Leal a seu senhor escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 13
O Conselho




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Ao entrar em contato com suas chamas pela primeira vez, Emi não só sentiu o poder do fogo em suas mãos, mas sentiu também sua parte perdida do outro lado da Terra do Sol Nascente. Isso mesmo, nossa garotinha inconscientemente entrou em contato com Kazu-Tsuchi e pela primeira vez na vida, sentiu medo de fechar os olhos e dormir.

Desde o incidente em Takayama, todas as noites em seus sonhos, Emi via lembranças de Kazu, infelizmente ela só conseguia enxergar a parte ruim do Fogo. Como Nora, o deus do fogo foi usado para fazer coisas horríveis, os deuses só usavam suas habilidades de receptáculo para literalmente limpar suas sujeiras e esconder seus segredos. Kazu era consciente de suas ações e mesmo não concordando com a maioria delas, queimar e ser usado dessa forma, era algo que lhe dava imenso prazer.

Então, todas as manhãs a menina levantava em um só pulo, já que não conseguia dormir direito. Os meses foram passando e a situação parecia não mudar, seu treinamento de Miko era duro e lhe gastava muita energia, mas mesmo com o cansaço ela não conseguia descansar, pois seus sonhos a torturavam.

Mas em paralelo a isso, outro problema assolava o templo de Bishamon, e no momento ele era a prioridade de todos os deuses. Ryuka ainda estava à solta naquele mundo e era um perigo não só para os humanos e até yokais corriam risco de vida perto da semideusa.

Ela tinha uma arma poderosa em suas mãos, a filha de Bishamon possuía Tenon, o mais temido Kamikui de todos, sob seu domínio e controle. Todos deuses da guerra, até alguns Arakami haviam juntado forças para tentar conter a terrível besta branca de oito cabeças, mas seus esforços foram inúteis.

Toda a força somada dos deuses não era suficiente para se quer derrubar a enorme fera. Depois da humilhante derrota, uma reunião foi convocada as preces no reino de Takamagahara e todos os deuses estavam presentes, todos menos Izanami, mas obviamente seu representante havia dado um jeito de subir à terra dos deuses.

—Silêncio todos! —Gritou Izanagi, acalmando os deuses presentes—Então, voltando ao caso Tenon, General Guan Yu relate-nos o ocorrido por completo.

—Obrigado pela palavra —O deus da Justiça e das artes marciais levantou-se e cumprimentou a todos —Na noite de ontem, Tamonten-Ogami e eu lideramos juntos 25 deuses da guerra e 12 Arakamis para um ataque à ameaça de Tenon. Tudo parecia ocorrer muito bem, dentro dos planos, até que sem explicação aparente ao matar o Kamikui.... Ele retornou à vida, mais forte e mais resistente.

— Guan Yu-Ogami, Tenon é um Kamikui e ele é imortal, é comum que isso aconteça, mas acho que o senhor já sabe disso—Disse Amaterasu entrando na sala—Aproposito, desculpem meu atraso.

O conselho era formado por três deuses, Izanagi, ao detinha a cadeira maior e ao centro. Amaterasu, era o braço direito de seu pai, por isso sentava-se no respectivo lugar ao lado do dono de Takamagahara. Por último, o assento à esquerda pertencia à Shini-no-Hana, o filho prodigo de Kamui e puxa saco de Izanagi.

A deusa entrou e todos calaram-se e curvaram-se perante ela, por mais que Izanagi fosse o senhor daquele reino, a autoridade a qual os deuses mais respeitavam era a deusa do sol. Amaterasu foi até seu pai, beijou sua mão, logo depois expulsou Shini-no-Hana da cadeira à direita de Izanagi, que era sua por mérito e sentou-se graciosamente. A flor da morte fuzilou a deusa enquanto se levantava, mas não disse nada, ele desconfiava da traição da deusa do sol perante seu pai, Hana sabia que ela havia ajudado Kazu-Tsuchi a fugir do Yomi, mas Amaterasu simplesmente o ignorava e lidava muito bem com as provocações do garoto andrógeno.

— Mestre Guan, perdão interromper sua fala, continue por favor—Disse a deusa sorrindo.

— Mestra Amaterasu, sei que um kamikui é imortal, mas a forma como se regenerou.... Foi quase que imediata, isso definitivamente não é normal.

— E por que isso aconteceu? —Perguntou a deusa enlaçando seus dedos e apoiando seus cotovelos sobre a mesa à sua frente —Vocês têm alguma ideia sobre o assunto?

—Temos sim, ele está sendo controlado—Disse Bishamon, abaixando a cabeça.

—Por quem? —Perguntou Izanagi.

—Uma mulher, o nome dela é Ryuka e ela possui o controle de outros Hogoshas e Yokais fortes.

—É uma humana? —Perguntou Amaterasu.

—Não mesmo—Disse Shini-no-Hana rindo maliciosamente —Seu nome completo é Ryuka Yaksas, fazem alguma ideia de quem ela é, e o que seu sobrenome significa?

Todos começaram a cochichar, Bishamon sentiu um aperto no coração, já que eras atrás ele tinha sido julgado por ter tido uma filha e quase foi expulso da ordem dos deuses da sorte. Temia que se mexessem muito no assunto descobrissem Emi, mas manteve-se firme perante o do deus da morte e não demonstrou medo.

—Yaksas era minha tribo—Disse Bishamon firmemente — Todos foram mortos no período Heian, há quase mil anos atrás, e a mulher em questão é minha filha, mas o sobrenome dela não é Yaksas, é Ikeda, igual ao da mãe. Mas você deve saber disso Sr. Ceifador, já que você a levou antes da hora.

—Bishamon, meu querido...A hora de um mortal somente eu sei, mas se quiser saber a sua.... Eu posso dar um jeitinho agora mesmo—A morte estava provocando direitinho o deus da guerra—Aliás, a culpa disso tudo ter acontecido é sua.

—Como ousa falar tal coisa! —Guan Yu segurou Bishamon pelo braço para que não fizesse nenhuma besteira

—Parem, vocês dois! —Gritou Amaterasu— Todos já estamos cansados de ouvir essa história, Bishamonten teve uma filha com uma humana, a criança cresceu não sabendo quem ela era, quando ficou sabendo sobre sua herança e toda a dor que isso a causou por conta desse segredo.... Acho que a humana se revoltou e quis destruir tudo que seu pai um dia já teve, pois ela perdeu tudo que tinha. Sinto pena por Ryuka, ela era só uma criança tola.

—Que forma poética de falar a história de um demônio, está se esquecendo que a “coitadinha” matou mais de 400 seres vivos, isso só na semana passada —Disse Shini-no-Hana se levantando e andando de um lado para o outro.

—Você não tem dó de ninguém mesmo—Disse a deusa olhando com desprezo para a morte.

—Ainda bem, dó e compaixão são sentimentos muito humanos—Hana sorriu sarcasticamente.

—Ora seu... —Amaterasu foi interrompida por um rugido que assustou a todos.

Na porta do salão estava o exemplar de Izanami, que já não aguentava mais ver eles falarem e gritar, mas não chegarem a lugar nenhum. Yon entrou na sala e pôs se entre Bishamon e Guan Yu, depois curvou-se perante Izanagi e cochichou baixinho para que apenas Tamonten escutasse: —Não se preocupe, fique em silencio que eu salvarei sua filha. O deus estranhou o ato do homem ao seu lado, mas resolveu permanecer quieto e ver aonde isso iria o levar.

—Desculpe o rugido, mas não aguentava mais ver vocês, deuses respeitados brigando—Disse o shinki ainda de cabeça abaixada.

—Kan, o que faz aqui seu traste? —Disse a flor da morte levantando-se—Tem algo a ver com a fuga de Tenon por acaso?

—Não Mestre Hana, eu venho solucionar seus problemas. Na verdade, são meus problemas, mas eu não posso fazer isso sozinho —Yon levantou-se encarando o deus da morte — Aproposito Hana, meu nome é Yon agora.

—Shini-no-Hana, quem é esse shinigami que fala sem respeito com você? —Perguntou Izanagi.

—Esse lixo não é meu, Yon ou Kan, seja lá qual for seu nome, ele foi banido do meu reino há muitas Ciclos passados. Não era para ele estar aqui, sua alma já devia ter apodrecido há muito tempo nas profundezas do Yomi.

—Mas eu não sirvo a você Shini-no-Hana, venho em nome de Izanami—Todos no salão assustaram-se ao ouvir o nome da deusa do submundo—Ela queria vir pessoalmente, mas pelo jeito Izanagi a baniu de Takamagahara, o jeito foi me mandar.

—Silencio todos—Disse Izanagi—Você disse que veio em nome de quem?

—Minha mestra, a senhora do submundo, e se quiserem se livrar de Tenon sugiro que me ouçam.

—Fale... Servo de Izanami—Disse Izanagi, mesmo desprezando a ideia.

—Esperem.... Vocês querem mesmo confiar nesse traste, que matou quase o mesmo tanto que essa tal de Ryuka? —Disse o Shinigami incrédulo do que estava acontecendo.

—Hum.... Acho que não temos nada a perder, pode falar Sr. Yon—Disse Amaterasu apoiando seu amigo.

—Obrigada Mestra Amaterasu, não demorarei com as palavras.

—Ok, seja breve então — A deusa sorriu.

—Em primeiro lugar, se quiserem culpar alguém culpem a lei de Órion, que proíbe deuses de se relacionarem com humanos... —Amaterasu chamou a atenção do ex-shinigami— …Mas isso é só um comentário. Bem, tudo que eu preciso é de um dia e Bishamon para me ajudar, isso é o suficiente para levar Tenon de volta.

—E não vai nos falar como vai conseguir tal ato heroico? —Disse Izanagi, rindo do enviado de sua ex-esposa.

—Bem, vocês estão tentando matar um Kamikui selado, é óbvio que ele não vai morrer.

—Como assim? —Perguntou Shini- Hana sem entender.

—Eu selei Tenon em Kyoto há 500 anos atrás —Disse Amaterasu se endireitando na cadeira— Susanoo e Bishamon me ajudaram a fazer isso, tempos depois o templo Ginkaku-ji foi construído sobre a rocha que eu o aprisionei.

—Sim e ele continua lá —Yon curvou-se novamente— Aliás, Mestra Amaterasu, se me permite dizer.... Seus selos são os mais resistentes que eu já vi.

—Ah tenha dó, pare de bajular ela, traste —A morte falou de forma fria e firme — Mas então nos diga, como espera levar um Kamikui já selado para o submundo?

—Com isso —Yon tirou se seu paletó um olho de raposa, uma pedra capaz de teletransportar quem a usa— Eu o levarei junto comigo para o buraco de onde ele veio.

—Isso explica como chegou aqui —Disse Izanagi— Mas e a mulher, a filha de Bishamon?

—Bem isso é problema dele, mas acredito que se quebrar a porcelana que a encobre, sua alma se libertará.

—Isso vai funcionar? —Perguntou Amaterasu, preocupada.

—Claro que vai, eu lhe garanto.

—Parece muito vago, e simples demais—Disse Izanagi um tanto desanimado com a ideia.

—Um dia, é tudo que te peço.... Não vai doer se tentar me dar uma chance, Senhor.

Tanto Izanagi quanto Hana estavam odiando a presença de Yon, não o expulsaram assim que o ex-shinigami chegou apenas para manter a postura de justos, mas por dentro estavam planejando mil e um jeitos de matá-lo. O dono do céu já estava para dar o veredito final, iria recusar a ideia de Yon, aliás, ele odiaria e recusaria qualquer ideia que viesse de Izanami, mas no último minuto Amaterasu interferiu e recorreu a todos os deuses presentes.

—Irmãos! Por favor, nos ajudem, nos deem sua voz. Vocês acham prudente dar uma chance a esse...esse.... Esse ser e talvez evitar perder mais vidas e evitar mais feridos? —Todos começaram a cochichar— O que me dizem, vocês escutam milhares de pedidos todos os dias, por que não ouvir o pedido desse human...Perdão, desse ser.…. Por que não ouvir?

Todos ficaram em silencio por um instante, depois concordaram entre eles que era a melhor opção, já que não tinham mais nenhuma. Acabaram por forçar Izanagi a deixar Yon seguir seu plano, obrigando o deus a também dar ao ex-shinigami a benção divina para ajudá-lo na jornada.

Após a reunião terminar, Yon encontrou Tamonten nos jardins para discutir suas estratégias. O deus estava deveras curioso para saber qual era o plano daquele estranho homem que havia lhe oferecido ajuda e um modo dele mesmo acabar com o monstro que ele havia criado. Mas seis palavras foram suficientes para fazer Bishamon perder totalmente a confiança que ele podia ter:

—Então, quando vou conhecer mestra Emi! —Disse Yon sorrindo.

O deus rapidamente pegou sua pagoda e a pôs sobre o pescoço do dragão, mas Yon foi mais esperto e tomou a faca da mão de Bishamon.

—Não faça isso, estamos sendo vigiados.... Eles não confiam em nós, por isso estou te ajudando, se é isso que quer saber.

—Como conhece Emi, apenas me responda isso.

—Simples.... Ela é a chave.

—O que você quer dizer com isso?

—Nada que você não saiba, ela é muito especial. E no momento, ela é a única que pode curar sua filha.


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