A lenda continua escrita por Silver Sale


Capítulo 3
Suspeitas


Notas iniciais do capítulo

Lea não tem se mostrado uma Murakami tão boa assim. Há comentários sobre sua lealdade. Ao mesmo tempo, ela desenvolve suas suspeitas a respeito do responsável pelo envenenamento de seu pai.



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Lea jogou para cima a bola que fizera com o documento da missão e a apanhou a um centímetro de cair em seu rosto. Desde a última vez que estivera no quarto do pai, ele não apresentara indícios de melhora. Analise tinha lhe dito que aquilo era frequente, e que era possível que em dois dias ele voltasse ao seu estado de debilitação padrão. Depois daquilo, Lea resolvera que suas férias já tinham se prolongado demais.

Estava em seu velho quarto, encarando o teto, tal como Ariano Murakami poucas horas antes.

Então, alguém o tinha envenenado. Lea voltou a jogar a bola de papel para cima. Pensou consigo mesma se não estava sendo precipitada em colocar a culpa na família principal dos Murakami. Precipitada e nada objetiva, aliás.

Ao clã, Lea odiava a família, tudo o que ela representava, sua estúpida supremacia e o modo como se sentiam superiores por terem nascido do irmão certo. Pela regra, as famílias secundárias são encarregadas de proteger com suas vidas os membros da família principal, portadores do principal segredo da família, uma técnica poderosa que poderia ser um perigo, se caísse em mãos inimigas.

Apenas seis pessoas conheciam aquela técnica, sendo quatro da família principal, mas nem metade delas tinha habilidades para executá-la. Ariano sabia que estava quebrando o código da família principal ao passar à Lea a técnica secreta, mas não decidiria de outra forma, uma vez que sua filha fora apenas a terceira Murakami viva a desenvolver o Zengetsu Dankai, a técnica ocular da família.

Talvez a família principal tenha resolvido puni-lo por isso. Os Murakami eram capazes de muita coisa, mas envenenamento? Bem, sabe-se lá do que os Murakami são capazes... Lea pensou antes de cair num sono pesado.

O som das vozes próximas foi a primeira coisa que Lea percebeu antes de acordar. Ela colocou o travesseiro sobre a cabeça e exclamou algo que foi abafado pelo travesseiro.

— O que você disse?

— Para fazer silêncio, cara. Estive viajando o dia todo e... – Lea parou ao perceber que o irmão não era o único no quarto. Seu rosto era quase escondido pela cortina do cabelo despenteado, mas ainda assim era possível perceber as olheiras abaixo dos olhos mais vermelhos que o normal. – Que estão fazendo aqui a esta hora da madrugada? – Ruik atravessou o quarto e abriu a cortina. A luz do sol invadiu o quarto e Lea fechou os olhos. Já passavam das dez horas.

— O Senhor Enua quer vê-la imediatamente.

— Bem, receio que ele não aceitem um “mais tarde” como resposta. – a moça tentou arrumar os cabelos com os dedos.

Lea trocou o pijama por calças escuras de moletom, sapatilhas de mesma cor dobráveis (ótimas para escaladas, ela diria), meias finas, camiseta, o colete cheio de bolsos da Guarda, onde ela guardou o equipamento, e um cinto de onde pendia uma bainha de espada. Era um visual bastante repetitivo de seu guarda-roupa. Ela lançou uma olhadela à bandana da vila e suspirou. Não, não agora. Aquilo seria uma afronta a Enua. Em cinco minutos, acompanhava os dois homens até a casa principal dos Murakami.

A imensa porta vermelha da entrada foi aberta, revelando um interior decorado com artigos caros e frágeis, mas Lea já conhecia de cor aquele lugar. Não precisou que os guarda-costas a acompanhassem até o escritório de Enua, o líder da família principal.

— Fez uma boa viagem?

Lea olhou para o chão, despreparada para aquela pergunta. Enua Murakami continuou a encará-la, com aqueles grandes olhos de nebulosa que ela nunca imaginara ser tão perturbadores.

— Sim, foi bem... esclarecedora.

— Soube que voltou há algum tempo. – Lea finalmente entendeu onde Enua queria chegar.

— Eu tinha acabado de chegar, e precisava retomar meu emprego o quanto antes.

— Ótimo que esteja mais disposta, Lea. Não deixe que um incidente como aquele a abale novamente por tanto tempo. Você é uma Murakami, afinal. – a moça assentiu, abaixando demais a cabeça propositadamente para esconder o rubor. – Devia visitar os seus mais vezes.

Enua virou-se de costas para a moça e jovem entendeu aquilo como um convite para se retirar.

Os olhos vermelhos de Enua eram indecifráveis. Os cabelos negros e longos em um rabo de cavalo, como no estilo dos Murakami, eram impecáveis. As roupas em cores claras, com o símbolo do clã nas costas, demonstravam suas maiores preocupações.

Enua ainda não tinha formado um julgamento a respeito daquela garota prodígio. Admirava a moça, é claro, e imaginava como seriam ilimitadas suas capacidades se ela pertencesse à classe superior. Ultimamente, o total de Murakami que conseguia desenvolver totalmente uma das mais poderosas técnicas oculares existentes envolvia apenas ele, seu primo Ariano e a garota, que o fizera ainda na infância. Seus próprios filhos tinham se provado um desastre na técnica do clã, fato que ele evitava comentar ou mesmo pensar. Murakami amaldiçoou o irmão mais uma vez por um feito que ele, Enua, não conseguira realizar.

Infelizmente, o bom desempenho de Lea não era suficiente para que ela caísse nas boas graças da família principal. Lea desaparecera, cinco anos atrás, sem dar aos Murakami qualquer satisfação, e agora que retornava, preferiu reportar-se primeiro ao Hokage, ignorando o clã. Enua não fazia ideia de onde estava a lealdade da garota.

Lea deixou Enua com seus pensamentos e perdeu-se nos seus próprios. Aquele homem era indecifrável. Não era à toa que havia um certo descontentamento dos cidadãos com os Murakami. Às vezes, ela até podia entender o pé atrás que Rattou tinha em relação a toda o clã, embora mencionasse que as famílias secundárias faziam parte de todos os supostos planos da família principal. Estava errado sobre aquilo. Lea sabia que para Enua, os membros da família secundária eram só soldados destinados a proteger sua esposa, filhos e sua presença importantíssima. Soldados não tomam parte de planos.

Se um homem daqueles tivesse motivos para envenenar outro, o faria sem pensar duas vezes. Mesmo um parente, ele o faria. Faltava descobrir o motivo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo, conheceremos o time 13



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