O Conto da Narradora escrita por Lizzy Di Angelo


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, tudo bom com vocês?
Antes de tudo, espero que não tenham desistido de OCDN, e me desculpem pela demora e pelos reviews ainda não respondidos (mas li todos e amei cada um). Infelizmente não estou conseguindo responder pelo tablet ou celular, e passo a maior parte da semana sem o computador, mas hoje mesmo irei responde-los.
Prometo para vocês que atualizarei o mais rápido possível.

Boa leitura.



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Naquela manhã eu fui acordada cedo, com minha mãe me sacudindo anormalmente animada, e o sorriso que ela me dirigiu me fez sentir um arrepio dentro da minha alma. Os meus livros estavam empilhados sobre o móvel novamente, e ela estava sentada na ponta da cama sacudindo os pés e alternando o olhar entre minha belíssima figura de cara inchada, e o uniforme que ocupava meu lado na cama.

−Bom dia, minha querida. –ela me cumprimentou, as sobrancelhas levemente arqueadas pareciam dizer “você tem algo pra me contar?”.

Queria ter, mãe.

−Tudo bom? –perguntei sem entender o que estava acontecendo, o sono impregnando minha alma e me impedindo de pensar.

−Claro, Jade. –animação é uma coisa suspeita, se alguém vier muito animado pro seu lado, saiba que algo vai dar errado na sua vida. Algo a mais, no caso da minha. –Vá tomar banho antes que se atrase, sim?

Então eu me levantei e arrastei minha carcaça para fora do quarto, em busca do banheiro. Quando sai do banheiro e voltei para o quarto, minha mãe já não estava mais por ali, o que me permitiu por aquele uniforme sem ficar pensando sobre desgraças. Aliás, estava pensando sobre como aquela roupa não colaborava com a minha existência, ela me deixava com um ar de Cinderela quando ainda era escravizada. O vestido era azul claro com branco, chegando ao final dos joelhos e com o brasão de Ampére no lado esquerdo, e também contava com um par de sapatilhas azuis, e um par de brancas (minhas mãos nunca mais foram as mesmas desde que comecei a lavar essas sapatilhas).

Andei até a cozinha, sentada à mesa ao lado da minha mãe estava o Érebo* encarnado, mas conhecido como minha tia, sorrindo. Não olhei para nenhuma delas antes de ocupar um lugar na mesa redonda, e tomar um chá horrível (infelizmente não temos ninguém que saiba fazer uma comida descente nessa casa), mas assim que levantei o rosto as duas me encaravam. Minha mãe apoiava o queixo em uma mão e tinha aquele sorriso de “então...?” , já minha tia matinha a xícara levantada e um sorriso levemente maldoso, o que me fez pensar que ainda não estava preparada psicologicamente para o que poderia vir.

−Realmente não pretende nos contar, Jade? –Samambaia perguntou, gelo passou por minha espinha.

−O que eu tenho para contar? –perguntei, esperando que elas me contassem o que eu deveria contar para elas.

−Sempre soube que a beleza da família era algo impressionante. –minha tia falou como se estivesse divagando, quase joguei os cabelos para o lado e disse “obrigada, sei que sou impressionante”, mas meu cabelo estava preso e pude sentir que viria mais alguma coisa. –Contudo, não sabia que já possuía essa popularidade.

Minha popularidade fica mais embaixo do que os Campos de Punição, flor.

−Eu também não sabia, irmã. –minha mãe falou com aquele sorriso de quem estava se divertindo, enquanto eu quase pedia para ela falar logo o que eu tinha feito. –Afinal de contas, não são todas as garotas que recebem a ajuda de um Duque, ou futuro Duque. Ainda mais de Helianth.

Meu primeiro pensamento foi “glória”, por terem finalmente revelado sobre o que falavam, mas eu demorei alguns segundos para entender de verdade. As palavras ajuda, futuro Duque e Helianth se repetiam em minha cabeça, enquanto eu relembrava do meu infeliz “passeio” com ele e de ter debochado de um Duque de todas as maneiras que ninguém tinha autorização para fazer. Se minha mãe lê-se mentes, eu estaria morta.

−Como foi? Ele é mais bonito de perto? Sobre o que conversaram? –as perguntas soaram tão animadas, que senti vontade de subir em um penhasco apenas para me jogar dele.

Misericórdia.

A risada baixa de Samambaia me fez olhá-la, apenas para ver aquela diversão maldosa brilhando nos olhos dela. E então, pela primeira vez naquela manhã, pensei. Ela estava na casa quando eu havia voltado, e comentara sobre o Duque, mas naquele momento agia como se tivesse descoberto pela minha mãe, então ficou decidido:

Aqui se faz, aqui se paga.

−Creio que a tia Samambaia possa te responder mãe, afinal, ela pareceu bastante informada quando cheguei em casa ontem. –quase ri ao pensar que podia sentir o gosto da maldade escorrendo por minha boca.

−É mesmo, Samambaia? Você me pareceu bastante surpresa quando te falei. –e então vi a maldade escorrendo da minha mãe em forma de sarcasmo, e tive que rir. –De toda forma, eu e Jade temos que ir. –então nos levantamos e caminhamos para fora de casa, parando para pegar nossas bolsas, deixando minha tia e sua irritação para trás.

Eu ia para a escola, e minha mãe voltar ao trabalho, e nenhuma das coisas me deixava particularmente feliz. Chutei uma pedrinha do meu caminha na floresta, desviando dos galhos que pareciam interessados em se prender no meu cabelo, enquanto minha mãe parecia conferir se estava com tudo numa bolsa pequena que carregava.

−Você ainda não me disse como foi... –minha mãe observou, me fazendo pensar na prisão. Devia ser um lugar triste e frio, onde eu provavelmente iria parar.

−Não foi, ele estava apenas sendo enxerido. –respondi, mesmo que ele houvesse sido gentil, continuava enxerido e irritante. –E não conversamos sobre absolutamente nada.

−Que deprimente, Jade, ele parece tão fofo. –quase revirei os olhos, constatando que nada poderia ser mais deprimente do que conversar sobre um Duque. O sorriso maligno apareceu novamente, seguido de um comentário: −Você não respondeu minha outra pergunta.

−Não me lembro de nenhuma outra pergunta. –lembrava sim.

−Então deixe-me ajudá-la: Helianth é mais bonito de perto? –perguntou novamente, eu já podia ver as ruas de Ampére surgindo, mas não perto o bastante para que nossos caminhos se separassem antes que eu fosse obrigada a chamar um nobre de bonito.

É sim, da vontade de apertar as bochechas dele e puxar os cachinhos até ele me jogar na prisão.

−Não. –respondi falsamente, diante da divisão entre a floresta e Ampére, minha mãe me abraçou antes de nossos caminhos se separarem, e quando eu só tinha dado dois passos, voltei a ouvir a voz dela.

−Você mente muito mal, minha flor.

Decidi não responder e apenas seguir meu caminho até o antro de males, andando pelos cantos, novamente, para evitar o infortúnio (apesar de que da ultima vez nem deu certo). Não era um caminho tão longo, apenas alguns minutos de caminhada, mas mesmo de longe era possível ver a acumulação de carruagens paradas na entrada, com seus nobres arrogantes e preguiçosos saindo delas, como se fossem as pessoas mais importantes do mundo. De dentro de uma saiu o Duque de Helianth, rindo como se houvesse escutado algo muito engraçado, e eu não duvidei, já que logo em seguida ele se virou para poder ajudar a princesa Rosalye, herdeira da coroa, a descer da mesma carruagem.

Não me dei o trabalho de observar os mesmos rostos que eu era obrigada a ver sempre, assim que atravessei os portões dourados apenas me dirigi à enorme estrutura daquela escola, indo até a minha sala. Minha mesa era a última da fileira colada à parede, de onde você não ouvia ou via nada, mas todos os professores haviam decidido que aquele era o meu lugar, que deveria ser pelo resto de minha medíocre vida. Para todo o sempre, a última, não importava no que. E eu fiquei ali até a sala se encher, até Jasmim Qualquer-Que-Seja-O-Sobrenome arrastar sua cadeira para frente para ficar mais longe de mim, até a princesa chegar sorrindo como se não pudesse estar mais feliz, até Helianth entrar na sala e se acomodar na primeira cadeira, e até o professor entrar na sala, e eu não conseguir ouvir uma palavra dele.

A vida parecia particularmente feliz para todas aquelas pessoas, para todos que podiam ir às praças da cidade, ou caminhar por ela, e não passar meros minutos e apenas em caso de precisar comprar algo ou de ir à escola. Que podiam falar com qualquer um, e não eram deixados em um canto como se fosse uma ameaça a todos os outros. E então, como a única coisa que havia restado para fazer, peguei uma folha e uma pena, para desenhar com toda minha falta de talento.


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Notas finais do capítulo

*Na mitologia grega Érebo é o deus primordial da escuridão e sombras.

Espero que tenham gostado desse capitulo e que deixem seus reviews para eu saber o que estão achando.

Kissus, Lizzy.



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