Um Cãoto escrita por Nathalia Schmitt


Capítulo 7
Capítulo VII




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Decidimos tentar falar com as colônias de gatos, Pipa ficou responsável por encontrar a comida, afinal, de acordo com ela eu não sou muito bom nisso. Mas estou aprendendo muito com ela! E ela conhecia os melhores lixos daquela zona da cidade.

Enquanto isso, eu estava com saudade da minha bolinha. Ok, não só da bolinha, mas dos meus pais também. Era uma saudade diferente da que eu tive da mamãe quando fui pra casa deles, Pipa disse que eu estava preocupado. Preocupado não parece bom.

Estávamos andando há um tempão, o Sol já até estava indo embora de novo. Nunca entendi como funcionava essa coisa, aliás. Pipa explicou que o Sol é o que caracteriza o dia e a Lua caracteriza a noite, mesmo quando não aparecem. Quando perguntei o motivo disso, ela comentou desinteressada que os humanos criam as coisas conforme convém a eles.

Quando finalmente encontramos uma colônia de gatos, muitos fugiram ao nos aproximarmos. Eu lati e corri até eles, animado, mas eles rosnaram e alguns tentaram pular em mim. Pipa chamou minha atenção, disse que gatos de rua não gostavam disso e mandou eu ficar afastado. Eu só queria brincar!

Ela conversou com eles por um tempo, me disse depois que estavam negociando. Não sei o que significa negociando, mas parecia algo importante. Perguntei se ela soube de algo e disseram que uma gata com as características de Luz encontrou um deles pedindo informações sobre a área com maior nível de sequestro de animais. Como acharam esquisito, acabaram lembrando. Era pra lá que iríamos!

Não demorou pra começar a chover. Adoro água! Corri muito e pulei em poças que se formavam, Pipa parecia indiferente à água que cai do céu, mas eu acho magnífico, quer dizer, CAI DO CÉU! Ela disse que era porque as nuvens continham água. Eu nunca suspeitaria, sempre achei que nuvens eram criaturas vivas e não acúmulo voador de água!

Às vezes Pipa ria de mim, parecia menos irritadiça do que nos primeiros dias. Isso era bom, eu gostava de diverti-la.

Decidi perguntar a ela sobre esses sequestros de animais. Ela disse que humanos têm uma ideia distorcida do que é ajuda e, em vez de ajudar somente quem precisa, eles sequestram animais aleatórios na rua, fazem passar por cirurgias e tratamentos muitas vezes sem razão e a maioria nunca volta para suas famílias, colônias ou amigos. Perguntou se era o meu caso e eu não soube dizer, já que era minha primeira vez na rua, então contei que mamãe foi encontrada, mas ela não se importava já que gostava muito da tia. Pipa se sacudiu. “Então sua mãe não era boa em viver nas ruas”, disse, “não precisamos dos humanos pra nada, o que eles jogam fora dá e sobra pra sermos felizes e vivermos bem”. Ela realmente não gostava de pessoas, mas eu não conseguia entender porquê. Respondi que meus pais eram muito bons comigo, Pipa calou. Estávamos chegando.

Eu estava todo molhado. Parecia mais molhado que a Pipa, já que seu pelo era curto. Ela achou melhor seguirmos assim mesmo, já que lá havia um bom lugar pra nos protegermos caso a chuva piorasse. Mas era um dia quente, pra mim estava ótimo assim! Ela disse que eu era muito inconsequente. Nunca ouvi essa palavra antes.

— Inconsequente é bom? — perguntei enquanto rolava em uma poça.

— Você está nos atrasando, loirinho. — ela deu umas investidas como se estivesse brincando, mas era pra eu sair da poça; entendi o recado. Ok. — E não, definitivamente não é nada bom.

Brinquei de pegar as patas dela e respondi que não tem problema se demorarmos. Luz era muito inteligente e graças a Pipa percebi que ela podia lidar facilmente com as ruas. É! Ela devia estar bem!

Quando nos aproximamos de uma praça a chuva apertou e Pipa decidiu que era melhor nos recolhermos. Ela me levou até um beco com muito acúmulo de lixo e papelão. Nos aninhamos e ficamos. Ela não era muito de conversar, reclamava que eu falava muito e que isso deveria ser sequela da minha criação com humanos. Não entendi.

— Então, por que você odeia tanto as pessoas, Pipa? — eu estava mesmo curioso. Não entendi essa revolta toda.

Pipa bocejou.

— É Coisa, se quiser me chamar de algo. — esperei a resposta para a minha pergunta, mas não veio.

— Acho Pipa um nome melhor! Você gosta de bolinha? E crianças? — eu arfava de curiosidade.

Ela se encolheu com a baixa da temperatura, com frio, e não me respondeu. Como sou peludo não senti frio. Um dia disseram pra mamãe que não era pra me levar pra cortar os pelos por causa disso: meu subpelo era uma proteção térmica em dias frios e quentes. Parece que funciona mesmo.

De toda forma, Pipa não queria conversar. Ela devia mesmo estar cansada!


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