Diário de uma Enfermeira escrita por jesy lima


Capítulo 6
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/707928/chapter/6

“É necessária uma certa dose de estupidez para se fazer um bom soldado."  Florence Nightingale 

 

O lamentável é que meu avô não resistiu, ainda guardo com nitidez os nossos últimos momentos juntos, ele estava bastante debilitado, pouco ficava acordado, pouco falava, coincidentemente eu, meu pai e Carlos estávamos no quarto, acho que já sabíamos que o momento chegaria, quando ele abriu os olhos frisou cada um ali naquele quarto, e quando seus olhos recaíram em mim ele apenas sorriu, maneou a cabeça concordando com algo, deu um dos seus famosos sorrisos de lado e fechou os olhos, compreendi sua mensagem, penso que ele me ouviu naquele dia, suspirou pesado e se foi, ali eu também vi que na vida, existe um começo, meio e fim, e tardamos a aceitar, ao chegar a hora partimos sem bagagem sem nada, só com a alma a nós transportar, muitos tem medo de morrer, varias pessoas temem o que espera do outro lado, uns duvidam se existi mesmo outro lado, penso que seja como assistir a um filme, em que cada cena completa a outra até chegarem ao tão costumeiro desfecho, falamos tanto em plagio e o nosso fim é sempre o mesmo. Acredito que meu avô esteja em paz e tive que aceitar a contra gosto que sua historia foi posta o ponto final. Sofri Bocados com a partida dele, nunca estamos preparados para perdemos alguém que amamos, não é de nosso costume estamos preparados pra perder nada na verdade, isso é fato! Embora já soubesse que dificilmente ele resistiria, mas saber que eu não ia velo nunca mais, não ouvir suas histórias malucas da época que ele servil o exercito, sobre a guerra do Paraguai, me deixava entristecida, e me despedaçava-me, é tão ruim saber que essa pessoa não está mais com você, pelo menos fisicamente, já bate aquela saudade descontrolada.

  Passado 3 meses de luto, acho que o primeiro curso que conclui foi de como reconstruir meu coração, porem me obriguei a prosseguir, tinha uma meta, agora eu andaria com minhas próprias pernas, e se tentassem me impedir eu correria, pois só sossegaria quando alcançasse o meu objetivo.  

Falei com Carlos o que eu iria fazer e ele me aconselhou a falar antes com meu pai, não esconder nada dele, mas fraquejei e me acovardei, sem coragem transferir meu curso e comecei a fazer enfermagem escondido, eu tinha medo que ele se decepcionou comigo e não concordasse, não queria entristece-lo, aquele homem já havia sofrido demais, mas o erro da mentira, é que ela nunca perdura para sempre.

  Após um ano na enfermagem, ele descobriu sobre meus planos, não me recordo como, somente de chegar em casa e o encontrar sentado à mesa de jantar, com o semblante blindado em frieza, carregada de decepção, era evidente sua indignação, também ele odiava mentiras, e foi ali que me arrependi de ter feito o certo, mas de modo errado.

  Ele gritou comigo e me disse coisas horríveis, que nunca vou conseguir apagar de minha memoria, tentei contornar, contra-argumento, mas foi em vão, só piorou minha situação, não se enfrenta fogo com fogo, pois a chama só vai alastrar e aumentar ainda mais. Esbravejou que eu não era sua filha, aquilo ardeu no peito, impulsiva como sou subi para o quarto, uma ampla suíte na qual nem pensei se sentiria falta, apenas arrumei minhas coisas, peguei tudo que conseguia levar.

  Desci as escadas e esbarrei com meu pai a caminho da porta de saída.

—Onde você pensa que vai? –Questionou entredentes.

 -Eu vou embora e não a nada que faça para me impedir. –O olhei nos olhos e só vi nevoa e decepção em sua face.  

 -Então vá! –Autorizou me dando passagem.

  Passei por ele sem nem se quer olha-lo.

 -Você é igual a ela! –Acusou se referindo a minha mãe.

  Aquele golpe me atingiu em cheio, o olhei amargurada.

 -Talvez assim como eu ela tenha tido seus motivos para querer está bem longe de você. –Não medi o que disse e sai batendo a porta.          Sai de casa e caminhei com a minha visão turva em lágrimas, nem sei como cheguei à casa de Carlos, quando ele abriu a porta, pensei que ele diria aquele velho “eu te avisei”, mas felizmente me enganei, ele me envolveu em seus braços calorosos, e me acolheu.

  Não voltei mais a falar com meu pai, e pela segunda vez percebi que tinha cometido outro erro, o abandonei, o larguei quando eu tinha que ficar! De cabeça quente a gente não pensa nas consequências, não pensei nele e não barrei o desatino impulso de sair de casa, fui insignificante com o homem que me deu tanto amor, e me criou, ele só pensava está fazendo o melhor para mim, talvez se antes relevasse suas palavras no momento de fúria, que nunca disse besteira na hora da raiva? Eu devia ter deixado às coisas esfriarem, subindo para meu quarto e depois de tudo a gente conversaria, quem sabe ele compreenderia meu lado e nos entenderiamos, mas não! Agi sem pensar e o abandonei.

  Não sabia com que cara voltar, acho que era o medo de sua reação pelo minha impulsividade, acabei por deixar a vida correr e o fluxo me levar.

Mesmo a contragosto de Carlos, arrumei um emprego, queria ajudar com as contas, entrei pra vários grupos de pesquisa na faculdade, e me ocupei com a minha jornada, e a cada dia em que eu conhecia a enfermagem, algo dentro de mim ia sendo preenchido, e transformado, não sentia mais um vazio dentro de mim, só senti crescer com constância a sede pelo saber, comecei a desenvolver projetos de cuidados terapêuticos com música.

  Aprendi a seriedade da responsabilidade que o enfermeiro carrega, a empatia, dedicação, atenção, paciência e consciência de seus atos, e a primordial ética que o guia. Após a graduação atuei de modo imprescindível no PSF, me voltei pra saúde mental, então desenvolvi projetos de plano de cuidados, que foram adotados por diversos enfermeiros, ganhei vários prêmios e quase explodi de felicidade quando pude construir um lar para idosos, na qual fosse prestada toda a assistência necessária e humanizada, me especializei, fiz mestrado e atualmente trabalho em palestras motivacionais como coach. 

  Cuidar e arte de como cuidar se tornou parte de minha vida, a alegria de prestar uma assistência não só rente à doença em si, mas no paciente total, o vendo como humano, sensível, mas ao mesmo instante forte, ponderador de suas escolhas, recebendo uma “Assistência humanizada” era o meu slogan, e minha meta central. Ensinei como era boa à sensação de prestar um atendimento digno, a um desconhecido, e receber em troca aquele sorriso de satisfação e de agradecimentos que não tem preço, são as dozes regradas de êxtase diária do enfermeiro.

  Não só no trabalho, mas minha vida pessoal estava extremamente maravilhosa, casei com Carlos, (isso não é nenhuma novidade) tive dois filhos incríveis, Angelina atualmente com 5 anos e Pedro em homenagem ao meu avô, com oito anos. Eles me ajudam com meus medos, vitórias, meu sucesso, eles são minha base, e posso dizer que sou completamente realizada. Só que falta eu contar uma coisa ainda, uma parte da historia, mas pra isso vamos voltar um pouco no tempo.

  No dia em que eu iria receber meu diploma de graduação, me vesti a caráter com beca e tudo mais, Carlos me levou até o local que seria a cerimônia, ele já trabalhava como psicólogo, e fechou sua clínica que ele tanto se orgulhava de falar pra todo mundo de possuir, só para me prestigiar e me acompanhar.

  Antes de subir ao palco para receber meu diploma, comecei a devagar, queria saber o que meu pai estava fazendo naquele momento, fazia quatro anos que nós não nos falávamos, e eu ainda não me perdoava por ter o deixado, carregava comigo à distância como uma constante dor, e como eu queria que ele esquecesse ou que pelo menos estivesse ali, e comparecesse e assistisse eu receber meu sonhado diploma, ficaria imensamente feliz se o visse ao lado de Carlos e da mãe dele na plateia, mas nem tudo é possível né? É eu sabia que a culpa era minha.

  Olhei meu reflexo na parede de vidro próximo ao palco, suspirei visualizando meu reflexo, uma garota magra pálida cabelos longos negros como a noite, olhos castanhos amendoados, e lábios medianos. –Sofia ferreira de Assis – Meu nome foi anunciado.

 Subi ao palco e enxerguei Carlos e a mãe dele nas primeiras cadeiras, sorrir para eles, fui convidada para ser oradora da turma e após quase uma hora de discurso, quando estava nos agradecimentos notei alguém abrir a porta de entrada nem sei por que eu olhei naquela direção, mas andando a passos lentos e contados vi um homem de meia idade bem vestido, com seu terno devidamente alinhado, cabelos grisalhos e olhos castanhos amendoados vindo em direção ao palco, minha voz começou a falhar, e meus olhos a marejar, fui traída pela emoção, era meu pai, e o último agradecimento que fiz foi a ele.

  As lagrimas dele caiam em cascata, coberto pela emoção, e a seguir veio os aplausos, o que mais desejei foi me aninhar em seus braços pensando em nunca mais sair.

  Foi inacreditávelmente memorável,  pedimos desculpas um ao outro, dotados pelo característico orgulho, vimos que fomos unilaterais, reconhecemos nossos erros, e graças a Deus podemos voltar atrás, e o perdão foi empregado por ambos.

Nunca esquecerei um só momento o que ele me disse aquela noite, perguntei se ele tinha orgulho de mim.

—Filha enquanto Eu viver, e até mesmo depois disso, eu sempre, sempre! Ouviu? Me orgulharei de você, e jamais permitirei que fuja de mim de novo, pois você é minha alma e meu espírito, meu equilíbrio, minha filha, e haja o que houver lhe acompanharei onde você for!

  E assim depois daquelas belíssimas palavras em que todas as noites reviso em meus pensamentos, e revivo em meus sonhos, eu vi que a vida só faz sentido quando arrumamos um sentido pra  vida, e minha família e a enfermagem eram as minhas, o meu sentido!!!

   Fim.....

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Diário de uma Enfermeira" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.