Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 2
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Espero que curtam! :)



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Elora segurava a mãe fortemente enquanto galopavam para fora da cidade. Sua mente confusa e cheia de perguntas implorava por respostas querendo dar um sentido aos últimos acontecimentos, mas a única pessoa que poderia lhe clarear os pensamentos estava desacordada em seus braços. A menina parou o cavalo e olhou para trás, respirou um pouco aliviada quando viu que nada a seguia.  

Seu coração ficou pesado ao olhar em direção a Alórien, lágrimas finalmente rolaram pelas suas pálidas bochechas enquanto observava as chamas violentas engolindo aos poucos a cidade. Os sons abafados de vozes confusas tornavam-se mais fortes e claros enquanto os moradores acordavam subitamente enquanto as chamas alcançavam suas casas.  

Ela poderia tê-los alertado, avisado que havia perigo... sabia disso, mas no momento não pensou claramente. As sombras foram atrás de sua mãe, e no momento só queria tirá-la de sua casa e deixá-la em segurança. Poderia retornar depois e ajudar os outros. 

Ela desceu do cavalo e o puxou para dentro do bosque, procurando um abrigo seguro. Já estavam longe, nada as acharia na floresta densa. Pelo menos, assim esperava. Deitou a mãe em sua capa perto de um grande carvalho, chamou seu nome repetidas vezes tentando despertá-la mas seus esforços foram em vão. Encostou o ouvido em seu peito, ela ainda respirava calmamente. Berenna provavelmente acordaria somente pela manhã. Elora olhou a face tranquila da mãe meio suja pela fuligem, não sabia ao certo o que ela havia feito para aniquilar as sombras mas o que quer que tenha sido acabou com todas as suas energias. 

Ela recostou-se na árvore fechando os olhos, buscando em suas memórias algo que pudesse explicar o ataque desta noite. O dia havia se passado completamente dentro do normal. Sim, sua mãe estava agitada e meio aflita pelo visitante que deveria ter chegado naquela manhã é verdade, mas tirando este pequeno fato, tudo transcorrera na mais perfeita tranquilidade. Até o entardecer.

......--......

 Sua rotina diária era dividida entre ajudar a mãe em sua pequena barraca de ervas medicinais no mercado, arrumar a casa e, a melhor parte do dia, cavalgar pelos campos com Randír, seu alazão negro como a noite. Após o passeio voltara para casa, encontrando sua mãe olhando apreensivamente para o horizonte através da janela. Ela murmurava alguma coisa que Elora não conseguiu ouvir. Preocupada, a menina abraçou-a. A mãe sempre fora tão calma e centrada, nunca havia visto ela preocupada daquela forma. 

— Mamãe... O que está havendo? Desde esta manhã você está estranha. Andando pelos cantos, murmurando coisas.

— Não podemos esperá-lo mais, - Berenna juntou as mãos nervosamente. - temos que partir imediatamente.

— Partir? Mas esta é a nossa casa. – Elora inquietou-se. 

A menina crescera ali, não queria ir para outro lugar. Ainda mais tão repentinamente. Berenna ouviu o tom triste da filha e foi ao seu encontro, colocando as duas mãos em seus ombros. 

— Minha querida sinto tanto por não ter explicado tudo a você. Queria contar-lhe com Gandalf presente, mas ele talvez não tenha recebido a mensagem a tempo. – A mãe afagou a bochecha da filha – Tenho tido sonhos estranhos, sinto nos ossos que alguma coisa muito ruim está vindo por nós e não podemos nos prolongar mais. Talvez encontremos com Gandalf pelo caminho. Sim, é possível. 

Berenna parecia falar consigo mesma. Ela foi rapidamente para o quarto juntando o indispensável para a mudança enquanto gritava ordens para Elora. Mas a menina não conseguia mover-se, repensando as últimas palavras da mãe. Sentiu um calafrio percorrer seu corpo, despertando-a do torpor. 

— Quem é Gandalf? – a mãe não desviou seu olhar para ela, muito menos parou de jogar mantimentos em uma das bolsas. – Mamãe, por favor pare e converse comigo!

— Não há tempo para explicações, Elora! – a mãe gritou, assustando-a – Contarei tudo sobre seu pai, sobre nós. Assim que sairmos daqui, lhe prometo. Mas agora preciso que você recolha suas coisas e coloque essas bolsas em Randír para partirmos, fui clara? – Berenna bravejou. 

Seu pai. Ele tinha alguma coisa a ver com o nervosismo da mãe? Ela nunca havia citado ele antes, nunca permitiu que Elora perguntasse qualquer detalhe sobre seu relacionamento ou o paradeiro dele. Elora assentiu e foi para seu quarto. Terminou sua bolsa em poucos minutos, não possuía muitos pertences. Correu para os fundos selando novamente Randír e amarrando a pequena sacola ao seu lado. Estava entrando novamente quando ouviu o barulho de algo quebrando. 

Apressou-se para dentro e o que viu gelou seu sangue, paralisando-a. Sua mãe estava cercada por enormes sombras negras com sorrisos frios emoldurando seus rostos esfumaçados. A mãe sentiu o coração sangrar ao ver que a filha havia voltado. No fundo, tinha esperanças de que a menina sentisse o perigo e não voltasse mais. 

Não havia mais tempo, ela sabia que não poderia continuar com Elora. Precisava salvá-la, livrá-la dos rastreadores. Berenna gritou para Elora fugir, ir embora sem olhar para trás. Se Elora partisse, Berenna poderia liberar seu poder sem medo de feri-la. Mas Elora parecia não ouvir. As sombras moviam-se calmamente em torno do pequeno cômodo, deliciando-se com a cena. Um dos fantasmas de fumaça parou em frente Berenna e falou com sua voz rasgada em uma linguagem que Elora não conhecia. Para sua surpresa a mãe respondeu-o da mesma forma, e o que disse não agradou nem um pouco a sombra. Berenna continuou vociferando frases enquanto o encarava sem medo.

 – Vá para Randír agora! – Ao ver que a filha não se movia. – É uma ordem Elora! Encontrarei com você em breve.

 Berenna gritava para Elora, mesmo sabendo que não era verdade. A menina correu para fora com as pernas ainda tremulas, sentiu um vulto atrás de si mas não havia nada quando ela olhou novamente.

 Berenna chorou quando viu a filha sumir pelo corredor. Encarou novamente os rastreadores, então assim seria sua morte. Ficou feliz por morrer protegendo algo tão precioso, não morreria em vão. Elora iria viver, eles ainda não desconfiavam de seu poder. Berenna sentia que eles tinham vindo por ela própria.

 Estava usando seus encantamentos para mantê-los longe, mas agora precisaria terminar o feitiço para poder atacá-los. Ficou nervosa por um momento, há muito não praticava magia. Gandalf estaria desapontado se pudesse vê-la agora. De fato, ela não estaria nessa situação se o velho amigo tivesse chegado a tempo.

 Assim que o encantamento foi quebrado, Berenna sentiu a podridão das sombras envolvê-la. Ela precisaria ser rápida, deixou as sombras golpearem-na enquanto dizia as palavras decoradas para o feitiço.

 Elora assistia a tudo do jardim por uma pequena fresta na janela. Não iria embora. Já estava reunindo coragem para voltar e socorrer a mãe munida de uma velha espada quando as sombras envolveram-na, mas parou quando viu uma forte luz emanar do corpo da mãe. Berenna agora era como uma pequena estrela, brilhando e iluminando todo o cômodo. Berenna gritou, novamente proferindo palavras naquela língua estranha enquanto atacava as sombras com sua energia. Uma por uma elas extinguiram-se, enquanto a sala começava a arder em chamas. A menina afastou os olhos do brilho forte. Sua mãe era uma feiticeira. Como ela pôde lhe esconder isso por tantos anos?

 Berenna sorriu quando a sala estava novamente livre dos fantasmas podres. Sentiu seu corpo pesado e deixou-se cair no chão. O fogo crescente não a incomodava, ela estava cansada... cansada demais para importar-se com o calor das flamas em seu corpo. Havia liberado todo o poder que reprimira há tantos anos. Ela iria partir em breve, sabia disso em seu coração. Ficou triste por abandonar Elora tão cedo, não veria os poderes da filha florescerem nem celebraria seu casamento. Mas ela finalmente se reuniria com Elros, e isso a enchia de alegria.

......--......

 Elora acordou de súbito com um estalar de galhos, olhou preocupada ao redor e aliviou-se quando viu um pequeno cervo passar próximo a elas. Devia ter sido impressão, mas Elora sentiu que o pequeno animal a olhava preocupado, ele afastou-se um pouco mas mante-ve perto como se as protegesse. A menina virou-se para a mãe, colocando uma mão em sua testa. Berenna respirava calmamente, Elora olhou os machucados profundos da mãe e o sangue já seco em suas roupas. 

 Queria procurar algo na floresta algo que ajudasse a fechar os ferimentos da mãe, mas não queria deixá-la sozinha... e mesmo assim, não tinha certeza de que haveria alguma de suas conhecidas ervas curativas por ali. Seu conhecimento sobre esta arte não era tão extenso quanto o da mãe. Elora sentiu um peso no peito, era uma inútil. Não pôde ajudar a mãe a enfrentar as sombras e agora não podia ajudá-la a se curar. Era ela quem deveria estar sofrendo, por seu medo em agir e sua falta de empenho em aprender mais sobre esta arte.

 Berenna tomou consciência de seu corpo, ainda havia um pouco de vida dentro de si e sentiu a gravidade dos machucados em sua pele. Abriu de leve os olhos e viu Elora encarando o chão com a testa e os lábios franzidos. Berenna sabia o que ela pensava, via a culpa corroer os pensamentos da menina.

 – Elora. – Berenna falou em um fio de voz, Elora olhou-a assustada e aliviada.

— Graças aos céus! – A menina a abraçou.

— Minha querida, vejo o que está em seus olhos. Não carregue uma culpa que não lhe pertence. - Berenna falou ainda abraçada à filha, enquanto afagava seus cabelos. - Isso aconteceria de qualquer forma, há muito tempo que os rastreadores entram em nosso caminho, mas desta vez não pude escondê-los de você. 

— Quem eram eles? - Elora sentou-se.

—Demônios, sombras, servos da escuridão... eles possuem muitos nomes. Trabalham em conjunto com o próprio mal e com aqueles Orcs nojentos.

— Orcs? Eles não foram derrotados na batalha dos cinco exércitos? 

— O mal nunca será totalmente derrotado. Eles estão à espreita, colhendo recursos e aguardando o momento certo para atacarem novamente. 

 Berenna fechou os, seu peito doía e dificultava sua respiração. Concentrou-se novamente, precisava ter forças para dizer as últimas palavras a Elora. Quando abriu os olhos novamente, agora mais controlada, encontrou Elora com os olhos marejados lhe encarando. Berenna se lembrou da filha pequena, enrolada em seus braços pedindo que lhe contasse histórias, correndo livre pelos campos, agarrada à sua saia com medo das grandes tempestades. Sentiu uma lágrima correr pelo seu rosto. 

 – Minha doce criança... sentirei tanta saudade. 

— Mas você está bem... estamos juntas e a salvo agora. Só temos que tratar de seus ferimentos e estará em saúde plena em pouco tempo. – Elora falou preocupada.

— Meus ferimentos não podem ser curados, Elora. Escute, tenho pouco tempo e ainda preciso...

 Elora prestava atenção mas a Berenna parou de falar no meio da frase, ela olhava para os lados como se procurasse alguém. Sua testa franziu quando olhou para o norte, para a parte mais densa da floresta. Ela juntou as mãos em cima do peito e concentrando-se criou uma pequena esfera luminosa, o esforço doía mas ela continuava a aumentá-la. Levou-a para perto dos lábios e sussurrou. Fora tão baixo que Elora não pode ouvir. A esfera planou no ar e em seguida voou rapidamente na direção em que Berenna olhara.

 – O que foi isso? – Elora a indagou.

— Pedi ajuda. Apesar de tudo, os deuses sorriem para nós e enviaram a pessoa a quem lhe confiaria até nós. E graças aos céus, ele está perto. – Berenna agradeceu às estrelas pela sorte, não deixaria Elora sozinha no meio do caminho.

— Não devia gastar o resto de suas energias assim, precisa guardá-la. Tenho fé de que daremos um jeito.

— Eles chegarão em breve então me escute bem Elora. Você, assim como eu, foi abençoada pelos Valar. Ser portador desta bênção é um grande orgulho, mas é também um grande fardo. Um que eu não fui forte o suficiente para aguentar... E agora estou pagando por isso. Quando seu dom despertar você estará em grande perigo. Você é poderosa querida. Seu caminho será cheio de belezas, sim... mas também terá muitas provações e deve preparar-se.  Prometa para mim que fará isso, mas não deixará sua jornada obscurecer sua busca pela verdadeira felicidade. 

— Eu prometo mãe, mas... por favor não vá. – Elora sentiu as lágrimas caírem novamente.

 O barulho de cavalos aproximando-se pela floresta atraiu a atenção das duas. Elora empunhou a espada, e Berenna tentava controlar a respiração. Só precisava aguentar um pouco mais, Elrond poderia lhe dar mais alguns minutos. Ainda havia tanto a falar. 

Elora pensava no que poderia emergir das árvores. A quem sua mãe havia pedido ajuda? A menina assustou-se quando viu elfos em armaduras douradas rodearem-nas. Elora retesou-se por um momento, nunca havia visto um elfo. Todos se pareciam um pouco, tão altos e bonitos, com cabelos compridos que se iluminavam com o brilho da lua.

Elora os encarava sem cerimônias, queria absorver todos os detalhes que seus olhos captassem. Um deles desceu do cavalo aproximou-se, uma fina coroa prateada adornava na cabeça, seus cabelos negros emolduravam o rosto amável. Ela sabia que não deveria deixar um completo estranho chegar perto de sua mãe nesse estado - mesmo que Berenna o tenha convocado, mas a menina não colocou-se em seu caminho... Sentia que ele não lhes faria mal. 

 – Tantos anos e nos reencontramos assim, caro amigo. – Berenna sorriu para Elrond, quando ele ajoelhou-se ao seu lado. 

— Minha senhora, o que aconteceu? – Ele encarava-a preocupado, medindo a gravidade de sua situação.

— Rastreadores. Finalmente me encontraram. – ela tossiu. – Sei que não me resta muito tempo, mas preciso apenas de mais alguns minutos.

 Elrond demorou a assentir, mas comandou um de seus guardas a lhe trazer um pequeno frasco com um líquido verde musgo dentro. Ele o destampou e deu para Berenna beber. Seu rosto ficou menos tenso e Elora pode perceber que as dores de sua mãe diminuíam. 

 – Foram os deuses que o trouxeram a esta floresta meu senhor. – virou-se para a filha, segurando sua mão – Elora, este é Elrond. Senhor de Rivendell, e irmão de seu pai.

 Elora sentiu o coração acelerar. Seu pai era um elfo?

 – Vocês geraram uma criança, e nunca me contou? – Elrond indagou tristemente. 

— Sinto muito, - Berenna o interrompeu - após a morte de Elros tive medo que a tirasse de mim se soubesse.

— Nunca teria feito isso, minha senhora. Deveria ter me contado, poderia ter protegido as duas.

— O passado já não pode ser mudado. E o destino nos uniu novamente, não queria acreditar mas sempre soube que o futuro de Elora seria com vocês. Cuide bem dela Elrond, é meu maior tesouro.

— Cuidarei dela como se fosse minha própria filha.

 Elora ouvia a conversa calada. Não conseguia formular uma frase completa, haviam muitas perguntas em sua mente agitada, tantos questionamentos para a mãe e o estranho elfo que acabara de descobrir como seu tio.

 – Ia pedir que Gandalf nos acompanhasse até Rivendell, mas ele não chegou a tempo. Os rastreadores atacaram e não tive tempo de contar tudo a Elora, deve explicar à ela Elrond. Ensiná-la, o caminho dela não é como o meu. Gandalf não poderá instruí-la em suas jornadas, ela precisará de você.

— Ela foi abençoada?

— Sim, mas ainda não houve despertar. - Berenna tossia fortemente, seu rosto ficara mais pálido e a voz saía fracamente. Ela estendeu a mão para Elora que a pegou rapidamente. - Escondi tanto de você. Perdão querida, por tudo... e por deixá-la tão cedo.

— Eu a perdôo minha mãe. – Elora respondeu entre soluços.

 Elora chorava, não tinha forças para proferir nem mais uma palavra, sentiu a mão de Elrond em seu ombro oferecendo conforto. A menina ainda segurava fortemente a mão da mãe quando a vida se esvaiu de seu corpo. Elora abraçou o corpo inerte de Berenna, implorando que ela voltasse. Mas sua mãe havia partido, a pessoa que mais amava no mundo não estava mais ali. Não poderia mais ver seu sorriso caloroso ao chegar em casa ou ouvir suas histórias durante o jantar. Não sentiria mais seu cheiro conhecido. 

Após o que poderiam ter sido segundos ou horas, Elora sentiu Elrond puxando-a para longe do corpo da mãe. Ela lutou mas deixou-se levar pelo abraço carinhoso do mesmo. Mesmo não sabendo nada sobre Elrond, Elora agradeceu por sua presença. Não teria forças para deixar a mãe se estivesse sozinha. 

 


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