Na capela que havia no cemitério da cidade, estavam sendo prestadas as últimas homenagens a Bianca di Angelo. Seu próprio pai conduzia a cerimônia e falava algumas coisas a seu respeito quando Nico ficou de pé e o interrompeu na frente de todos:

— Como você consegue dizer essas coisas assim, como se estivesse falando de uma estranha? Ela era sua filha! É Bianca nesse caixão! Bianca está morta! Você nunca se importou mesmo com ela, não é? Com nenhum de nós.  – Seu rosto estava vermelho de raiva, mas ele não chorava.

A maioria das pessoas apenas se mexeu nos assentos ou trocou olhares desconfortáveis. O pai lançou-lhe um olhar de desagrado e começou a dizer:

— Nico...

Mas Nico se dirigiu, então, a todos os presentes:

— Nenhum de vocês se importava de verdade com ela! – Apontando um dedo para Percy Jackson, que tinha comparecido mesmo com a perna engessada: – Era você dirigindo aquele carro estúpido! Você é que devia ter morrido!

Percy desviou o olhar, murmurando:

— Eu sinto muito... Sinto muito...

Sentada ao lado dele, sua namorada Annabeth - que também tinha estado no carro e ainda exibia alguns ferimentos - pôs uma mão em seu ombro com os olhos baixos.

Will se levantou e tentou se aproximar de Nico, mas o garoto já estava se afastando a passos rápidos para fora da capela, rumo ao cemitério.

Ele procurou pensar em dizer algo para dizer a Percy, lembrar-lhe talvez que a culpa tinha sido do outro motorista que estava bêbado, que ele não tinha como ter evitado a morte de Bianca, mas Percy já sabia disso. Nico no fundo também sabia. Essa não era a questão.

Will, então, só seguiu atrás de Nico. Encontrou o garoto em meio às velhas lápides do cemitério ainda andando rápido.

— Eu quero ficar sozinho – disparou ele com um olhar fulminante para trás ao perceber que era seguido.

— Eu acho que você já ficou tempo demais sozinho. Há dois dias você não come praticamente nada...

— Apenas me deixe em paz! – Nico esbravejou, tentando puxar o braço que Will tinha alcançado, mas o loiro manteve o aperto firme, e em vez de soltá-lo, procurou trazê-lo para mais perto.

Enquanto Nico o atacava, Will o abraçou. Aos poucos, a resistência de Nico foi diminuindo, até que os protestos foram se transformando num gemido fraco e ele apoiou a testa no ombro de Will, abraçando-o de volta com força como se este fosse a única coisa parada no meio de um turbilhão. Will sentiu um imenso alívio ao perceber que Nico estava chorando, finalmente. Assim  eles ficaram por um tempo que Will não saberia precisar. Enquanto o corpo de Nico se sacudia com toda a dor que vinha acumulando, ele apenas o abraçou. Depois de um tempo, conseguiu distinguir algumas palavras em meio aos soluços:

— É tão injusto!... Bianca... Minha mãe...

— Eu sei... Eu só... Só quero que você saiba que pode sempre contar comigo. Está bem? Você não está sozinho.

Nico levantou os olhos e Will sentiu o coração apertar vendo aquele rosto lavado por lágrimas. Teve vontade de voltar a abraçá-lo com muita força e confessar seus verdadeiros sentimentos por ele. Mas aquele certamente não era o momento. Tudo que importava era tentar fazê-lo se sentir melhor.

Nico deu uma olhada por cima do ombro de Will para a capela de onde tinha corrido.

— Você quer voltar? – Will perguntou, com as mãos nos braços dele.

Nico sacudiu a cabeça.

— Me leve para algum outro lugar... Por favor. – Ele passou as costas da mão no rosto. - Bianca teria odiado tudo isso. Se ela ainda fosse estar por aqui, com certeza não seria ali... Não naquela caixa horrorosa.

Will assentiu e passou um braço pelos ombros de Nico, conduzindo-o até a estrada de seixos onde estava o carro de seu pai, que ele tinha dirigido até ali.

— Se você prometer comer alguma coisa, eu o levo até a área de camping perto da floresta.

Aquele era um dos lugares preferidos de Bianca. Ele temeu um pouco pela reação de Nico.

A resposta de Nico foi um bufo que acabou se misturando a uma fungada, mas ele deixou que Will o levasse dali, aparentemente concordando com a condição.