Camp Paradise - Interativa escrita por Aninha


Capítulo 3
Prólogo II - Raposa, Lobo, Urso, Coruja ou Búfalo?


Notas iniciais do capítulo

OIE! Bom, são quase duas e meia da manhã e estou postando um capítulo. Então, por favor não me matem se eu tiver errado algo pq eu não revisei, ok? Ok.

Eu não demorei tanto dessa vez, né? Milagres acontecem ahsuahs
A música do capítulo é: 93 Million Miles - Jason Mraz.

Boa leitura!



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 Ártemis Gordon Bertinnelle, Lua

 

— Senhoras e senhores passageiros, informo que dentro de uma hora chegaremos ao Acampamento. Por favor, retirem todos os seus pertences do trem, obrigado.

Suspirei fundo e me remexi no sofá-cama, fazendo a coberta cair alguns centímetros. Esfreguei os olhos e olhei as horas na tela do meu celular: não eram nem nove da manhã. Fazendo uma careta, joguei a coberta para o lado e levantei espreguiçando-me. Ouvi minhas juntas estralarem e agradeci a deusa Lady Gaga por estarmos chegando – depois de quase três dias naquele trem eu queria chegar logo ao destino independentemente de qual fosse.

Decidi que poderia muito bem tomar um banho e me trocar antes de arrumar minhas malas de modo que saí para o corredor deixando minhas coisas desarrumadas para trás. Normalmente eu não faria isso, mas decidi me dar uma folga, afinal não era nem nove da manhã. Tomei um banho rápido no banheiro feminino compartilhado – que fica nos fundos do trem – e vesti meu short rasgado, uma regata com estampa de fogos de artifício e um tênis confortável. Deixando meu cabelo castanho cair como uma cascata até a cintura, escovei os dentes rapidamente e rumei até o refeitório, não sem antes deixar minhas coisas na cabine.

Depois de me servir de duas fatias de pizza e um pouco de suco, caminhei até a mesa onde Dawn, minha colega de cabine, estava sentada comendo um pedaço enorme de torta. Dawn Austen Margott é uma californiana bonita de 17 anos, com pequenos olhos esverdeados, cabelo castanho ondulado na altura dos seios, pele clara e unhas compridas, no momento pintadas de azul escuro.

Sorri para ela ao me aproximar da mesa, mas Dawn apenas me olhou. Não com um olhar superior ou com raiva, apenas me olhou. Sentei-me na sua frente e disse:

— Bom dia. Animada para chegar?

— Oi. Estou interessada em ver o que eles parecem esconder dentro daqueles muros.

— Está se referindo a falta de informações na internet?

Dawn confirmou com um aceno, enfiando um pedaço de torta na boca.

— Falta de informação não só na internet, mas em todo lugar, aliás — completei. — Parece que isso é algo que a maioria dos novatos se pergunta... Os outros agem como se fosse nada demais, então podemos estar nos questionando por nada, certo?

— Vai ver o Acampamento esconde que os campistas dormem nos estábulos porque não tem Chalés — Dawn falou fazendo uma careta e rindo.

— Ou que na verdade tudo isso é uma armadilha e que estamos indo para a prisão — falei entrando na onda.

— Presos por comer porcarias demais.

A 93 milhões de milhas do Sol

As pessoas preparam-se, preparam-se

Porque lá vem, é uma luz

Uma linda luz, além do horizonte

Para dentro de nossos olhos

Oh, minha nossa, que lindo

Oh, minha bela mãe

Ela me disse, filho, você irá longe na vida

Se fizer tudo direito, amará o lugar onde estiver

Apenas tenha certeza de que onde quer que vá

Você sempre poderá voltar para casa

Quando finalmente conseguimos parar de rir e tirar sarro de todo o mistério com péssimas piadas, observei Dawn sem que essa percebesse. A garota é divertida e alguém interessante para conversar: parece ser capaz de falar sobre qualquer coisa! Mas ao mesmo tempo é fria, com olhares que mandam todos manterem distância. Pensei que provavelmente Dawn era tão misteriosa quanto o Acampamento. Balancei a cabeça para afastar a ideia, provavelmente todos aqueles livros de aventura estão afetando meu cérebro.

Terminamos de comer e voltamos para nossa cabine, assim como vários campistas. Depois de organizar tudo no seu devido lugar, sentei-me a mesa pequena de dois lugares do lado da janela e abri meu caderno de desenhos. Dawn deixou a porta que dava para o corredor aberta de modo que as conversas das cabines ao redor chegassem aos nossos ouvidos. Enquanto ela enfiava o nariz em um livro de física (Uma Breve História do Tempo – Stephen W. Hawking) olhei pela a janela a paisagem em busca de inspiração.

Passávamos por uma floresta de coníferas e de acordo com o GPS nos afastando de Toronto em direção ao norte. As árvores pareciam incrivelmente perto uma da outra. Enquanto observava, vi pássaros, linces, cervos e outros animais de grande porte. Por um momento, tive um vislumbre de algo alaranjado e peludo relativamente perto dos trilhos, parecendo nos observar, mas ao me inclinar novamente para ver, o animal tinha desaparecido. Franzi o cenho e mordi o lábio inferior. Voltei minha cabeça na direção de Dawn, que parecia absorta demais no livro para ter reparado em algo.

Voltei meu olhar para a floresta e vi algo que fez meus olhos se arregalarem levemente: alguém vestido com uma capa vermelho sangue que arrastava no chão estava na floresta com uma raposa. Pelo corpo eu poderia facilmente dizer que era uma mulher de estatura mediana. Seu rosto estava encoberto pelo capuz, mas algumas mechas do seu cabelo castanho comprido brilhavam mais claros pelos feixes de luz. A raposa estava em posição de ataque aos seus pés e parecia olhar o grande trem preto que passava rapidamente sobre os trilhos. Apesar de não conseguir ver o rosto da mulher, senti seu olhar pesar em mim.

A 240 mil milhas da Lua

Percorremos uma longa distância para pertencer a esse lugar

Para compartilhar essa vista da noite

Uma noite gloriosa

Além do horizonte há outro céu brilhante

Oh, minha nossa, que lindo

Oh, meu pai irrefutável

Ele me disse, filho, às vezes, pode parecer escuro

Mas a ausência da luz é uma parte necessária

Apenas tenha certeza de que você nunca está sozinho

Você sempre poderá voltar para casa

Casa

Casa

Você sempre pode voltar

Assim que abri a boca para chamar Dawn, o trem fez uma curva para a direita e tanto mulher como animal desapareceram. Encostei meu corpo lentamente de volta ao assento, sem me lembrar de quando tinha me inclinado em direção à janela. Fechei a minha boca e engoli em seco, piscando rapidamente. Voltei meu olhar à página em branco e segurei firmemente o lápis de desenho, começando a fazer traços.

— O Acampamento fica depois dessa curva — alguém disse no corredor após alguns minutos.

Dawn fechou o livro e guardo-o na mala. Em seguida caminhou até onde eu estava para ver o meu trabalho. Reparei nos seus movimentos pelo canto de olho, pois estava concentrada demais no meu desenho para desviar o olhar. Quando terminei, soltei o lápis amarelo que usei para pintar e me afastei da mesa para encarar o resultado final.

— Ficou bonito — Dawn disse. — Por que uma raposa?

Pisei em meu próprio pé me sentindo desconfortável. Não sei exatamente por que, mas queria guardar a visão que tive na floresta apenas para mim. Observei o desenho da raposa: sentada, parecendo calma com folhas alaranjadas pelo outono voando ao seu redor. Engoli em seco e falei mexendo em meu cabelo:

— N-não sei.                                                               

Levantei e terminei de guardar minhas coisas rapidamente, de repente ansiosa demais para sair daquele vagão. Dawn e eu, assim como dezenas de campistas, nos inclinamos para o lado de fora, esperando a curva chegar logo para termos a primeira visão do Acampamento. Esperamos alguns minutos, tudo estava estranhamente silencioso. Soltamos algumas piadas enquanto aguardávamos ansiosas. Depois de um tempo que pareceu infinito, fomos recompensadas.

Um muro alto de pedras cinzentas parecia circundar o Acampamento inteiro, com arame farpado no topo. Um portão preto alto indicava a entrada, por onde carros entravam e saiam. Daquela distância era possível ver um belo chafariz no meio do pátio de entrada, cercado por várias plantas. Os carros entravam, circundavam o chafariz pelo caminho de cascalho e saiam rapidamente. Um edifício em forma de ‘’U’’ com dois andares parecia ser o local da recepção. Naquela distância era possível ver alguns campistas passando por suas portas de vidro, carregados de coisas. Perguntei-me como eles teriam chegado se nós estávamos no trem: o único meio de transporte para o Acampamento até onde eu sabia.

O trem parou numa estação pequena, a alguns metros da entrada. Eu estava tão animada que quicava na cadeira, o caso da raposa completamente esquecido. Dawn sentada ao meu lado parecia mais entediada do que qualquer outra coisa.

— Todos os campistas, por favor, peguem seus pertences e retirem-se do trem. Os carros estacionados perto da estação os levarão até o Acampamento. Tenham todos um ótimo verão.

Animada, levantei-me e peguei minha mala. Olhei para Dawn que parecia levemente nervosa enquanto pegava suas coisas. Saímos para o corredor onde vários campistas caminhavam em direção à saída.

— Qual o problema? — sussurrei para minha ex-companheira de cabine.

— Estou nervosa com tudo isso. Você não?

— Graças a rainha Lady Gaga estou mais animada do que nervosa. Está com medo de não gostar? Bom, se esse for o caso basta apenas ligar para seus pais e pedir para ir embora, certo? —falei, olhando-a.

Dawn fez uma carranca e expirou fortemente. Em seguida começou a andar rapidamente, como se quisesse manter distância.

— Esquece, uma garota de Seattle mimada como você não entenderia.

— Como é que é? — falei, acelerando o passo para acompanhá-la. — Eu mimada? De onde você tirou essa conclusão? Do perfume Channel? Ah, não, espera. O perfume é seu!

Dawn parou de andar e voltou-se na minha direção, me encarando com olhos furiosos. Retribui seu olhar e empinei o queixo, mostrando que não estava nem um pouco intimidada.

— Olha, sem querer atrapalhar as duas, mas vocês estão atrapalhando todo mundo empacadas no meio do corredor! — Uma garota com cabelo laranja, rosto redondo, olhos verdes amendoados e de estatura mediana falou com seus braços carregados de coisas.

Dawn revirou os olhos, me fuzilou uma última vez e caminhou até a saída com passos duros. Pisei em meu próprio pé e olhei a garota com cabelos cor de fogo.

— Desculpe — sussurrei.

— Ah, pelo menos uma delas tem o mínimo de decência — a garota exclamou, sorrindo. — Relaxe, mas agora mova esse seu traseiro. A propósito, sou Calíope Amelia Tormund-Styx de Miami, mas me chame de Cal ou de Amy.

 

Toda estrada que é uma subida escorregadia

Mas sempre há uma mão na qual você pode se segurar

Olhando profundamente pelo telescópio

Você pode perceber que seu lar está dentro de você

 

— Ártemis Gordon Bertinnelle de Seattle, mas me chame Lua.

Calíope sorriu de lado e começou a andar em direção a saída comigo em seu encalço.

— Problemas com o nome? — perguntou.

— Não que eu não goste, mas ele é um pouco exótico.

Desembarcamos na estação e imediatamente um senhor veio nos auxiliar com as malas e nos conduziu até um carro. Eu, Cal e mais dois garotos de uns 12 anos entramos no carro que seguiu imediatamente para o portão do Acampamento.

O percurso foi relativamente silencioso. Os garotos conversavam animados sobre algum gibi qualquer enquanto Calíope, sentada no banco da frente com seus fones de ouvido, olhava para o lado de fora. Suspirei e olhei o Acampamento pensando em Dawn. Eu realmente acreditara que havia feito uma amiga, alguém com quem conversar e me divertir e estava triste por estar tão enganada. Pensei em teorias que explicassem o que fez a garota surtar de uma hora para a outra, mas infelizmente nada me ocorreu.

Apenas tenha certeza de que onde quer que você vá

Não, você nunca está sozinho

Você sempre voltará para casa

Casa

Casa


     Passamos pelos portões e reparei que o edifício em forma de meia lua ocupava toda a visão, de modo que não era possível avistar qualquer outra coisa do Acampamento dali e isso, é claro, reativou minha curiosidade.

Saltei do carro como os demais e peguei minhas coisas, caminhando logo em seguida em direção as portas de vidro com dezenas de outros campistas fazendo o mesmo trajeto. Orientada por uma moça que usava um uniforme preto do Acampamento, deixei minhas coisas num canto perto das outras malas sendo avisada que elas seriam levadas para o meu Chalé. Dei entrada na recepção, informando algumas coisas básicas e assim como vários outros fui conduzida para o segundo andar.

Entrei em uma sala cheia de cadeiras e mesas, como numa sala de aula, e reparei que vários outros campistas estavam ali. Sentei e aguardei alguns minutos em silêncio, como os demais. Após alguns instantes uma moça negra e alta, com cabelos lisos acima dos ombros entrou carregando vários papéis e algumas canetas.

— Olá, sejam todos bem-vindos. Eu sou Savanna e irei auxiliá-los nesse pequeno teste. Como vocês logo serão informados mais detalhadamente, o Acampamento é divido em cinco Irmandades: Raposa, Lobo, Urso, Coruja e Búfalo. Vocês responderão um questionário que poderá determinar ou não a qual Irmandade cada um pertence — ela deu um meio sorriso, observando nossas expressões apavoradas. — Não fiquem nervosos, é extremamente raro um campista ser determinado para uma Irmandade com base nesse teste. Geralmente são suas atitudes e ações observadas pelos Líderes que selecionam cada um.

Sentei melhor na cadeira, ficando ereta e dei um sorriso. Aquele teste apesar de parecer eficaz quase nunca determinava a qual Irmandade um novato iria parar e era exatamente por isso que decidi que eu seria uma das poucas que entraria no Acampamento com aquilo definido.

Savanna entregou a cada um uma folha e uma caneta e disse que tínhamos meia hora para responder tudo. Perguntas como cidade e idade não são importantes, pois todos na sala possuem a mesma idade e essas informações estão no sistema, ela explicou.  Mordi o lábio inferior e comecei.

Você prefere dia ou noite?

Você se considera com uma boa memória? Por quê?

Você se adapta facilmente a lugares novos, pessoas, etc.?

Você é alguém independente? Por quê?

Sozinho (a) ou acompanhado (a)?

O que faz você se sentir em casa?

Você gosta de esporte (s)? Qual (is)?

Você é curioso (a)?

Você é bom (boa) em escaladas?

Qual dos cinco sentidos é o seu preferido?

Lugares abertos ou fechados?

Você se diria alguém agressivo (a) ou que se irrita facilmente? Por quê?

Predador (a) ou presa?

Qual o seu hobby preferido?

Mandar ou obedecer?

Escolha entre: Raposa-Vermelha, Lobo Cinzento, Urso Negro, Coruja Suindara ou Búfalo Americano. Justifique sua escolha.

Floresta ou montanha?

Estação preferida.

Dentro ou fora?

Introvertido (a) ou extrovertido(a)? (*)

E as perguntas continuavam assim até o número 30. Terminei de responder confiante e aguardei durante os dez minutos finais. Savanna recolheu os papéis e nos informou que o resultado seria divulgado após a reunião de boas-vindas. Eu e os outros campistas voltamos à recepção, onde um rapaz sarnento ruivo nos guiou até os fundos do edifício.

Pelo menos 30 carrinhos de golfe estavam estacionados sobre a grama, cercados pelo muro de pedra. Um caminho de cascalho levava a porta de madeira dos fundos até um portão preto a alguns metros, que quando fechado impedia que qualquer um visse o que vinha depois dele.

Entrei num carrinho junto com duas garotas que conversavam animadamente e Calíope que sentou no banco do motorista e me deu uma piscadela. Depois que todos os campistas estavam acomodados, Alo — o garoto ruivo sarnento — nos disse que os carrinhos tinham limite de velocidade e que basicamente dirigiam sozinhos, o motorista apenas precisa pisar no acelerador e guiar na direção desejada.

Calíope dirigiu seguindo a multidão e todas ficamos em silêncio, ansiosas. Após passar pelo portão prendi a respiração de forma inconsciente e olhei ao redor.

A grama do Camp Paradise era tão verde que parecia artificial. Uma imensa floresta de coníferas circundava o terreno inteiro que ia até onde a vista alcançava e uma cordilheira de montanhas cercava o lado oeste até o norte do Acampamento. Daquele ponto era possível ver algumas construções grandiosas ao longe e inúmeros caminhos de cascalho. Rumamos para o lado esquerdo do portão, em direção ao sul do Acampamento passando pelo estábulo onde cavalos relinchavam e alguns campistas acenaram para nossa pequena passeata. Às dez e vinte da manhã em ponto, estacionamos perto de uma espécie de Anfiteatro de onde vinha o som de vozes e risadas.

— Muito bem — Alo falou, descendo do seu carrinho, sendo imitado pelos demais. — Entrem todos no Anfiteatro em silêncio, de preferência. Os Líderes falarão algumas coisas e responderão algumas de suas perguntas. Sentem-se em qualquer lugar e tentem não fazer merda.

Rimos e entramos. Cal ficou do meu lado e me chamou para sentar com as garotas do carrinho que se apresentaram como Telma Miller de Nova York e Dominique Lee Underwood de Lake Tahoe, Califórnia. Conversamos alguns minutos enquanto esperávamos o que quer que fosse começar. Tel é uma garota de 15 anos, com o cabelo um pouco abaixo dos ombros, sobrancelhas grossas, com a personalidade um pouco área e com certeza fala muito rápido quando animada. Já Domi possui um rosto angelical, olhos cinzas contornados por seus óculos redondos, pele clara e sua calma contracena de forma gritante com todo o agito da amiga.

Olhei ao redor para admirar o local. O Anfiteatro está mais para uma arena coberta e confortável. Em forma de círculo, as cadeiras de couro preto cercam o palco de madeira localizado no centro do local. As janelas altas que vão do chão ao teto iluminam o ambiente e permitem que a brisa fresca do lado de fora entre, balançando as cortinas escuras. O pé direito é tão alto que quase faz as luminárias do teto parecerem coelhos. O chão de madeira é tão lustroso que chega a brilhar, assim como as paredes e portas.

Pelo canto dos olhos reparei num pequeno grupo que subia no palco. Eram seis pessoas, todas usando camisetas coloridas e com o nome do Acampamento nas costas. Na frente, um brasão pequeno do lado esquerdo, algo escrito no lado direito pequeno demais para que eu conseguisse enxergar da décima fileira e no meio, ocupando quase toda a frente, o rosto de um animal. Reparei que aqueles deviam ser os Líderes porque 1. Cada um usava uma camiseta com um animal diferente e 2. Disseram que eles falariam conosco, então quem mais poderia ser?

Calíope me cutucou na cintura e sorriu maliciosa para mim antes de falar:

— Aquele cara com a camiseta do Lobo não é um gato?

— Achei que ele fosse um Lobo — Tel falou parecendo voltar de um devaneio.

Domi, Cal e eu gargalhamos ao passo que Telma apenas mexeu no cabelo.

— Muito bem, façam silêncio — o "garoto Lobo" falou.

Cal deu uma piscadela para mim antes de voltar sua atenção para o palco. Sorrindo de canto, imitei seu gesto.

A 93 milhões de milhas do Sol

As pessoas preparam-se, preparam-se

Porque lá vem, é uma luz

Uma linda luz, além do horizonte

Para dentro de nossos olhos

 

Dawn Austen Margott, Dawn

''Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito’’.

— Machado de Assis

Voltei meus olhos para o palco, assim como todos os outros campistas. Observei os seis jovens de pé sob todos aqueles olhares e imaginei se eles estariam nervosos. Batuquei minhas unhas compridas no braço da cadeira impaciente.

— Muito bem — o garoto alto, musculoso e loiro com a camiseta de Lobo e um sorriso cafajeste falou. — Meu nome é Jason Blood e eu sou o Líder da Irmandade Lobo, como está óbvio, espero. Agora, passarei o poder da palavra a nossa adorável Líder.

Uma garota de estatura mediana, cabelo escuro comprido e olhos claros penetrantes deu um passo a frente e lançou um sorriso irônico a Jason, que apenas deu uma piscadela sacana em sua direção. Revirando os olhos, a garota com camiseta de um tom de azul falou:

— Sou Elizabeth Manson, Líder das Raposas e do Acampamento. Sejam todos bem-vindos a mais um ano no Camp Paradise, espero que todos se divirtam e guardem boas memórias daqui durante o tempo que lhes será permitido — ela fez uma pausa, parecendo passar os olhos por cada um. — Antes de permitir que vocês conheçam a propriedade ou que se acomodem, devo lhes dar alguns avisos.

Com isso, um rapaz alguns centímetros mais alto do que ela e também usando uma camiseta da Raposa se aproximou lhe estendo uma prancheta. Passei meu olhar sobre os outros do palco e percebi que, com exceção de Jason, todos pareciam avaliar a plateia em busca de algo.

— Primeiro: os horários das refeições. O café da manhã é das oito às nove e meia da manhã. O almoço é do meio dia a uma da tarde. O jantar é as seis em ponto. Durante todo o dia frutas, tortas entre outras guloseimas estão disponíveis no Refeitório. O toque de recolher é às onze horas da noite em ponto. Sugiro que todos os campistas, principalmente os novatos, estejam dentro de seus respectivos Chalés nesse horário se não quiserem se dar muito mal.

"É proibido o uso de drogas e/ou bebidas alcoólicas, assim como fornicar, volume alto, entrar no Lago e/ou na floresta — essa é especialmente para os novatos. A floresta é separa em níveis e até que vocês saibam todos, sugiro que se mantenham longe das árvores se não quiserem morrer. O Lago é proibido até as aulas de natação começaram e mesmo assim apenas alguns poderão adentrá-lo. Um livro com todas as regras se encontra em cada Chalé. Vocês, obviamente, não são obrigados a lê-lo, mas se por acaso forem pegos fazendo algo indevido não me venham com aquele papo de eu não sabia. "

Ela fez uma pausa. Olhei pelo canto de olho Ártemis sentada duas fileiras abaixo de mim e suspirei fundo, pensando que a garota não tinha culpa de nada e que havia exagerado com ela. Mas o que está feito está feito, de modo que não posso mudar o passado.

— Agora, falando de assuntos mais agradáveis — Elizabeth voltou a falar, dando passos pelo palco e sendo seguida pelo olhar de quase todos. — As Irmandades são como famílias, onde todos se ajudam. Brigas, problemas ou qualquer dificuldade que apareçam quando não puderem ser solucionados por vocês ou algum companheiro deve ser retratado ao seu respectivo Líder. Seus acertos equivalem a pontos para sua Irmandade, assim como erros fazem com que estes diminuam. No final da temporada, a Irmandade com mais pontos é vencedora e ganha a Taça das Irmandades e se torna a Líder do Acampamento — ela deu um meio sorriso. 

"Aos novatos que não forem selecionados para nenhuma Irmandade: vocês ficarão no Chalé das Larvas até que este momento chegue. Durante este dia inteiro todos vocês estarão livres para andar pela propriedade, seguindo as regras claro, e ocorrerá uma cerimônia ao anoitecer. Agora, vamos à lista."

O mesmo cara que deu a prancheta a ela lhe estendeu um papel. Senti meu coração disparar ao me lembrar do teste que havia feito apenas alguns minutos atrás. Será que havia sido selecionada?

— Muito bem, o resultado foi — Elizabeth falou lendo a folha – Dominique Lee Underwood para a Coruja, Frederico Stonem para Búfalo e Dawn Austen Margott para Urso.

Os campistas bateram palmas. Fiquei sentada no meu lugar em choque, completamente surpresa por ter passado em um teste em que só alguns conseguiam tal feito. Um garoto alto, com corpo atlético e cabelos castanhos um pouco longos com a camiseta verde do Urso passou os olhos pela multidão, como se procurasse seu mais novo campista. Após ele ter passado os olhos sobre mim duas vezes, ergui a mão para ele de forma tímida e o encarei. Ele me olhou sério, como se me avaliasse e por fim sorriu.

— Os novos recrutas, depois que forem liberados dirijam-se a seus Líderes para receberem instruções. Os demais se dirijam ao Sam — e fez um gesto para o garoto da prancheta. — Novamente, sejam todos bem-vindos ao Camp Paradise. Nos vemos no almoço. Dispensados.

Os campistas se levantaram e praticamente correram porta a fora. Fiquei parada no meu lugar alguns segundos até me lembrar de como mexer os músculos. Desci as escadas e caminhei até o rapaz que ainda me encarava sorridente.

— Então você é Dawn Austen Margott? — ele perguntou quando me aproxime, estendendo à mão. — Sou Matthew Morningstar, Líder dos Ursos.

— Prazer — falei, apertando sua mão e soltando-a rapidamente.

— Bom, na verdade não há nada que eu possa te falar agora, para ser sincero. Alo estará lá fora distribuindo mapas para os novatos, sugiro que pegue um e não se atrase para o almoço. Te darei algumas instruções lá. Você pode ir dar uma volta.

Assenti e estava me virando quando ele disse:

— Ah! Seja bem-vinda.

Sorri mexendo no meu cabelo. Dei-lhe as costas e estava quase saindo do Anfiteatro quando percebi o olhar avaliativo de Elizabeth sobre mim. Encarei-a e empinei o queixo. Ela levantou uma sobrancelha e voltou seu olhar a Jason e um garoto que lhe falavam algo. Revirei os olhos e saí.

Após pegar o mapa com Alo e este me avisar que eu ainda não poderia Visitar a Vila das Irmandades sob hipótese alguma, decidi que iria até a Biblioteca, que ficava do lado direito do Anfiteatro, se você estivesse virado em direção ao Norte. Porém, eu não havia dado nem vinte passos quando ouvi o som de cascalho atrás de mim e uma voz feminina chamar meu nome.

Virei-me esperando encontrar Ártemis, mas em vez disso me deparei com o olhar profundo da Líder das Raposas. Na defensiva, empinei o queixo e passei a mão pelo cabelo.

— Dawn? — ela falou com a voz parecendo bem mais doce do que na hora do seu discurso. — Legal finalmente conhecê-la.

— Você esperava por mim? — perguntei, franzindo a testa.

Elizabeth riu e deu de ombros.

— Ouvi algumas garotas mal dizendo seu nome enquanto saiam do Anfiteatro e quis conhecer a garota "nariz empinado que conseguiu uma Irmandade antes da maioria"— ela falou, fazendo aspas no ar. — Olha. Eu sei que às vezes é difícil confiar nas pessoas, que nosso passado parece nos perseguir e que a qualquer momento nossos maiores segredos serão revelados e que todos nos darão as costas. Mas isso não quer dizer que pode machucar aqueles que só querem te ajudar, Srta. Margott. Se me der licença.

Fiquei parada no lugar, sem mover um músculo olhando chocada as costas da garota que se afastava rapidamente em direção ao grupo de Líderes perto da porta. O que diabos ela quis dizer com aquilo?. Bufei. Aquela Elizabeth Manson definitivamente se acha a última bolacha do pacote. E eu odeio pessoas assim. Balancei a cabeça, lancei um último olhar de raiva para ela e rumei para a Biblioteca.


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Notas finais do capítulo

Ártemis Gordon Bertinnelle: https://lh3.googleusercontent.com/-mA95DWrMiik/VbsqRcJr88I/AAAAAAAACT4/9OTKJGn-USU/w500-h680/tumblr_n9w8l32GqE1r3c2g9o1_500.png

Desenho Ártemis: http://data.whicdn.com/images/165439888/large.jpg

Dawn Austen Margott: http://media2.s-nbcnews.com/j/msnbc/components/video/151109/tdy_klg_park_151109.nbcnews-ux-1080-600.jpg


(*)Sobre o questionário do capítulo: aqueles q são novatos são "obrigados" a responder, mas quem quiser dos demais pode me mandar por MP ^.^

Estou postando esse cap. pq vou viajar e só volto dia 27, então considerem como um presente de Natal adiantado ;)

Qualquer coisa me avisem, obrigada, de nada.
Comentem!

Questionário:
Você prefere dia ou noite?

Você se considera com uma boa memória? Por quê?

Você se adapta facilmente a lugares novos, pessoas, etc.?

Você é alguém independente? Por quê?

Sozinho (a) ou acompanhado (a)?

O que faz você se sentir em casa?

Você gosta de esporte (s)? Qual (is)?

Você é curioso (a)?

Você é bom em escaladas?

Qual dos cinco sentidos é o seu preferido?

Lugares abertos ou fechados?

Você se diria alguém agressivo ou que se irrita facilmente? Por quê?

Predador ou presa?

Qual o seu hobby preferido?

Mandar ou obedecer?

Escolha entre: Raposa-Vermelha, Lobo Cinzento, Urso Negro, Coruja Suindara ou Búfalo. Justifique sua escolha.

Floresta ou montanha?

Estação preferida.

Dentro ou fora?

Introvertido (a) ou extrovertido(a)?

Até.
XOXO,
Tia Mad.