De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 32
Capítulo 31 "O que eu mais temia"


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpem novamente pela demora, mas esse ao menos ficou grande.



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Beatriz

Pela primeira vez não faço caretas ao colocar meu uniforme de líder de torcida e amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Estou feliz pelo fato da atividade extracurricular forçar o Duda a me ver, e sei que ele não pode faltar ao jogo de hoje porque terão vários olheiros ansiosos. Ele vai ter que me ouvir, e vai finalmente saber que eu o amo!

Cheguei na escola cerca de duas horas mais cedo do que o esperado, primeiro porque Janu e Vivi convocaram outro ensaio de última hora, e segundo porque a ansiedade parecia querer me matar.

—Chegou cedo? Milagres acontecem! -Janu era a única já presente quando cheguei, e apesar do comentário irônico, não faz caretas ou ofensas quando me vê, parecia feliz.

—Posso voltar daqui a pouco. -respondi, pensando em dar uma caminhada pela escola, talvez o Duda já esteja na quadra!

—Não precisa, não seja boba. -ela diz me surpreendendo, antes não suportávamos ficar na mesma sala, algo parece ser mudado. Será que ela soube sobre meu “tempo” com o Duda?

—Tudo bem? -perguntei estranhando tudo ao meu redor, onde estavam as câmeras?

—Tudo. E quanto ao Duda e a briga com o pai? Os dois se resolveram? -ela perguntou ao mesmo tempo que respondeu uma das minhas perguntas, ela não sabe sobre nosso rompimento.

—Na verdade, eu não sei. -respondi enquanto me sentava em uma das cadeiras do refeitório onde estavámos conversando.

—Ele odeia esse assunto, nunca falava da família comigo. Mas ele deve te contar em breve, vocês dois devem ser mais comunicativos, entre eu e Duda era tudo sexo ou festas na madrugada. -Janu disse, e eu encarei o chão quando ela citou o sexo, se ela percebeu, não disse nada.

—É… -murmurei, de repente não estou tão confiante quanto antes.

—Você já conheceu a mãe dele? É a única que presta na família, acho que ele puxou 100% ela, sabe?!

—Por que está falando sobre isso comigo? -a interrompi, não conseguindo levar o papo para frente, mesmo que eu esteja animada para saber sobre a mãe que eu ainda não conheço do Duda.

—Ah, bom… Não sei! -é só o que ela disse, mas, de repente, eu me lembro do Janjão, ele foi o par dela no baile.

—Você e o Janjão estão… -não consigo completar a frase.

—Por que está fazendo essa cara de nojo? No fundo, bem no fundo ele é um ótimo cara.

—A-ham. -murmurei ironizando, me lembrando das expressões nada legais que ele fazia sempre que me via conversando com o Duda.

—Bom, você também odiava o Duda antes de conhecê-lo a fundo. As pessoas são muito mais do que parecem. Todo mundo deve ter um lado legal escondido em algum lugar, até você tem! -ela respondeu, e nós duas rimos, mas ela está certa. Antigamente, eu nem saberia como começar uma conversa com o Duda, e agora não vejo a hora disso acontecer.

—Desculpa, é que você e o Janjão…?

—Nós não estamos juntos. -ela respondeu, mas parece triste por isso, está escrito em sua testa com tinta permanente que está apaixonada pelo rapaz mais babaca da escola.

Viviane surge no mesmo momento, arregalando os olhos ao não nos ver brigando.

—Oi. -é só o que ela diz, e depois disso não se toca mais no assunto Janjão-&–Janu, as meninas chegam rapidamente, e logo estamos treinando. Mas em uma das pausas do treino, me peguei pensando sobre como meus maiores inimigos de antigamente agora não se parecem tão ruins, sobre como precisamos sempre dar uma chance para todas as pessoas antes de dizer odiá-las.

(…)

Depois que o último treino de líder acabou, ainda havia um lugar onde eu queria ir. Parte de mim esperava que o Duda estivesse lá, no “nosso lugar”, no telhado do colégio, mas ele também não estava lá quando cheguei. Mesmo assim me sentei no chão e encarei o céu, me lembrando das vezes que nos encontramos ali.

—Você? -ouvi a voz do Duda, inicialmente ainda achei que fosse lembrança, mas quando me levantei rápido e me virei, lá estava ele. A primeira coisa que reparei foi que seu olho não estava mais inchado por conta do soco do pai, ele parece o mesmo Duda de sempre, mas não consegui fazer nada além de ficar parada olhando pra ele.

—Bia, eu não quero falar com você agora, não posso, tá bom? Tenho um jogo importante agora, só queria ficar um pouco sozinho no meu telhado. -ele diz calmo, dando ênfase na palavra “meu”, e em seguida pareceu apenas esperar que eu saísse do “seu” espaço.

—Me desculpa por aquela noite, eu travei, não soube o que dizer, não estava pronta para dizer. -comecei pronta para um longo discurso, mas ele me interrompeu:

—Tudo bem, Bia!

—Tudo bem? -perguntei esperançosa de que estivesse mesmo, que tudo pudesse voltar ao normal, mas ai me lembrei que nosso normal já era perturbado.

—Sim, eu já devia ter imaginado na verdade. Você nunca foi o tipo de garota que diz eu te amo, você é bem mais do tipo que transa e depois vai embora né? -ele diz agora bem mais irritado, tentei ignorar o fato de praticamente ter sido chamada de prostituta, ele avisou que não queria conversar agora, eu que insisti. Mas não consegui parar de falar, ele precisava entender o meu lado!

—Não foi desse jeito, eu estou me sentindo tão culpada, você estava frágil, não queria que nossa primeira noite tivesse sido daquela forma Eduardo.

—É verdade, eu estava frágil, se não estivesse eu jamais teria deixado aquilo acontecer. Aliás, obrigada por ter feito meu final de semana três vezes pior do que já estava. Por que é que foi me procurar naquele dia Beatriz?

—Bem, eu estava preocupada. Ainda estou! Você anda faltando as aulas, hoje teve prova de matemática! -continuei falando, mas Duda solta uma risada me fazendo parar, como se não acreditasse na minha preocupação, ele está frio e não sei se posso culpá-lo.

—Você fica preocupada e vai complicar ainda mais minha vida? Ah, por favor, não se preocupe tanto! -ele ironizou, me assustando.

—Duda, eu sei que eu não devia ter saído correndo, claro que sei. Mas eu estava assustada, foi a minha primeira vez!

—Se você diz… -ele duvidou, e em seguida se virou para descer as escadas, me deixando ainda pior do que eu estava.

—Estava com medo de me machucar! -gritei o mais alto que consegui, sentindo as lágrimas finalmente caírem pelo meu rosto.

—E, ao invés disso, machucou a mim. -ele disse antes de descer as escadas, sem ao menos olhar para mim. E se foi.

Encarei o chão, me permitindo desabar de vez. Me dando conta de que estava acontecendo oque eu mais temia: eu precisar muito de alguém e essa pessoa ir embora.

(…)

Não saberia explicar como, mas consegui reunir forças para descer e chegar até a quadra, me juntando as outras líderes para avisar que estou indo para casa, não conseguiria encarar Duda de novo. Mas faz tanto barulho com a chegada de todas as pessoas ansiosas e preocupadas com o jogo, que mal consigo ouvir quando Janu e Vivi chegam perto de mim, primeiramente elas parecem irritadas com o meu atraso, só depois percebem meu rosto vermelho e inchado.

—Bia, o que aconteceu? -Vivi perguntou, provavelmente já prevendo que era sobre minha conversa com o Duda. Janu não pareceu entender nada, mas, mesmo assim, ela ajudou Vivi a me puxar para longe de toda aquela barulhada, entrando para dentro do colégio.

—O que foi que ele falou? Não acredito que ele não entendeu, você explicou direitinho o seu lado? Ele precisa te perdoar, não parece ser o tipo de garoto que fica tão magoado com isso!

—Aparentemente, ele é. -é só o que consigo dizer, deixando Vivi confusa.

—Droga! Nós vamos perder, sempre que Duda está magoado isso acontece. -Janu diz, fazendo nós duas olharmos para ela com raiva. -Tá bom, isso não é conversa pra mim! -ela levantou as duas mãos, se rendendo e voltou a quadra, nos deixando a sós.

—Não posso ficar aqui, tenho que ir pra casa.

—Eu vou com você!

—Não precisa, tudo bem, eu preciso ficar sozinha, a culpa é só minha! -retruquei, me virando para a saída dos fundos do colégio.

—Não é sua culpa! -Vivi gritou, na falta de dizer qualquer outra coisa. Comecei a correr, corri até minha guitarra pela vigésima vez, ainda era a única coisa que me impedia de chorar o dia todo. A única coisa que me impedia de pensar em Duda. Mas quando cheguei em casa não consegui pegá-la, me tranquei no banheiro e me permiti chorar por horas.

Viviane

Janu estava certa, Duda nem parece estar presente no jogo, e sim em algum outro lugar nos seus pensamentos, a torcida toda o vaia quando comete um erro, ou um passe errado, mas ele nem parece ligar, nem parece entender tudo que o jogo pode significar para ele.

—Ei, idiota! Joga direito, não é só a sua carreira que está em jogo. -gritei com raiva, sei que ele me ouviu, pois levou os olhos até mim e os retirou lentamente, voltando a jogar feito um idiota.

—O que foi que aconteceu em? -Janu me perguntou, preocupada e confusa, mas eu não a respondi.

Quando o primeiro tempo finalmente acabou, respirei fundo enquanto os garotos caminhavam até o vestiário com muitas vaias sobre eles, Janjão e outros rapazes do time estavam gritando com Duda, mas ele nem parecia estar ouvindo.

Os segui, nem me importando em entrar no vestiário masculino. Bia estava magoada e a culpa era dele, eu não iria simplesmente aceitar isso!

—O que você fez com ela, em? -gritei indo pra cima de Duda com todos os rapazes me encarando como se eu fosse maluca.

—Eu não fiz nada! -Duda finalmente abriu a boca para se defender de meus berros.

—Vivi! -Janu está atrás de mim, me repreendendo.

—Conserte isso! -apontei o dedo indicador para Duda, todos acham que estou falando do jogo, quem dera fosse.

Saí dali, precisava ir embora também, Bia provavelmente estava precisando de mim. Quando me virei para dizer isto á Janu, ela me interrompeu prontamente:

—Seu namorado está procurando por você na quadra. -ela disse, de repente, me deixando confusa.

Quando cheguei a quadra finalmente entendi o que ela estava querendo dizer.

De pé na arquibancada estava Samuca com seu violão.


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Notas finais do capítulo

Comunicado aos leitores:
COMENTEM, GALERA!
amo vcs ♥



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