A lenda continua escrita por Silver Sale
A menina cambaleou após o choque, recuou desengonçadamente e encarou seu oponente com cautela, os olhos em uma fúria controlada. O outro lutador tinha o dobro de seu tamanho e não parecia prestes a conceder-lhe qualquer tipo de descanso. Sem desviar os olhos, a garota limpou o filete de sangue que escorria de sua boca.
— Vamos, ataque! – gritou o rapaz severamente. A garota considerou a possibilidade por um instante e balançou a cabeça devagar. – Rápido, pirralha, vamos acabar logo com isto! Eu tenho um encontro.
Mas a menina permanecia no mesmo lugar, sem esboçar qualquer tipo de reação. Segurava um braço machucado com uma mão, enquanto parecia considerar a área ao redor.
O sujeito decidiu avançar. Já estava cansado daquilo e tinha coisas melhores para fazer.
Um milésimo de segundo antes que o atacante encostasse seu punho carregado de chakra na garota, ela pulou alto e virou-se, de modo a ter visão das costas de seu oponente. Carregou no punho descargas de chakra e as lançou, ao que o atacante (que agora estava sendo atacado) desviou com uma rajada violenta de energia, que atingiria a garota e encerraria a luta, se ela ainda estivesse ali.
Sem conseguir esconder a surpresa, o sujeito girou rapidamente, dando de cara com a garota, que materializara quantidade de chakra absurdamente grande para uma criança em seu punho esquerdo. Ele afastou-se antes que fosse gravemente atingido, mas não pôde livrar-se completamente do golpe, que atingiu superficialmente seu braço.
Um buraco abriu-se na manga de sua camisa, deixando à mostra uma pele agora chamuscada. Ele adiantou-se, saltando sobre a garota. Tinha que acabar logo com aquilo.
A sequência que se seguiu foi quase impossível de ser defendida, mas a garota fez como pôde com os cinco primeiros golpes, até que não conseguisse mais acompanhar a velocidade do atacante.
O rapaz conhecia a garota o bastante para saber que não desistiria a não ser que estivesse inconsciente. Suspendeu-a do chão pela gola da camisa, preparando um golpe final. Até que uma voz grave interveio.
— Basta.
Sobressaltado, ele virou-se para trás, deixando a menina cair ajoelhada no chão.
— Você pega muito leve com ela, pai.
O homem era ainda maior que o atacante. Tinha, como o filho, cabelos negros e longos presos em um rabo de cavalo que descia pelas costas, nariz reto e postura altiva. Era semelhante em quase tudo com o rapaz mais novo, exceto pelos olhos de um castanho quase avermelhado, pigmentado com manchas azuis, negras e pintas alaranjadas; os que o conheciam diziam que era como olhar uma nebulosa. Tal característica foi herdada pela garota caída no chão.
Notou o ferimento no braço do filho com um movimento rápido de olho, mas dirigiu à menina um olhar duro.
— Recomponha-se.
A garota tropeçou para frente, para ficar ao lado do irmão.
— Konohamaru está de volta. – ele disse, e o rapaz jurou que as manchas negras nos olhos do pai pareceram aumentar.
A menina ficou animada com a notícia, e parecia estar preparada para correr até o recém-chegado, mas o rapaz tinha um sentimento estranho dentro de si.
— O que aconteceu?
O pai o olhou com firmeza, e o jovem julgou ter captado a mensagem. Segurou o braço da menina para impedi-la de correr direto para a saída do dojô.
— Você não pode.
— Me deixa ir! – a garota gritou, alheia ao que acontecia ali.
— Solte-a, Max.
Ele encarou o pai por mais alguns segundos, até que abaixou os olhos e liberou a pressão no pulso da irmã, que imediatamente saiu do dojô, seguida pelo pai. Max não teve como deixar de acompanha-los.
Um pequeno grupo avançava lentamente pela entrada da propriedade. Os homens traziam ferimentos e expressões carrancudas e sombrias. Um jovem mais afastado era observado por todos os outros; os dois da retaguarda levavam um corpo inconsciente nos ombros. Entreolharam-se quando uma criança aproximou-se com empolgação, olhando todos entre todos os rostos até encontrar o que procurava.
Pai e filho aproximaram-se, taciturnos. Os olhares que seguiam a garota foram rapidamente atraídos para o jovem retraído e triste que entrava na vila. Seus olhos assustados passaram do filho para o pai em um milésimo de segundo.
O jovem tinha as roupas rasgadas, e os cabelos prateados bagunçados. Uma cortina de hematomas cobria seus braços e suas pernas. Seus olhos eram tão escuros como a noite sem estrelas, e um deles estava inchado.
— É bom que esteja de volta, senhor. – disse o homem mais velho ao garoto.
Os olhos do garoto desviaram para um lugar menos desconfortável de encarar que aquelas íris coloridas do ancião. O jovem sabia que era o culpado por tudo aquilo, e o homem dos olhos de nebulosa também. Um momento depois, o homem voltou a encarar a filha.
— Konohamaru? – a menina tocou o homem inconsciente. Estava frio e exalava um cheiro estranho. Todo o corpo estava recoberto por sangue e cortes profundos. Havia uma fratura exporta em sua perna, e seu cotovelo esquerdo estava claramente deslocado. O braço terminava em um toco onde antigamente estava em sua mão e um dos olhos pendia da órbita ocular.
O sorriso da menina morreu em seus lábios, e seus olhos imediatamente encheram-se de água. Ela sabia o que tinha acontecido. Já vira mortes na vida, mas nunca parecia real. Eram pessoas que ela não conhecia, mas o cadáver desta vez era seu irmão mais velho, aquele a quem mais admirava. Sentiu o rosto corar, o corpo aquecer e uma gota de lágrima escorrer vagarosamente pelo seu rosto.
Podia sentir o olhar de seu pai queimando atrás de si, como se aquele fosse um grande momento, o decisivo para alguma coisa. Sua mente de sete anos não entendia o que era essa coisa. Por um momento virou-se para o irmão. Num movimento tão discreto que poucos chegaram a perceber, ele lhe balançou a cabeça em sentido negativo. A garota fitou o corpo por algum tempo, enquanto os recém-chegados esperavam, confusos quanto ao que fazer.
E então ela secou a lágrima.
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