma de Nimbus Dois Mil recém tirada do pacote. Justo e leal. Basicamente a personificação de um lufano. Todos queriam ser como ele. 

Até mesmo eu. 

Meus pensamentos foram cortados quando Harry apareceu com a Taça. As três escolas aplaudiram, Grifinória estava em êxtase. O corpo de Cedric deitado na grama  macia e verde chamou minha atenção. 

Ele não se mexia. 

Me afastei do meu namorado e olhei para o lado, Hannah passou por nós e puxou minha mão. Os olhos azuis atordoados. Nós descemos espremidas contra os outros, ouvimos o grito de Harry e corremos até ele. 

As mãos de Potter no peitoral de Diggory, ele chorava e olhava para Amos. Parecia pedir desculpa com os olhos turvos. Fiquei em choque ao ver o corpo do capitão sem vida. Ouvi o choro do pai dele, de Cho e me  abracei a loira ao meu lado, em choque. 

Então era isso? 

Antes os lábios arroxeados sorriam, mesmo que um falso sorriso arrogante para tirar risada dos outros. As mãos agora pálidas e provavelmente geladas não bagunçariam mais os cabelos claros quando qualquer comentário idiota ou bom demais fossem ditos. 

Cedric estava morto, e meu coração estava destroçado.  Eu não conseguia entender, tampouco acreditar. 

Senti uma mão apoiada em no início de minha coluna e o aroma de Fred chegou até minhas narinas, sua outra mão foi até meu ombro e o apertou. Ele estava ali, era isso o que ele disse com pequenas atitudes. E honestamente falando, aquilo não aqueceu completamente meu minúsculo coração.

☾☾☾

Dois meses desde que o corpo estirado de Cedric apareceu no gramado de Hogwarts. Dois meses desde que Dumbledore descobriu que Alastor estava em cárcere e o louro do Bartemius Crouch Jr usava da poção polissuco para enganar a todos dois.

E também dois meses desde que Harry disse que Você-Sabe-Quem estava de volta. 

Desde aquela noite o medo se fez presente na vida de muitas pessoas, mesmo com o Ministério negando o retorno de Voldemort sabíamos que deveríamos acreditar em Harry. Não existiam motivos para a mentira. Potter é família, assim como Ced era. 

Eu sentia falta dele. 

Vê-lo sem um sorriso brilhante, chorar pela perda e tudo mais eram partes do luto que eu já tinha passado. 

Agora estava aceitando. 

Troquei cartas com Cho e Hannah durante todo o tempo que fiquei com meu pai e os gêmeos em casa. Eles não me deixaram sozinha, talvez por uma das minhas crises, talvez porque assim como eu não queriam perder mais ninguém. 

☾☾☾

Quarto ano, Comunal da Lufa-Lufa.

— Quando vai falar para Fred o que sente? - Cedric perguntou ao se jogar no sofá ao meu lado.

Arqueei uma sobrancelha e dei de ombros quando dei um olhar de poucos amigos para Diggory, voltando para meu livro de Poções. Eu odiava estudar, mas detestava ainda mais ouvir a voz de Cedric no meu ouvido - como se ele me conhecesse.

— Certo. Lynx, olhe para mim. - pediu. 

Eu bufei quando o livro saiu da minha mão e foi jogado na poltrona ao lado. Encarei o lufano ao meu lado e abanei as mãos no ar.

— O que foi, Cedric?

— Acho que não começamos bem. No início do primeiro ano eu estava nervoso assim como vocês e queria fazer amizades. Acho que... Talvez eu tenha sido mimado demais com você. Sinto muito se causei a impressão errada, Black. Eu juro que sou um dos bonzinhos. 

Nos lábios dele era possível ver um bico, revirei os olhos e empurrei o peitoral do loiro.

— Você é um idiota. 

— Eu era um idiota.

Eu ri baixo e coloquei uma mecha cacheada atrás da orelha, o encarei séria e concordei com a cabeça.

— Certo, está tudo bem. Talvez eu tenha agido demais como prima Cissy me ensinou e tenha sido muito rude com você.

— Você foi. 

— Ah, cale sua maldita boca. - rosnei, o fazendo rir.

— Então. Amigos? - ele perguntou com um sorriso brilhante. 

O sorriso de Diggory fazia as meninas em minha volta suspirarem. Ele era, para a maioria delas, um jovem galã - mesmo que o próprio lufano se negasse a isso. Era legal apenas por ser, algo em sua alma, não sei bem.

A mão dele estava estendida em minha direção e eu sorri, balançando a cabeça. Estendi minha mão e peguei a sua, lhe dando um aperto de mão.

— Amigos.

☾☾☾

O pequeno porta retrato com uma foto nossa estava ao lado da minha cama, Hannah tinha me dado de presente quando saímos de férias após o Torneio. Ela sorria alegremente em meio a Cedric e eu. Nosso capitão tinha o braço esticado para mostrar algo, o Pomo de Ouro que nós demos a ele e eu ria como se me divertisse de algo que tinha dito a eles. 

Estiquei o braço para o tocar nela e vi meu pai entrar pela porta com alguns bolinhos, ele sorriu triste para mim e colocou a bandeja na cama e se sentou, me puxando para colocar a cabeça em seu colo. Os dedos dele enroscavam nos meus cachos com um carinho singelo.

— Sinto muito, pequena estrela, mesmo.

— O senhor sente saudades? De James? 

— Não há um maldito dia que eu não sinta. Mas ele sempre estará comigo, aqui. - disse com um sorriso pequeno, apontando para o peito — Assim como Cedric sempre estará com você. 

— Eu não quero perder mais ninguém, papai.

— Você não vai, amor. Vou te proteger de tudo. Logo seremos uma família, em paz. Eu, você e Harry. 

Eu sorri, enroscando meus dedos aos seus e vi a porta de abrir. Fred e George entraram.

— Podemos ficar aqui? - meu namorado perguntou e eu concordei com a cabeça, seguida de meu pai. 

Os gêmeos se sentaram na cama, com as pernas cruzadas e senti George puxar minhas pernas, começando a mexer os dedos finos nos meus pés em uma massagem suave. Fred fez a mesma coisa com as minhas mãos, intercalando a massagem com pequenos beijos. E as mãos calejadas de Sirius focaram em meus cabelos. 

Como um mantra, aquilo me acalmou. E com a lembrança de Cedric em meu coração me permiti aceitar. Ele não voltaria mais, não veria tudo o que estava por vir, mas nunca seria esquecido. 

Cedric foi paz em meio a inúmeros furacões durante todos esses anos. Em mim sempre teria um pouco dele, porque pessoas mudam pessoas - e a amizade de Cedric Diggory tinha me mudado para sempre.