Pack Up escrita por Maria Lua


Capítulo 4
Debates


Notas iniciais do capítulo

Hellooooooooo! Eu sei, eu sei, vocês devem ter percebido que está saindo um capítulo por semana, mas é que estou sem computador, só aos sábados que posso visitar minha dinda e usar o dela. Mas vou tentar postar outro ainda amanhã e, quem sabe, quarta-feira, no feriado? Seria bom, huh?
Gente, tô bem feliz com esse capítulo. Eu o mudei TOTALMENTE da versão anterior, Faraway, e acho que consigo desdobrar muitas histórias daí. Acho que vão gostar muito ♥ boa leitura!



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Rose havia saído do vestiário do time e ido ao seu dormitório de maneira altamente revoltada. Aquilo era novidade para ela – estar dessa maneira. Sentia-se magoada – por si mesma, por Scorpius, e pelos homens em geral. Ela sentia que era, nesse momento, o mesmo que os “sangue-ruim” eram vinte anos antes – ou pior.

Ignorando todos os que passavam por ela, comentando, apontando, sussurrando, acelerou o passo e, ao chegar no seu quarto, bateu a porta com força o bastante para remexer o seu tio Fred no túmulo. Puxando com força o seu cabelo, ela arrancou o prendedor que já estava frouxo, jogando-o no chão em uma tentativa simplista de birra. Tirou seu uniforme do time e jogou sob a cama, ficando vestida apenas por uma blusa e short que usava por baixo nos treinos. Só então reparou que Lily estava silenciosa no chão, sentada.

Provavelmente a morena havia chorado um tempo atrás, mas parado ao ouvir o estalo da porta, esquivando-se para esconder o rosto por uns segundos, secando-o, e então encarando Rose. Sua expressão estava completamente raivosa. Ela levantou-se, ainda fitando os olhos da prima com uma ferocidade que, para ela, era bastante comum.

— Está feliz, é, Rose? Fico muito contente por você e seu timinho. Imagino que vão fazer aquelas porcarias de meninos, não é? Ouvi dizer que o Malfoy vai dar uma festa hoje, talvez você arranje uma namorada! – recomeçou a sua grande falácia. Rose apenas rosnou e deitou na cama mais próxima possível da prima. Ela estava certa que viria o papo de “aprenda a fazer xixi em pé, masturbação silenciosa, e cuspir no chão”, coisa que ela dispensava sem pensar duas vezes.

— Lily, dá um tempo! – gritou, passando a mão pelos cabelos.

— Você não tinha o direito, Rose, não tinha... Você viu a cara do Zabine? Meu Merlin, que vergonha! Eu nunca mais vou poder sair do dormitório. Sabe quantas pessoas já me pararam no caminho daqui?!

Lily, com sua voz em tom agudo-torturador, era a familiar que Rose menos suportava. Não a odiava, de maneira alguma, mas simplesmente não conseguia entender de que mundo a garota veio! Superficial, sem nunca envolver-se em assuntos importantes, sempre sendo a pessoa que fala besteiras nas festas em família, ela era impossível! O seu azar é que havia pego Rose no dia errado – e ela estava, depois de dizer algumas coisas ao Malfoy e tomar uma atitude improvável e completamente insana, se sentindo capaz de dizer somente verdades.

— Você não pode nem por um momento deixar de ser a pessoa mais egoísta, nojenta, má e doente do mundo?! Não pode me dar um desconto? Hoje! Pode me encher a vida inteira, mas hoje eu preciso de paz, e você vai me fazer explodir se disser mais uma palavra sequer a respeito de bigodes ou cuecas. Então, por favor, Lily, eu nunca te pedi nada, mas finja apenas hoje que se importa com o fato de eu estar pirando, abalada, enfurecida. Eu já dei um tapa em Scorpius hoje, e se você tocar essa corneta que chama de voz novamente eu juro que te bato também!

Quando terminou de falar, ambas ficaram em silêncio – uma tentando recuperar o ar que perdera, e a outra associando todas as palavras que lhe foram ditas. Como caçula e única filha mulher de Harry e Gina, Lily tiveram uma criação um pouco mais complicada que os demais Weasley. James e Alvo, sempre muito ativos nos esportes, voltaram-se para Ronald, que era o mais animado no esporte – apesar de que Gina, tia de Rose, sempre participava durante a infância de alguns jogos específicos – logo, os garotos, juntos ao Hugo e Rose, estavam 100% do tempo praticando esportes. Lily, caseira, tinha atenção total dos pais e tios, o que a fez ser mais mimada que qualquer outro. Ela tinha que ser ouvida. Tinha que dizer as regras. Todos tinham que deixá-la feliz — até porque ninguém a aguentaria zangada.

E, nesse momento, Lily fora contrariada brutalmente pela primeira vez – e não estava zangada. Estava surpresa. Era novo para ela, e a reação demorou para surgir, mas quando veio:

— Então você deu um soco em Scorpius, hein? – deu uma risada baixa, e logo Rose riu também. Ouvir isso de outra pessoa era simplesmente anormal demais para ela. Rose Weasley deu um tapa no rosto do Malfoy. Era hilário. – O que ele fez pra merecer?

— Ele é um babaca. – disse, ainda rindo baixinho, deitada na cama de cabelos espalhados por todos os lados.

— Ele é lindo, isso sim. Eu espero que não tenha danificado aquele rostinho, porque eu ainda não o toquei. Ainda. Está na lista de coisas a fazer antes de morrer. – Lily completou, fazendo a prima rir mais ainda. O riso, na verdade, não era por Lily, pela piada, pelo momento familiar – apesar disso a chocar bastante a princípio, mas sim por toda a situação. Ela havia chorado, ficado com raiva, gritado, mas não havia parado pra pensar no quão engraçado aquilo era. Rose tinha certeza de que estava ficando maluca. Alucinada.

Depois de mais uns instantes em silêncio, Lily suspirou e se levantou rapidamente.

— Você mandou bem na quadra hoje. – disse para a prima, encarando-a com um olhar sincero. – Mas você me paga! Não fala comigo em público, mulher que dorme em caixa.

— Mulher que dorme em caixa? – questionou, sorrindo.

— Rose, só duas coisas dormem em caixa: bonecas e sapatos. Interprete como quiser. – deu de ombros e saiu do cômodo com uma delicadeza clássica dela – saltitando.

Não vendo motivos para permanecer sozinha no quarto, já que havia relaxado e até descontraído, ela levantou. Depois de falhas tentativas de sua mãe e madrinha, Gina, de fazer as duas mocinhas da família serem amigas, quem diria que elas estariam rindo depois de brigar? Rose ainda estava ofendida, envergonhada, com raiva das atitudes preconceituosas de Lily, mas precisava daquilo. Precisava falar um pouco com alguém que não teria miolos suficientes para se defender, e isso a deu um pouco de coragem.

Com sua língua devidamente afinada, ela saiu do quarto – dessa vez fechando a porta com bastante cuidado. Lá embaixo, na sala comunal, havia ao menos dez grifinórias bem próximas, o que a fez pensar se elas estavam escutando a conversa do lado de fora da porta. Tentou afastar os pensamentos da cabeça, e seguiu andando dentre os corredores. Rose, estranhamente, quis ter vontade de chorar novamente, buscando uma desculpa para não sair debaixo das cobertas até... Bom, talvez pra sempre. Mas a vontade não veio, e ela continuou andando em busca de algo. Alvo? Hugo? Teddy? O primeiro rosto amigável que aparecesse viraria refém, porque não suportava a idéia de estar andando sozinha enquanto é motivo de boatos. Sentia-se insegura, como se alguém esperasse com um Avada Kedavra na primeira esquina.

Para a infelicidade da garota, o primeiro rosto “amigável” que viu foi um bastante inchado na curva para a Ala Hospitalar. Escondeu-se na batente, tentando ouvir o que estava acontecendo lá dentro.

— Isso aqui vai servir. É meio trouxa, mas vai servir. Esse rapaz que te bateu deve te detestar bastante, hein? Deixou os dedos bem desenhados nas bochechas. – a enfermeira disse, colocando um pano com gelo no rosto de ninguém mais, ninguém menos que Scorpius Malfoy. Rose teve que conter-se pra não rir.

— Ele me pegou desprevenido. – tentou defender-se, enquanto gemia com o toque.

— Deixe de frescura! É água congelada. Ora, Malfoy, vá embora! Você não está doente. Não tem o que fazer aqui.

— Mas... Madame, por favor. Eu não posso andar por aí com o rosto desse jeito. Não tem nada que possa fazer? Um feitiço, curativo? Alguma coisa? – ele insistiu, segurando-a pelo braço. Logo ela sacudiu-se, afastando-o.

— Que tal maquiagem?

— Não brinca numa hora dessas. Não tem nada masculino pra disfarçar? Não é como se fosse uma marca de beijo que eu possa sair me gabando. Tem que ter algo!

— Me desculpe, Malfoy, mas se quer saber, sempre há a desculpa “é porque você não viu o outro cara”. Agora saia! Está atrapalhando o fluxo. Daqui a pouco começam as aulas do dia e você vai estar aqui, ocupando macas de pessoas realmente com um problema. Saia! – e foi empurrando-o até a porta, onde Rose estava.

Demorou um instante para ele olhar ao redor e assustar-se com a presença da ruiva, sorridente. Ranzinzo, ele cruzou os braços. Scorpius sabia que era tarde para tentar esconder o gelo, porque a marca de mão em seu rosto – que, a propósito, havia acumulado sangue em certas partes, coisa que demora alguns dias para sair – estava mais evidente que nunca.

— Caramba Weasley, está me seguindo, é? – ele falou em tom relutante e envergonhado. Ela limitou-se a rir. – O que foi? Está rindo de quê? Você tem é sorte de eu não contar pra Minerva que você deixou uma marca no meu rosto.

— Não. É você quem tem sorte por eu não contar que te mandei para a enfermaria. Nossa, isso foi um tapa! – tentou aproximar-se para tocar a sua obra de arte, mas ele esquivou, empurrando sua mão, o que a fez rir mais um pouco.

— Como se alguém acreditasse nisso. – revirou os olhos.

— Eu dei um show hoje. Experimenta. – Rose falou. Esse era um dos momentos que ela conseguia e podia agir de maneira esnobe. Ela tinha o poder de se gabar, ainda mais na presença de Scorpius. Essa sensação de superioridade que ela tinha ao estar com ele com certeza facilitou a comunicação entre eles. Rose sabia que, em qualquer outra circunstância, ela falaria muita besteira para ele, não sabendo se expressar direito.

— Sabe, eu pensei que você fosse bem diferente até então. – ele comentou.

— Decepcionado?

— Bastante. Valentona e artilheira? Não vou mentir, gostava mais de quando você não tinha coragem nem para fazer amizades cujos nomes não terminassem com Weasley ou Potter. – ele disse, usando contra ela o maior argumento que todos usam como chacota contra ela.

— Gostou tanto a ponto de querer apanhar de novo, Scorp? – só depois de completar a frase ela percebeu o apelido que usara, e corou instantaneamente. Se o garoto reparou, ignorou.

Não apanhei de você. Foi só um tapa, que é bem mais feminino, e faz bem o seu jus, garotinha.

— Qual o seu problema com garotas afinal? Não gosta desse tipo de gente, prefere garotos? Não tem problema algum nisso, e até faz algum sentido. Todas as palavras que trocamos tem certo nojo por mulheres. Se prefere ficar com rapazes, é só dizer! – ela disse, arqueando a sua sobrancelha.

Percebendo que havia sido acusado de ser gay, coisa que nunca havia acontecido, ele deu um passo para ficar mais próximo da ruiva – essa, por outro lado, se assustou com a distância curta entre eles.

— Então o jogo, o tapa, tudo foi para saber se eu sou gay ou, simplesmente, pra ter uma chance de sair comigo? Porque, sério, foi bem original. Eu estaria considerando a possibilidade se você não fosse assustadoramente parecida com o seu pai. – ele estava próximo a ponto de soprar cada palavra em brisas para o rosto de Rose. Percebendo que ela estava mais vermelha que o próprio cabelo, envergonhada e nervosa, ele afastou-se. – Não, Rô, para sua felicidade, eu não sou gay. – comentou, mostrando que havia escutado o apelido mais cedo.

Ela, que não admitia sair por baixo em um debate com alguém que ela repudiasse dessa maneira, segurou a manga de sua camisa e puxou-o para perto novamente. Nesse momento ela precisou afastar a Rose de si mesma e trazer o seu orgulho à tona.

— Ainda não estou convencida. Você sabe que tudo bem ser gay hoje em dia, não é? – perguntou em sussurros para ele. Scorpius, estranhamente, achou a situação mais estimulante do que ameaçadora. Soava como uma fantasia que ele nunca teve, e tentou aproveitar-se disso ao usar o seu sorriso mais malicioso possível. Ele podia detestar a garota, o que ela representa, e o que ela o causou naquele dia, mas, assim como todos os garotos, são duas cabeças com objetivos opostos.

— Está duvidando mesmo? – retribuiu os sussurros.

— Eu? Duvidar da masculinidade de um Malfoy? Ora, me poupe. – ela disse, piscando um olho para ele. Nesse momento o garoto fitava seus lábios grandes e rosados, completamente boquiaberto.

— Eu posso provar... – ele disse, pondo a mão na parede a aproximando-se ainda mais da garota. Em outra fração de segundos, Rose virou um pouco o rosto, como quem fosse beijar o pescoço do loiro, e sussurrou de forma bem lenta em sua orelha:

— Eu prefiro ter um pênis implantado na testa, Scorpius, a ser outra vítima do seu machismo babaca.

Logo ela o empurrou e saiu caminhando em passos aliviados, tranqüilos – que disfarçaram muito bem suas pernas bambas. Atrás dela sobrou apenas um Scorpius perplexo e, de fato, confuso.


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Notas finais do capítulo

Aos que comentam, muito obrigada! Amo que haja gente lendo meus capítulos, mas quem comenta mora no meu coração de maneira inexplicável. Eu adoro saber o que estão achando! Fico feliz de agradar ♥ um beijão!