Faces de Pedra escrita por Agatha Wright


Capítulo 3
3 - A Primeira Onda


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada paras as leitoras que estão comentando. Tive uns imprevistos e o cap precisou atrasar um dia. Mas aqui está ele firme e forte.

Boa leitura!



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Capitão Sevel era pelo menos uma boa cabeça mais alto que Robin. Ela não podia deixar de engolir em seco com visão dele e esteve bem feliz em evita-lo durante seus primeiros dias na T’Partha. Não era como se ela tivesse medo de seu capitão, mas sim tinha a estranha sensação de que quanto menos notável para Sevel ela fosse, mais fácil a sua vida seria. 

Ambos os oficiais cumprimentaram o capitão educadamente conforme ele passava pelo corredor. Alguns até lhe cumprimentavam com a Ta’al, a forma tradicional vulcana. Robin  analisou o quão estranho seria ela agarrar Varen e arrasta-lo para o corredor lateral que levava para algum lugar ermo da engenharia apenas para evitar esse encontro, mas concluiu que ela teria que dar muitas explicações para seu amigo além de chamar muita atenção. Então no final das contas, ela se resignou ao seu destino. 

“Olá, capitão.” Cumprimentaram Robin e Varen em uníssono.  

Eles estavam quase passando por Sevel e Robin estava começando a agradecer que o capitão iria ignora-los quando ela ouviu. 

“Dra. Wolf, um momento, por favor.” 

Xingando e amaldiçoando todas as divindades de todas as culturas que podia lembrar, ela se virou forçando uma triste tentativa de sorriso para disfarçar sua óbvia apreensão. Lançando um olhar deprimido para Varen, ela sinalizou que ele podia continuar sem ela. 

“A vontade, doutora.” 

“Sim, senhor.” Respondeu Robin com a voz um pouco tremula. 

Sevel a mediu da cabeça aos pés sem se importar que ela notasse o quanto estava sendo analisada naquele momento. Robin agradeceu ao seu bom senso de estar usando seu melhor uniforme naquele dia e de seu cabelo ter cooperado quando ela o prendeu mais cedo. Sem notar nada obviamente recriminável em sua aparência, o capitão começou a falar. 

“Devido as tarefas que exigiram minha atenção, eu não pude recepciona-la apropriadamente na T’Partha.” Disse ele naquele tom inexpressivo que ela já estava acostumada a ouvir vindo de seus colegas. “Então, seja bem-vinda.” 

Ele avançou e estendeu a mão para ela. Robin a apertou e se surpreendeu com o quão quente a pele dele era. Vulcanos eram conhecidos por evitar contato físico o máximo possível dada aos seus poderes telepáticos por via de toque. Poderia ser coisa da cabeça dela, mas ela sentiu um formigamento estranho em sua mão que subiu por todo o seu braço durante o breve contato. De certa forma, o gesto do capitão era admirável.  

“Muito obrigada, senhor.” Respondeu ela se certificando que sua voz havia voltado a soar firme. “É uma honra servir a bordo da T’Partha.” 

Sevel assumiu uma postura de melhor aceitação em relação a sua mais nova oficial. Os relatórios iniciais da enfermaria diziam que o trabalho dela era perfeitamente aceitável e ela não parecia predisposta a cometer nenhuma falha. Nada que indicasse o motivo pelo qual ela fora removida de seus antigos postos. 

“Soube que foi a melhor de sua turma na Academia, suas notas foram excelentes e recebeu as melhores recomendações possíveis de seus professores. E que antes disso obteve uma formação civil em Medicina em uma das melhores escolas de seu planeta natal com um desempenho sem igual. Um currículo bastante impressionante.” 

Robin agradeceu novamente. Ela já esperava o que vinha a seguir, todos os outros capitães começavam com esse mesmo discurso sobre suas notas e conquistas e então iriam começar a questiona-la sobre suas transferências. Ela preferia que esse ritual demorasse um pouco mais para ela bolar uma explicação para esse capitão vulcano que fosse melhor do que dar de ombros e dizer que cada capitão sabe o que é melhor para sua tripulação. 

“Bem, espero que tais realizações se reflitam em seu desempenho a bordo da T’Partha. Boa noite, doutora.” 

Após isso ele se virou e continuou seu caminho sem mais nenhuma palavra. Ela ficou observando suas costas largas em total perplexidade que depois se tornou uma certa gratidão.  

Bastante admirável de fato. 

*** 

Felizmente a adaptação à rotina da T’Partha não foi tão difícil quanto Robin esperava. Os vulcanos pareciam menos predispostos a sofrerem acidentes corriqueiros às suas funções e a enfermaria não era uma área tão frequentada em comparação a de outras naves da Frota. Com isso ela se viu passando a maior parte do tempo envolvida nas pesquisas e nos dados coletados pelo Dr. Sakht e sua equipe nas últimas missões da tripulação. O que se mostrou uma tarefa bastante promissora para seus interesses acadêmicos, ainda mais tendo em vista as descobertas que as futuras missões prometiam. 

A missão atual era explorar e mapear um sistema solar que ainda não estava bem documentado nas cartas da Frota. Era sabido que se tratava de um sistema com cinco planetas, cujos dois últimos eram Classe M e havia a suspeita de que um dos satélites do terceiro planeta poderia ser uma boa fonte de dilithium. Após isso havia mais uma série de outras missões de investigação cientifica, sendo boa parte quase na fronteira da Zona Neutra Romulana. Robin nunca havia estado em uma missão em um território tão perigoso e todos os rumores sobre os romulanos a deixam bem apreensiva sobre o que eles poderiam enfrentar nesses meses.  

Seria errado da parte dela dizer que Varen estava entusiasmado em fazer parte do time avançado de exploração pelo fato de ele ser vulcano. Mas se ele fosse humano com certeza estaria saltitando por aí quando recebeu o pedido da Comandante T’Aria, a Oficial de Ciências. Quando Robin o parabenizou, ele apenas deu de ombros e disse que devido a sua especialização em Geologia, ele era a escolha mais lógica, mas não havia nenhuma disciplina vulcana que o impedia de ter os olhos brilhando quando a próxima tarefa de campo era mencionada. 

A primeira missão fora um absoluto sucesso. Todos os planetas foram perfeitamente escaneados, suas flora e fauna ainda estavam em um estado bastante primitivo de Evolução o que parecia um pouco estranho se comparado com a idade dos planetas. Haviam alguns vestígios de radiação em ambos os planetas e a fonte ainda não fora localizada. 

Esses mistérios mantiveram o Departamento de Ciências a todo o vapor por várias semanas. O clima parecia muito bom e a moral era alta em toda a tripulação, mesmo que nenhum vulcano ousasse admitir que houvera alguma mudança de cunho emocional no espírito do grupo. 

Era o último dia deles naquele sistema. Como estavam adiantados em seu roteiro, o capitão decidiu orbitar o terceiro planeta pelos próximos dois dias para certificar que nada havia sido deixado para trás e que a nave estava em perfeitas condições para sua próxima missão. 

Em um desses dias preguiçosos, Robin estava indo ao ginásio tirar o atraso de sua rotina de exercícios físicos que ela havia negligenciado quando passou as últimas semanas estudando as propriedades curativas de algumas plantas que a Botânica havia enviado para ela. Ao chegar lá ela se deparou com Varen e T’Lyra envolvidos em alguma espécie de treinamento de luta. Lembrava algum tipo de cruzamento entre Kung-Fu e Judô, mas ela tinha certeza que era alguma modalidade vulcana. Os dois usavam roupas folgadas de um tecido marrom que ela foi incapaz de reconhecer o material e se moviam com bastante graça e agilidade. 

“Olá, Robin.” Cumprimentou Varen durante uma pausa assim que notou a presença dela. 

“Olá, Varen.” Respondeu ela com um sorriso. “Olá, T’Lyra.” 

A vulcana apenas acenou com a cabeça em resposta. Após isso ela se virou para Varen. 

“Irei cobrir um turno na Engenharia, devo ir agora." 

Com isso dito, ela cruzou o caminho até a saída sem dizer nada. 

Robin se virou para Varen que observava sua colega se afastar, suas sobrancelhas estavam levemente juntas numa expressão quase imperceptível que Robin havia aprendido a reconhecer e que indicava que ele estava refletindo profundamente sobre algo.  

"Sinto muito se interrompi. Não foi minha intenção." Disse ela apologeticamente. 

O vulcano suavizou seu rosto de volta a sua expressão neutra de costume. 

"Não há motivos para desculpas. Sua presença não atrapalhou nada. T'Lyra realmente precisa cobrir o próximo turno na engenharia e nosso encontro estava programado para terminar nesse momento." 

A intuição dela não concordava com seu amigo, mas por se tratar de vulcanos, talvez os instintos dela não fossem tão corretos assim.  

A convivência dela com T'Lyra era bastante silenciosa e elas raramente se cruzavam em suas rotinas. Ao contrário do que ela esperava vide a primeira impressão que ela teve, a vulcana não havia tomado nenhuma atitude antipática para com ela. 

Mas também não havia nenhuma forma de simpatia. 

Ela rapidamente deixou o assunto de lado e foi seguir a sua rotina de exercícios. Varen havia revelado que a luta que ele estava praticando se chamava Suus Mahna, uma arte marcial tradicional dos vulcanos que era principalmente voltada para auto-defesa e para incapacitar inimigos o mais rápido possível. Era de se esperar que mesmo em uma briga, os vulcanos não iriam abrir mão de sua eficiência impecável.  

*** 

 

Após a sessão de exercícios e um bom banho, ela se sentia mil vezes mais disposta enquanto fazia seu caminho para a enfermaria, sempre dez minutos antes do necessário. Ela havia acabado de sair do turboelevador quando uma violenta onda de turbulências atingiram a nave. 

Após alguns momentos se sentindo dentro do epicentro de um terremoto, ela ouviu os comunicadores da nave soarem: 

"Emergência médica! Todo o pessoal médico disponível, apresentem-se na Engenharia." 

A nave estava em alerta amarelo. Robin já havia passado por algumas situações estranhas em seu tempo na Frota, mas ver a pacata nave vulcana entrar do nada em alerta tático causava um péssimo sentimento. 

Na sua corrida em direção a engenharia, ela conseguiu se juntar a Saya e Koval que felizmente haviam carregado a maioria dos equipamentos necessários para realizar o socorro de eventuais feridos. 

Eventuais feridos... 

Assim que Robin pôs os pés na engenharia ela descobriu que haveria muito trabalho na enfermaria nos próximos dias. 

Vários computadores e controles pareciam carbonizados e nenhum tripulante saiu ileso, a maioria estava inconsciente no chão com partes da pele transformadas em uma massa esverdeada disforme.  

Queimaduras gravíssimas, fraturas, cortes e escoriações. 

Vulcanos eram uma espécie resistente, mas para tudo tem seu limite. Ela podia ver o esforço de cada um em tentar manter o controle face a terrível cena na frente deles. Alguns poucos engenheiros que estavam em condições de andar estavam auxiliando os médicos no resgate e transporte para a enfermaria.  Dr. Sakht já estava com uma fila de cirurgias em suas mãos. 

"Dra. Wolf!" 

Fora um jovem alferes que estava menos ferido que a chamou. E Robin sentiu um frio na espinha ao notar o óbvio tom de medo na voz de alguém que alegava não senti-lo.  

Péssimo sinal. 

Ao se virar na direção que o jovem havia apontado, ela avistou um corpo caído sobre uma poça de sangue verde e coberto por vários destroços de uma parte desabada de uma estrutura próxima ao núcleo de dobra. 

Ela sentiu seu coração parar quando reconheceu a figura caída. 

T'Lyra.


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Notas finais do capítulo

Caso soe estranho pra vocês, o sangue vulcano é a base de cobre ao invés de ferro, o que faz com que ele tenha uma cor esverdeada quando oxigenado. Então, obviamente, os cortes, hematomas, queimaduras e qualquer coisa que faça a pele humana avermelhar, vai fazer a vulcana esverdear.

Alerta amarelo: Basicamente é um estado de alerta da nave onde se indica que há uma chance de perigo e com isso os sistemas de defesa são reforçados, mas os sistemas de armas ainda estão desativados. Pode ser acionado por algum oficial do comando ou pela própria nave quando se detecta alguma ameaça.

Espero que tenham gostado, quaisquer dúvidas só deixar nos comentários que irei responder o mais rápido possível.