Ele desceu do cavalo ao ver que a menina desviou pela floresta, puxando o animal pelas rédeas vagarosamente a seguiu, ela parou perto de um riacho onde o seu cavalo imediatamente se inclinou para beber da água.

O vento suavemente passou por ela fazendo a mesma cruzar os braços, como se o frio da noite a tocasse gelidamente, ela suspirou.

Alvo cautelosamente se aproximou, olhando atento para o rosto da menina, ela não esboçou nenhuma reação ao vê-lo chegar, parecia totalmente contida.

— O que eu devo fazer? – Alvo murmurou elevando a sua visão para o riacho onde os dois cavalos dividiam espaço.

As estrelas despontavam no céu tão brilhantes quanto em outras noites.

— O quê? – Ela perguntou confusa.

Aurora encarou o menino com o cenho franzido, ele agradeceu os céus por ter chamado sua atenção.

— Pra conseguir alguns minutos com você? – Ele disse em tom sarcástico e ela riu fracamente

— O que você tem pra me falar? Eu ando muito ocupada protegendo o Rei – Ela respondeu no mesmo tom brincalhona

— Que eu quero passar mais tempo com você – Ele murmurou baixinho, mas alto o suficiente para que ela o ouvisse.

Alvo voltou os seus olhos para ela, a jovem estava levemente corada o que o fez querer sorrir, se contentando apenas em a encarar seriamente.

— Se você começar a andar comigo, pode passar mais tempo comigo... – Ela começou desconcertada

— Nossas rondas são em horários muito diferentes – Alvo comentou suspirando – E você entendeu o que eu quis dizer – Ergueu uma sobrancelha

— Alvo, eu não tenho tempo para isso e...

— E você acha que eu tenho? – Ele interrompeu, respirou fundo antes que pudesse se arrepender do que diria em seguida – Não nos impede de ficarmos juntos.

Aurora automaticamente desviou o olhar corando violentamente

— Juntos?

— Sim

— Juntos como?

— Como um casal.

Agora ate mesmo Alvo olhara pro outro lado, acompanhando o seu olhar, ela olhava como sempre para as estrelas, nenhuma novidade, seus olhos estavam no céu.

— Você... Tem certeza disso? – Ela sussurrou comprimindo os lábios.

Alvo pensou em responder, porém no mesmo momento teve uma ideia melhor.

Com delicadeza e sem pestanejar ele segurou o rosto da menina com as duas mãos, atraindo toda a atenção dela para si, notando que a menina não recuou em nenhum momento ele deu um passo a frente se aproximando ainda mais, como se previsse os segundos seguintes Aurora fechou os olhos, ele entendeu o recado e tomou os seus lábios em um beijo doce.

Aurora se encontrando em uma posição vulnerável o deixou a tocar de forma tão profunda e abriu espaço para que ele pudesse entrar na sua vida, sem pressa, em um ritmo que os dois pudessem levar, ela podia lidar com aquilo, apesar de a muitos anos não enfrentar relacionamentos ela estava disposta a correr o risco, decidiu consigo mesma, ali, do lado do riacho sobre a luz das estrelas, que se permitiria dessa vez.

[...]

A comitiva do Rei passava vagarosamente pelos vilarejos, Lucy não sabia que existiam tantas pessoas naquele Reino em pontos tão distantes.

Dos primeiros raios de sol as crianças saíram correndo a frente dos cavalos, os pequenos dominadores do fogo pareciam mais empolgados do que nunca, afinal alguém tinha exclamado que eles estavam muito próximos.

Ela não via Alvo desde a metade da noite, quando ele desviara do caminho e provavelmente ficara mais atrás. Rose permanecia intacta, dentro da carruagem onde Dominique e Lily não tiravam seus olhos dela, como se a menina pudesse acordar a qualquer momento, todos desejavam isso de acordo como os minutos passavam.

E lá estava ele, imponente a frente de seus soldados, se estava cansado ele não deixaria aquilo transparecer, apesar das olheiras carregadas em seu olhar, parecia imbatível em cima de seu cavalo branco, como o Príncipe que nascera para ser... Mais uma vez aquilo martelou na cabeça dela, “Príncipe”, já deveria ter superado isso a algum tempo atrás, ela sabia, não podia carregar aquela culpa para sempre, por não se sentir suficiente para a realeza.

Lucy tentara de todas as formas afastar aquele pensamento, a única resposta que ela tinha receio em aceitar seria aceitar o papel na realeza, não iria saber se não tentasse, mas olhando de esguelha para Rowan, percebia que ele tinha uma postura de nascença, da qual ela não sustentaria por muito tempo.

Foi roubada da sua distração quando ouviu as crianças começarem a gritar histericamente, gritos de alegria, eles tinham avistado o vulcão, depois de quase uma noite inteira na estrada era um alívio finalmente chegar no tal vulcão.

Tal vulcão no qual ela pôs seus olhos assim que dobrara na estrada, no galopar fraco de seu cavalo ela o avistou, imenso e amedrontador, uma fumaça saia de seu topo que não devia estar tão longe assim, parecia tocar o céu em fúria, a explosão já passara aquelas alturas, a lava não transbordava mais de sua boca, ela estava lá dentro, só então Lucy temeu, o vulcão estava aquecido em seu interior esperando por Rose.

— Lucy? – A voz a trouxe seus olhos de volta ao seu redor encontrando os olhos de Alvo e em seguida de Aurora

— Alvo! – Ela murmurou piscando – Achei que tinha se perdido no caminho.

Os dois riram em uníssono

— Aurora conhece tudo com a palma da mão – Ele comentou olhando para a mulher que retribuiu com um sorriso.

Lucy notara no momento em que ela sorriu doce, os olhos deles brilhavam e estavam um tanto corados, eles estavam juntos.

Antes que pudessem continuar a conversa Rowan exclamou a frente de todos.

— Estamos quase lá! – Ele lançou um olhar de esguelha para trás e logo voltou a olhar para o caminho, estava concentrado em chegar ao topo do vulcão.

Não era apenas uma comitiva para que o mesmo pudesse ascender bebendo do vulcão, era a corrida pela vida, da qual estava escorrendo por entre seus dedos.

— Eu vou acompanha-lo, fique de olho em Rose, tudo bem? – Alvo disse ajustando a postura e erguendo o queixo, não esperou a resposta da prima e saiu a frente deixando a mesma com uma Aurora desconfiada

— O quê? – Lucy perguntou observando a menina.

— Eu que deveria estar acompanhando Rowan – Ela falou em tom de deboche.

As duas se encararam em seguida e desataram a rir.

***

Nada lhe partira mais o seu coração do que ver Rose sendo carregada, o vento batia em seus rosto com certa violência daquele ponto, vinha do mar trazendo o cheiro salgado por todo o ambiente, se contraia apenas ao cheiro de fumaça, que o vulcão exalava.

As crianças tinham corrido logo para umas das pequenas rachaduras do vulcão. Uma anciã as ajudava a repetir as palavras como um mantra, elas repetiam empolgadamente, uma por uma.

A cena mais impressionante fora ver eles virando o recipiente de lava, eles engoliam com muita sede, como se aquilo fosse um milk shake ao seu paladar, e então seus pequenos corpos entravam em combustão, eles ferviam, a lava fazia exatamente aquilo que ela pensara que faria, ela invadia sua via sanguínea, as veias saltavam em seus bracinhos e pernas, reluzente, percorria todo o corpo até encerrar seu brilho, depois disso eles abriam os olhinhos e as suas íris continham fleches vermelhos, como pequenas gotas de fogo, que acendiam de acordo como seus pequenos olhos brilhavam.

Depois de ver aquele espetáculo acontecer fora a vez dos adultos, esses pareciam mais assustados do que as crianças, o processo todo iria ocorrer com os mesmos.

Lucy voltou a olhar para Rowan, ele tinha escolhido ser o último, logo após Rose, aquilo deixava uma brecha enorme na fila, Rose precisava sobreviver.

A ruiva dormia serenamente nos braços de Alvo, parecia confortável, Lily ao lado carregava um cobertor que cobrira a menina durante toda a viagem e Dominique pendia para um lado e para o outro ansiosa, Scorpius tinha vindo mais atrás ajudando os mais velhos na viagem, que já não eram tão rápidos pela sua idade avançada, mas que não morreriam sem ascender como seus antepassados fizeram.

Depois de algumas conversas com pessoas da cozinha Lucy descobrira que ao ascender eles tomavam o todo de seu poder e aprendiam a controlar o mesmo, na época as mães faziam questão que seus filhos ascendessem ainda bebês, para crescer sendo ensinados pelos próprios pais. Não eram todos os dominadores de fogo que ascendiam, porém eles usavam apenas um terço de seus poderes.

Quanto mais a hora passava, mais aquilo remexia dentro de si, desconfortável e ansiosa com a situação.

Quando o último dominador de fogo que devia ter aproximadamente 100 anos tomou a sua sentença, ela pensou em desistir daquela ideia maluca, virara para todos os lados procurando ajuda, contudo tudo que vira foi Alvo entregando a frágil Rose nos braços de Rowan, claro, Alvo não podia chegar tão perto do vulcão.

Rowan caminhou vagarosamente até a borda da entrada do vulcão, ela podia jurar que ele estava contando os próprios passos pela demora, aquela cena passava em câmera lenta em frente aos seus olhos.

Mal percebera que os primos tinham se juntando ali, Alvo, Dominique e Lily pegaram nas mãos um dos outros, ela se aproximou repetindo o gesto e logo Scorpius se juntou na outra ponta. Eles seguravam firmemente uns nos outros.

Rowan se ajoelhou ali, depositou um beijo na testa da menina ruiva, a observou por alguns segundos.

— Por favor, sobreviva – Ele sussurrou esticando seus braços.

Ela estava tão leve que não pesara, com certa relutância ele a deixou escorregar por entre os braços.

Os segundos passaram em câmera lenta quando Rose deslizou do abraço e caíra diretamente dentro do vulcão, a lava crepitou e a engoliu, como se estivesse faminta por aquilo.

Rowan se levantou olhando para baixo, mas antes que pudesse ver qualquer coisa o barulho do mar se fez presente a suas costas, ele girou no calcanhar para ver por último o que todos já estavam encarando, o mar se erguia em um pilar sólido e respingava nas pessoas ali a água salgada, com as roupas molhadas e o peito subindo e descendo rapidamente, em cima, simplesmente correndo sobre as águas se encontrava um James ofegante.

O que pareceu ser uma ponte de pedras começou a se erguer até a terra firme, ele estava fazendo tudo sozinho, Rowan pensou.

Todos já estavam prendendo a respiração no momento em que a Weasley foi jogada no vulcão e pareceram perde-la de vez quando o menino caminhou ate eles, com passos apressados, ele parou ao lado de Lucy e pegou em sua mão também, como os outros.

Eles se entreolharam mas não trocaram uma palavra se quer, tornaram seus olhos para o vulcão, determinados.

Rowan estava perplexo diante da cena e só se moveu quando ouvira a lava crepitar de novo, ele observou algo começar a emergir, sem pressa, o vulcão a colocava para fora como se arrancassem o seu próprio coração.

Deslumbrante e em chamas ela se ergueu, Rowan vira algo parecido no castelo quando a menina surtou.

Os seus olhos pegavam fogo e o seu cabelo reluzia vermelho como lava, ela não tinha aquilo correndo apenas por suas veias, aquilo a consumira, seu corpo inteiro flamejava.

Faíscas caiam de seus dedos. Ao invés de subir dali o vulcão a acompanhou, a lava subiu de acordo com a ruiva, chegando a transbordar em alguns pontos, até que ela estivesse em pé, visível a todos os olhos.

Ela estava mais viva que nunca, saiu de dentro do vulcão em alguns poucos passos largos.

Passou do lado de Rowan rapidamente, o Príncipe nem ousou a encarar ao ver seus olhos pegando fogo.

Rose somente parou em frente a fileirinha dos seus familiares, especificamente em frente a James, ela saíra do vulcão focada nele, porém lembrara que ela o machucaria se o tocasse daquela forma.

Os seus olhos se encontraram e ele entendeu o recado, não podiam se tocar. Rose fechou os olhos com força, tentando acalmar aquilo dentro de si, James balançou a cabeça achando aquilo inaceitável.

Os outros seguraram os gritos na garganta quando ele deu um passo em direção a ruiva. Tão próximo que a sentia tão quente que só estando perto podia se queimar.

Vendo a jovem ali, ele parou para pensar no seu coração disparado, que decidira atravessar todo o litoral pelo mar só para impedir que a matassem, de como passara todos os dias no seu mundo pensando em mil maneiras de voltar, voltar para aquilo, para ela.

Ele não deixaria que fosse impedido agora a poucos centímetros de distância, lutando dentro de si ele ergueu as mãos, que permaneceram no ar alguns segundos, ele estava decidindo, então, como um impulso de adrenalina ele encostou a mão no rosto da ruiva, ela abriu os olhos rapidamente assustada e em um ato de desespero tentou se soltar daquilo, ele permaneceu firme segurando em seu rosto, por incrível que pareça a sua mão não queimava, tão pouco reduzia as chamas dela.

Rose prendeu a respiração e assim que percebera que era seguro se aproximou ainda mais, chocando os seus corpos em um choque térmico, ela não pensou muito enquanto segurava o pulso do rapaz e subia na ponta dos pés.

James trouxe seu rosto para mais perto e enfim a beijou, tentando transmitir tudo que sentia, fora um beijo desesperado e que transbordava sentimentos. Os dois estavam a flor da pele, fazendo o chão debaixo de seus pés sumir, o vento parar e o mar se acalmar, eles desejaram que aquele momento durasse para sempre.