Memories escrita por Yuuko chan


Capítulo 1
Prólogo




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Era um lindo lugar onde o sol se escondia baixo a névoa. Com árvores estreitos a grande distância de uns com os outros, e um chão de terra negra com pedras e folhagem morta. O céu era quase, quase impossível de ver, e o caminho de pedra marcado pelo chão barroso tampouco. A névoa cubría completamente tudo, até as ramas das árvores, escurecendo assim o já lôbrego dia.

Por motivo das contantes chuvas de verão, se formaram poças d'água por todas as partes do bosque, mas, a sua beleza ainda que decadente seguia estando intacta, mórbida até.

Parece que eu estou em outro mundo, Melina pensou para si mesma ensimesmada com tudo ao ser redor, por desgraça, o guia  não teve a consideração de explicá-la sobre curiosidades do bosque ou pontos turísticos que ela poderia conhecer em um futuro próximo. Mas não é que Melina tenha se importado em perguntar tampouco, ela não era uma pessoa muito comunicativa para ser uma jovem de apenas vinte anos de idade.

Falar bem e bonito era algo que Melina não dominava, já que gaguejava bastante quando se encontrava com um desconhecido, principalmente com os mais antipáticos. Talvez fosse por isso que tenha dedicado grande parte da sua vida em escrever estórias, já que os personagens fictícios eram mais suportáveis, eles não a olhavam com  nojo ou diziam palavras amargas.

— Se você seguir por este outro caminho sairá de Alborel.— O guia apontou a um passagem secundário em forma de advertência. — Não é recomendável ir por ali sem alguém que te acompanhe, Entendido?

— S-sim, por suposto.— Melina sorrio amigavelmente ao guia, tentando não esquecer por segunda vez o nome do bosque. Se chama Alborel....Se chama Alborel. Ela rememorou umas quantas vezes consigo mesma até que o nome ficasse marcado a fogo na sua memória.

Melina tampouco se lembrava muito bem do nome do Guia, mas, era fato que não se esqueceria da cara dele tão facilmente.  O tipo era um homem de meia idade, seguramente entre trinta e quarenta anos como muito, com a tipica barba de três dias por fazer, e o cabelo liso de cor castanho escuro.  O rosto dele não era "lindo" mas tinha o seu atrativo, bem, ao menos para uma mulher  da sua mesma idade que gostasse de homens desleixados.  Não era nem muito gordo ou magro demais, e a roupa que levava posta não parecia ser muito confortável. Isso, foi o único que Melina realmente conseguiu sacar dele com um pequeno escrutínio, antes dele voltar dar as costas para ela pela quinta vez. E contando.

★★★

Melina e o guia seguiram caminhando pouco mais de um quarto de hora, antes que parassem diante de uma espécie de cabana feita de madeira, e que provavelmente já havia conhecido dias melhores.

Senão fosse pelo guia, Melina jamais a haveria encontrado estando sozinha. As sombras ao seu redor, troncos caídos e névoa escondiam o refugio de forma protetora, como se fosse um tesouro.  Ainda que, a cabana de por si mesma fosse um tanto especial, a sua forma era triangular, sem paredes retas, como um castelo de cartas. A cor era de um tom esverdeado, talvez a causa do musgo ao seu redor. Parecia incluso algo meio selvagem, mas, Melina gostava do que via.

Havia pagado  para estar alí uma semana inteirinha e não se arrependia disso. O dinheiro que ela gastou foi completamente seu, graças as ventas das suas estórias em amazon. Ao menos, ela pensou, havia algo na sua vida que sentir orgulho. A sua capacidade innata de criar as estórias mais loucas de toda a face da terra, e ganhar dinheiro com isso.

Melina aprendeu com os seus próprios erros que tudo na vida tem um preço. Até as suas idéias. Ela era de longe a melhor escritora, mas, os seus livros vendiam bem e era isso o que realmente importava. E olha só? Com o lucro de seu trabalho ela teve dinheiro suficiente para ir de férias sozinha, sem a sua barulhenta familia por primeira vez.

Ser independente por um curto período de tempo era algo fantástico.

— Chegamos. — O guia falou com energia renovada enquanto agarrava a cópia das chaves da cabana. A sua bota de plástico beige fez "Clac" quando deixou de pisar o chão de terra e começou a caminhar pelo chão de madeira. E com cuidado, ele abriu a porta que custou um pouco em se destrancar, rangeu umas quantas vezes mas ao final cedeu nas suas mãos.— Lar doce lar, eh? — Ele sussurrou depois de tocar as paredes em busca do interruptor da luz. Melina resolveu seguir estando calada, o guia realmente não falava com ela senão com ele mesmo.

De repente, a escuridão deu passo a claridade, graças a luz forte do fluorescente instalado no teto, fazendo que Melina abrisse e fechasse os olhos umas quantas vezes antes de observar com mais detalhe o lugar onde passaria dois semanas inteiras sozinha.

A diferença do exterior, por dentro a cabana era bastante normal. Havia um sofá enorme no centro do lugar de uma cor café. Parece confortável, pensou Melina para ela mesma.  Também havia umas quantas prateleiras com coisas como: Cachorrinhos de porcelana, taças personalizadas e pratos pintados de decoração. Logo se encontrava uma a mini cozinha improvisada com uma geladeirinha minúscula mais um sexto com frutas frescas ao lado. Coisa que Melina não colocaria a mão encima a não ser em casos extremos. Ela só comía fruta quando já não restava outra coisa mais apetitosa para comer. O teto era bastante baixo, mas isso era por causa do quarto que se encontrava mais acima, assim que Melina simplesmente deixou isso passar desapercebido. 

Logo, o guia com mais prática levantou os braços e abriu uma espécie de portinha quadrada que havia no teto. Com cuidado ele começou a puxar uma escadinha incluso mais pequena e flexível que a portinha, mas, não sem antes olhar Melina da cabeça aos pés. Ela compreendeu de imediato esse olhar, todos a olhavam desse mesmo jeito. 

Pode ficar tranquilo moço, que a escadinha não vai quebrar com peso meu não. Melina ameaçou com dizer, mas ao final se calou para o seu próprio bem.  Faz muito tempo ela havia aprendido a lição, deveria guardar as suas opiniões apenas para ela,  Se Melina não abrisse a boca doía muito menos.

O guia deixando de olhá-la começou a subir pelos degraus da escadinha com indiferença. Talvez se houvesse dado conta do mesmo modo em que fez Melina que a escadinha não se quebraria tão fácilmente assim. Melina o seguiu calada.

Sinceramente? Foi tudo bastante incômodo. Melina tardou uma eternidade em subir pelas escadas e quando chegou até a portinha ela teve de encolher um pouco a sua barriga para não ficar meio entalada. O guia tampouco a ofereceu ajuda nesse sentido, e Melina começou a ter vontade voltar pra casa. Mas não foi, havia pagado para estar ali e seguiría estando até o final de sua estadia.

★★★

 

Com a pequena caminhada que fizera até chegar a cabana e logo ter que subir  ao seu mais novo quarto, Melina estava completamente exausta. Quando a cama de solteiro apareceu adiante de seus olhos ela só quis saltar sobre ela hibernar como os usos, Não queria comer, só queria DORMIR. 

O guia, sem notar o cansaço de Melina abriu a larga janela do quarto para que entrasse ar fresco, e iluminasse um pouco mais o lugar, ainda que houvesse demasiada névoa para isso. Escuridão era tudo o que se via lá fora, sem importar quantas vezes ela olhasse.  

Por sorte, a cama era bastante grande, o suficiente para que Melina caiba sem ameaçar com cair do colchão.

— E com isso já acabamos.— explicou o guia com normalidade.— Ah! E antes que eu me esqueça, — a face dele endureceu de repente. — se você quiser sair de passeio pelo bosque ou ir de compras na cidadezinha de ao lado, sempre siga o caminho de pedra. Esse caminho é a única coisa depois de mim que você deve confiar.— A olhou com severidade antes de continuar.—  Como você já se deu conta, esse é um bosque isolado. Aqui não existem sinais com mapas da região ou avisos de perigo. O caminho tomamos para chegar até a cabana foram feitos pela gente que vive fora do bosque, provavelmente pelos caçadores.— Coçou a cabeça incômodo. — E volto a dizer, você deve seguir sempre o caminho marcado, nunca atalhos secundários. O caminho de pedra não recorre todo o bosque e existe zonas perigosas...Até para alguém como eu.— Dessa vez afastou o olhar observando por um largo tempo a névoa que cegava o paisagem da janela. — Eu já não quero mais desaparições por aqui. Entendido moça?    

Melina observou o homem diante seu por mais tempo do necessário. Agora ela estava curiosa, até o ponto de querer levantar a voz e perguntar que desaparições foram estas, mas, o silêncio do guia foi mais que suficiente para ela manter a boca fechada, como uma garotinha obediente, o orgulho de seus pais.— Sim, entendo.— Ela respondeu amável, ainda que uma parte sua desejasse mandar o guia ir pra merda.  Melina havia pagado para estar ali, só ela e mais ninguém escolheria para onde ir.

— Bem.— O guia deu meia volta, baixou pelas escadas e desapareceu com a mesma facilidade que a fumaça do cigarro, sem sequer dizer adeus. Era pouco provável que houvesse escutado o doce "Até logo." de Melina.— Eu duvido muito.— Ela falou de repente ao lembrar-se do olhar do homem. —  Apostaria o que fosse que ele simplesmente não me deu ouvidos. — Concluiu ela dando petelecos no pé da cama deprimida.— Merda! É  que acaso ser gorda me desqualifica como pessoa?! — Gritou contendo o choro. Não derramaría lágrimas por uma bobeira como essa, ela pensou saltando sobre a cama enfim, cansada demais para mudar de roupa, se olhar no espelho ou tirar os sapatos. Estava cansada demais até....para sentir pena de si mesma.

Melina dormiu quase que de imediato encolhida no meio da cama. É confortável, foi a ultima coisa que ela pensou antes de cair num sono profundo. 

Mas o que ela ainda não sabia era: Que não só havia feito um trato com as pessoas menos indicadas, senão que também havia escolhido o lugar errado, o momento mais inconveniente para umas férias e a cabana errada. Ainda que, isso já não era novidade vindo de Melina, ao fim de contas, ela nunca teve sorte na vida. Por que haveria de ter agora?

Melina sempre fora a mais gorda de todos os seus companheiros de aula quando ainda fazia o ensino medio. Ela era a baleia, o cabelo de bombril e a bobinha zoada por todos. Sempre quando alguém chegava perto dela era para machucá-la ou pedir algo prestado. Nunca devolviam as  coisas dela, esse faziam, entregavam tudo rabiscado o quebrado. 

 Apesar de tudo isso, Melina nunca reclamou. Era boa demais para isso, ainda que muitos a chamassem de covarde e medrosa. Talvez fosse certo, eles eram muito e ela uma só pessoa. 

Houve um tempo da sua vida em que Melina já não queria se olhar no espelho. Se todos a chamavam feia, é porque era certo então, ela pensava.  Seus pais preocupados diziam que não, que Melina era a coisa mais linda do mundo, que a sua pele tão negra como o mais amargo chocolate era única e especial. Talvez eles fizessem isso para fazer que Melina se amasse um pouco mais.

Nunca funcionou realmente. 

Melina desde muito jovem compreendeu rápido o que ela era: Feia, gorda e preta em uma sociedade onde só existe lugar para a beleza, corpos sexys e pele clara. 

Alguém como ela não tinha espaço em um lugar assim, por isso mesmo Melina começou a escrever estórias. A única escapatória  para o mundo que a rejeitava por ser quem realmente é, um ser humano com defeitos. Mas defeitos que virtudes até.

 

Com lápiz e papel Melina criou universos onde a aparência é circunstancial. Onde  existem criaturas  incluso mais feias que ela mesma, onde a perfeição é apenas uma palavra mais escrita num dicionário empoeirado.  Nessas estórias Melina foi amada, e o amor restante habitado nelas  foram suficientes para compartir com todos os seus leitores.

 

Mas por desgraça, Melina ainda não sabia as aventuras que poderiam trazer o  futuro. Incluso, ai que dizer, mais selvagens que as estórias de sua própria fantasia. 


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