— Você precisa de um encontro. — disse Lílian Evans, mordendo seu picolé, dividindo-se em afundar seus dedos entre as madeixas do namorado.

Marlene fechou os olhos lentamente, profundamente irritada em ter que discutir sua vida pessoal na frente de ninguém menos que James Potter. Apesar que, o garoto parecia muito entretido em experimentar todos os sabores de gelatina que os elfos se dividiam em colocar em sua boca. A garota loura apenas mordeu mais um pedaço de seu chocolate, emburrada. Convidou Lily para ir dar uma geral na cozinha e não sabe em que momento deu a entender que ela podia levar seu namorado.

— Um encontro? Eu posso te arranjar um encontro. — James virou-se de supetão, animado.

— Não, obrigada. — Marlene o olhou, séria, mas sua personalidade rabugenta infelizmente já não atingia James, que era Capitão do Time e já se acostumou com o gênio difícil de sua batedora.

— Lene! Eu sei que você está focada nos N.I.E.M’s e tudo mais, todos nós estamos, mas por que não? Às vezes é bom conhecer alguém novo. — a garota loura enrugou o rosto de nojo quando James e Lily começaram a trocar fluídos com a boca. O garoto terminou de beijar a namorada e eles ficaram com as testas unidas, dando risinhos, fazendo Marlene desviar o olhar lentamente, enojada.

— Eu tenho a pessoa perfeita para você. — disse James, roubando uma mordida do picolé de Lílian. — Sério, esse sábado já seria o encontro perfeito.

Ela estava tão exausta de ter que aguentar os respectivos namorados de suas amigas ou namoradas de seus amigos que a opção de arranjar alguém para lhe fazer companhia estava começando a rondar a sua mente. Por algum tempo ela manteve-se firme em dizer veemente que não precisava de ninguém, mas estava começando a entrar em desespero. Olhou para a amiga ruiva, deliciando-se com seu picolé, rindo de alguma coisa que James lhe sussurrara.

— Talvez eu possa ter um encontro... Nesse sábado... Em Hogsmeade. — Lily virou o rosto rapidamente, arregalando os olhos verdes, animada. James sorriu lentamente, dando um tapinha na mesa, como se tivesse vencido uma partida de Xadrez.

— Ótimo! Eu tenho a pessoa perfeita, você vai amar Ash! Vocês vão se dar tão bem, sério, você vai adorar! — James ficou tão animado que Marlene acabou comprando a propaganda. Naqueles sete anos em Hogwarts, ela nunca teve muito interesse em ninguém específico, talvez ela tenha tido uma quedinha por Frank Longbottom quando ele ainda estudava em Hogwarts, mas era um amor impossível, ela era do segundo ano e ele já estava se formando.

Tudo que ela podia fazer ela observá-lo e suspirar, imaginando situações impossíveis.

Animou-se em colocou um vestido, mas sempre sentia-se absurdamente estranha de vestido já que tinha nada menos que um metro e oitenta. Não que isso fosse um empecilho, mas ela tinha dificuldades em coisas femininas. Entretanto, daquela vez, ela realmente se esforçou: arrumou suas unhas roídas, alisou o cabelo e ousou até mesmo passar um pouco de gloss.

Colocou uma jaqueta por cima do vestido e saiu do dormitório e despediu-se de alguns colegas do time da Grifinória e de algumas amigas, nervosa e animada, quase correndo para o Grande Portão.

Misturou-se aos alunos, animada, olhando os garotos, curiosa, perguntando-se se algum deles era o tal Alex. Finalmente chegou ao Três Vassouras, indo até o balcão e sentando-se em um dos banquinhos, pedindo uma cerveja amanteigada. Observou o local se enchendo e começou a ficar extremamente ansiosa.

— Obrigada. — Agradeceu sua cerveja para Madame Rosmerta, dando um grande gole. Marlene notou um garoto a olhando e desviou o olhar, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, nervosa.

— Você é a Marlene? — a garota virou-se ao sentir um toque em seu ombro, dando de cara com uma garota negra, de tranças. Ela uniu as sobrancelhas, afirmando. — Eu sou a Ash.

— Ash? — gaguejou Marlene. Mas a garota abriu um lindo sorriso, a analisando.

— Sim, Ashley.

...

Marlene chegou na Sala Comunal empurrando um primeiranista para fora de seu caminho, achando Lílian Evans deitada no colo do namorado, que estava rodeado pelos Marotos. Cruzou os braços, tão profundamente irritada que todos sentiram a ira da McKinnon e se encolheram lentamente, pois todos sabiam da força da batedora do time.

— Qual a porra do seu problema, Potter? — exclamou Marlene, abrindo os braços, irritada. A ruiva sentou-se, parecendo confusa. James também parecia muito desconcertado. Ela viu Sirius Black abaixar seu jornal lentamente, ainda sem olhá-la, na poltrona de costas para ela.

— O que foi?

— O idiota do seu namorado me colocou em um encontro com uma garota! — Marlene estava tão exaltada que sua voz saiu mais alto do que planejado. A Sala ficou num silêncio tão tenso que Marlene não acreditou no que estava vendo. — Vocês acham que eu sou lésbica???

Todos continuaram em silêncio. Lílian ajeitou-se no sofá, parecendo tentar recuperar arquivos em seu cérebro, hesitante.

— Eu... Eu nunca achei isso, com certeza houve um mal entendido aqui e...

— Você não é sapatão? — questionou James, parecendo ter descoberto o sentido da vida. Sirius Black finalmente virou-se em sua poltrona, parecendo não ter coragem em olhar a garota nos olhos.

— Não! — gritou Marlene, batendo o pé, surtando. — O que te faz achar isso???

— VOCÊ CALÇA CARGA¹, PELO AMOR DE MERLIN! — gritou James, confuso e abalado.

— Merlin! — gritou Marlene, arregalando os olhos, irritada.

James fitou o nada, parecendo desorientado. Remus ajeitou-se na outra poltrona, também desconfortável.

— Bem... Nós... Bem...

— É a primeira vez que alguém... Presume isso? — indagou Peter, sentado no tapete. Marlene desviou o olhar, também fitando o nada, entrando em transe. Quando era menor, ela tinha um corte tão curto que demorou para o Professor Binns entender que ela era uma garota e não um garoto, apesar de ter a força de um. Lembrou-se de sua tia solteirona dizendo lhe aconselhando a não se acanhar em ser quem ela é (Merlin, tudo fazia sentido, ela não era ‘solteirona’), e dos garotos sempre lhe dizendo “sabe como é, né McKinnon”.

— Sim! — mentiu, ainda apavorada.

— Merlin... — James ajeitou-se no sofá, profundamente ofendido e abalado, dramático como sempre. — Todo esse tempo... Eu pensei que... Você fosse um de nós! Assim como Ash, eu amo aquela garota, ela é uma de nós!

Ele bateu no peito, másculo. Ela enrugou a testa para James, não acreditando no que o garoto estava falando.

— Quem mais acha que eu sou lésbica??? — irritou-se Marlene.

Todos desviaram o olhar, atônitos, e James parecia fazer contas mentais, mexendo os olhos rapidamente, concentrado. Lílian mordeu os lábios para a amiga, semicerrando os olhos, também parecendo fazer contas mentais.

— Merlin... — murmurou Marlene, saindo da Sala Comunal.

Marlene passou o resto da semana ignorando Lílian e os garotos, profundamente magoada. Ela não tinha problemas com sexualidade, só não conseguia conceber a ideia de que o fato dela usar calça carga ou ser boa em Quadribol lhe fizesse ser automaticamente lésbica. Passou os dias inteiros se perguntando se aquilo era por nunca ter saído com um garoto, ou por não ser muito feminina... Mas ela sempre estava com suas amigas, ela tinha um enorme e querido grupo de amigas, não conseguia acreditar naquilo.

Fingiu quebrar o nariz de James Potter mais uma, que nem fizera no sexto ano, enquanto rebatia os balaços que enfeitiçara, treinando no campo com os outros do time. Ela não o odiava, o achava um pateta, mas não conseguia não rir de suas piadas e trejeitos. Mas estava tão... Irritada!

Rebateu com tanta força o balaço que quase quebrou o feitiço que o jogava de volta.

— Posso entrar? — indagou seu par, Sirius, segurando seu bastão. Marlene limpou o suor em sua testa com as costas da mão, assentindo ao quebrar o feitiço, fazendo o balaço quase afundar a grama.

O garoto enfeitiçou o balaço para que ele desse a primeira tacada. Marlene retribuiu com tanta força ao jogar o balaço de volta que Sirius arregalou os olhos quando o objeto voltou um segundo após ter ido. Eles ficaram naquele treinamento por alguns minutos até a garota jogar o balaço para longe de Sirius, apoiando-se em seus joelhos, exausta.

— O jogo de segunda vai ser fácil... — disse o garoto, também ensopado de suor, de olhos semicerrados para a garota por conta do sol... — Ainda mais depois desse fim de semana. Outro passeio para Hogsmeade...

Ela cuspiu no chão, amarrando seu cabelo com mais força, fazendo Sirius mais desconfortável ainda. Marlene sabia que Sirius gostava dela. Ou ele gostava dela, ou ele tinha uma única fraqueza entre garotas e calhou de ser ela: Ele nuna a olhava diretamente nos olhos, sempre ficava em silêncio na sua presença, e nunca ria, debochava ou brincava com ela, diferente das outras garotas.

A McKinnon o olhou, desacreditada, ele nunca saiu com nenhuma garota de Hogwarts, naqueles sete anos, metade das garotas se matando atrás dele e nada. E ela nunca ouviu sequer um boato secreto dobre Sirius ser gay.

Girou os olhos, dando mais crédito ainda para o feminismo. Começou a recolher suas coisas, quase sentindo uma lâmpada acender-se sob sua cabeça. Olhou para Sirius novamente, correndo até onde o balaço fora parar e mordeu o lábio, receosa. Não seria uma má ideia sair com Sirius Black.

Mas iam pensar que ela estava fazendo aquilo só para não se provar lésbica.

E desde quando ela ligava para os que os outros pensavam?

Bem, ela passou uma semana remoendo o que Hogwarts inteira achava dela...

Observou o Black voltou com o balaço enfeitiçado ao seu lado, dando-lhe um breve sorriso, abaixando-se para recolher suas coisas. Coçou a nuca, confusa. Você só vai sair com ele se quiser, Marlene McKinnon!, estrilou para si mesma, eu a proíbo de sair com um garoto para provar algo a alguém... Até que ele é bonitinho... Ela respirou fundo, tomando coragem, mas Sirius apenas se levantou e abriu a boca.

— Olha, os garotos e, bem, Lílian também é uma de nós agora, enfim, nós vamos nos Três Vassouras sábado, você não quer ir? — ele falou tão rápido que parecia ter segurado há muito. Ela forçou um sorriso, assentindo.

Cruel to Be Kind – Letters to Cleo

No sábado à tarde, ela olhou para suas unhas roídas após o banho, com preguiça de sair do dormitório. Tentou arrumar seu cabelo, mas ele era muito longo e muito cacheado, não tinha controle sob ele. Respirou fundo e colocou suas calças de carga folgadas, o sapato de sempre, um top preto qualquer e um colar para adequar-se as regras do seu gênero. Sorriu irônica, dando um joinha para seu livro “O Mito da Beleza” da Naomi Woolf.

Desceu as escadas do dormitório e misturou-se aos outros adolescentes, entediada e emburrada, em direção de Hogsmeade. Chegou no bar e esquivou-se do local cheio, sentando-se na mesa dos Marotos, que já tinham lotado a mesa de canecas vazias e cheias. Demorou um pouco para entrar no clima e antes de perguntar onde estava Sirius, o viu encostado no balcão do bar, parecendo esperar algo.

— Vou querer algo mais forte. — decidiu a garota após algumas goladas na cerveja de Peter. Saiu da mesa e foi até o balcão, olhando Madame Rosmerta ocupada. — Um uísque, por favor.

O garoto, apesar de estar encostado no balcão, já tinha um copo de uísque nas mãos. Ele continuou olhando para sua bebida, mas deu um sorrisinho lento e único. Ela balançou-se um pouco com a música, fitando o nada, segurando um sorriso.

— Nós podemos sair um dia desses. — disse Marlene após receber seu copo de uísque. Ela olhou o garoto brevemente e ele tomou mais um gole de sua bebida, rindo de nervoso. Marlene simplesmente voltou para a mesa, nervosa.

A garota tomou um gole de sua bebida, segurando-se para não olhar o garoto no balcão. Voltou a concentrar-se na conversa, sentindo a mesma sensação de nervosismo que Frank Longbottom lhe deu em seus jovens doze anos.