De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 27
Capítulo 26 "Nada poderia estragar a noite!"


Notas iniciais do capítulo

Hey, hey leitores! Demorei porque fiquei sem internet esses dias para trás, então já viu tudo né... Mas foi bom porque tive tempo de escrever o capítulo todo com bastante atenção.
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/703021/chapter/27

Antes que eu conseguisse processar o que estava na minha frente, minha mãe já estava invadindo minha casa com os braços estendidos para um abraço. Sussurrando meu nome várias vezes como quem queria ter certeza que era eu mesmo ali. Se afastou por um segundo para me olhar bem nos olhos, disse alguma coisa, mas meus pensamentos estavam altos demais para permitir que eu ouvisse algo.

O que ela fazia ali e por que estava agindo como se nada tivesse acontecido na última vez que havíamos nos visto?

—O que faz aqui? -perguntei quando voltei a ativa, Binho tossiu falsamente atrás de mim, como se não estivesse acreditando na minha falta de educação.

—O seu irmão me contou que você estava pensando em sair do país. -Dona Rebeca falou, e só então consegui dar uma boa olhada nela, parecia a mesma de sempre exceto pelos cabelos agora loiros. -Isso acabou comigo, meu filho. Eu precisava vir te ver. -ela disse, e nesse exato segundo me surpreendi com alguma coisa: eu não acreditava em uma palavra.

—Isso aconteceu antes ou depois do George esconder minha carta?

—O seu pai não escondeu a carta. -ela enfatizou a palavra pai.

—Nós já vamos indo pra deixar vocês conversarem, só não se atrasa muito Samuca, você precisa tocar. -Rafa falou, me lembrando do baile, e em seguida começou a puxar Binho para fora de casa.

—Foi um prazer conhecê-la Dona Rebeca. -os dois disseram, e Rafa me lançou um último olhar antes de sair pela porta. Eu já o conhecia o suficiente para saber exatamente oque o olhar significava. “Não enlouqueça”. Achei engraçado como ás vezes conhecemos a pessoa por pouco tempo e já sabemos exatamente o que ela quer dizer com um simples olhar, e ás vezes conhecemos alguém por toda a vida e não temos certeza se podemos confiar nela.

—Isso é um baile? Vai tocar em um baile? -assenti com a cabeça. -Isso é muito legal filho, os meninos também parecem legais, mas o lugar… -ela olhou em volta, o mesmo olhar que ela fazia quando eu e George brigávamos.

—Já fazem quase dois anos desde que… -não encontrei as palavras.

—Desde que você fugiu de casa? -ela continuou minha frase, mas seus olhos me culpavam, como se o fato de estarmos afastados por todo esse tempo fosse minha culpa.

—Você não veio me procurar, mãe! Eu tinha dezesseis anos, era uma criança. E você sabia exatamente onde eu estava, mas nem sequer ligou pra saber se eu estava bem; depois de tudo você ainda ficou do lado dele!

—Ele nos sustentava, era a única saída. -ela respondeu, como se explicasse tudo.

—Bem, não pra mim.

—Não é uma boa hora pra termos essa conversa, você não tem um baile pra ir? -ela disse, obviamente fugindo da discussão que já havíamos adiado por anos.

Respirei fundo antes de perguntar:

—Você quer ir? Não vai ser legal te deixar aqui sozinha.

—Sério? Bem, claro, adoraria ver você tocar!

—Um minuto. -falei, indo em direção ao quarto para terminar de me arrumar. -Mãe! -me virei de repente, ela olhou pra mim esperando que eu prosseguisse. -Ele… Ele ainda te bate?

—Não. Não desde aquele dia.

Preferia acreditar que ao menos aquilo era verdade.

Beatriz

Tim, dom. Corri o mais rápido que consegui -levando em consideração que eu estava de salto alto e que era quase impossível correr com aquilo- para atender a campainha, mas o ato foi em vão, porque logo que avistei a porta, minha mãe já estava a abrindo. Me escondi imediatamente antes que ela pudesse me ver.

—Oi. -minha mãe disse a Duda, e mesmo não vendo sua reação, eu podia apostar que ela estava encarando Duda da cabeça aos pés com um olhar desconfiado.

—Oi, muito prazer, meu nome é Eduardo.

—Almeida Campos. Eu sei. -minha mãe completou. Duda soltou um risinho sem graça. 

O silêncio tomou conta do local por alguns segundos. 

—Então, a Bia está pronta? -ele perguntou sentindo o constrangimento no ar. 

—Eu já vou conferir, mas antes eu quero que saiba que seu pai é um idiota. -minha mãe começou um daqueles discursos longos e aterrorizantes que só ela consegue fazer. Pensei em intervir para acabar de uma vez com o sofrimento do Duda, mas minha mãe continuou o discurso:

—Eu estou dando uma chance pra você porque a Bia pediu com muito jeitinho, mas se você a magoar, ou se o seu pai a magoar, eu prometo que ele não será prefeito e muito menos ficará tão livre por muito tempo. -ela falou malignamente. 

Mas para minha surpresa, Duda a respondeu.

—Senhora Gomes, eu sei que a senhora está preocupada, e com toda a razão! Mas eu também quero que saiba que se depender de mim nada nunca magoará a sua filha, e eu sei que meu pai é um idiota, mas eu não deixarei que ele se aproxime dela nem por um segundo.

Meu sorriso surgiu involuntariamente. E pelo silêncio sabia que minha mãe estava tão surpresa quanto eu pela resposta.

—Boa resposta! -foi o que ela respondeu depois de um tempo. -Eu vou chamá-la. 

—Não precisa. -Nesse momento sai detrás da porta, mais confiante do que nunca em relação ao meu par no baile.

Os dois grudaram os olhos em mim.

—Você está linda. -disseram ao mesmo tempo, me fazendo rir.

Só então reparei em Duda, ele estava usando terno e gravata, e apesar de lembrar o pai dele, ele ficava mil vezes mais encantador. A máscara estava em suas mãos, deve ter tirado para conversar com minha mãe.

—Obrigado. -respondi, me aproximando mais.

—Então, tenham juízo crianças, tomem cuidado, mas não deixe de se divertir. -minha mãe costumava ser taxada de durona, mas eu tenho certeza que ela estava emocionada.

—Pode deixar, mãe. -respondi, e em seguida encarei o Duda, que ainda estava com os olhos fixados em mim.

—Lindo colar. -ele disse, me fazendo apertar o pingente das asas de anjo que um dia pertenceram ao meu pai.

—Melhor irmos logo, antes que ela chore. -brinquei. 

—Donzela. -ele disse, enquanto me dava o braço, entrelacei os meus aos seus no mesmo instante.

 Viviane

 Sabia que havia algo errado quando Samuca me mandou a mensagem dizendo que não poderia ir me pegar, mas silenciei meus pensamentos e liguei para Bia, que alguns minutos depois, já estava na porta da minha casa acompanhada de Duda.

—Obrigada por terem vindo me buscar. -falei assim que entrei no carro.

—O que aconteceu com o Samuca? -Bia perguntou, preocupada e desconfiada ao mesmo tempo, como se soubesse de algo que eu não sabia.

—Eu não sei, ele disse que se atrasaria um pouco.

—Ele não pode dar pra trás. -Beatriz resmungou alto o suficiente para que tanto eu quanto Duda a olhássemos. Definitivamente ela sabia de alguma coisa.

—O que?

—Nada. É que ele estava um pouco nervoso por se apresentar na escola, não pode dar pra trás!

—Hum…

—Vocês estão muito tensas. Samuca só vai se atrasar um pouco, e vai ser tão divertido que vamos voltar desse evento nos sentindo incríveis. -Duda comentou positivamente. 

Bia e eu começamos a rir incontrolavelmente. 

—O que foi? Meninas?

—Desculpa, é que as vezes você é positivo demais. -respondi a ele.

Nesse mesmo instante Duda olhou para Bia -ambos nos bancos da frente-, como se estivesse perguntando se era verdade.

—É claro que vai dar algo errado, mas também estou positiva. -ela comentou retribuindo o olhar.

—Vocês são adoráveis juntos! -não consegui evitar comentar.

—Se começar a falar sobre isso a gente te deixa aqui no meio da rua, e você vai ter que ir andando para o baile. -Bia retrucou, estragando meu prazer, afinal, já estava preparada para falar sobre como eles pareciam aqueles casais da Disney sentados ali vestidos daquela forma.

—O que eu faria sem você? -perguntei com cinismo.

—Passaria o resto da sua vida infeliz e sozinha. -ela respondeu esboçando um sorrisinho pelo retrovisor. 

Aproveitei o primeiro momento silencioso e coloquei minha máscara sobre o rosto, ela era dourada, brilhante e continha algumas pérolas brancas espalhadas sobre ela, combinava perfeitamente com o meu vestido rodado, um tomara que caia preto, com detalhes brilhantes e uma faixa também dourada entrelaçada na cintura.

Torci silenciosamente para que nada estragasse a noite!

(…)

Luzes coloridas, ok! Música mais-ou-menos até o Samuca chegar, ok! Comida, ok! Decoração, ok! Pessoas se divertindo…. Olhei em volta, apenas Bia e Duda riam na mesa de sobremesas. Ou talvez eu estivesse preocupada demais para reparar em quem estava se divertindo.

Onde é que o Samuca havia se metido?

Finalmente avistei Rafa e Binho, ambos estão mais elegantes do que nunca, me aproximei sem pensar duas vezes.

—Cinderela. -Binho me cumprimentou enquanto fazia uma reverência, completamente entregue ao papel de príncipe mascarado que fazia naquela noite, respondi com outra entrando na brincadeira.

—Meninos, vocês sabem onde o Samuca se enfiou? Ele ficou de me buscar em casa, mas mandou uma mensagem estranha dizendo que não poderia mais.

Os dois se entreolharam como se estivessem decidindo se eu poderia saber ou não. Mas antes que eles pudessem ter a chance de abrir a boca para me dizer qualquer coisa, Samuca chegou ao baile, quase não o reconheci por conta da máscara, o terno e da mulher estranha que o perseguia por todos os lados, abandonei os meninos e fui até ele imediatamente.

—Por que se atrasou? Onde você estava? Me deixou preocupada, Samuca! -me aproximei brava.

—Viviane. -ele começou, não consegui evitar a surpresa, ele nunca me chamava de Viviane. -Essa é minha mãe, e mãe, essa é minha namorada. -Parei por alguns segundos, meu coração batia acelerado, primeiramente porque a mãe do Samuca estava ali e ele raramente falava dela, e depois porque era a primeira vez que ele me chamava de namorada, meu sorriso surgiu inevitavelmente.

—É um prazer. -digo, quando volto a realidade, apertando a mão dela, que parecia tão surpresa quanto eu. Ela era mais nova do que eu havia imaginado, e parecia ser bem vaidosa também, possuía os mesmos traços de Samuca.

—O prazer é meu. Samuca não tinha me contado que tinha uma namorada. -ela respondeu também sorrindo.

Pra mim também não, pensei.

—Quando exatamente você queria que eu te contasse? No meio de todas as nossas ligações e almoços semanais? -ele respondeu, esbanjando sarcasmo. A mãe dele revirou os olhos como uma criança mimada ouvindo um não.

Ele me puxou para um canto, abandonando a mãe antes que alguém falasse qualquer outra coisa.

—Sua mãe? Samuca, como você… -eu não sabia o que perguntar.

—Ela apareceu lá em casa, do nada, assim que descobriu que eu… -ele parou de falar, como se estivesse se lembrando de algo que havia esquecido, tirou a máscara que enfeitava seu rosto. -Provavelmente ficou sem dinheiro.

—Samuca! -o repreendi de imediato, percebendo que ele estava mesmo furioso. Era a primeira vez que eu o via daquele jeito.

Ele respirou fundo, se acalmando, e em seguida virou-se novamente para mim, me olhando nos olhos.

—Você está ainda mais linda do que normalmente, e eu nem sabia que era possível… Não vou deixar minha mãe estragar essa noite, Cinderela. -toda fúria parecia ter desaparecido secretamente, ele me olhava apaixonadamente, 

O beijei, pensando em como nenhum outro olhar jamais se compararia aquele.

—Vai, você precisa subir no palco. -avisei após o beijo. 

—Preciso mais do que nunca. -ele diz, e eu entendo. Aquele era seu santuário. Ele me deu um beijo no rosto e foi em direção ao palco. Voltei até sua mãe.

—Viviane, certo? -ela perguntou assim que me aproximei.

—Vivi! -respondi. -Ele vai tocar agora, deve ser por isso que estava nervoso. -justifiquei, mentindo.

—Ou talvez porque a própria mãe não fala com ele a dois anos. E não há um dia que eu não me sinta péssima, mas o pai dele, ah… -ela deixou as palavras no ar, como se não pudesse me explicar.

Nós duas olhamos para Samuca, ele já está no palco, ajeitando o microfone e o violão, junto á mais dois garotos, se posicionando na bateria e na guitarra.

—Meu nome é Rebeca, imagino que você não saiba.

—Ele não fala muito sobre a família. -confessei a ela.

—Eu não sei oque foi que ele te falou, mas eu não o expulsei, eu nunca o expulsaria.

Samuca se apresentou para o público, compartilhando seu carisma, tive certeza que ele nasceu pra isso. 

—Essa primeira música eu dedico pra minha Cinderela. -ele falou antes de começar. Me acha com o olhar, ouço o leve toque de “All Star” da Cássia Eller. Outro sorriso inevitável.

—Mas quando eu soube que ele viajaria, eu pirei, você sabe… minha criança vai pra fora do país, imagino que você também não tenha se acostumado facilmente com a ideia.

Pisquei freneticamente.

—O que? -me virei para ela, tentando entender as palavras que saiam da sua boca.

—Você sabe, ele vai tentar uma carreira internacional e nem sabe se vai dar certo, sabemos que ele é bom, ele é ótimo. Mas abandonar a vida dele e tentar em outro país?

—Do que você está falando? O Samuca não vai a lugar algum…

—Querida, ele não te contou? Ele vai se juntar a uma banda internacional!

Olhei novamente para Samuca, com os fechados no palco, completamente entregue a música, deixando todos do baile hipnotizados por sua voz que iluminava o ambiente.

Eu iria perdê-lo, e ele nem se deu o trabalho de me contar.

Fugi dali o mais rápido que consegui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais alguém querendo colocar a Vivi num potinho pra ela não sofrer?
Não vou demorar para continuar.
Comentários, sempre bem-vindos!
Beijões! :*