Era um salão enorme, tão grande que não poderia estar ali, embaixo do templo, sem alguma magia pois o teto estava tão alto que não era possível vê-lo na escuridão.A pouca iluminação do lugar era feita por tochas nas paredes que tinham pequeno alcance. - parece que as pessoas desse lugar ainda não descobriram o poder da energia elétrica!

Portais enormes eram dispostos pelas paredes, três à esquerda e três a direita, além da porta de onde viemos. O chão da sala estava imundo coberto por algo verde, escorregadio e húmido que tornava difícil andar.

Fora isso a sala estava vazia, não vimos nenhum carro por perto.

— Então? - perguntei.

— Não está sentindo? - disse James, entendi o que ele quis dizer. Fazia bastante calor ali, e esse calor só podia vir do carro, pois lá fora a neve caía. Todos retiramos nossos casacos. - O carro deve estar por aqui, vamos procurar.

— Vamos nos separar? - perguntou Anthony.

— Mas e o monstro? - perguntei. Segundo James havia um monstro terrível ali e ele podia aparecer a qualquer momento.

— Se alguém ouvir alguma coisa estranha volta correndo pra cá - disse Poppy.

Anthony e eu fomos pela primeira porta a direita, Poppy e James foram pra esquerda e Tyson foi sozinho por um portal também a esquerda.

Depois da portal por onde fomos havia uma outra sala, tão imunda e vazia quanto a anterior, e nela havia um enorme buraco circular disforme na parede que dava num túnel. Devia ter uns vinte metros de diâmetro (acho que dava pra dois drakons iguais ao que Anthony matou passarem por ele ao mesmo tempo). Conclusão: havia um monstro bem grande por ali que gostava de passear no subsolo. Que monstro era aquele? Eu ainda não tinha nem ideia.

— Porque será que fizeram isso? - perguntou Anthony examinando o buraco, que estava igualmente coberto daquela gosma suja.

— Não sei, é melhor a gente voltar.

Voltamos a sala principal. Tyson já estava lá.

— Achou alguma coisa?

— Achei meu bastão! - ele disse Sorrindo. Tyson nos mostrou um bastão dourado de uns dois metros. Ele devia estar com o bastão quando foi sequestrado. - Vocês?

— Há um túnel naquela sala, talvez devamos entrar depois... - respondeu Anthony não muito animado com a possibilidade.

Esperamos Poppy e James voltarem antes de entrar nos outros portais.

— Será que eles acharam alguma coisa? - perguntei impaciente depois de esperar dez minutos por eles.

Antes que alguém me respondesse alguma coisa, um barulho ensurdecedor invadiu a sala, o templo, e era tão alto que prossivelmente todo o país do Canadá ouviu também.

Sacamos nossas armas. Tyson segurava seu bastão, Anthony sua espada e eu minha adaga de trinta centímetros, eu realmente preciso aprender a usar outra arma, pensei. Eu gosto muito da minha adaga mas ela não é tão eficiente com monstros grandes.

James e Poppy saíram correndo ofegantes do portal.

— O que foi isso? - perguntei, o barulho continuava e ficava cada vez mais perto.

— Nós... Achamos o carro! - tentou dizer Poppy enquanto James recuperava o fôlego. - E alguma... Alguma coisa nos achou, e é bem grande!

— E fede! - completou James. O barulho se aproximou ainda mais.

O que parecia uma enorme parede escamosa começou a se mover no primeiro portal a direita. A cada segundo um pouquinho mais da coisa saia de dentro do enorme portal até que foi possível distinguir uma fissura na grande parede escamosa, aos poucos percebi o formato de uma cabeça, a saliência sobre os olhos, que quando abertos exibiam globos oculares enormes e amarelados com íris verticais escuras e uma boca enorme.

Quando a cobra abriu a boca e deu um novo rugido senti na pele a importância do comentário de James. Um fedor terrível saiu daquele buraco negro que era a boca dela e invadiu minhas narinas, era como se ela expirasse acido, até minha pele começou a arder. Também vi seu dentes enormes, cada um maior que um ciclope, escorrendo veneno. Não me senti nem um pouco confiante em ter que lutar com aquele monstro.

Nos espalhamos pelo salão, a cobra começou a se erguer, até que a ultima parte do seu corpo saiu do portal, ocupando grande parte da sala e ela ficou quase totalmente ereta, verticalmente, no meio do salão.

"Ereta?" pensei "Não pode ser, essa é a..."

Lembrei de uma história que mamãe tinha lido pra mim quando eu era pequena.

"O deus Apolo foi até o monte Parnaso em busca da Píton pra se vingar por ela ter perseguido a sua mãe, Leto, enquanto ela estava gravida dele e de sua irmã gêmea Ártemis. A piton percebeu a presença deles e começou a ataca-los ficando totalmente ereta. Apolo a matou atirando três flechas de uma só vez. Uma no olho esquerdo, uma no peito e a terceira entrou-lhe pela boca. Naquele lugar, tempos depois, Apolo construiu o sagrado templo de Delfos."

Aquela cobra era a Píton, a mesma que meu pai matou a sei lá quantos séculos, só podia ser!

— É a Píton! - falei a Poppy. - Mas ela não tinha morrido, ficado cega e sei lá mais oque?

— Ela também foi partida ao meio, mas parece que está bem inteirinha, vamos!

Eu sabia que os monstros sempre voltavam, mas não a Píton, ela nunca havia ressuscitado antes! Porque agora?!

A cobra começou a nos atacar. Como sua cabeça não estava a vista só conseguíamos perceber onde ela atacaria quando esta já estava perto e precisávamos nos esquivar dos ataques no último minuto.

Poppy correu até a parte mais baixa da cobra e começou a golpeá-la com sua espada. A cobra não parecia se incomodar muito com isso e continuava nos atacando. Todos fizemos o mesmo que Poppy. Foi aí que eu tive certeza que uma adaga não é a melhor arma. Eu golpea-va a pele escamosa mas, levando em conta o tamanho da Píton, os cortes que eu fazia eram apenas arranhões. Conselho: Não tente matar uma cobra gigante com uma adaga de trinta centímetros.

A píton começou a se mover tentando se livrar da gente quando Tyson começou a espeta-la com o bastão, ele enfiava o bastão completamente na Píton fazendo cortes maiores enquanto ela urrava de dor.

Como eu não estava conseguindo nada daquele jeito me concentrei um pouco e formei uma bola de fogo em minha mão. Joguei-a contra a cara da Píton quando ela tentou nos atacar novamente. A bola de fogo explodiu ao encontro da pele e a Píton urrou novamente, cambaleando um pouco e indo de encontro a parede. A Piton bateu na parede esquerda quebrando-a e fazendo estilhaços voarem pela sala. Então continuou nos atacando, e agora mais violenta. "Parabéns, Claire, você fez as coisas ficarem pior!", pensei.

— Claire, isso não vai funcionar, não vamos conseguir muita coisa assim! - Poppy gritou. - Você tem que usar o colar!

Do que ela estava falando? Ela quer que pendure o colar no pescoço da cobra e enfoque ela ou o quê?

— Lembra da história? Não vamos conseguir mata-la assim, você precisa usar o arco!

— Mas eu não tenho um arco! - lembrei-a.

— O seu colar é um arco, não sabia? Eu pensei que você sabia!

— Mas...

— Vai, a gente distrai... Essa coisa! - falou Anthony.

Me distanciei um pouco do monstro pulando por cima do entulho e parei perto da porta. Me ajoelhei e vasculhei a mochila a procura do colar que Apolo me deu quatro dias atrás, no meu aniversário. Porém tudo que eu encontrei foi meio pacote de balas coloridas, uma camisa do acampamento e um panfleto das caçadoras de Ártemis... Eu estava com a mochila de Poppy, devíamos ter trocado sem querer quando desembarcamos, mas porque ela estava com aquele panfleto? Decidi perguntar mais tarde, quando não tivéssemos que matar uma cobra fedorenta gigante.

Gritei pra Poppy me jogar a outra bolsa. Quando a peguei vi que Poppy e os outros agora golpeavam contra a rosto da Píton quando ela atacava.

Achei o medalhão no bolso menor da mochila. O nome FEBO brilhava refletindo a luz dos archotes. Examinei-o a procura de algo que acionasse o "possível" modo de batalha. Encontrei apenas um fecho, como se ele fosse um daqueles medalhões que tem uma foto de família dentro. Quando consegui abrir o fecho um barulho mecânico fez-se ouvir. O medalhão se transformou em um lindo arco dourado, mas sem nenhuma flecha. De qualquer modo eu não sabia usar arco e flecha... Era a única filha de Apolo que não teve uma identificação instantânea com essa arma. Talvez Apolo soubesse disso e me deu o arco apenas como um simbolo.

Voltei pra perto dos outros mostrei o arco sem flechas.

— O que que você está esperando? Use-o! - gritou Poppy.

Fiquei um momento atônita sem saber o que fazer. Como eu tentaria usar um arco sem flechas?!

Mas Poppy continuou me olhando como se esperasse alguma coisa. Então fiz o que ela queria, apesar da improbabilidade de algo acontecer. Segurei o arco em posição e segurei uma flecha imaginária arqueando o fio do arco. Magicamente uma flecha de energia pura brilhou onde a um segundo não havia nada como o arco daquele personagem de "caverna do dragão", como era o nome dele mesmo? Hank? Imaginei se eu teria flechas infinitas também.

Soltei a flecha sem querer e ela voou na direção de James que felizmente se abaixou a tempo.

— Desculpa... - falei.

Depois daí eu tentei mais do que tudo atirar flechas com uma pontaria decente, mas era muito difícil! Na maioria das vezes a flecha voava de encontro a parede e eu sentia vergonha de mim mesma. Mas quando eu consegui, foram só umas três vezes, acertar na Píton a flecha a atravessou de fora a fora fazendo-a urrar de dor e cambalear. Sabia que podíamos mata-la daquele jeito, mas não comigo manejando o arco, é sério eu era um desastre! Mais de uma vez eu quase acertei um dos meus amigos.

— Não é melhor um de vocês fazer isso? - perguntei esperançosa, sabia que James era bom com arco.

— Você consegue, Claire - disse Anthony.

— Se concentre! - gritou Poppy, ela já estava perdendo a paciência comigo.

Foi quando uma coisa terrível aconteceu.

Eu consegui, não sei como, acertar novamente uma flecha contra a Píton. A seta a atingiu no lado esquerdo do rosto fazendo um grande corte. A cobra cambaleou novamente e foi em direção aos outros, que se abaixaram a tempo. Porém a cobra continuou e bateu na outra parede quebrando e fazendo estilhaços e tijolos voarem na direção dos outros. Um bloco caiu sobre Anthony derrubando-o.

Corri até ele, deixei o arco de lado e tirei o bloco de cima de Anthony. Havia um grande corte em sua testa, não feito pelo bloco, mas pela queda em si. Ele havia batido a cabeça e estava desacordado, meus olhos começaram a arder.