Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 18
S02C08 - Reflexos amarelos


Notas iniciais do capítulo

Oi, menines!
Boa leitura!
[CAPÍTULO BETADO 18/06/2020, @PatBlack, [u/26945/]



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Mesmo que não houvesse, de fato, se estatelado no chão, Harry ainda havia demorado a acordar depois do desmaio e Dahlia, mesmo que estivesse chorando, começou a seguir lentamente os jogadores da grifinória, que levaram seu apanhador até a enfermaria, enquanto Dumbledore lidava com os dementadores. Hermione abraçou a sonserina de lado e foi arrastando-a cuidadosamente atrás dos jogadores, com Ron, Luna, Ginny e Gwendolyn seguindo toda a comissão de perto.

Quando chegaram à enfermaria, Madame Pomfrey os apressou para que deixassem o garoto em cima de uma das camas, o que os gêmeos Weasley, que carregavam Harry, prontamente fizeram. Para abrir espaço para a enfermeira, todos se amontoaram nas duas camas ao redor do garoto, apenas observando.

— Parece que foi apenas um susto, garotos — afirmou Madame Pomfrey, suspirando de alívio. — Ele tem alguns cortes e os pulsos estão um pouco distendidos pela força com que ele estava segurando a vassoura, mas nada que um simples gel não resolva.

Depois do diagnóstico da mulher, o inspirar e expirar de Dahlia pareceram ser feitos com menos peso do que antes e as lágrimas que antes ainda escorriam pelo rosto da garota se interromperam. Com um acenar de varinha, Madame Pomprey os enxugou, todos, da água gelada da chuva, que ainda caía fortemente do lado de fora, e, depois de murmurar algo que parecia muito com "maldito Quadribol", a enfermeira se retirou para seu escritório nos fundos da enfermaria.

— Que sorte que o chão estava tão mole, hein — disse Angelina Johnson, umas das artilheiras do time. — Eu achei que ele estava mortinho.

A garota grifinória, apesar de ser pelo menos duas cabeças mais alta que Dahlia, se encolheu ao receber o olhar furioso da loira e passou dois dedos pelo comprimento dos lábios, fechando um zíper imaginário. Dahlia ainda encarou a menina por mais alguns segundos, antes de se reclinar até encostar levemente em Ginny, que se encontrava atrás de si na cama em que sentavam.

Como todos estavam muito calados, foi fácil ouvir o gemido de dor que anunciou que Harry havia acordado. Dahlia apertou um pouco o braço de Ginny para expressar agradecimento pelo carinho e se levantou para permanecer ao lado do garoto, que abria os olhos levemente.

— Harry! — exclamou Fred, cujo rosto estava extremamente pálido sob a lama. — Como é que você está se sentindo?

— Que aconteceu? — perguntou o grifinório, sentando-se na cama tão de repente que todos reprimiram um grito de surpresa.

— Você caiu da vassoura — contou Fred. — Deve ter caído... de ... uns quinze metros?

— Foi assustador, pensamos que você tivesse morrido. — disse Alicia, trêmula. Hermione, que, assim como Dahlia, também estivera chorando e tinha os olhos muito vermelhos, soltou um último soluço.

— Mas o jogo — perguntou Harry. — Que aconteceu? Vamos jogar outra vez?

Com um barulho esganiçado de indignação, Dahlia se aprumou e beliscou fortemente o primo no braço.

— Ouch! — exclamou Harry, olhando para a prima com uma surpresa indignada. — Que foi isso?

— Todos preocupados com a sua vida e você só se importa com a porcaria do jogo — disse Dahlia, encarando o garoto furiosa. — Você devia se envergonhar, sabia?

— Mas nós ganhamos, se é isso que quer saber! — disse Oliver, que estava no finalzinho da cama em que Harry se encontrava. O capitão do time empalideceu sob o olhar enfurecido de Dahlia, que parecia a ponto de explodir.

— Vocês são inacreditáveis! Pelo amor de Deus! — bradou Dahlia, voltando a se sentar na cama em que suas amigas estavam. — Você caiu como uma batata-doce no chão e teria morrido se não fosse Dumbledore, Potter. Depois disso, Diggory apanhou o pomo, mas a Grifinória havia conseguido fazer pontos o suficiente para ganhar a partida, por míseros dez pontos a mais que a Lufa-lufa. Feliz agora, imbecil?

— Muito! — exclamou o garoto, abrindo um sorriso de ponta a ponta e se recostando novamente nos travesseiros. — Você nem imagina, priminha...

Dahlia ainda murmurava "inacreditável" quando, mais ou menos quinze minutos depois, Madame Pomfrey veio colocar o time de Quadribol para fora, para que Harry descansasse. Quando as três amigas de Dahlia e o trio de Ouro eram os únicos restantes na enfermaria, além de Madame Pomfrey, foi quando Hermione resolveu quebrar os ovos com Harry.

— Realmente foi muito bom que nós ganhamos, Harry... — começou Hermione, com a voz trêmula. — Mas, bem... quando você caiu, a vassoura foi levada pelo vento e bateu... bateu... ah, Harry... bateu no Salgueiro Lutador.

— E? —insistiu o garoto, parecendo temer a resposta.

— Bem, você conhece o Salgueiro Lutador — disse Ron. — Ele... ele não gosta que batam nele.

— O Prof. Flitwick trouxe a vassoura de volta pouco antes de você recuperar os sentidos — disse Dahlia com uma voz mínima, por saber o quanto Harry sentiria falta de sua vassoura.

Devagarinho, Hermione foi se abaixando para apanhar uma saca aos pés da cama do garoto, despejou-a e caíram na cama uns pedacinhos de madeira e gravetos, que eram tudo que restava da Nimbus de Harry.

[...]

Pelos próximos dias, Harry permaneceu internado na enfermaria, por recomendação de Madame Pomfrey, mas Dahlia não pôde permanecer ao seu lado da forma como queria. Devido às suas próprias aulas e às lições extras que tinha de Feitiços, História da Magia, Poções e Transfiguração, a sonserina não tinha muito tempo para ficar à cabeceira do primo. Por isso, ela fez Hermione prometer que a avisaria caso qualquer coisa mudasse e visitava o garoto apenas vez ou outra durante a semana em que ele permaneceu internado, confiando que Ron e Hermione cuidariam bem dele.

Como os primeiros testes começariam em poucos dias, as garotas, Dahlia e suas melhores amigas, combinaram entre si que estudariam juntas durante alguns períodos livres que todas tinham às tardes. Logo, depois de quatro encontros, não apenas as quatro meninas se empoleiravam como pássaros para estudar, mas também mais três alunos da Grifinória e uma da Lufa-lufa, testando a boa paciência de Madame Pince.

As quatro, surpreendentemente, conseguiam se completar muito bem nas matérias que tinham. Enquanto Dahlia se excedia em Poções, História da Magia e Transfiguração, tanto Ginny quanto Gwen não precisavam se esforçar o mínimo para realizar um feitiço na primeira tentativa, mas Ginny era a melhor das quatro em Defesa Contra as Artes das Trevas; Luna adorava Astronomia e sem esforço sabia de todo o conteúdo das aulas, Gwendolyn, por outro lado, era a única dasquatro que não tinha nenhum problema com Herbologia e adorava a matéria.

Em um dos dias de encontro, as meninas foram pegas estudando por Neville, e este acabara se juntando às garotas, depois de implorar por ajuda na matéria de Poções. Não obstante, logo os amigos do grifinório também estavam frequentando as sessões de estudo. Taylor Davies, um garoto asiático da Grifinória,muito gentil, que as meninas já haviam conhecido antes; Miranda James, uma garota de olhos grandes e juntinhos, que tinha o rosto rechonchudo e era muito educada para uma pessoa de doze anos; e Colin Creevey, que, pelo que parecia, tinha superado um pouco sua paixonite por Harry.

Os dois quartetos, por vezes, eram repreendidos por Madame Pince, que, quase cerrando os dentes de raiva, sempre vinha até a mesa deles solicitar encarecidamente pela colaboração de todos. Era sempre Miranda, corando de vergonha, que pedia desculpas à velha rabugenta, pois mesmo Dahlia não conseguia mais suportá-la.

Saindo de um dos encontros de estudos mais cedo que o normal, pois tinha que fazer algumas poções para o Prof. Snape, Dahlia trombou com Harry, Ron e Hermione em um dos corredores do castelo.

Fazia quase duas semanas que Harry havia recebido alta de Madame Pomfrey, mas o garoto ainda parecia abalado com a perda de sua vassoura e andava com um ar cabisbaixo. O que ainda não ajudava no humor do garoto era Draco Malfoy, que não parecia conseguir esquecer o ataque dos dementadores e não deixa o grifinório em paz.

Naquele mesmo momento, em que atipicamente todos haviam se encontrado em um dos corredores próximos às masmorras de Poções, o colega da casa de Dahlia importunava o Potter com vários "uhhh" e "ahhh", com uma capa de chuva escondendo o rosto, enquanto seus amigos rachavam de rir ao seu lado. Depois de um olhar envenenado de Dahlia, Malfoy deu de ombros e seguiu seu caminho junto com Pansy Parkinson e Blaise Zabini, que Dahlia julgava serem seus melhores amigos, não os bobões que Malfoy de vez em quando tinha à tiracolo, Crabbe e Goyle.

— Juro por Deus, esse garoto só tem dois neurônios — afirmou Dahlia, depois de cumprimentar Harry, Ron e Hermione. Harry a abraçou calorosamente, enquanto Hermione acenou com simpatia e Ron desviou o olhar da garota, com as orelhas vermelhas. Dahlia, que não tinha tanto contato assim com Ron, achou a atitude engraçada.

— Eu tenho algo para te contar, Flor! — exclamou Harry, animado. Por um minuto, Dahlia quase achou que o garoto havia conseguido consertar sua vassoura quebrada, mas a Nimbus do primo havia sido tão destroçada pelo Salgueiro Lutador que a possibilidade não durou muito tempo na mente da garota.

— O que houve? — ela questionou, curiosa.

— Eu estou tendo aulas antidementadores com o professor Lupin! — disse Harry, sorrindo de orelha a orelha. — Bem... na verdade são aulas de um feitiço chamado...

— Você está tendo aulas de patrono com o Lupin? — perguntou a garota, excitada pelo primo. — Meu Deus, que legal, Arry! Você está gostando?

— São perfeitas, mas eu ainda não consegui fazer um patrono — disse Harry, parecendo um pouco desanimado pelo fato.

— Você vai conseguir, Harry — disse Hermione, com um sorriso encorajador. — É um feitiço muito difícil, mas sabemos que você consegue.

— Mione está certa, Harry — disse Dahlia, passando a mão nas costas do primo, carinhosamente. — É um feitiço de nível avançadíssimo, mas você tem um ótimo professor. Tenho certeza que irá conseguir daqui algum tempo...

— Eu acho que Lupin aceitaria te ensinar também, Flor. Ele disse para nós dois que era muito amigo dos meus pais e que você é a cara da minha mãe. Acho que consigo convencê-lo, se formos só nós dois... — disse Harry, com um sorriso matreiro.

Dahlia encrespou os olhos para o primo, lembrando muito bem que aquele era o jeitinho e a cara que Harry fazia quando precisava barganhar alguma coisa com ela. Entrando no jogo do menino, ela sorriu largamente e disse:

— Que incrível, Arry! Eu adoraria aprender, por favorzinho...

— Ótimo! —eleexclamou, olhando para sua dupla de amigos grifinórios e recebendo um sinal positivo de Ron, enquanto Hermione apenas revirou os olhos. — Você só tem que me ajudar com uma coisinha...

— Eu te conheço há doze anos, Harry — disse Dahlia, revirando os olhos da mesma forma que Hermione havia feito. — Diz logo o que você quer.

— Eu quero ir para Hogsmead, Flor! —elerespondeu, assumindo a carinha de cachorro sem dono que Dahlia, infelizmente, sempre achava muito fofa.

— E...? —perguntou a garota, não entendendo muito bem onde ela entraria naquela história. — Que eu tenho a ver com isso?

— Nós precisamos de uma autorização para ir, e os seus pais não estavam muito interessados em assinar o documento para mim — disse Harry, coçando uma das orelhas. O gesto, que sempre entregava o Potter quando ele estava omitindo alguma coisa da prima, fê-la encrespar os olhos.

— Isso não me surpreende — disse Dahlia, chegando mais perto dele. — Mas o quanto eu vou ter que implorar para papai assinar o documento? Ah, e pode falar a história toda.

Dahlia ouviu calada a história de Harry sobre como tia Marge — a tia que odiava suas entranhas — havia ido passar alguns dias na casa dos Dursley durante as férias da escola e como ele, em um lampejo de magia adolescente, havia inchado a mulher como um balão e fugido de casa. Não obstante, ela também permaneceu calada quando ouviu que ele havia visto um sinistro no caminho para o Caldeirão Furado, visto o Ministro da Magia em pessoa e, por fim, havia passado o restante das férias junto com os Weasley, que, na época, haviam retornado recentemente de férias.

Quando o garoto terminou seu relato, Dahlia esfregou as têmporas, onde uma dor de cabeça começava, e beliscou o primo com força no braço.

— Eu não acredito que você não me contou isso antes, Harry Potter! —exclamou a garota, indignada. — Mas que diabos! Já estamos terminando um TRIMESTRE de aulas e você me conta isso só agora? Eu não acredito em você.

— Hey, hey! Calma! —respondeu Potter, fugindo de mais um dos beliscões da menina.

— Eu disse que você devia ter falado com ela antes — disse Hermione, com um ar de superioridade, a quem Harry ignorou estoicamente.

— Se eu tivesse te contado antes, você iria ficar chateada e preocupada — argumentou o menino, esfregando as mãos nos braços da garota em um gesto de conforto.

— Bem, não deixe de me contar as coisas porque você acha que vão me magoar, está bem? —pediuDahlia, com uma voz de finalidade. — E vocês dois podiam ter me contato, hein? Vocês e a Ginny.Irei conversar com ela depois.

— Flor, eu que pedi para que ninguém dissesse nada... — Harry respondeu no lugar dos amigos, mesmo que Hermione estivesse abrindo a boca para falar. — Eu prometo que não faço isso novamente, ok? Você consegue a assinatura de Tio Vernon para mim?

Antes que Dahlia pudesse responder, uma voz gélida exclamou, do final do corredor:

— Senhorita Dursley! — Era o professor Snape. Foi com a intervenção do professor que Dahlia notou o quão atrasada ela estava para encontrar o diretor de sua casa. Não surpreendentemente, ele não parecia muito feliz. — Você está atrasada.

— Estou indo, diretor! — respondeu Dahlia, com um sorriso amarelo de desculpas. Virando-se para o primo novamente, ela o apertou em um abraço e disse: — Me entregue a autorização depois e eu tento fazer meu pai assinar, ok? Mas tente fazer com que Edwiges entregue a carta que vou escrever na porta de casa, igual a um correio normal.

Após dar um beijo na bochecha do primo, sem esperar por sua confirmação, e acenar em despedida para os outros dois garotos, a sonserina saiu correndo atrás do professor de Poções, que não havia esperado por ela e já estava em um dos corredores secundários das masmorras. Naquele dia, ela podia atestar que Snape estava mais rabugento que o normal, pois ele não havia trocado mais que meia dúzia de palavras com a garota, mas pelo menos ele a havia guiado em direção à enfermaria, para que ela trabalhasse em algumas poções junto com Elleonore Wolfgang, a enfermeira ajudante de Madame Pomfrey.

Desde que Malfoy havia sofrido o acidente com Bicuço, o hipogrifo de Hagrid, as duas haviam se aproximado incrivelmente. Elleonore não havia desenvolvido o assunto, mas havia mencionado que Dahlia a lembrava muito de alguém muito querido e que ela se sentia muito à vontade com a menina. A sonserina não havia entendido bem, mas achou melhor não pressioná-la por detalhes, pois a mulher parecia que começaria a chorar se continuasse a falar sobre aquele assunto.

Então, afetuosamente, as duas estavam sempre conversando quando podiam, com Dahlia fazendo comentários secos sobre alguns colegas obtusos (Malfoy, especialmente) e Elle rindo da criancice da garota, fazendo alguns carinhos afetuosos nos cabelos loiros escorridos da menina.

Naquela época, durante algumas semanas, o prof. Snape havia empurrado sua responsabilidade de fazer algumas poções simples para o castelo na direção de Dahlia, quando ocorrera o incidente de Elleonore com um bicho-papão transformado em basilisco. A Wolfgang, que tinha pavor de cobras, pouco se importara se o bicho-papão não podia matá-la com o olhar e saíra correndo do lugar, dizendo aos professores que tinha um basilisco na enfermaria, isso acabara ocasionando adestruição de boa parte do estoque de medicamentos da enfermaria.

— Eu não consigo entender por que ele odeia tanto meu primo, Elle — disse Dahlia, suspirando. A garota estava preguiçosamente mexendo um dos caldeirões de uma poção restauradora que fervia, tomando cuidado para não trabalhar demais a poção, o que a faria estragar num minuto.

— Não sei o porquê do professor Snape detestar tanto seu primo, querida — respondeu Elle distraída, mexendo também em uma poção, mas a sua era para a melhora de dores estomacais. — Seu primo é uma graça e muito educado, os professores o adoram! Deve ser a época do ano que está fazendo Severus azedo...

— O que tem a época do ano? E como você sabe que é uma época diferente das outras? — perguntou Dahlia, intrigada. Curiosamente, as bochechas de Elleonore se rosaram de vergonha e a mulher mais velha usou seu cabelo longo e castanho-escuro para esconder o rosto.

— Eu acho que o professor Snape não gosta muito do Natal, mas não sei de verdade — disse Elle, virando-se para preencher um relatório que Dahlia sabia que ela já havia preenchido. A sonserina sorriu matreira quando notou que as reações da enfermeira eram muito parecidas com as de Ginny, quando ela estava caidinha por Harry no início do último ano.

— Elle... — começou Dahlia, escondendo um sorriso com uma das mãos ao fingir coçar o nariz. — Madame Pomfrey tem que deixar notinhas fluorescentes pela enfermaria para lembrá-la de suas refeições, então, como é que você notou isso do professor Snape?

— Eu posso não ter uma boa memória, mas sou, sim, muito observadora, sabe? — Dahlia não conseguiu mais segurar a risada e tombou a cabeça para trás, dando uma gostosa gargalhada.

— Eu não acredito que você é apaixonadinha pelo professor Snape, Elle! — A cor fugiu do rosto da enfermeira com tanta rapidez que fez a gargalhada morrer na garganta de Dahlia. — Hey, eu não vou dizer nada, ok?

— Bem... pelo menos eu não precisei pedir... — brincou a enfermeira, sorrindo fracamente. — Ele é... difícil.

Dahlia não sabia se devia largar o assunto depois daquela afirmação da Wolfgang, por isso parou para pensar durante alguns segundos e perguntou:

— Difícil... como?

— Nós já tivemos algo, muito tempo atrás, mas não deu certo. — Para Dahlia, que achava que o professor Snape era tão imperscrutável que ninguém nunca chegaria perto, aquela informação parecia uma das coisas mais surpreendentes que já ouvira.

— Você... e o Snape? O professor Severus Snape? — questionou Dahlia, chocada. Elleonore não era a mulher mais bonita que Dahlia já vira, mas ela tinha uma beleza suave aos olhos e era inegavelmente meiga, o que a deixava com uma aura bonita. O professor Snape era, bem... o professor Snape. Ele não era bonito e sua personalidade o deixava ainda mais intragável, o que fazia a garota achar estranho, no mínimo, a afeição de Elle pelo homem.

— Ele tem um charme — respondeu Elle rindo levemente, parecendo entender o questionamento da sonserina. — Mas isso foi muitos anos atrás e nós partimos por caminhos bem diferentes, querida.

— Você ainda parece achar que ele tem... qualquer que seja o charme que você vê nele. Por que não o chama para sair de novo? — perguntou Dahlia, curiosa. Ela queria que Elle fosse feliz, mas não podia negar que tinha um pedacinho de si que achava que o professor Snape seria menos insuportável se tivesse alguém como Elleonore em sua vida.

— O que você espera? Que eu coloque um visco debaixo de uma porta e aguarde um beijo? — retrucou a mulher mais velha, debochada.

— Como vocês começaram a sair, no primeiro momento? — Dahlia perguntou, cuidadosa.

Elle corou profusamente, saindo do vermelhinho discreto, que antes a havia denunciado, para um tom de vermelho que, de tão forte, parecia uma beterraba. Mesmo muito envergonhada, a Wolfgang começou a rir da garota.

— Ah, Dahlia... — respondeu a enfermeira, balançando a cabeça de um lado a outro. — Tem certas coisas que eu não posso conversar com você.

— Por que não? — perguntou a loira, com uma inocência quase cômica aos olhos da mulher mais velha.

— Porque você tem doze anos, menina — respondeu Elleonore, voltando a rir, mas dessa vez quase até engasgando, tão forte era sua risada.

— E o que tem a ver, hein? Elle! Pare de rir!

[...]

Duas semanas antes do fim do trimestre, a chuva havia dado uma trégua aos estudantes e agora o céu estava claro, com um tom de branco leitoso e ofuscante, e até mesmos os terrenos do castelo, que estavam constantemente enlameados com a chuva, certo dia, amanheceram cobertos de uma bonita geada branca. O castelo estava entrando em clima de Natal e quase todos haviam embarcado na expectativa do feriado. O prof. Flitwick, de Feitiços, já havia enfeitado sua sala de aula com fadinhas voadoras de verdade, que estavam trabalhando como pisca-piscas.

Quando todos começaram a discutir sobre os planos para o Natal, Dahlia permaneceu distintamente calada, ouvindo as amigas contarem como seriam seus recessos. Luna descreveu como ela e seu pai nunca faziam uma festança, mas sempre cozinhavam juntos e, mesmo que a refeição sempre acabasse queimada, ambos amavam a tradição. Gwendolyn viajaria de volta para a França neste feriado, para uma das casas de campo dos pais — às vezes, Dahlia se assustava com o quão rica a garota era. Ginny, entretanto, fora a única que ainda não havia compartilhado os planos com as meninas.

— Gin, sua família irá viajar ou vocês ficarão em casa? — perguntou Luna.

As garotas estavam acomodadas no salão comunal da Lufa-lufa, a casa de Gwen, que era, de longe, um dos lugares mais aconchegantes do castelo. Luna e Ginny dividiam um dos sofás do lugar, enquanto Dahlia e Gwen dividiam um pufe enorme no chão. Naquele dia, a gata de Dahlia, Nahla, havia decidido dar o ar de sua graça às garotas e estava deitada folgadamente no colo de sua dona.

Embora fosse uma gata linda, Nahla era, facilmente, um dos animais mais arredios do castelo. Seu pelo natural era branco como neve, porém a gata não o mantinha muito tempo daquela cor e gostava de imitar o bichano de Hermione, colorindo todo o seu pelo de laranja. Na maior parte dos dias, a gata se contentava em permanecer próxima de outros gatos, às vezes no salão comunal das casas. Outras vezes, Dahlia tinha de assistir uma aula de Transfiguração observando sua própria gata bagunçar a mesa inteira da Profa. McGonagall, que, apesar da bagunça, nunca ralhava com a Dursley.

— Acho que irei ficar no castelo esse Natal, Luna — respondeu Ginny, começando a trançar preguiçosamente o cabelo da loira sentada ao seu lado. — Este ano, Percy terminou com aquela garota da Corvinal, Penélope, então prevejo que ele irá estar insuportável. Além disso, eu preferia perder a memória do último Natal.

As três meninas compartilharam um olhar que deixou a sonserina confusa observando as amigas. Não querendo ser deixada de fora e muito curiosa, Dahlia perguntou:

— O que houve no último Natal, gente?

Ginny olhou sua amiga como se ela tivesse criado um rabo e começado a miar de repente, respondendo a pergunta dela com um tom debochado:

— Hum, quando eu fui possuída, por Você-Sabe-Quem, por quase todo o ano letivo e você ficou em coma na ala hospitalar quando o Natal estava chegando?

Gwendolyn deu um peteleco na cabeça da amiga sonserina, enquanto Luna balançou a cabeça de um lado ao outro, abraçando Ginny de lado. Dahlia se encolheu sobre o olhar das amigas, corando de vergonha.

— Eu acho que o seu cérebro escolheu ignorar isso — disse Ginny, suavemente. — Você nunca fala sobre o que aconteceu...

— Eu não lembro muito bem do que aconteceu, para falar a verdade — disse Dahlia, aconchegando-se ao lado de Gwen. — Eu só lembro direito dos olhos da cobra e de como tudo começou a doer, e doer, e doer...

As meninas se entreolharam novamente, fazendo Dahlia se irritar com as amigas:

— Que é agora?

— Nós ouvimos Madame Pomfrey conversando com Snape, quando Harry estava internado — começou Luna. — Ela disse que você provavelmente tinha se confundido e que devia ter visto o reflexo da cobra, igual aos outros alunos petrificados.

— Isso não faz sentido! Eu distintamente me lembro dos olhos amarelos! —exclamou Dahlia, confusa. — E, ainda, se eu tivesse visto apenas um reflexo, eu não devia ter sido petrificada também?

Ao perceber a inquietação da dona, Nahla saiu de seu estupor ronronante e começou a se esfregar no queixo de Dahlia, assumindo uma cor suave de lavanda. A sonserina chutava que aquela cor era uma das formas de conforto de sua gatinha, que, por mais agressiva fosse, ainda a adorava.

— Nós também não entendemos o porquê disso, Dahlia — respondeu Gwen. — Mas faz ainda menos sentido você ter encarado o basilisco. Hermione concordou com a gente.

— Vocês discutiram isso com todo mundo, menos comigo? — questionou Dahlia, indignada.

— Nós não queríamos chatear você — respondeu Luna, cuidadosamente olhando também para Ginny. — Nós também evitamos conversar com o Harry e a Ginny. Vocês estavam perturbados com o que aconteceu, não queríamos piorar a situação.

— Eu li que o olhar do basilisco é mortífero, mas a pesquisa deve estar incorreta, meninas—disse Dahlia, ignorando a omissão, mesmo que estivesse cansada dos amigos escondendo coisas dela com intuito de poupá-la. — Ou pelo menos incompleta? Quer dizer, a Murta morreu por causa disso, eu sei, mas também não faz sentido que eu tenha visto qualquer reflexo; nada refletia naquela noite...

— Isso é estranho, pra dizer o mínimo — concluiu Gwen.

[...]

Dias depois que Dahlia havia conseguido que o pai assinasse a autorização para que Harry fosse à Hogsmead — depois de três longas cartasde imploração —, os garotos do terceiro ano em diante seguiram para o vilarejo próximo de Hogwarts.

Naquele dia, Gwen e Luna haviam prometido ajudar a professora Sprout com suas mandrágoras, que ainda eram apenas mais alguns bebês da leva que ela havia plantado para restaurar seu jardim depois do episódio com os alunos petrificados. Dahlia e Ginny, que não gostavam o suficiente de Herbologia para passar o dia mexendo com plantas, haviam dormido juntas no dormitório da Grifinória para fugir da tarefa.

As duas meninas estavam preguiçosamente jogando uma partida de xadrez bruxo no carpete do salão comunal vazio da Grifinória, bem na frente da lareira, quando o quadro da entrada se abriu com uma força que as fez pular como gatos assustados, com Ginny quase se enfiando na lareira por descuido.

Era Harry, que estava tão ofegante que tufos de ar gelado saiam de sua boca aos montes. Dahlia e Ginny apenas o encararam, boquiabertas, esperando por uma reação do garoto. Quando ele finalmente abriu a boca para falar, Hermione e Ron haviam chegado também ao salão comunal, no mesmo estado em que Harry havia chegado, segundos antes. Hermione, mesmo quase engasgando em seu próprio fôlego, empurrou os dois garotos para entrarem completamente no salão e fechou o quadro atrás de si.

— Foi Black, Dahlia. Foi ele quem matou meus pais.


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Notas finais do capítulo

Hehhe iai, genteee? me contem o que estão achando!
Abraços,
Megara.



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