Nas areias,a paixão escrita por Any Marie Whitlock, Lady Shiuuuu


Capítulo 4
Capítulo 1 parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/701243/chapter/4

A mulher,que pela quantidade de rugas em rosto deveria ser muito,muito velha,sentou-se no chão,em frente ao homem alto e envolto em panos negros que a aguardava.
Os cabelos finamente trançados e o amuleto que trazia no pescoço denunciavam sua origem.Ela era uma tuaregue. Mais que isso,era uma vidente e conselheira,e seu dever era determinar o caminho que todos os que ainda mantinham os costumes antigos deveriam seguir.
—O que tem para mim? -perguntou o homem,com voz forte e respeitosa.
—O momento é chegado,Jasper. A roda do destino começou a girar para você.
Jasper encarou os olhos brancos pela cegueira que a mulher carregava desde nascida:
—O que devo fazer?
—Você tem uma missão a cumprir. A profecia antiga é clara: do ocidente virá aquela que dará a luz ao guerreiro cujo espírito lutará usando as armas da sabedoria. É seu destino unir-se a essa mulher e preparar o que será colhido no futuro.
—Mas como vou encontrá-la? E se ela não me quiser?
Os lábios da vidente mostraram a sombra de um sorriso:
—Confie e faça. Aquilo que esta escrito se cumprirá.
—Mas como vou saber quem é? -insistiu o homem.
—Apenas confie. Você faz muitas perguntas. - e com um gesto indicou que nada mais falaria.
Jasper se levantou e saiu, pensando que por mais que quisesse confiar naquilo,era impossível deixar tudo por conta do acaso. Foi até o pátio de sua casa e sentou-se ao lado da fonte de pedra. Ficou imaginando como seria se,em vez de voltar,tivesse ficado na Inglaterra.
Filho de mãe egípcia e pai inglês,Jasper Hasan Amani Whitlock passou a infância no Cairo até a idade de 7 anos,quando a família se mudou para Londres,onde ele estudou e se formou em engenharia por Oxford.
Desde pequeno Jasper conhecia seu caminho. A mãe o preparou para o futuro e o pai,um homem prático e amante do conhecimento,concordava com a esposa em tudo.
Dois anos após terminar Oxford,Jasper sabia que precisava retornar ao Cairo. Na época,não se sentia pronto para o que o esperava e teve muitas dúvidas se afinal aquela historia de profecia era verdade ou apenas uma das tantas crenças do povo de sua mãe.
Gostava da Inglaterra. A idéia de ter que se enfiar dentro do Saara em um lombo de um camelo,guiado por pessoas que nunca havia visto,e aprender antigos costumes não o agradavam.
Adiou o quanto pôde a decisão de partir,até que uma noite foi visitado,em sonho,por uma mulher velha,com olhos brancos e voz estranha. Ela falou muitas coisas sobre seu povo e também o que aconteceria se ele desistisse.
Os tuaregues,antes um povo sábio e orgulhoso,viviam separados de seu mundo,o deserto,separado por vários países onde sua cultura e costumes,não eram respeitados e serviam para embalar a fantasia dos turistas. E eles não podiam se perderem assim. Jovens errantes,meninas prostituídas.Eles eram descendentes dos mais primitivos povos do Egito,eram os guardiões do conhecimento sagrado.
Ao acordar o rapaz já estava decidido. Iria voltar.
Isso havia acontecido quase dez anos e Jasper,desde então,se tornara outra pessoa.Mais sério,mais duro,mais calado. Ouvia mais do que falava. Aprendeu a observar e sentir as mudanças sutis no comportamento e expressões das pessoas,aprendeu a conhecer os mistérios das areias e a sobreviver no meio deles.
Dedicou-se a escrita antiga,não estudada por arqueólogos,e conseguia ler as antigas inscrições deixadas por seus antepassados no deserto. Também aprendeu uma linguagem muda,usada para  transmitir mensagens secretas e usada tanto para trabalhos comerciais ou em relações amorosas,onde se usava o dedo indicador fazendo desenhos na palma da mão daquele a quem era a mensagem. Ele aprendeu muito mais coisas e seus conhecimentos se tornaram quase uma lenda.
Para muitos,Jasper era o Príncipe do Deserto,o Senhor das Areias. Para outros um sofisticado inglês que havia escolhido a Tunísia para morar,mais ocasionalmente viajava pelo mundo. Para os poucos que tinham sua amizade,ele era um homem sábio e solitário,leal com aqueles que o ajudavam e impiedoso com quem o traia.
Andava com a mesma desenvoltura pelos salões atapetados dos governos e pelas areias do Saara,onde despertava respeito e admiração por seus modos educados e por sua sabedoria de palavras.
Todas essas características reunidas em um só homem faziam de Jasper o centro das atenções femininas por onde passasse.
Entre as mulheres do povo de sua mãe,usando um véu que lhe cobria o rosto e deixava a vista apenas os olhos azul-esverdeados,herdados do pai,provocavam olhares ardentes e suspiros.
Entre as ocidentais,sempre vestindo ternos e roupas elegantes,que mostravam seu porte atlético e corpo musculoso,ele provocava bem mais que isso. Mas Jasper não era do tipo casanova. Ao contrário não gostava de mulheres oferecidas,e isso nada tinha a ver com tal profecia. Era um traço de personalidade. Preferia mulheres simples e sinceras,que esperavam serem cortejadas antes de pular em seu pescoço com ar de devoradoras sexuais.
Claro que saía com moças e tinha alguns casos discretos,mas nada que pudesse comprometer a ele ou a pessoa com quem estivesse na ocasião.
"Sou um tipo esquisito" dizia para si mesmo cada vez que pensava sobre isso.
Agora,sentado ali,ouvindo a água correndo na fonte,seus pensamentos estavam na tal mulher que a anciã afirmou ter chegado. E se ele não gostasse dela? Ou ela não gostasse dele? E se a profecia não se cumprisse?
Jasper odiava quando ouvia as pessoas se referiam a seu povo como tuaregues. O significado da palavra era ofensivo e não verdadeiro.
Sua gente era responsável pela caixa contendo o maior segredo da humanidade. De geração em geração,desde que começaram a caminhar pelo mundo,esse segredo era entregue a um responsável,que o passava para outro quando se via perto da morte. E foi assim até século XIX,quando a caixa se perdeu.Durante décadas,os tamasheks ,como são chamados hoje os tuaregues,buscaram por ela,mas só pai de sua mãe conseguiu encontrá-la. Dentro da caixa,encontraram o cálice de pedra,que segundo a tradição,havia sido feito na primeira rocha do mundo. Mas as jóias que o enfeitavam,que eram importantes foram roubadas.
Essas jóias possuíam uma lapidação especial e única. Sem elas,o cálice perdia seu valor. Somente o guardião do cálice sabia como usá-lo. Ao receber do pai as instruções e a responsabilidade pela proteção do objeto,Jasper também recebeu a incumbência de descobrir e devolver as pedras preciosas a seu lugar de origem.
"São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo",pensou ele preocupado.
—Jasper?- indagou um homem alto,usando trajes negros que deixavam a mostra apenas seus olhos mais negros ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nas areias,a paixão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.