A Solitária escrita por Gi47


Capítulo 3
Pode ficar com seus sonhos, mas jamais ficará comigo




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Richard Doyle- ponto de vista.

Eu voltava para minha casa, seguindo o caminho que sempre costumava seguir para voltar, as pessoas que eu pensava conhecer, olhavam-me com admiração, um pouco de decepção, e outras partes um pouco das duas emoções.

As pessoas do meu bairro jamais observaram-me dessa maneira, era como se eu fosse um estranho para aquelas minúsculas criaturas de cérebro pequenos.

Sempre via a minha estadia nesse bairro como algo passageiro, sempre quis me livrar desses preconceituosos que ali moravam, eles sempre me odiaram, jamais algumas pessoas teriam me olhado com orgulho.

Então, eu pensei muito no que teria feito para essas pessoas terem decepções mais que o normal e admirações desnecessárias. Não havia salvado ninguém de ser atropelado, não havia criado nenhuma polemica recentemente, eu apenas estava vivendo um dia de cada vez, com minha família e meu namorado.

Pensando em namorado pensei em outra pessoa importante para mim, ou pelo menos foi um dia: Roxanne Blaine, eu tinha   terminado completamente minha amizade com ela, ela havia se apaixonado por mim, e queria de todo o jeito acabar com meu relacionamento, ela tinha me traído. Ela queria a mim, e tinha feito de tudo para isso, e o pior é que não conseguiu.

Será que foi o meu término de amizade com Roxy, que fez as pessoas do Bronx, meu bairro, dividirem opiniões sobre mim? Porque a infelicidade de uma pessoa tão boa como ela seria admirada? Bom, eu deveria ter recebido apenas a decepção deles, então vi-me ao lado das pessoas que repudiavam minha atitude.

Eu dei uma pausa em meus devaneios quando enfim cheguei em casa, abri a porta, vi meus pais jantando, ouvi meu pai perguntar o que estaria acontecendo comigo, por eu estar com cara de poucos amigos? E em resposta sentei-me na primeira cadeira que vi perto da mesa, coloquei meus cotovelos na mesa, e minhas mãos cobriam meus olhos.

— Filho, você está bem? - Minha mãe, suavemente pois sua mão em um dos meus cotovelos, preocupada comigo.

Rapidamente me recompus, tirando minhas mãos do rosto e colocando-as agressivamente na mesa, melhorei minha postura, e finalmente abri a boca para responder:

— Eu fiz uma coisa, eu não sei, se.… deveria ter feito, ou não...

— Explique direito, Richard, não fale em pausas. - Minha mãe se irritando com o meu jeito de falar, mas ao mesmo tempo, incentivando meu relato.

— Susan, deixe o garoto, ele fala as coisas lentamente dessa maneira, porque tem medo de nossa reação, não é, filho pode dizer, a gente aguenta. - E o que meu pai, Henry, tinha razão, eu realmente tinha medo da aprovação ou da desaprovação deles, e mesmo que minha mãe tentasse me incentivar a continuar, eu sabia que poderia surpreende-los muito.

Porém tomei coragem, e finalmente contei tudo que atormentava: 

— Eu terminei minha amizade com a Roxanne porque ela queria terminar meu relacionamento com o Alexander, e agora, todos que conheço nesse lugar, nesse bairro, me olham estranho... eu não sei o que fazer? Eu... fiz certo...? Fiz ... errado?  - Meus pais soltaram seus talheres, e pensaram muito antes de responderem:

— Eu não posso dar minha opinião, sem saber o que realmente aconteceu, filho, lembra-se como foi esse dia que terminou tudo? - Minha mãe, começou. Querendo aparentemente saber de cada pensamento no dia, e meu pai apenas escuta tudo com silêncio.

Eu puxei em minha memória, e disse como foi, cada detalhe daquele último encontro com minha amiga e meu namorado:

 Começo do Flashback:

O trio estava reunido novamente, num desses dias maravilhosos, em que encontrava as duas pessoas mais importantes, além de meus pais, na minha vida.  Roxanne Blaine e Alexander Bane. Respectivamente minha amiga e meu namorado.

Nós ficamos numa sorveteria, não era a melhor da cidade, muito menos de nossos respectivos bairros, mas era aconchegante e os sorvetes eram maravilhosos.  Sentávamos na mesma mesa sempre, em frente à janela perto da porta, eu e Alex, sentamos lado a lado, enquanto Roxy, sentava na nossa frente.

Pedimos então nossos sorvetes, eu havia pedido o gelatto de morango, Alex tinha pedido o doce gelado sabor de café, e Roxanne Blaine, pediu seu famoso sorvete de abacaxi, ela sempre pedia de abacaxi.

Assim, enquanto comíamos a massa deliciosa de vários sabores, um pedaço de sorvete sabor abacaxi propositalmente caia na minha calça. E com isso, ela foi limpar, com pano que ela pediu para o balcão, e esfregava, claro tirando uma casquinha de mim.

Alex aparentemente aguentou por muito tempo, ver a amiga de seu namorado, esfregando a perna do seu namorado. Então, enquanto ela fazia isso, eu abaixei um pouco a cabeça, para visualizar a situação, e Roxy, aproveitou e deu um selinho, eu afastei-me rapidamente, e vi o rosto transtornado de Alex. Antes dele sair da sorveteria.

Eu fui atrás. No meio da calçada e na frente do estabelecimento. E começamos a discutir. Eu o puxei pelo braço, segurando seus braços e dizendo:

— Você não confia em mim? - Comecei com uma pergunta pertinente

— Não é uma questão de confiança, Richard, todas as pessoas da sorveteria viram, ela esfregando suas pernas e depois dando um ... beijo em você. - Disse o loiro tirando as minhas mãos irritadamente de seus ombros, e segurando meus braços com uma força descomunal.

E eu sentindo muita dor, mas não querendo fazer ele parar de me tocar. Não que eu era masoquista, apenas fiz muitos erros, e não queria cometer mais um. Não sabia explicar, porém continuei:

— Um beijo? Mas foi um selinho apenas, e.… não ... significou nada. Completamente, absolutamente nada. – Ele soltou meus braços, e colocou as duas mãos no meu rosto.

— As pessoas sempre dizem isso...Richard, pare de ser amigo dela, não está vendo que ela quer ficar com você a qualquer custo?  Pare de ser amiga dela.

— É claro que estou vendo isso, não sou idiota, bom, se eu terminar minha amizade com ela, você vai confiar mais em mim, então... eu faço isso.

Ele retirou as mãos do meu rosto e pegou minha mão, encorajando-me a fazer o termino de amizade:

— Vai lá, então, estarei aqui por você, sempre estarei aqui... eu sei que cresceram juntos, que ela significa uma irmã para você. Mas não posso continuar namorando você com ela por perto... mesmo confiando em você...- ele abraçou-me. Um abraço forte, e continuou: - eu não quero perde-lo. Amo você.

— Também amo você...- eu disse separando-me do abraço, e indo conversar com ela.   

Cheguei na mesa que estávamos, e ela recebeu-me novamente com um abraço, eu deixava ela abraçar-me, mas fiquei parado, não queria corresponder o abraço. Ela percebeu e solto-me, sussurrando um:

— Desculpe, Richard por tudo... eu não queria.... Beija-lo.   Mas ...

— Roxanne... você desde que eu e Alex começamos a namorar, queria que terminávamos o relacionamento para ficar comigo...não é?

— Como, como descobriu? - Ela sentou-se na cadeira em que estava antes, parecia desolada. Fiz o mesmo. Incrédulo:

—  acha que sou o que? Um idiota? Bom... eu percebi, e não foi de hoje, Roxanne, eu confiei em você, e o que você faz? Me trai. Como pôde apaixonar-se por mim... sabe o que sou?  Homossexual, mesmo que eu quisesse, jamais lhe trocaria pelo Alex, está me ouvindo? Jamais.

— Richard, eu sei que o eu fiz foi errado..., mas não fale assim... eu

— Lembra de nossas brincadeiras? De nossa infância? De nossos sonhos? Bom, estou lhe dando tudo novamente para você, apenas para você, então... pode ficar com seus sonhos, mas jamais ficará comigo.   – Levantei-me, encontrei-me com o Alex novamente e fui embora, não querendo ver o rosto da minha amiga triste. Não querendo olhar para trás, e ver que tinha cometido um erro. Não querendo ficar na incerteza de ter feito o certo ou errado.

Fim do Flashback.

Quando terminei meu relato, vi ambos, Susan e Henry Doyle, meus pais, olhando-me da mesma maneira que as pessoas do meu bairro olharam, minha mãe com decepção e meu pai com admiração.

— Acho que fez a coisa certa, filho, escutou o homem que ama, deixou a garota desapontada.

Minha mãe ia dizer sua opinião, mas a campainha tocou, e ela foi atender, e Alexander estava na porta, a mãe pediu que ele entrasse, e fomos no meu quarto.

Chegando lá eu fechei a porta, e o beijei, um beijo de comprimento, um beijo de saudade, um beijo de carinho.

Nos separamos e sentamos na cama, o loiro perguntou:

— do que estavam falando?

— do dia em que pediu-me para terminar minha amizade com Roxanne, há alguns meses.

— tem contato com ela?

— Não, depois daquele dia jamais a vi- levantei-me da cama e dirigi-me em direção da janela, apoiando-me na mesma.

— Sente alguma coisa... por ela...? - Virei-me para ele, e o segurei pela gola de sua camisa. Respondendo sua pergunta, tentando controlar-me:

— Acha que sinto alguma coisa por ela depois de tudo que fiz por você? Não, Alexander não sinto nada por ela, jamais sentirei. – Soltei calmamente sua camisa, coloquei gentilmente minhas mãos em seu ombro.

— Arrepende-se do que fez?

— Não, absolutamente não- respondi o beijando.

Caímos ambos em cima da cama, nos beijando e nos abraçando, e naquele momento eu pude perceber, que Roxanne jamais poderia interromper isso.

E eu não havia me arrependido do que fiz, Roxanne Blaine, tornou-se apenas uma página rasgada da história que estou escrevendo.   


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