Havia dias em que Uchiha Sasuke acordava ofegante e aterrorizado, a pele coberta por uma fina camada de suor, ainda que a temperatura do lado de fora de seu quarto não correspondesse com tais sinais físicos.

Embora pesadelos fossem uma das constantes de sua vida, se eles pudessem ser catalogados, existiriam os do tipo que seu corpo simplesmente não conseguia tolerar devido ao desgaste emocional durante sua duração.

Muitos deles se passavam em espaços preenchidos pelo nada. Talvez a representação de sua mente do além. Sua família necessariamente estaria lá, de braços abertos o esperando. E quanto mais ele andasse em seu encontro, mais a distância aumentaria.

E então tudo se distorceria e um condensado de acontecimentos históricos envolvendo a origem dos ninjas, do seu clã, invadiria a cena e ele sentiria o coração contrair em dor. Itachi aparecia então do seu lado, geralmente perguntando se ele conseguia aguentar tudo aquilo.

Sasuke despertava sabendo que a pergunta fora referente a Maldição do Ódio.

Após tanta repetição do mesmo, ele sabia que se ficasse na própria casa por muito mais tempo, eventualmente se sentiria sufocado e atrairia atenção dos ANBU o vigiando pelos picos preocupantes em seu chakra, ainda que selado.

Sasuke então lavava o rosto, dedicava alguns minutos para controlar a respiração e partia para as ruas adormecidas de uma madrugada fria de Konoha.

Naquele dia em especial, ele não sabia exatamente para onde queria ir.

Desde novo, ele nunca fora adepto da ideia de rumar sem uma ideia clara de para onde ir. Desde que voltara para Konoha, seu destino nesses casos havia sido a estátua dos Kages anteriores – e nela ficava até o amanhecer, normalmente até ser convocado por Kakashi.

Mas por alguma razão, não era lá que ele queria estar.

E se fosse ser sincero consigo mesmo, não queria passar mais uma noite como aquela sozinho.

Sasuke suspirou e passou a andar em direção a área residencial da Vila.

Ele já sabia o que realmente queria.

E não faria nenhum esforço para se repreender por isso.

O Uchiha chegou em seu destino e estava a meros segundos de tocar a campainha quando se lembrou da hora e de que provavelmente acordaria não somente a pessoa desejada, mas também sua família.

Ele franziu a sobrancelha e se questionou se seria uma boa ideia bater em sua janela então.

— Você não pretende invadir a casa dela, né?

Sasuke olhou de relance para o lado.

— Talvez.

Uzumaki Naruto soltou uma risada curta em divertimento e pôs o braço esquerdo sobre os ombros do melhor amigo.

— Eu não faria isso se fosse você.

— ...

— Sabe, a Sakura-chan ainda está chateada. Dê mais um tempo para ela.

Sasuke se desvencilhou do toque de Naruto e tratou de encará-lo, exigindo com a intensidade do olhar alguma explicação ou continuação que ele sabia que o loiro não daria se ele não pressionasse – apesar de seu rival e amigo possuir uma mania interminável de tagarelar, se tratando de o estressar, ele se contentava com o silêncio em muitas vezes.

O Uzumaki sorriu em esperteza.

— Sobre você não mudar de ideia.

O Uchiha fechou os olhos por alguns segundos.

— Ela enten-

— Ela entende seus motivos. O que a deixa triste é que nada que ela faça ou fale vai te fazer ficar.

Sasuke procurou a janela de Sakura e passou a olhá-la como se pudesse ver sua moradora através do vidro. Como se pudesse ver a garota adormecida em sua cama e pudesse magicamente ler seus pensamentos e sonhos e de alguma forma, pudesse transmitir a ela o que pensava sobre o amor que ela tanto o devotava.

Mas ele não podia.

Não conseguia.

Não enquanto não se sentisse completa e irrevogavelmente limpo da maldição que corria no seu sangue Uchiha.

Porque do amor nasce o ódio.

E Sasuke não se sentia pronto para repetir todo um ciclo na escuridão se algo eventualmente viesse a dar errado.

— Naruto, — ele falou, mantendo a atenção e concentração em Sakura, — o que você quer?

— Eu passei na sua casa para dizer que os Kages concordaram em liberar seu chakra, o que significa...

Significava que Uchiha Sasuke agora estava livre.