Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 23
Capítulo 22




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Elora e Tauriel demoraram-se a descer, ficaram paradas nos degraus das escadas conversando pelo que pareceram horas. Tauriel lhe atualizava sobre os ataques dos Orcs nos últimos meses, além das queimadas eles passaram a desmatar grandes áreas próximas a Dol Guldur. Infelizmente as rondas podiam apenas evitar que as chamas se aproximassem de seu território, qualquer um que chegasse mais perto correria o risco de não voltar mais... mesmo os elfos mais bem treinados sucumbiram no território. 

Dois grupos enviados há três dias para observação não voltaram e Tauriel duvidava que retornassem. 

Enviaram rastreadores atrás deles, mas não havia nada a ser seguido. Foi como se tivessem desaparecido no ar. A capitã teve que avisar as  famílias na noite passada e a lembrança das lágrimas deles ainda estavam frescas em sua memória.

 - Fico feliz que esteja aqui Elora, por mais que haja uma batalha a frente, hoje isso já é motivo suficiente para sorrir um pouco. 

Elora devolveu o sorriso triste da elfa. 

— Gostaria que tivessem me avisado. - Elora cruzou os braços no peito e recostou-se na parede de pedra. Tauriel estava a sua frente, apoiada no corrimão das escadas. - Eu poderia ter vindo e ajudado. - 

Elora duvidou do que disse. Não tinha mais controle dos seus poderes, como poderia ter ajudado? Mas uma voz no fundo de sua mente disse que não. Que mesmo sem eles, a menina ainda tinha valor. Ainda tinha suas habilidades, treinara com afinco para isso. 

Ficou grata pela voz, mesmo que fosse bem fraca ela ainda estava lá.

— Não duvido da sua lealdade conosco e tenho certeza que teria vindo se a chamássemos, mas... eu vi como Aran Thranduil voltou de Rivendell. Não acho que teria sido bom para nenhum dos dois. 

A menina ficou sem fala, se controlou para não engasgar com a própria saliva. Tauriel sabia?

— As coisas mudaram um pouco por aqui desde então. - Tauriel a olhava com empatia. - Os portões foram fechados e ele ficou ainda mais recluso. Todos ficamos preocupados, - Elora desviou o olhar para seus pés. - mas a reclusão diminuiu um pouco depois da visita de Légolas.

— Légolas esteve aqui? - Elora levantou a cabeça e Tauriel assentiu. - Estel estava com ele?

Havia meses que não via o primo. E desde que ele partira, enviara apenas uma carta.

— Não, ele veio sozinho. Um dos nossos mensageiros ouviu que os dois foram vistos próximos a Celdwin e sua majestade pediu para que o trouxéssemos aqui. Antes que pergunte, não, não sei sobre o que foi falado. Apenas que Légolas saiu pouco tempo depois e estava visivelmente abalado. Não falou com ninguém, apenas montou em seu cavalo e partiu.

Elora franziu o cenho. Teria ela algo a ver com aquilo? 

Gostava muito de Légolas, era um de seus amigos mais próximos, não queria que se ressentisse dela por qualquer que seja o nome da relação estranha que ela tem com Thranduil. Desejava muito menos colocar-se entre ele e seu pai. 

— Vai me contar então? - Tauriel perguntou.

— Contar o que?

— Sobre Rivendell. - Tauriel jogou os cabelos por cima do ombro.

A menina olhou para os lados, mordendo o lábio inferior. Não havia ninguém andando por perto, já era bem tarde e as rondas dentro do palácio eram bem esporádicas. Olhou para Tauriel novamente, há tanto tempo queria ter alguém para conversar sobre isso. Confidenciar tudo o que se passava em seu coração e lhe dar conselhos. 

Confiava em Tauriel com sua própria vida, certamente era a melhor escolha e ela definitivamente era mais racional que Emel. 

— Eu e Emel tínhamos nossas desconfianças, sabe. - A elfa continuou, mas falava baixo. - Você trouxe vida para este palácio. Para Aran Thranduil também. Sei como é ter... sentimentos por quem não deveríamos. - Tauriel mudou o peso do corpo para o outro pé. - Mas não podemos mandar em nossos corações.

— De fato não podemos. - Elora murmurou. - Eu tentei Tauriel... Juro pelos deuses que eu tentei me afastar mas, eu o amo. - Elora sentiu um peso enorme ser retirado do peito e seus olhos marejarem. Limpou-os com raiva com a manga da blusa. Já estava cansada de chorar. - Acho que desde que eu vim pela primeira vez. Quando tive que partir senti um aperto no peito, doía de uma forma que eu não conseguia entender e eu fiquei assustada. Não sabia o que fazer pra tirar isso de mim, então eu enterrei o máximo que pude mas tudo continuava voltando a tona e cada vez mais forte. Não precisavam nem mencioná-lo por nome, apenas a alusão da floresta já fazia com que eu me quebrasse. 

Tauriel aproximou-se e a puxou para um abraço. 

— Gostaria que tivesse me dito antes, eu poderia ter ajudado. Não precisaria passar por isso sozinha. - A elfa afastou-se, acariciando de leve a cabeça da menina como uma irmã mais velha faria. - Eu não a julgaria, sabe disso não é?

Elora assentiu. 

— Quase te contei uma vez, mas... dizer em voz alta parecia que ia concretizar tudo e daí não teria mais volta. Enquanto isso estivesse apenas na minha cabeça eu poderia mentir pra mim mesma e dizer que tudo era só um exagero.

— Conheço o sentimento. 

— Antes de partirmos para Rivendell, nós brigamos. Ele me ouviu conversar com Emel, sobre minha resistência em escolher a imortalidade. Depois disso passou a me ignorar, mas eu também estava com muita raiva. - Elora bufou, relembrando-se. - Mas conversamos e resolvemos nossas diferenças antes do casamento. - Sentiu as bochechas corarem e continuou sem olhá-la nos olhos. - Eu sabia que nada de bom poderia vir disso mas... eu o vi sozinho depois da festa e me aproximei.  Nós, bem... dançamos e, hnm... nos beijamos. 

Tauriel arregalou os olhos de tal maneira que se Elora não estivesse extremamente desestabilizada pela vergonha de dizer isso para elfa em voz alta, teria rido horrores. Talvez o faça no futuro.

Elora tinha absoluta certeza que todo o seu rosto estava pegando fogo.

— Não me olhe assim! Nós dançamos e nos beijamos, podemos passar dessa parte? - Elora cruzou os braços.

A elfa pareceu se recompor um pouco e assentiu, ainda um pouco escandalizada. Fosse pela dança ou pelo beijo em si, Elora não sabia.

— Ele pediu que eu voltasse para cá, mas eu disse que não. Por mais que eu quisesse dizer sim, eu o neguei. E... isso acabou comigo. - Elora olhou fundo nos olhos da elfa. - Me ajude Tauriel, eu não sei mais o que fazer. Eu o amo, não consigo mais tirá-lo de mim. Desde aquele dia eu não consigo mais usar meus poderes, tudo o que eu toco morre. É horrível. E eu não posso vir pra cá por que ele já tem um amor, mesmo que ela esteja morta. É triste saber que ele nunca vai me amar como eu o amo, mas as vezes eu me pego pensando 'mesmo que ele me ame só um pouquinho, não seria o suficiente?', então eu tenho raiva de mim mesma porque eu não deveria me contentar com isso. Eu o quero inteiro. Só pra mim. E então eu me acho uma pessoa terrível. Sou horrível, não sou? 

Elora sentiu mais lágrimas rolarem pelas bochechas. Tauriel ouviu-a em silêncio, limpando seu rosto em seguida com as pontas dos dedos. 

— Você não é uma má pessoa, Elora. 

— O que eu faço então? - A menina perguntou. - O que vai acontecer?

— Eu não sei. Mas posso te garantir que não importa o que esteja à nossa frente, eu estarei ao seu lado. 

A menina assentiu. Sentia-se um pouco melhor e segura agora.

— Obrigada Tauriel, por tudo. 

A elfa sorriu e Elora abraçou-a novamente. 

— Não consegue mesmo usar seus poderes? - Tauriel perguntou ao se separarem e Elora negou com a cabeça. 

— É pior com a flora... ainda consigo entender e me comunicar com os animais. Mas não se preocupe, vou achar um jeito de contornar isso tudo. Vou ficar bem, eu apenas precisava desabafar. - A menina limpou o rosto com as mãos. - É melhor irmos, já estamos bem atrasadas. 

Tauriel assentiu, sem saber muito bem o que dizer. Não era muito boa em consolar outras pessoas, sempre fora como Elora. Preferia passar por seus problemas e superá-los sozinha, ela sabia que não era a coisa mais saudável a se fazer e, desde a chegada da menina, estava aprendendo a se abrir um pouco mais.

Pararam pelo caminho para Elora lavar o rosto e se recompor um pouco antes de prosseguirem para a reunião. 

Chegaram silenciosamente na sala adornada com altas árvores frondosas pintadas em suas paredes. A grande lareira aquecia bem o local. Elora se sentiu melhor quando o calor do fogo chegou até ela. Thranduil estava sentado ouvindo o mago com concentração mas teve seu olhar atraído para a porta quando a menina entrou. Herenvar e o outro elfo estavam parados próximos às paredes, observavam o decorrer da conversa em silêncio.

— Com o resto acertado, talvez seja melhor enviar Elora para Lothlórien, - Gandalf dizia. Elora fez uma careta. - Mirkwood está mais exposta do que a Floresta Dourada. Galadriel a manterá em segurança. 

— Agradeço a preocupação, mas eu vou ficar e ajudar. - Elora disse em tom de finalidade, atraindo sua atenção. Entrou na sala acompanhada de Tauriel e postou-se ao lado do mago. Tauriel foi até a mesa e serviu duas taças, entregando uma a menina. 

Elora a agradeceu com a cabeça, depois de todos os acontecimentos desta noite, e os que estavam por vir, tinha certeza que precisaria de mais algumas. 

Gandalf virou-se para Thranduil na esperança de que o rei concordasse com seu plano e colocasse um pouco de juízo na menina, mas ele limitou-se a encolher os ombros.

— Se ela deseja ficar, não serei eu a manda-la partir. - Disse.

Elora sentiu o coração dar um pulo e sorriu de leve, escondida pela borda da taça. 

O mago jogou as mãos para o céu e voltou a murmurar entre as respirações. 

— A decisão é minha, Mithrandir. - Ela disse. 

— Pois bem. - Gandalf ainda tinha os lábios franzidos mas concordou por fim. 

— Tauriel, - Thranduil a chamou. - Avise a todos. As guarnições devem estar armadas e a postos até a noite de amanhã. Redobre as rondas e patrulhas nas proximidades e envie grupos para as bordas, quero ter olhos e ouvidos em todas as fronteiras. Escolha vinte dos seus melhores soldados, diga-os para estarem a postos aqui pela manhã. Lortar, - Redirecionou o olhar ao elfo em questão. - Precisamos do inventário de suprimentos, confira também com Laimiel. Herenvar, quero que cada elfo não combatente da minha corte esteja ciente da situação e a postos para movimentação imediata para o palácio se comandados.

Os elfos saíram apressados após uma breve reverência. 

Elora andou até a lareira, ficou observando as chamas enquanto pensava qual seria o próximo passo do inimigo. Se fosse ela, o que faria? O que atingiria primeiro? 

Gandalf e Thranduil voltaram a falar, mas ela não prestou atenção. 

Certamente enviariam reforços de Dol Guldur, era a posição mais próxima que eles tinham acesso ilimitado. 

— Deveria dormir. Está cansada. 

A voz próxima de Thranduil a trouxe de volta a sala. Ele estava parado ao seu lado e ao notar o silêncio que os envolvia percebeu que Gandalf também havia saído. 

— O mago já se retirou para seus aposentos. 

Elora assentiu.

— Não estou com sono. - Disse, sorvendo mais um gole de sua taça.  

Sentia calma dentro si, o ambiente familiar ajudava a controlar sua ansiedade. 

Lhe era, talvez, familiar demais. Porque desde que entrara nesta jornada todos os caminhos que trilhava sempre acabavam em Mirkwood? Suspirou, olhando ao redor e recostando-se na pedra aquecida da lareira. 

— Parece que tudo me traz de volta para cá. - Murmurou. - Não importa o quanto eu ande, é sempre em círculos... 

— Talvez seja melhor parar de brigar e apenas aceitar que seu lugar é aqui. 

Elora inspirou fundo e bebeu novamente. 

— Tauriel disse que Légolas esteve aqui. - Desconversou. Thranduil deu um sorriso leve de canto, percebendo a manobra da menina. 

— Foi uma visita breve. - Ele ergueu a mão para ela. - Venha sentar-se. - Elora a pegou e foi guiada até o sofá. Deixou-se afundar nas almofadas macias, encostando a cabeça na parte de trás. - Pedi que meu filho viesse porque queria contar a ele sobre a mãe. 

A menina levantou a cabeça em um movimento rápido. 

— Jurei a mim mesmo que nunca deixaria que ele soubesse, mas nunca levei em consideração a sua aparição em minha vida. - Ele continuou e Elora remexeu-se nervosamente no estofado. - E, se eu quiser um futuro com você é necessário que algumas questões do passado sejam resolvidas. 

Futuro? Elora franziu o cenho, confusa e alarmada. Eles tinham um futuro? Com o coração acelerado, Elora mordeu a língua para impedir-se de interrompê-lo. 

— Eirien e eu éramos muito próximos, devido aos laços que uniam nossas famílias convivíamos diariamente desde o nascimento. - Ele disse sereno. - A família dela tinha grande presença no conselho de meu pai então quando, naturalmente, a pedi em casamento não foi bem uma surpresa, todos já esperavam. Eu a amei antes mesmo de saber o que isso significava. - Elora teve se conter para não demonstrar seu desconforto. - Por um breve momento tudo esteve perfeito no mundo... Então meu pai pereceu e nos vimos sozinhos para liderar nosso reino. Éramos jovens, despreparados e com um herdeiro a caminho. Deveria ter havido mais tempo.

Elora levantou-se. Andou até a mesa e encheu novamente sua taça, preparando uma também para Thranduil. 

Ela a entregou e sentou-se novamente. O elfo ficou um tempo admirando o líquido mover-se antes de continuar a falar. 

— Uma de suas avós ainda residia em Lothlórien e ela queria ter alguém de sua família para acompanhá-la no nascimento do filho, já que os pais já haviam partido para as Terras Imortais. - Franziu os lábios. - Voltávamos de lá quando aconteceu. Fomos interceptados.  Deveriam estar esperando nosso retorno a dias... Estávamos em maior número mas não reagimos rapidamente. Eirien estava ao meu lado com Légolas, mandei-a fugir escoltada por um grupo e fiquei para trás. Quando os alcancei ela estava chorando, sentada ao chão com o bebê, tinha um corte profundo no braço. - Thranduil inclinou a cabeça para trás, bebendo um longo gole de vinho. - Elfos são muito resistentes, mas leva alguns anos para que isso se construa. Ela tentou protegê-lo mas quando feriram-na, a lâmina também o alcançou. O veneno o mataria em poucas horas, não havia salvação para nosso filho e Eirien desmoronou.  

Elora sentiu a garganta apertar. 

— Eu não consegui me mover. - Ele sussurrou. Elora levantou a mão e entrelaçou seus dedos aos dele. - Não havia nada que eu pudesse fazer para salvar meu filho ou amparar minha esposa. Esse sentimento de impotência me corrói até hoje. Mesmo que nada desse resultado, eu tinha que ter feito alguma coisa. Eu deveria ter feito alguma coisa... Mas, não pude. Fui fraco. - Desviou o olhar do dela. - De repente ela parou de chorar e olhou para mim. Eu finalmente pude me mover e fui até ela. Eirien então apenas disse que sentia muito e esperava que um dia nós dois pudéssemos perdoá-la, colocou Légolas em meus braços e nos abraçou. Aconteceu tudo muito rápido, em um momento ela estava na minha frente e no outro havia sumido. A última vez que ouvi sua voz foi um sussurro em meu ouvindo, pedindo que eu dissesse ao filho para não odiá-la. Quando olhei novamente para Légolas, seu ferimento havia desaparecido. 

Thranduil levantou-se, tinha os músculos tensos e seus olhos pareciam perdidos. Encheu novamente a taça e permaneceu em pé, de costas para Elora.

— Levei um tempo pra perceber o que ela tinha feito. Permaneci ali pelo que pareceram horas, remoendo suas últimas palavras. Foi quando decidi não contar a verdade para ele, não queria que ele se culpasse pela morte da mãe. Este fardo era meu e somente eu o carregaria. Meu filho nunca conheceria a mãe, nem nas Terras Imortais, e a culpa era minha.

— Não. - Elora levantou-se, segurando-o pelos braços. - Não foi culpa de ninguém, a não ser de Sauron e seu exército amaldiçoado. 

Thranduil levantou as mãos e acariciou o rosto de Elora, olhando-a profundamente. 

— Tenho um pouco de culpa sim, bein (bela). Mas não se preocupe, já encontrei minha paz com ela. 

Elora não acreditava totalmente naquilo, mas não insistiu.

— Você disse que Légolas não a veria nas Terras Imortais, mas... até mesmo as almas dos elfos que estejam nos Palácios da Espera para reencarnarem, irão para lá. Algum dia.

Thranduil colocou uma mecha de cabelo solta atrás da orelha dela. 

— Ela não está com Mandos, nem em nenhum outro lugar. - Ele disse e Elora não conseguiu compreender. Todas as almas élficas iam para os salões de Mandos, todas. Não havia exceção. - Eirien fez um acordo com ele, abriu mão de sua própria existência para curar o filho. Ela deu a vida e tudo o que a fazia existir em troca da de Légolas, inclusive sua alma.

— Como... Como isso é possível? - A menina não conseguia acreditar. 

— É muito raro um Valar aceitar um acordo, principalmente Mandos. Que é tido por ser severo e sem compaixão. Mas Eirien fez com que aceitasse, ela era muito obstinada. - Um sorriso triste apareceu em seus lábios. - Quando ela se foi, tudo o que lembrava sua existência começou a esvaecer-se.

Puxou Elora para mais perto, pegando as mãos dela entre as suas. 

— Entende agora? Todo o amor que eu um dia senti por ela se foi, por mais que eu tente me lembrar não há nada. Ela arrancou de mim... Eu estive vazio por tanto tempo. Foi difícil me acostumar com essa ausência que apareceu em mim, os anos pareciam se arrastar e nada mais me dava prazer de viver. Nem mesmo meu próprio filho. Galadriel e Elrond tentaram ajudar, mas não havia nada que pudessem fazer. Levou anos até que eu conseguisse dominá-la. Me aproximei de Légolas e já havia aceitado que aquela seria minha vida até o final das eras... Mas não me sinto mais assim há muito tempo.  Não desde que você entrou por aquelas portas. - Thranduil falou. 

Elora ficou sem fala. 

— Eu sou egoísta. - Ele continuou. - Jurei não revelar a verdade ao meu filho, mas a perspectiva de viver sem você me assusta bem mais. 

Ela queria respondê-lo, mas as palavras estavam presas em sua garganta. Sua mente estava em branco, anestesiada. Tudo o que ela conseguia fazer era sentir. Sentia seu coração bater forte no peito, sentia o amor que tinha por ele aumentar ainda mais e sentia a vontade de se jogar desse precipício sem se importar. 

— Eu sou egoísta também. - Ela se inclinou e capturou os lábios dele com os seus. 

Seu corpo explodiu. Sentia-se mais viva do que nunca antes. 

Thranduil a puxou pela cintura colando seus corpos e Elora não se importava com mais nada a não ser os lábios dele se movendo entre os seus, aprofundando o beijo cada vez mais, e as suas próprias mãos que abraçaram-no pela nuca e infiltraram-se em seus cabelos. Puxando-os levemente.

Quando separaram-se Elora estudou cada canto da face do elfo, querendo guardar a imagem para sempre na memória. Os lábios avermelhados e inchados, o rosto corado e os olhos... que olhos. Profundos e nublados, cheios de desejo. 

— Vai ficar aqui? Comigo? - Ele perguntou, colando a testa na dela e fechando os olhos. - Agora sabe que é a única em meu coração.

Elora abriu a boca para responder, mas ele a interrompeu. 

— Antes de tomar sua decisão, quero que saiba que seu lugar é aqui. - Ele apontou com uma das mãos para o espaço em volta, sem desviar os olhos dela. - Esta é sua casa, seu propósito e legado. Não é coincidência você ter vindo parar entre essas árvores. 

Ela pensou novamente em sua mãe. 

Sim, ela cedeu aos próprios desejos e sua história acabou mais cedo do que deveria, mas... Ela foi feliz. Durantes os momentos que passara com Elros, ela foi feliz. E, mesmo depois de perdê-lo ela teve Elora. Uma prova do amor dos dois. 

Elora sabia que já tinha tomado sua decisão. Por mais que odiasse o sentimento de falhar com Yavanna e seu próprio propósito, ela odiava ainda mais passar o restante da vida sem Thranduil e a floresta.  

Ela abraçou-o novamente pelo pescoço e sorriu. O primeiro verdadeiramente feliz que dava em muito, muito tempo.

— Sim, eu vou ficar... Para toda a eternidade.

Ela viu os lábios do elfo se abrirem levemente em surpresa. 

— Não irei pressioná-la, Elora. Não quero que tome esta decisão porque... 

A menina levou um dedo aos lábios dele, silenciando-o.

— É a minha escolha. Você não achou que eu iria se livrar de mim tão fácil, não é? - Ela sorriu de lado. - Agora você é meu. E se eu precisar dizer com todas as palavras eu direi: Eu, Elora, filha de Berenna e Elron, decido seguir minha linhagem élfica até que meus dias me levem às Terras Imortais. A partir de hoje não possuo nenhuma lealdade ao povo dos homens, eu renego minha participação em seu mundo.

Elora esperava sentir alguma coisa quando finalmente tivesse coragem de decidir, mas nada mudou. Pelo menos não naquele momento.

Thranduil sorriu e segurando-a forte pela cintura, deitou a cabeça na curva de seu pescoço. Em um primeiro momento achou que estava sonhando, mas então inspirou novamente o perfume dela e soube que era tudo real. A tinha em seus braços e nunca a deixaria partir novamente. 

— Tem uma coisa que você precisa saber. - Elora suspirou, trazendo a própria mente de volta ao corpo. - Eu tive uma visão no Espelho de Galadriel, há muito tempo, quando visitei Lothlórien pela primeira vez. E eu não quero que esta decisão de agora, traga aquele desfecho então preciso te avisar que, mesmo que você não goste, eu farei tudo em meu poder para evitar que aconteça.

— O que você viu? - Perguntou. Elora desviou o olhar. Ela não queria relembrar as visões de morte e fogo, mas o olhar de Thranduil indicava que ele não desistiria. - Diga-me. - Thranduil segurou seu queixo com leveza, pedindo para que ela o encarasse. 

— Eu o vi morrer. - Elora disse em um fio de voz. Falar em voz alta apenas fazia com que o possível futuro se tornasse iminente. 

— Isso não vai acontecer. - Thranduil acariciou seu ombro. Disse com tanta segurança que Elora quase acreditou que apenas com aquela frase, ele poderia mudar o destino. 

— Não, não vai. Por que eu não vou deixar. - ela disse firme. - Vou mantê-lo em segurança.

— Vai trancar-me aqui? - Perguntou com a sobrancelha erguida. Mas no fundo sabia que ela tinha coragem para tal.

— Se for necessário. - Ela prometeu, abraçando-o e apertando-o contra o peito.  

— Eu acredito na sua força e eu acredito na minha força. - Thranduil depositou um beijo em sua cabeça. - O amanhã pode ser um mistério mas ele pertence a nós. 

Thranduil afastou-se um pouco, deslizando os dedos carinhosamente desde a bochecha de Elora e o pescoço até seu ombro. Elora não pode evitar de fechar brevemente os olhos, apreciando a corrente elétrica que se espalhava pelo seu corpo. Queimando sua pele e lhe causando arrepios. Ela se aproximou e encostou seus lábios no dele. Quando se separaram Thraduil levou a mão dela até seu peito, pousando-a sobre seu coração.  

— Antan órenya tyenna. (eu te dou meu coração) - ele sussurrou.

— Antan melmenya tyenna (eu te dou meu amor) - ela responde. 

 

.o0o.

 

Os primeiros raios de sol já apareciam no horizonte quando os dois saíram em da sala, Thranduil em direção ao grupo de soldados já com suas armaduras e armas em punhos, e Elora para o portão principal. Gandalf já deveria estar se aprontando para voltar a Valle e Elora precisava conversar com ele antes do mago partir.  

Ela aguardava o mago descer enquanto olhava a neve branca, agora já mais rala, derreter um pouco sob o calor de um novo dia. A menina fechou os olhos e falou com Yavanna, dizendo que continuará sua missão, mas que fará isso ao lado de Thranduil. Ela aguardou por alguns momentos, mas como sempre não teve nenhuma resposta.

Gandalf aproximou-se dela a passos ruidosos. 

— Já está de pé? Bom, podemos partir mais cedo então. - O mago apalpava o manto, certamente em busca do cachimbo. 

Elora sorriu e negou com a cabeça.

— Eu vou ficar, Mithrandir. Já parti muitas vezes e não desejo fazer isso novamente.

Ela olhou ao redor e, naquele momento, pode sentir a promessa da primavera sob os seus pés. 

— Estou em casa. 

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?

Gosto de ler bastante e tentar manter as coisas o mais fiéis possíveis, mas não dá sempre. Tive que alterar, as vezes drasticamente, os fatos para que se encaixassem no estava planejando. Com um principalmente, que vocês ficarão sabendo em breve.

Estou com medo (confesso), porque é uma alteração ENORMEMENTE GRANDE nas 'regras', mas gosto de finais felizes para todo mundo e quero terminar essa fic com o coração quentinho. Então, desde já, peço desculpas se alguém se sentir incomodado com essas mudanças.

A história já está na reta final, eu planejo fazer um epílogo e mais um ou dois capítulos extras com uma continuação-que-não-é-continuação. Mas vai depender se sair alguma coisa boa da minha cabeça. kkkkkkk

Me contem a opinião de vocês!



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