Eu acordei com o sol entrando no quarto, vi as cortinas da minha janela abertas, provavelmente foi minha mãe que abriu enquanto eu ainda dormia. Olhei para minha cabeceira e vi um prato com um pedaço de torta de caramelo com canela. É, com certeza minha mãe havia entrado no meu quarto. Sorri, levantei da cama e fui dar uma mordida no pedaço de torta, deliciosa como sempre. Peguei uma toalha e fui tomar um banho.

É sempre no banho que os pensamentos vem a tona, não é? Você fica pensando no que devia ter dito em uma briga que havia acontecido na semana passado. Você fica pensando no seu livro favorito. Fica pensando, e cantando junto, sua música preferida. Você fica pensando na vida. A minha é bem complicada, mas com um tempo, entendi ela. Eu fui adotada pela Toriel. Na verdade, ela me viu correndo pela rua e fui parada por um homem loiro que estava bêbado, e ela me salvou dele. Cuidou de mim durante uma semana, até me perguntar se eu tinha para onde ir, mas eu disse que preferia ficar com ela. Com um tempo, descobri que ela havia se separado de Asgore, eu realmente gosto de chamá-lo de papai, e eu vou visitá-lo nos finais de semana. Ele cuida do meu irmão, Asriel e da minha irmã, Chara.

Gosto de pensar que eles são realmente minha família, porque eu definitivamente não consigo me imaginar com outra, é como se eu tivesse nascido e crescido ao lado deles.

Fechei o chuveiro e me enxuguei rapidamente. Minha mãe bateu na porta para avisar que ia fazer frio, eu agradeci o aviso e disse que já ia sair para irmos para a escola. Vesti um blusão azul com linhas roxas e uma meia calça preta com um short, vesti uma bota marrom e penteei meu cabelo. Eu adorava aquela roupa. Peguei minha mochila e antes de tudo, terminei de comer a torta, agora eu estava pronta. Saí do meu quarto e dei de cara com o sorriso carinhoso de Toriel, dei um abraço nela e logo fomos em direção a escola.

Sempre preferi andar a pé, a gente consegue curtir mais o momento, respirar, conversar com quem nos acompanha, ficar presa em mais pensamentos. Passamos um tempo caladas durante o trajeto, até minha mãe quebrar o silêncio:

— Então, minha criança, nervosa?

— Para o primeiro dia de aula? - Perguntei só para ter certeza, recebi um sorriso e um sim como resposta - Bom, desde que eu comecei a morar com você eu estudo nessa escola, então, acho que não é problema. E eu estou animada para saber se tem algum novato ou novata.

— Bom, a cada ano nossa escola recebe cada vez mais alunos! Com certeza terá algum novato na sua sala, e tenho certeza também que você conseguirá fazer amizade com ele - Disse Toriel passando a mão pelo meu cabelo.

Chegamos no portão da escola e logo me despedi dela com um abraço e corri para me juntar ao meu amigo, o Timmy, mas gosto de chamar ele de Monster Kid. Assim que ele me viu, foi logo me abraçando, quase tropeçando em seu próprio pé. Começou dizendo como estava animado com a volta as aulas, mas ao mesmo tempo, como estava triste com o término das férias. Enquanto ele dizia, fomos ver se tínhamos ficado na mesma sala, por sorte, ficamos!

Entramos na nossa nova sala, um pouco maior que a do ano anterior, e pelo jeito, mais cheia. Acenei para quem eu já conhecia e dei um sorriso amigável para quem eu percebia que era novo naquele lugar. Sentamos pelas cadeiras do meio, lado a lado:

— Então, o que você planeja para esse ano?

— Eu? - Aquela pergunta foi meio de repente, e o Monster sabe como eu levo a sério todas as perguntas que me fazem, parei para pensar e finalmente respondi a coisa mais sábia de todas - Não sei.

— Sério? Bom, eu planejo ver pessoalmente a chefe da Polícia, a Undyne! Cara, se eu ver ela, vai ser um sonho! Não tem ninguém que você quer ver, ou sei lá, um sonho Frisk?

— Bom, eu acho que minha vida está boa como está. Mas acho que eu adoraria ver a Undyne também, do jeito que você elogia ela, ela parece ser incrível - Eu respondi com um sorriso, e o dele dobrou.

— Incrível é pouco para definir a Undyne! Acho que nenhum elogio chega aos pés dela - Tive que segurar seu ombro e pedir silêncio, antes que ele começasse a pular da cadeira e gritar, ele era realmente fã da Undyne, espero que ela seja mesmo tudo isso, não suportaria a decepção no rosto de Timmy.

Nossa atenção se virou para um garoto que havia entrado na sala e passou por todo mundo e acabou se sentado atrás de Monster Kid, que rapidamente se virou para ele e deu boas vindas:

— Olá! Meu nome é Timmy, nunca te vi pela escola, então é novato! Prazer!

— Prazer... - Sua voz era meio triste, percebi seus olhos, eram cinzentos, e seu cabelo era preto. A cor que predominava em suas roupas era branco, ele percebeu que eu o encarava e logo ficou envergonhado - Meu nome é Napstablook.

O sinal tocou nesse momento e eu me virei para frente, o professor entrou e logo começou sua aula. Alguns não gostaram pois era primeiro dia de aula e de acordo com eles "ninguém merece ter aula nesse dia". Por sorte, a segunda aula foi apenas o professor querendo ouvir como foi nossas férias. Na terceira, nada diferente. Quando chegou a hora do intervalo, Geumy, uma garota um pouco mais baixa que eu e tinha cabelos pretos, com uma mecha presa por uma presilha, me chamou para ir com ela para o quarto andar:

— Por que?

— Por favor Frisk, lá é que ficam os garotos dos anos mais avançados - Ela respondeu, mas ainda não me convenceu.

— É só mais um motivo para não ir.

— Frisk, vai me dizer que não quer ver alguns meninos bonitos? Por favor, estamos no primeiro ano, eles são do segundo, terceiro, dizem que tem alguns bem lindos por ali. Vem comigo!

Acabei cedendo. Saímos da sala e logo subimos a escada, quando eu menos percebi ela já estava no final, e eu ainda subindo. Cheguei onde ela estava e logo me senti uma anã ali, fui sendo puxada para qualquer sala. Primeiro, vimos alguns meninos do terceiro ano, Geumy ficou ditando todos os que ela via, mas eu achava todos normais. Fomos depois para um segundo ano, novamente, achei todos normais. Fomos para outro segundo ano e eu estava prestes a desistir daquilo e voltar para minha sala, mas a garota insistiu só pra mais essa sala, cedi e fui ver o que tinha mais de tão interessante ali.

Branco chama atenção, principalmente se for numa sala onde todos são morenos. Olhos azuis também. Que por sinal, se encontraram com o meu e não sei o motivo, fiquei corada na hora. Peguei o braço de Geumy e a puxei até me sentir dentro da minha sala novamente:

— O que foi isso, Frisk? Eu estava vendo um menino bem bonitinho e quando eu pisco o olho, vejo você me puxando, o que aconteceu?

— Nada - Eu nunca soube mentir - Só senti que já estava quase na hora do sinal tocar.

— Ainda falta dez minutos - Ela disse olhando o relógio - Eu vou voltar para lá, okay?

— Okay!

Geumy saiu da sala e eu sentei na minha cadeira e pensei no garoto que eu vi naquela sala. Ele se destacava de todos, não só ele, o que estava ao seu lado também, não é todo dia que você vê dois garotos com os cabelos brancos e a pele pálida. Um tinha olhos azuis e usava um casaco azul também, o outro tinha os olhos mais puxados para o laranja e usava um cachecol vermelho. Meus olhos se encontraram com os olhos azuis.

Timmy estava conversando alegremente com Napstablook, resolvi entrar no meio. Terminamos o intervalo com risos, e foi uma vitória quando conseguimos tirar um sorriso de Blook. As próximas duas aulas foram simplesmente aulas normais, os professores deram as matérias, e já percebi que não seria muito fácil.

Fui para o portão esperar Toriel sair, mas bem que ela me disse que ia demorar um pouco mais hoje, já que era o primeiro dia de aula. Geumy se despediu de mim e logo foi de encontro com sua irmã, Muffet. Monster Kid foi embora ao lado de Blook, já que descobriram que moram na mesma rua. Fiquei sentada em um banco até ver uma pessoa familiar. Cabelos brancos se destacam em qualquer lugar, quando ele percebeu que eu estava olhando, logo virei meu olhar para a rua. Senti alguém atrás de mim e antes dele falar qualquer coisa, eu já havia virado:

— Então, não sabe cumprimentar um novo amigo? - Ele perguntou estendendo a mão, que eu aceitei e logo depois me arrependi ao ouvir um som estranho, de qualquer jeito acabei rindo. Ele apenas continuou sorrindo - Meu nome é Sans.

— O meu é Frisk - Eu falei, depois eu fiquei sem saber o que dizer, engraçado, eu sempre consigo fazer amizades facilmente, mas dessa vez, eu realmente não tinha assunto. Por sorte, ele começou uma conversa.

— Hoje está bem frio, não é?

— Sim, minha mãe me avisou isso. Ainda bem que eu vim com essa blusa, eu acho que eu poderia usá-la todos os dias.

— Uau, que amor por essa blusa, o que ela te lembra?

— Minha mãe que fez para mim, ela também fez uma quase igual para minha irmã, só que a dela é verde e amarela.

— Interessante - Ele falou antes do silêncio reinar, um garoto que apareceu abraçando o Sans quebrou ele.

— SANS! QUE BOM QUE EU TE ACHEI! NUNCA MAIS FAÇA O GRANDE PAPYRUS ESPERAR - Ele falou, quer dizer, praticamente gritou, mas não era bem um grito, quer dizer... O tal de Papyrus falava alto - OLHA SÓ, UMA AMIGA NOVA. OLÁ, EU SOU O GRANDE E PODEROSO PAPYRUS! COMO VOCÊ SE CHAMA?

— Olá, meu nome é Frisk - Eu respondi sorrindo, os desconhecidos de cabelo branco agora eram amigos.

Ficamos mais um tempo pelo pátio conversando, até Toriel me chamar. Me despedi deles e corri ao encontro da minha mãe. Começamos o trajeto para casa:

— Quem eram aqueles, minha pequena?

— Hm, ah, eram Sans e Papyrus. Eles são irmãos, conheci eles hoje, são legais. Bom, o Sans conta umas piadas meio ruins, tipo as suas, mamãe - Eu lembrei do dia que ela estava super animada e começou a fazer muitos trocadilhos e piadas de toc toc, ri - O Papyrus é bem animado e seu sonho é entrar para a polícia, mas a própria Undyne acha melhor ele seguir uma carreira menos perigosa e sugeriu para ele a culinária. Me convidou algum dia para provar seu espaguete, que diz ele, ser delicioso.

— Viu filha? Eu sabia que você ia se dar bem com qualquer pessoa - Ela pegou minha mão e assim fomos, de mãos dadas, para casa.

Chegamos e entrei no meu quarto para trocar de roupa. Coloquei um short e uma blusa, mas ainda fazia frio, então coloquei um casaco. Me encontrei com minha mãe na cozinha, ela pediu pra eu me sentar e depois de alguns minutos, o almoço já estava na mesa. Minha mãe sabia cozinhar muito bem, mas de repente surgiu a dúvida de como era a comida de Papyrus. Lembrei da mini discussão de hoje sobre quem cozinha melhor. Papyrus gritava com Sans e dizia que ele só sabia fazer cachorro quente, e eu apenas ria.

Lavei meu prato e peguei meu caderno para revisar a matéria de hoje e terminar os exercícios que eu ainda não havia feito na sala. Tirei algumas dúvidas com minha mãe, que estava em sua poltrona lendo, quando eu terminei os deveres, eu me juntei a ela. Peguei o livro que eu havia comprado com Toriel alguns dias antes, "A Garota dos Pés de Vidro", eu o vi na livraria e comecei a ler a sinopse dele e depois me apaixonei.

Mal percebi que eu já estava no quinto capítulo, olhei para poltrona e Tori não estava mais ali, ouvi sua voz me chamando na cozinha. Coloquei o marca-página e fui de encontro com o cheiro de sanduíche no ar, de bônus um suco.

Fomos ver algum filme juntas e quando percebemos, já era quase 21h, minha mãe não gostava que eu dormisse tarde. Fui para o meu quarto e vesti um pijama. Quando eu digo pijama, eu quero dizer uma calça folgada e uma blusa folgada também. Me deitei e logo me senti sendo coberta por um abraço e um beijo e boa noite. Ouvi a porta sendo fechada e depois peguei no sono rapidamente.