WSU's O Temerário escrita por Lex Luthor, WSU


Capítulo 1
Prólogo




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Arena do Corsário

 

Sentando no banco do corner esquerdo do octógono, Marcos reavaliava os estragos. Havia sido literalmente triturado por Billy “A Máquina” Ruas, no primeiro round. Seu supercílio direito rasgado atrapalhava-lhe a visão, seu nariz, fora do lugar, dificultava a sua respiração e se o seu oponente acertasse um peteleco sequer, aquele ferimento se tornaria um chafariz de sangue.

Mesmo assim, continuava a encarar “A Máquina” do outro lado do octógono. Cenho franzido, olhos fixos. A equipe fazia com que Marcos bebesse água, mas logo ele a cuspia no chão, tingida de sangue. O médico do evento, um jovem adulto, com roupas sociais, luvas e cotonetes, colocou o nariz de Marcos de volta no lugar.

— Filho da puta! — gritou, em meio à dor. — Caralho! — exclamou, enquanto o médico limpava seus ferimentos com os cotonetes.

— Pronto, filho! — disse o médico, olhando para o ferimento. — Seu nariz está do jeito que nasceu agora — Sorriu o médico.

— Tipo, com sangue pra cacete? — indagou Marcos.

Ari, seu técnico e também padrasto, lhe passava as instruções do outro lado da grade:

— Que merda foi essa nesse round, Marcos? Você quer jogar fora todo o nosso trabalho? Dois anos invicto e na hora de correr pro abraço, você me faz passar uma vergonha dessas?

— Ah, claro! — disse Marcos, em tom de desabafo. — “Sem pressão garoto”. — ironizou Marcos, fazendo gestos de aspas com o indicador e o médio de ambas as mãos, como se represasse uma frase de seu técnico. — “É a luta do título, não importa o resultado, você chegou lá entre os melhores”.

— Isso foi antes de você levar uma surra! — esbravejou o técnico. — Escuta, se você quiser sair daqui com aquele cinturão, tem que parar de jogar o jogo dele.

— Ele bate forte — murmurou Marcos, baixando a cabeça.

— Você aguenta. — afirmou Ari, levantando seu queixo e olhando em seus olhos.

Marcos olha com obstinação para o seu técnico.

— Esse cara, ele é só um velho, uma lenda. — Ari falou, fechando o punho e olhando com raiva nos olhos de Marcos. — Sabe o que acontece com lendas? Ficam no passado. 

A ring girl já entrava com a placa de segundo round.

— Agora vai lá, usa o ombro pra proteger esse olho, sai do raio de ação dele — parou, trincou os dentes e disse com intensidade — e derruba esse filho da puta! 

O árbitro chamou os lutadores, que caminharam em guarda um na direção do outro. Eles tocaram suas luvas.

Eufóricos, com o que poderia ser uma das últimas lutas grandes de Billy, os narradores o enalteciam.

Recomeça a luta! — disse o narrador, animado. — O segundo round promete, amigos! Billy “A Máquina” está dando um show na sua décima segunda defesa de título!

Até mesmo o comentarista já considerava certa a vitória de Billy.

Billy está com a guarda bastante alta, é incansável! Tem mais envergadura que o oponente e parece estar no auge de seus 18 anos! Incrível.

Marcos seguiu a instrução de seu técnico e escondeu o olho ensanguentado no ombro.

Parece que Marcos “O Louco” adotou uma postura mais defensiva e está protegendo o supercílio aberto com o ombro — percebeu o comentarista.

Boa estratégia, mas acho que ele não vai precisar usá-la por muito tempo. — O comentarista sorriu ao dizer. — Essa luta já acabou.

Marcos está se aproximando de Billy de forma bastante irresponsável, ele pode pagar por este pecado!

Marcos andou em direção a Billy. Ari, em desespero gritava.

— Sai do raio de ação dele! — berrou o velho técnico. — Sai, Marcos! Viado!

O técnico Ari grita como se não houvesse amanhã, aqui no octógono. Billy tenta o direto de encontro, mas Marcos se esquiva para direita — disse o narrador.

Marcos saiu do ângulo de ação de Billy e pensou consigo mesmo:

 

A guarda dele está alta. Se eu for rápido o bastante para o velho, posso golpeá-lo na linha de cintura.

 

Ele aproximou-se, fingiu um jab, fintou o adversário e desferiu um chute de meia altura na linha de cintura.

Marcos chuta na linha de cintura. — disse o narrador, levando as mãos à cabeça. — Meu Deus! O campeão sentiu o golpe!

Billy tombou de leve para lado de Marcos. Ao notar o campeão afetado com o golpe, Marcos jogou automaticamente um poderoso cruzado de direita no queixo de seu oponente.

Caiu! — gritou o comentarista, impressionado.

Meu Deus, o campeão caiu! Marcos parte para ground and pound! O árbitro os separa.  — disse o narrador, extasiado. — Esplêndido! Marcos “O Louco” é o novo campeão mundial dos pesos-médios!

Como eu disse, essa luta acabou! — analisou o comentarista, com um sorriso amarelo no rosto.

Marcos não tinha noção do que havia feito. A ficha ainda não tinha caído. Ajoelhou-se e levou as mãos ao rosto escondendo o choro. Levantou-se de cabeça erguida e correu tomando impulso para pular a grande. Fora do octógono, foi em direção à primeira câmera que viu.

— Amo vocês, queridas! — disse Marcos, emocionado. — Vanessa, papai é o novo campeão!

Ari, seu técnico correu imediatamente para lhe abraçar.

— Eu sabia, garoto!  — Ari, junto de sua equipe técnica, abraçou Marcos. — Vê se não me assusta mais desse jeito, seu desgraçado!

A torcida gritava o nome de Marcos. A atmosfera naquela arena era impressionante. Quando o árbitro anunciou o resultado, o entrevistador foi até Billy.

— Billy, qual a sua análise da luta?

— Marcos é louco, literalmente. — disse o veterano, sorrindo. — Esse garoto tem um grande futuro. — Coçou a cabeça. — Eu sou só um cão velho. E além do mais, ele está lutando em casa.

— Pensa em aposentadoria, campeão? — perguntou o entrevistador.

— Nos seus sonhos, cara — respondeu rindo ao sair do octógono.

Do outro lado do octógono, Marcos comemorava com sua equipe técnica, abraçado com seu primo Matheus, loiro de corte militar, olhos castanhos claros e roupa oficial do campeonato, com patrocínio da Budweiser.

— Eu tô comemorando mais pela certeza de que a gente vai pra T-Arena, ou pro Caeser’s Palace agora, do que pela vitória em si — disse Matheus.

Em êxtase pela grande vitória, Matheus deu um beijo babado em seu primo. Não muito distante de ambos, um alerta:

— Melhor pararem com a pegação. — ambos escutam a voz arranhada chamar atenção.

Era Gabriel, o filho de Ari e um dos principais membros da comissão técnica de Marcos, o treinador de jiu-jítsu.

— O entrevistador tá vindo aí — continuou o aviso, sorrindo.

O homem grisalho e bem trajado, portando um microfone em uma das mãos e uma ficha técnica noutra, foi até Marcos, o novo dono do cinturão.

— Vamos falar agora com o novo campeão dos pesos-médios, Marcos “O Louco”!

A plateia gritou e aplaudiu.

— Ouviram isso, vadias? Entrevista com o campeão! — comentou Marcos.  

— Sempre bem-humorado, Marcos! — elogiou o entrevistador. — O que vai fazer agora com esse cinturão?

— Cara, agora eu vou pra casa. — respondeu Marcos, aliviado. — Vou pra casa abraçar minha filhinha e dar uma bela trepada com a minha esposa! Amor, te amo!

 

 

 

Duas horas depois

 

Ao chegar em casa, Marcos, com o cinturão dos pesos-médios sob o ombro direito, cantava em voz baixa.

A velha e o velho. Tomando banho de bica. A velha escorregou e o velho desceu-lhe a...

Acendeu a luz da sala e tomou seu fôlego.

— Amor, que susto! — exclamou Marcos. — Achei que... já estivesse dormindo.

Elisa, sua esposa, estava sentada de pernas cruzadas na poltrona da sala.

— Não, Marcos. — respondeu Elisa. — A Vanessa está.

— Esquenta o forno, eu trouxe um cinto — falou, sorridente, tentando desviar-se da vindoura discussão.

— A que preço? Olha o seu estado, Marcos! — sua esposa, estava preocupada. — Eu não ligo pra um cinto, eu me importo com você! Até quando isso vai durar?

— Até ficar tão rico, que Bill Gates vai formatar meu computador quando eu instalar o Baidu sem querer — respondeu o marido.

— Todos nós morremos um pouco a cada dia. — Elisa levantou o tom de voz. — Eu não assisto às suas lutas, nem deixo a Vanessa assisti-las, porque eu nunca aguentaria ver o homem que eu amo morrendo mais rápido a cada vez que sobe naquele octógono!

— Ah, que merda! — esbravejou Marcos, jogando o cinto na poltrona. — Eu dou o melhor de mim para gente ter tudo isso — Abriu os braços, como que mostrando o local. — e mesmo assim você não me deixa em paz?

Elisa apertou os olhos e sorriu ironicamente.

— Eu trocaria tudo isso por uma noite sem ter que te costurar — falou a esposa num tom de tristeza. — Eu não preciso disso, Marcos.

Uma garotinha, cinco anos de idade, de pele alva como a neve, coçava os olhos enquanto descia as escadas agarrada de um gato branco de pelúcia, observando a discussão.

— Papai?  — perguntou sua pequena filha, com uma voz sonolenta.

Marcos carinhosamente chamava sua filha de “papai”.

— Papai! Que bom que acordou! — disse Marcos, enquanto a abraçava. — Eu tava morrendo de saudade!

— Seu nariz tá horrível, pai — percebeu a menina.

Aquela análise fez com que algo descesse pela garganta de Marcos.

— E o médico disse que estava do jeito que nasci! — desviou o assunto, falsamente boquiaberto. — Com certeza não foi ele que fez o meu parto.

Elisa deu um beijo em sua filha, subiu as escadas e foi para o quarto do casal.

Marcos pôs Vanessa para dormir novamente, logo em seguida tomou um banho e depois comeu um pedaço de pizza requentado que sobrara da janta das duas. Por fim, foi para a cama com Elisa.

— Eu queria tanto que você me ouvisse — sussurrou Elisa, melancólica.

— Ei, para. — disse Marcos em seu ouvido, abraçando-a por trás. — Vocês duas são as coisas mais importante desse mundo pra mim. — Seus dedos enrolaram-se nos negros e suaves cachos dos cabelos de sua esposa. — Eu faço isso por vocês, mas só até garantir que a Vanessa vai ter uma vida melhor.

Elisa virou-se e beijou-o.

Marcos interrompeu.

— Já abracei a minha filha, você assistiu à entrevista?

 


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