Regnum Viperarum - Interativa escrita por Lu au Andromedus


Capítulo 5
Capítulo 4 - Os Gêmeos da França


Notas iniciais do capítulo

Hello, hello!! Demorei? Sim, né? Desculpa por isso. Sou muuuito preguiçosa, sou a primeira a admitir.
Esse capítulo é o último de apresentação dos príncipes e os próximos vão ser de apresentação das selecionadas. Adrius e Julian foram de longe os mais procurados por vocês criadoras de fichas, então espero não decepciona-las!!
As fotos do palácio estão no site, ok?

Beijos e boa leitura.



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Capítulo 4

Os Gêmeos da França

 

Olhos atentos observavam a corça desavisada. Um macho, com galhadas curtas e pontiagudas, corpo esguio e pelagem marrom-acinzentada com rajadas brancas. Extremamente belo, e Julian não conseguiu evitar sentir uma pontada de pesar pelo que estava prestes a fazer. Mas via os olhos do pai pousados sobre si, avaliando-o, julgando-o, e podia imaginar a expressão em seu rosto caso falhasse. O modo como franziria a boca e suspiraria, lamentando a fraqueza de sua linhagem e talvez desejando que fosse outro a estar ali caçando ao seu lado. Julian balançou a cabeça, puxou a corda do arco para trás, e ajustou a flecha entre os dedos. Não falharia, não podia falhar. Respirou fundo, uma, duas, três vezes, relaxou os músculos e deixou a corda escapar, impulsionando a flecha para frente. Ela fez seu percurso em silêncio, sendo cravada no olho do animal, que caiu no chão, morto.

— Muito bem, filho – Christophe se aproximou de Julian por trás e apertou gentilmente seu ombro – Vamos ter corça para o jantar hoje.

Julian acenou e entregou o arco e flecha aos criados. Olhando para a corça morta, se espantava que algo tão simples pudesse ser tão mortífero. Simples em sua composição, porém não em seu manejar. Arquearia exigia técnica, movimentos tão sincronizados quanto os de uma dança que Julian só havia dominado por ter treinado desde a infância e acompanhado o pai em caçadas desde os sete anos de idade.

Os criados preparavam a carcaça, o cheiro metálico de sangue subindo pelo ar enquanto dividiam-na em pedaços menores, mais fáceis de serem transportados. Julian desviou o olhar. Depois de quinze anos saindo para caçar, já devia ter se acostumado, mas duvidava que algum dia deixaria de sentir certo incômodo.

Caminhou pela floresta, as folhas amarelas, laranjas e vermelhas de outono estalando sob seus pés. Estava a cerca de 40 quilômetros do castelo de sua família, uma distância longa demais para ser percorrida a pé. Felizmente tinham cavalos, dezenas deles para atender os marqueses, condes, duques, e arquiduques que o acompanhavam. Eles parabenizaram Julian com tapinhas nas costas e ele sorriu respeitosamente para eles. Conhecia a maioria desde pequeno e ficava à vontade em meio a eles, mas sentia falta do irmão. Adrius raramente vinha em caçadas, o idiota preferia ficar na companhia de seu taco de sinuca do que em meio a nobres influentes. Isso não era bom para ele, Julian sabia e Adrius também sabia. Eram gêmeos e ninguém além da mãe e do médico da família sabia quem era mais velho. Dessa forma, o posto de herdeiro do trono francês estava aberto, esperando para um dos dois ocupa-lo.

Julian sinceramente não sabia se queria ser rei. Parecia muita responsabilidade, responsabilidade demais para ser carregada por uma única pessoa. Mas ao mesmo tempo, ele não achava que fosse algo que não conseguisse suportar e, quem sabe, até fazer bem.

Seu cavalo relinchou quando o viu se aproximar. Julian passou a mão por entre o pelo castanho do animal e subiu habilmente em suas costas.

— Vamos, pai! – chamou – Devemos voltar para casa antes do jantar, lembra?

(...)

A cavalgada de volta foi dolorosamente lenta. Os nobres conversavam, observavam as árvores e paravam para descansar, como se não fossem os cavalos a estarem fazendo todo o trabalho duro. 

— Eu juro que se eles desmontarem para colher flores de novo eu vou deixá-los para trás. Não me interessa se são para a esposa, a filha, a irmã ou até para a própria rainha – murmurou o rei Christophe. Julian não duvidava. O pai não era um homem paciente e dos nobres reunidos, apostava que ele odiava pelo menos metade. Aqueles encontros e saídas eram para Christophe um fardo, algo que só fazia por ser obrigado pela esposa.

Todos aqueles nobres lutavam para agradar seu pai, e eles mal sabiam que era Celine a real governante da França. Controlava o marido como a uma marionete e ele era indiferente demais e apaixonado demais por ela para ligar. Celine não nascera nobre, pelo contrário, era filha de um pescador e uma cozinheira franceses. Como o povo adorava isso nela. O modo como uma plebeia humilde conseguiu se elevar ao título de rainha enchia seus corações de admiração. Eles a amavam, bastava um de seus doces sorrisos para que fosse ovacionada. Se ao menos soubessem de quem havia sido a mão responsável por assinar a lei aumentando os impostos e diminuindo os benefícios sociais talvez percebessem que Celine podia ter nascido como um deles, mas agora era uma rainha em todos os sentidos da palavra.

Julian olhou para trás, diretamente para os olhos azuis de Edward. Queria que o amigo cavalgasse ao seu lado, lhe fizesse companhia. Mas o militar estava ocupado demais quase dormindo, o corpo completamente relaxado e parecendo estar prestes a cair do cavalo, o que Julian sabia que não aconteceria. Ed estava constantemente em alerta. De qualquer forma era meio cômico vê-lo assim.

Um barulho distante de vozes chegou aos ouvidos de Julian e eles franziu a testa. A cidade mais próxima estava a dezenas quilômetros de distância e as pessoas não costumavam se embrenhar pela floresta. Sabiam que era propriedade da família real.

— Pai. Está ouvindo isso? – perguntou Julian.

— Ouvindo o quê?

As vozes aumentaram. Julian podia jurar que vinham de algum lugar a menos de cem metros dele, mas não conseguiu localizar de onde, pois, de repente, cessaram por completo. Ele apurou os ouvidos para ver se voltava a ouvi-las, o que não aconteceu.

— Nada – murmurou o príncipe – Esquece.

Christophe o olhou curioso, mas nada disse. Julian voltou novamente sua atenção para frente, o movimento ritmado do cavalo o relaxando, e fechou os olhos. Conhecia o animal no qual estava montado a tempo suficiente para saber que ele não o deixaria cair.

— O que foi aquilo? – um nobre perguntou, alarmado. Julian abriu os olhos de súbito – Achei que tinha visto um homem. Mas não é possível, certo Majestade?

Christophe não teve a chance de responder, pois, de todos os lados, pessoas se aproximavam carregando nas mãos facas, facões, machados e paus. Todos adultos e todos com expressões que variavam de determinação a desespero. Julian teve dois segundos para observa-los antes que atacassem as pernas do seu cavalo, fazendo o animal e ele próprio caírem. Aterrissou duramente, usando os braços para evitar que sua cabeça batesse no chão. Levantou os olhos lentamente e observou, estarrecido, uma mulher abaixar sua faca diretamente sobre o coração de seu cavalo, arrancar um pedaço da carne do animal e a comer exatamente como estava, crua e sangrando.  

*****************************************************************************

Adrius encarava o teto da Sala de Jogos, as mãos pousadas no peito e o taco de sinuca ao lado do corpo. Cansara de competir contra si mesmo, até porque, de uma forma ou de outra, sempre ganhava. A vitória era normalmente bem saborosa, mas quando muito frequente e muito fácil, simplesmente exaustiva. Queria que o irmão estivesse ali. Olhou pela janela em direção ao céu. O sol já havia a muito se posto. O pai e o irmão estavam atrasados, o que não costumava acontecer. Julian era irritantemente pontual.

Eyphah agitou as asas e bicou sua perna, fazendo Adrius se levantar de súbito. O falcão o olhou irritado e em seguida para a janela.

— Não, você não pode sair. Se sair, quem garante que irá voltar? Devia ter pensado nisso antes de abandonar Julian na caçada e correr para mim. Não que eu possa culpa-lo – o falcão apenas o encarou com seus olhos escuros e Adrius suspirou. Às vezes se arrependia de ele e o irmão terem escolhido um falcão invés de um cachorro como animal de estimação. Eyphah era belo, mas um tanto quanto sem-graça. Entendia os motivos de Julian, o irmão queria um animal que o ajudasse quando saísse para caçar ao mesmo tempo que lhe fizesse companhia, e Adrius tinha que admitir que mesmo Eyphah com seus olhos inexpressivos era menos monótono que os nobres franceses. Quase riu ao imaginar Julian sendo obrigado a aguenta-los sem seu falcão para distraí-lo, mas então se lembrou que ele estava atrasado e sua expressão se fechou.

A porta da Sala de Jogos se abriu. Adrius ergueu os olhos a tempo de ver Elizabeth passar por ela, seus saltos estalando no chão de madeira e o corpo coberto por um vestido preto de seda que esvoaçava atrás dela como um véu.  

— Olá Adrius. Soube que estava aqui sozinho e vim te fazer companhia – ela sorriu, o batom vermelho se destacando nos lábios cheios.

— Que fofura da sua parte – Adrius lhe dirigiu um sorriso torto e a examinou de cima a baixo – Não está meio arrumada para vir só me fazer companhia?

Elizabeth deu de ombros.

— Gosto de ficar bonita para você. Você não gosta de me ver bonita?

— Gosto de fazer outras coisas além de só ver.

— Então faça. Não vou impedi-lo.

Adrius a encarou por alguns segundos. Elizabeth era inegavelmente bonita e extremamente gostosa. O vestido fino que usava deixava à mostra todas as suas curvas, apesar de ter certeza que ela ficaria ainda melhor sem ele. Mas seu irmão estava, teoricamente, desaparecido e não conseguia desligar a mente desse fato.

— Não. Não estou afim – disse Adrius e voltou sua cabeça novamente para a janela. 

— É claro que está – retrucou Elizabeth– Os homens sempre estão. Está preocupado com Julian, não é? Bom, meu pai também está lá fora caçando com o seu. Mas ficar me preocupando não vai ajuda-lo em nada. Então que tal nos distrairmos e nos divertimos um pouco? 

Elizabeth avançou rapidamente até Adrius, segurou a barra de sua calça jeans e começou a desabotoa-la habilmente. Adrius segurou o pescoço dela e a puxou para um beijo. Passou a língua lentamente pela dela, sorriu e a afastou com um empurrão. Elizabeth o encarou, surpresa.

— O que seu irmão diria se a visse agora? – falou Adrius, um sorrisinho brincando em seus lábios.

— Meu irmão?

—  Edward Elric, militar, amigo de Julian, que está atualmente caçando com ele – Adrius revirou os olhos – Uau Elizabeth, você esqueceu da existência de seu próprio irmão?

— É claro que não esqueci. Só estou surpresa por você estar com medo do Ed.

— Medo? Só estou sendo cauteloso. É uma grande diferença – Adrius esticou a mão e pegou uma mecha do cabelo loiro dela, enrolando-a entre os dedos.

— Edward não sabe sobre nós. E nem tenho intenção de que ele descubra. Você não tem motivos para ser cauteloso. Além de que já matou um príncipe. Desde quando liga para cautela?

A expressão de Adrius se fechou, se tornando tão tempestuosa quanto o mar que banhava a França. Elizabeth percebeu, e antes que a situação piorasse para ela, jogou os cabelos para trás e lhe deu as costas, batendo os pés enquanto se dirigia até a porta e a abria com violência. A rainha Celine estava parada do outro lado, a mão levantada, se preparando para bater. Elizabeth sorriu, envergonhada, e correu pelo corredor, sumindo de vista.

— Interrompi alguma coisa? – perguntou Celine, sem nenhum traço de arrependimento na voz.

— Ah não. Elizabeth só estava com pressa.

— Você e suas brigas de namorado – comentou Celine, um sorriso doce em seus lábios – Ou talvez o melhor termo não seja namorada. Algum dia pretende ter alguma coisa séria, Adrius?

— Você não está me dando a chance de decidir. Não com essa coisa de seleção.

 Celine deu de ombros.

— A seleção foi uma decisão de seu pai, não minha.

— Meu pai não toma decisões. Mas continue repetindo isso. Talvez consiga enganar a si própria como engana todo mundo – Adrius despejou as palavras e no segundo seguinte se arrependeu, ainda mais ao ver a mãe o olhar com mágoa. Suspirou e esperou pelos gritos que inevitavelmente viriam.

— É assim que trata a mulher que não só te deu a vida como desistiu da dela por você? Que se afastou da própria família, amigos e casa, para vir para um castelo que não conhecia exercer um cargo para o qual não estava preparada? – Celine pegou uma das bolas de sinuca da mesa e a arremessou em direção a Adrius, que teve que se abaixar para evitar ser atingido – Ingrato!

— Tudo bem, mãe – murmurou Adrius. Conhecia Celine o suficiente para saber que se começasse a discutir, ela não cederia, e se sentia preocupado demais para brigar – Sim, eu sou um ingrato. Sim, eu sou um péssimo filho. Mas falando em filhos, você sabe onde está Julian?

Celine mordeu o lábio inferior, aflita, mas consideravelmente menos irritada. Adrius sabia que mencionar Julian causaria essa reação nela. Se haviam duas pessoas com as quais Celine se importava, e não simplesmente fingia se importar, eram os filhos.

— Não, não sei. E vejo que você não foi caçar de novo.

— A atividade não me desagrada, mas a companhia é insuportável – disse Adrius, pensando nos nobres franceses. Talvez estivesse generalizando, afinal não eram todos intragáveis, mas a maioria era. Só sabiam conversar sobre o tamanho de suas mansões, o volume de suas carteiras e a quantidade de carros em suas garagens.

— Seu irmão suporta.

— Sim, mas só porque ele quer agradar o papai. Como se já não fosse o favorito dele. 

Celine balançou a cabeça.

— Pais não tem favoritos.

— É o que pais dizem. Mas todo mundo sabe que é mentira – retrucou Adrius.

Celine se aproximou e segurou ambas as mãos do filho entre as dela.

— De qualquer forma, acho que você devia passar a ir sim caçar. Buscar fazer conexões com nobres que podem favorece-lo em sua pretensão ao trono, assim como Julian está fazendo.

Adrius encarou a mãe, sinceramente surpreso.

— Julian não está fazendo isso – essa possibilidade nem nunca tinha passado por sua mente e, para falar a verdade, a chance de ser rei era tão distante para ele que Adrius dificilmente pensava sobre nada que envolvesse isso.

— Não intencionalmente, talvez– ela levantou a mão e a passou gentilmente pela bochecha do filho – Só me preocupa que você pode estar ficando para trás nessa competição. Quero que meus filhos tenham chances iguais.

— Que competição?

— Ora, pelo posto de herdeiro do trono, claro. Afinal, quem que você acha que os nobres vão preferir como seu governante: alguém que se preocupa em passar algum tempo com eles ou alguém que prefere ficar trancado numa sala jogando sinuca e transando com a filha de um deles?

— Se é Julian que eles querem, que o tenham. Não quero ser rei.

— Tem certeza? Um rei tem muitos deveres, mas também maravilhosos direitos – Celine lhe deu as costas e o deixou com suas dúvidas e receios.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Palpites quanto ao que raios aconteceu com o Julian?

Bom, não houveram muito menções a morte do irmão do Caius nesse capítulo porque acho que é uma coisa importante demais para ser tão abordada logo assim no início da história. Então vou deixar vocês na curiosidade mais um pouco, sorry kk.

As vagas estão quase acabando, só faltam duas. Então vocês que ficaram de me mandar fichas corram para não perder a vaga.

Beijos e até os comentários.



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