Ela estava esperando na estação

Ele estava saindo do trem

Ele não tinha ingresso, então teve de pular pelas barreiras de novo

O inspetor de ingresso viu-o correndo

Ele disse "garota, você não sabe o quanto senti saudades,

Mas é melhor a gente correr porque eu não tenho grana pra pagar essa multa."

Ela disse "tudo bem".

Victoire Weasley e Edward Lupin tinham dezoito anos, diplomas fresquinhos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, muito tempo livre e hormônios condizentes com a idade quando decidiram utilizar os seis primeiros meses pós-graduação para explorar a Londres Trouxa. O plano era bem simples: nos dias em que ambos não tinham compromissos com suas respectivas famílias, eles escolhiam um local de encontro e davam um jeito de chegar até ele sem o auxilio da magia. O resultado é que o sempre cabeça-de-vento Ted esquecia-se de comprar bilhetes, transformando-se num mini deliquentizinho odiado por muitos dos inspetores de estações e amado por todos os jovens garotos britânicos que inspiravam ser como o rapaz desajeitado de cabelo azul e pernas longas.

Então eles saíram correndo da estação e pularam num ônibus
Com dois tickets de ontem e duas garrafas de Bud

Naquele dia em especifico, eles não tinham nenhum itinerário pronto. Andrômeda tinha estado doente pelas ultimas três semanas, de modo que Ted não fizera nada além de ficar perto da avó, ministrando-lhe as poções nas horas certas e esforçando-se para fazer chás razoáveis que pudessem animá-la um pouco. Ele e Vic vinham se comunicando através de cartas, mas só agora, sentada do lado dele em um ônibus que poderia estar indo para qualquer lugar, ela tinha real dimensão do quão abalado ele estava. O pior já havia passado e Vic o conhecia bem o suficiente para saber que ele falaria sobre o assunto quando se sentisse confortável. Por isso, ao invés de tecer algum comentário a respeito, tirou duas long necks da mochila vermelha, ficando com uma e oferecendo a outra.

— Budweiser. – Vic apresentou. – Da empresa Anheuser-Busch. 1876.

Essa era outra coisa que eles haviam decidido: experimentar o máximo de cervejas trouxas possíveis. No inicio, parecera uma boa ideia, mas Ted analisou a garrafa com um olhar de desconfiança. A última tinha cheiro de urina de gnomo de jardim.

— Relativamente quentes em nome dos nossos dentes sensíveis e da falta de uma bolsa térmica. – Ela continuou a apresentação de maneira bem humorada sem se deixar abalar pela falta de confiança dele.

Ted sorriu e a fitou de verdade.

E ele disse "você está muito bonita"
E ela estava usando uma saia
E ele achou que ela estava bonita
E ela também não ligava pra mais nada
Porque ela só queria que ele a achasse bonita

E toda vez que ele fazia isso era como redescobrir o paraíso. E o mais surpreendente é que tinha pouco a ver com o sangue de veela e os dentes grandes, bonitos e simétricos que ela tinha.

Era apenas o modo como ela sempre dominava a energia do espaço em que estava. Vic era... Radiante.

E ele disse isso a ela, pelo que pareceu ser a centésima vez. E ela corou pela mesma marca numérica.

Já tinha um ano e meio que eles estavam saindo juntos e Victoire se perguntava se em algum momento ia parar de ser tão importante que ele lhe fizesse elogios bobos assim do nada.

Mas ele estava olhando pra ela, como se fosse engraçado

Ela disse "vamos lá, garoto, diga-me o que está pensando,

Não seja tímido"

Ele disse "ok, vou tentar...

Todas as estrelas lá no céu e as folhas nas árvores

Os pedacinhos quebrados que a fazem pular e a grama que fica em volta

Tudo o que importa neste mundo é o quanto eu gosto de você”

Quando eles desceram do ônibus rumo a um píer que não tinham ideia do nome, Ted ainda estava naquele estado contemplativo. Vic riu e perguntou o que estava havendo. Ele lhe disse coisas embaraçosas e bonitas e ela tomou um longo gole de cerveja morna para acalmar o estômago saltitante.

Ela disse "o quê?"

Ele disse "deixe-me tentar e explicar de novo: pássaros podem voar tão alto ou podem fazer cocô na sua cabeça

É, eles podem quase ir direto nos seus olhos e deixá-la assustada

Mas quando você olha para eles e vê que são lindos,

É assim que me sinto com relação a você”

E depois ela perguntou de novo, não porque não tinha entendido as figuras de linguagem, e sim porque não tinha ideia daquele potencial romântico que aparentemente existia dentro de Ted.

Então ele fez uma ótima analogia com pássaros.

E ela riu alto.

Ela disse “o quê?”

Ele disse “você”

Ela disse “do que você está falando?”

Ele disse “você”

E o mundo de repente era um clichê infinito. E Victoire ou tampouco Ted se importavam. Era o tipo de fragmento juvenil que eles se lembrariam com carinho dali a alguns anos, quando coisas menos importantes começassem a pesar como se fossem importantes.

É assim que me sinto com relação a você

Então, é assim que me sinto com relação a você

Porque no momento, eles tinham dezoito anos, gargalhadas levemente alcoolizadas, disposição para corridas bobas em deques, mil possibilidades de futuro e o essencial: um ao outro.