Her Slave escrita por nymphL


Capítulo 6
VI - Operação Seduzindo o Capitão: On


Notas iniciais do capítulo

Hello, pessoas!

Como prometido, cá está o capítulo 6 de Her Slave. Resolvi aproveitar a quarentena pra botar as fics em dia :)

Este mês é o aniversário da nossa co-tenente mais brega e tola. Dia 01/04 :) O Kubo sempre sabe o que faz escolhendo os aniversários dos seus personagens. Dia da Mentira ou April's Fools é certamente o dia perfeito pra ser aniversário da Mashiro hahaha

Nesse capítulo tem muitas coisas sobre signo, Mashiro é de Áries e o Kensei de Leão, combinação quentíssima, dois signos de fogo hahahaha Então tem umas coisas sobre como conquistar e enlouquecer gente na cama HAHAHAAH Não acho que seja algo que mereça classificação indicativa +18, maaaaaassss... Estejam avisados.

Agora vamos ao capítulo!



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“QUANTOS ANOS VOCÊ TEM? SEIS?”

Hisagi sentiu sua face corar diante do tom mordaz de seu Capitão, mas não recuou. Sabia que caso recuasse seria pior. Além do mais, não podia negar que estava curioso pela resposta.

“Vaza daqui, Shuuhei.” Dispensou-o com a mão, indicando a saída de seu escritório. Voltou sua atenção para os relatórios encaminhados pelo Primeiro Esquadrão, uma caneta stabilo verde rodava entre seus dedos enquanto lia os documentos acerca dos gastos concernentes à sua Divisão. “Que porra de pergunta mais ridícula.”

Hisagi engoliu em seco.

Ao não ouvir a porta se abrindo ou fechando, Kensei olhou para frente, apenas para encontrar seu tenente ainda parado na mesma posição. Encarou-o com os olhos estreitados. Num gesto abrupto, parou de rodar a caneta entre seus dedos e a depositou sobre a mesa.  

“Tá fazendo o que aqui ainda? Não disse pra vazar?”

Hisagi, ao contrário, aproximou-se da mesa. Com os relatórios do dia anterior em mãos, pensou bem antes de formular sua próxima fala. Muito embora soubesse — ou achasse que soubesse — a resposta, queria ouvi-la pronunciada por uma das partes envolvidas, uma vez que a Tenente Kuna se fizera de desentendida milhares de vezes.

“É uma pergunta genuína, Muguruma Taichou.”

Kensei queria dizer que seu desejo de ficar sozinho também era genuíno. Mas só conseguia pensar que agora ao invés de apenas um tenente inconveniente, tinha dois.

Respirou fundo tentando se centrar. Já perdera a pouca paciência que tinha naquela manhã com a papagaia louca, não queria perder o restante agora, com o único tenente decente que ainda tinha. Ou que achava que tinha. No fundo, ter dois e nenhum parecia se equivaler.

“E por que diabos a minha vida pessoal te interessa?”

Hisagi pensou em dizer que as relações interpessoais eram de valiosíssimo interesse para o bom funcionamento da Divisão. O atual Nono Esquadrão pouco conhecia seu Capitão; talvez mais alguns detalhes, compartilhados de bom coração, fizessem bem para a autoestima da equipe, certo? Mas sabia que tal resposta seria recebida com escárnio por seu atual Capitão. Ele não era, afinal de contas, em nada parecido com—

Interrompeu sua linha de pensamento antes que ela pudesse alcançar território proibido. Levara meses para se recuperar da traição que abalara a Seireitei, estabelecer comparações desnecessárias agora não traria nenhum benefício. De qualquer forma, o homem a sua frente era nada mais, nada menos, do que aquele que salvara sua vida. Que o inspirara a ser shinigami.

Tentou, então, outra estratégia. Acreditava que Nanao ficaria orgulhosa caso soubesse, Matsumoto, então, nem se fala — ainda que ambas fossem ficar orgulhosas por motivos completamente distintos. Uma estratégia que auxiliaria em seus planos com Nanao, mas que talvez despertasse a ira — coerente — de seus amigos de Associação Masculina de Shinigami.

Mandou tais pensamentos para longe. Já havia feito um acordo. Agora era tarde para chorar o leite derramado. Além do mais, o trato com Nanao permitiria para levantar o moral da Nona Divisão. Deu-lhe as costas e, já perto da porta, comentou, curvando-se levemente, “Talvez eu devesse perguntar para a Kuna Fukutaichou. Obrigado pelo seu tempo, Muguruma Taichou.”

Não foram necessários nem dois segundos para que a reação de Kensei viesse. Com um baque na mesa — que Hisagi prontamente identificou como o som da mão de seu Capitão se chocando contra a madeira —, ele disse, num tom um tanto quanto amedrontador, “Fique longe dela, moleque.”

Hisagi sabia que talvez devesse ficar preocupado com o tom hostil. Ao invés disso, só conseguia ter mais uma confirmação da hipótese de Nanao — e, é claro, havia o flagra do dia anterior no escritório também. Mas não que o ato, por si só, condicionasse a uma relação amorosa. Não entendia muito sobre os assuntos do coração — tanto é que até hoje não conseguira se declarar para a Tenente Matsumoto; duvidava que um dia conseguiria criar bolas para isso. Sempre que a via, ficava tão estupefato que não conseguia concatenar uma frase decente, quem dirás uma declaração de amor —, mas lhe parecia óbvio que a Tenente Kuna e o Capitão Muguruma mantinham mais do que uma relação entre chefe e subordinado.

Havia outro indicativo naquela frase. A última vez em que seu Capitão lhe chamara de moleque fora antes de saber seu nome, logo após resgatá-lo no Rukongai, há mais de um século. Não que Muguruma Kensei fosse o tipo de homem que tratava as pessoas com formalidade, mas tal tratamento beirava o descontrole. Buscando em suas memórias, Hisagi encontrou reações similares nos últimos dias.  

Então... talvez... Nanao estivesse certa. Havia, de fato, algo rolando entre os dois. E a sua tarefa era descobrir o quê exatamente, já que Mashiro sempre arrumava uma desculpa para escapar das meninas da Associação Feminina.

“Mashiro e eu...” Houve uma pausa longa. Havia consternação em sua voz e face. Ele correu os dedos por entre os fios prateados e soltou um suspiro cansado. “É complicado.”

Por um momento, Hisagi acreditou que ele falaria mais. Inclinou-se levemente para frente, como se Kensei estivesse prestes a inclui-lo num segredo. Mas isso foi tudo que ele disse.

A expressão angustiada desapareceu num piscar de olhos.

“Agora dá o fora daqui.”

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“Hã?” Mashiro murmurou, mordiscando o dedo indicador pelo canto dos lábios. Aquilo não fazia o menor sentido. Kensei não era, em absoluto, daquele jeito que a revista que Matsumoto lhe entregara descrevia. Coçou a cabeça, pensativa, e releu o parágrafo introdutório mais uma vez:

“O leonino, como o próprio nome já diz, é representado pelo Leão. Para aqueles que nasceram entre 22 de julho e 22 de agosto, uma das principais características que esse signo remete é uma personalidade forte, com presença e, diga-se de passagem, que gosta de ser o centro das atenções. Signo de fogo e regido pelo nosso astro sol, o homem de Leão é apaixonado, confiante e é facilmente detectado muitas vezes como o galã do pedaço. Como conquistar um homem de Leão pode parecer um desafio, mas não é bem assim. Confira a seguir!”

É verdade que Kensei nascera no dia 30 de julho, o que, automaticamente, fazia dele um leonino. Era também verdade que sua personalidade era forte, marcante, e ele, o galã do pedaço. Todos os oficiais da Nona Divisão suspiravam pelo Capitão — e os de outras Divisões também. Ela própria suspirava por ele.

E qual fora a surpresa que tivera quando ele a atirara para fora de seu futon naquela manhã.

Ora, quando acordara no meio da noite com parte do corpo apoiado sobre a mesa de centro e parte sobre o chão gelado, Mashiro não pensara duas vezes antes de procurar a superfície mais confortável e quente — próxima, importante frisar — para continuar a dormir. Não fez muita cerimônia antes de remover seu kosode e hakama e se acomodar ao lado de Kensei.

Só não esperava que fosse acordar sendo chamada de pervertida e sendo expulsa do quarto. Ela própria tinha costume de dormir com uma de mãos sobre um de seus seios. Só achara que talvez fosse mais confortável sentir a mão grande e quente de Kensei contra sua pele.

Estava satisfeita por estar certa.

Ao mesmo tempo, estava desapontada por não ter recebido sequer um beijinho de bom dia.

Kensei malvado!

Sem muita cerimônia, Kensei a levantara pelo pulso e a empurrara para fora do quarto, fechando a porta em sua cara. Durante todo o tempo, ele a chamara de pervertida, de marmota sem senso de moda e papagaia louca, entre outras coisas.

Com uma expressão extremamente confusa, Mashiro batera na porta do quarto, uma, duas, três vezes, esperando que ele a abrisse para que ela pudesse pegar suas roupas. Não que se importasse muito de ser pega seminua no corredor, mas achava melhor evitar escândalos dessa magnitude — sua moral com o Comandante Geral estava lá embaixo, afinal de contas. Quando ele não se preocupou em atender ao seu pedido, ela decidiu usar a sua chave reserva.

Estava prestes a chamá-lo de Kensei idiota! quando o pegou, completamente nu, agarrando o shitagi para vesti-lo. Mashiro sentiu todo sangue correr diretamente para sua face; seus olhos se arregalaram exageradamente.  

“Vira pra lá, idiota!”

“Pervertido!”

Sacudiu a cabeça, tentando dispersar as imagens daquela manhã e voltou a se concentrar na revista em suas mãos. Como esperado, estava fugindo de seu trabalho no escritório de Kensei e ele estava... vai-lá-saber-Kami-onde.

Havia passado mais de um século no Mundo Real e nunca se preocupara com aquelas baboseiras de signo. Muito embora, talvez isso se devesse ao fato de que sempre estivera muito ocupada ou nunca dera muita atenção aos assuntos do coração.

Orihime comentara, certa vez, que em Karakura as pessoas se guiavam pelo horóscopo chinês, mas diferente deste que se encontrava em suas mãos, que se baseavam nos dozes meses do ano, o horóscopo chinês estabelecia um animal para representar cada ano. Mashiro rolou no sofá e atirou a cabeça para trás. Não fazia ideia de quando nascera.

Poucas almas nasciam, de fato, na Soul Society. A maioria delas provinha de Plus e Jibakurei que passaram pelo ritual Konsou e eram encaminhados ao Rukongai, onde poderiam permanecer por séculos a fio. Alguns deles, como ela, tinham poder espiritual suficiente para que conseguissem entrar na Academia Shinou e, posteriormente, fazer parte da Seireitei. Considerando a qualidade de vida no Rukongai, não era de se surpreender que qualquer um que tivesse o mínimo de reiatsu tentasse a sorte na Academia. 

Se podia ter uma vida tranquila e confortável agora, devia muito ao fato de ter conseguido entrar na Seireitei e, posteriormente, por ter conhecido Kensei e se tornado sua vice-capitã.

A lembrança de quando se conheceram e começaram a trabalhar juntos — do quão facilmente Kensei perdia a paciência, quando ainda não passava de um terceiro em comando e ela, a quarta oficial da Divisão — fez com que seus lábios se curvassem num sorriso.  

Sacudiu a cabeça.

Estava se preocupando com as coisas erradas.

Precisava seduzir Kensei.

A Associação Feminina de Shinigamis precisava, afinal de contas, daquelas fotos. O sucesso e sobrevivência da Associação repousava em seus ombros. O seu sucesso determinaria o destino da Associação.

Procurando uma posição mais confortável no sofá, voltou a se concentrar na revista. Pulou o blá blá blá com descrições de leoninos e foi direto ao que interessava. Como conquistar um leonino.

Sobre o tópico, havia um post-it laranja com a seguinte mensagem de Matsumoto:

Já estou pensando em velas e um jantar no escurinho. Você é, sem dúvidas, a mulher mais sortuda da Seireitei, Kuna Fukutaichou!

Revirou os olhos e leu o que vinha a seguir.

Leonino no amor: Carinho e Romantismo

Pode usar e abusar do romantismo. Aposte em muito carinho, mimos, cartinhas, letras de música, poema, flores, presentes e tudo mais. Os leoninos gostam de se sentir importantes e especiais.

“AAAAAHHHH!”

Mashiro cobriu o rosto com a revista e soltou um grito de frustração. Claro que isso não poderia dar certo. Kensei nem se dava ao trabalho de ler seus post-it com informações referentes ao seu trabalho, quem dirás ler cartinhas de amor. Além do mais, o que poderia dizer?

Kensei malvado... Eu...

E suas ideias terminavam aí. Não é como se tivesse muito a dizer. Diferente de Rose e de Love, não era muito dada às palavras — não no sentido figurado ao menos. Kensei também não era muito dado à leitura, tampouco. Tinha certeza de que ele jogaria as flores no lixo, quanto a presenteá-lo...

Nada do que lhe presenteava era recebido com um obrigado. Kensei sempre reclamava de algo, mesmo que não o tirasse de si — como fazia com os pares de luvas que sempre reclamava de receber, mas que nunca tirava das mãos. E, por último, os biscoitos amanteigados com raspas de limão.

Ou seja... um presente estava fora de cogitação.

O jantar à luz de velas... Pelo amor de Kami. Fora completamente ignorada por ele na noite passada. Por menor que fosse, Mashiro ainda tinha um pouco de amor próprio. Não estava disposta a ser ignorada de novo!

Próximo item sobre como conquistar um leonino.

Leonino na comunicação: ouça o que ele tem a dizer.

Leoninos gostam não apenas de serem vistos, mas também de serem ouvidos. Por isso, demonstre interesse em tudo que ele tiver para compartilhar, como experiências, opiniões e, ainda mais importante, seus feitos. Preste atenção ao que ele diz, mostre-se interessada e ele irá se interessar por você.

A mensagem de Matsumoto era completamente absurda:

Imagine o Muguruma Taichou sussurrando segredos no seu ouvido. Ai credo que delícia!

Mashiro revirou os olhos.

Como prestar atenção e demonstrar interesse quando discordava de 99% do que Kensei dizia? Kensei idiota! Para ser bem sincera, em todas as vezes em que conseguiram manter uma conversa minimamente decente é porque começaram brigando e alguém, surpreendentemente, dissera algo com o qual o outro concordara em algum momento.

E mesmo que de vez em quando concordasse com ele, já estava tão acostumada a discordar que parar e ouvir qualquer coisa que Kensei tivesse para dizer lhe soava um tanto quanto absurdo.

Mais um item inútil... Próximo.

Leonino no sexo: possessividade e paixão.

Pode não parecer, o homem regido pelo signo de Leão é romântico e tradicional. Ele gosta de se sentir no controle da situação, portanto, não é aconselhável provocá-lo com joguinhos de ciúmes. O leonino aprecia, antes de tudo, ser o centro das atenções e de seus relacionamentos.

Ciúmes...

Puft...

Dessa vez, Mashiro não conseguiu não rir. A ideia de Kensei com ciúmes beirava o absurdo. É verdade que ela, vez ou outra, sentia ciúmes. Sentira ciúmes de Hashi quando este se aproximara muito de Orihime, mas daí a sentir ciúmes de Kensei? Nem se quisesse sentiria e tinha certeza de que nem se tentasse com muito esmero o deixaria com ciúmes.

Fazer de Kensei o centro das atenções? Nah... pra isso, precisaria concordar com ele, o que, também, estava fora de cogitação.

As ideias eram tão absurdas que Mashiro se viu rabiscando um X bem grande nesse parágrafo.

Dessa vez, nem se deu ao trabalho de ler o post-it de Matsumoto. Com certeza só constavam baboseiras ali.

Chegou, então, a uma parte que falava sobre como conquistá-lo, de fato. O box destacava como enlouquecer um leonino na cama. Suas bochechas ficaram extremamente vermelhas ao ler a descrição.

[...] para enlouquecê-lo, alterne beijos fogosos com carícias mais suaves. Uma massagem sensual após um dia exaustivo de trabalho pode ser a faísca necessária para acender uma noite ardente de paixão entre o homem desse signo e sua pessoa especial.

Novamente, não se deu ao trabalho de ler todo o post-it de Matsumoto, apenas uma parte dele foi suficiente para fazê-la fechar a revista e cobrir sua face com ela. Bateu as pernas freneticamente contra a mesa de Kensei em estado de puro desespero. Nada daquelas dicas serviam pra alguma coisa.

Não bastasse isso, parte da mensagem de Matsumoto que lera fora o suficiente para fazer um arrepio perpassar toda a sua espinha.

Imagina espalhar óleo de massagem naqueles ombros magníficos do Muguruma Taichou? Que ombros! Que braços! Que homem!

“AAAAAHHHH!” Removeu a revista da face e fechou os olhos. Mais uma vez bateu com os pés na mesa, parte de si dividida entre pensar num plano que pudesse ajudar a Associação e outra em imaginar os ombros largos de Kensei. Que homem! “Inútil. Inútil! Tudo uma baita inutilidade!”

“O que diabos é inútil, mulher?”

###

O sol estava alto no céu da Seireitei quando Kensei voltou para o Nono Esquadrão. A conversa com o Comandante Geral, com a presença das velhas raposas, Kyouraku Shunsui e Ukitake Juushiro, não fora das melhores.

Não bastasse sua vida particular, que estava uma bagunça desde — sempre, se fosse pra ser bem sincero — que resolvera se envolver com sua co-tenente, Kensei recebera um ultimato: ou resolvia o problema na Seireitei ou abria mão de Mashiro em sua divisão. Afinal, qual a necessidade de se ter dois tenentes? Nenhum Esquadrão além do Nono operava de tal maneira.

É óbvio que a sua parte racional sabia que a sugestão não passava de uma mera brincadeira por parte dos intrometidos Capitães da Oitava e Décima Terceira Divisão, mas a besta dentro de si teimava em manter Mashiro perto — mesmo que essa fosse, claramente, uma decisão tola. Tão tola quando a própria papagaia brega.

Havia também a possibilidade de que o Comandante Geral tivesse tomado a sugestão seriamente. Não imaginava que ele fosse se deixar levar por aquela brincadeira de mal gosto, mas, novamente, essa não era uma hipótese que seu Hollow quisesse considerar. Para o monstro com o qual aprendera a conviver no último século, tudo o que queriam — todos queriam — era afastá-lo de Mashiro.

De repente, era como se estivesse de volta ao século passado. Era como ver todos os Vizards ameaçando tirar Mashiro de circulação. E, mais uma vez, era difícil controlar o Hollow dentro de si. Parecia que sua história estava fadada a terminar não por opção de um dos dois, mas pela intervenção de terceiros.

Resignado, Kensei retornou à Nona Divisão. Estava sendo ridículo. Não era como se uma mera mudança de Divisão — que sequer era certa —, fosse capaz de apagar uma história com alguns bons séculos de existência. Nos corredores, encontrou alguns dos mais jovens integrantes de seu Esquadrão; alguns deles sequer eram nascidos quando fugiram da Soul Society. Com um leve acenar de cabeça, passou por eles diante de cochichos e olhares arregalados.

Talvez a mudança de divisão tivesse outro motivo, mais racional, porém um tanto quanto emocional também, mas menos instintivo. Talvez fosse difícil aceitar a ideia de não comandar a Nona Divisão ao lado de Mashiro porque a história dela estava tão entrelaçada com a dele e a da Divisão que ficava um tanto quanto difícil saber onde um começava e o outro terminava.

Haviam partido da Soul Society cem anos prévios como criminosos, retornaram como heróis, cuja missão incluía reformar o Nono Esquadrão que, pela segunda vez em um curto período de tempo, tinha que sobreviver com a alcunha de ter um Capitão traidor.

Kensei só sabia de uma coisa: se quisesse ter a companhia de Mashiro para que, juntos, restaurassem a Divisão à sua antiga glória, precisava chutar o traseiro daquela marmota preguiçosa e sem senso de moda e botá-la para trabalhar.

Minutos depois de passar pelos portões de acesso ao seu Esquadrão, estava na frente de seu escritório. Ainda que precisasse falar com sua co-tenente brega, sabia que não a encontraria em sua devida mesa.

Dito e feito.

Tão logo abriu a porta, Kensei se deparou com uma Mashiro deitada sobre sua mesa, resmungando acerca de inutilidades. Aproximou-se da mesa, sobrancelha arqueada e a viu soltar o gritinho mais agudo que pensara ouvir em toda a sua vida.

Cobriu as orelhas com as palmas a mão e assistiu se levantar de súbito da posição deitada na qual se encontrava sobre a mesa e atirar algo para trás.

“Ken-sei!”

O Capitão não sabia se era pior ouvir aquele grito agudo ou seu nome naquele tom de voz estridente. A papagaia brega o encarou com os olhos arregalados por um breve momento, as duas mãos posicionadas sobre o coração, como se isso fosse suficiente para acalmar as batidas irregulares.

“Você me assustou, Kensei malvado!”

O costumeiro apelido, sussurrado daquela forma manhosa, fez com que uma veia saltasse em sua testa. Com um suspiro cansado, Kensei passou por sua co-tenente e se sentou em sua cadeira.

A falta de uma resposta fez com que Mashiro o encarasse com um biquinho de chateação. Kensei a ignorou. Tinha mais o que fazer. Além disso, precisavam conversar.

Conversar sobre o quê mesmo?

Esfregou a testa com uma mão, como se o gesto fosse impedir qualquer futura dor de cabeça de assolá-lo. Mashiro o encarou com um olhar curioso, a cabeça levemente inclinada para o lado esquerdo como se estivesse a analisá-lo.

Sim.

Precisavam conversar sobre a missão. Precisava pegar as impressões de Mashiro sobre o assalto constante de Hollows no Rukongai e Mundo Real e transformá-las em algo útil. 

Kensei até abriu a boca para fazer a sua primeira pergunta, mas parou diante do sorriso que iluminava a face de sua co-tenente. Por um segundo, viu-se reclinando contra a cadeia, uma sensação de pavor a dominá-lo.

“Para de sorrir, mulher. É assustador.”

Suas palavras fizeram com que Mashiro fizesse uma careta — ao menos o sorriso desaparecera de sua face —, e revirasse os olhos.

“Nah, Kensei! Como você é chato!”

Apesar de sua costumeira reclamação, o sorriso voltou a iluminar seu rosto — como se ela tivesse tido uma ideia genial; qualquer ideia que Mashiro pudesse ter certamente não poderia ser boa, muito menos genial —, ela retirou o par de luvas que usava e saltou da mesa. Se Kensei pudesse, já estaria atravessando a cadeira.

Quando a tenente mais brega da Soul Society se posicionou atrás dele e colocou as mãos sobre seus ombros largos, Kensei sentiu todo seu sangue gelar.

“Hmmm... Seus músculos tão bem tensos.”

“O que diabos você acha que tá fazendo?”

Os dois falaram ao mesmo tempo. Um silêncio um tanto quanto constrangedor de alguns minutos se estabeleceu entre eles e as mãos de Mashiro estacionaram sobre seus ombros sem se mexerem.

Um segundo depois, quando ela resolveu voltar ao que estava fazendo e seus dedos pressionaram um nó no músculo deltoide, Kensei não pode evitar um grunhido.

“Ai cacete.”

Com uma risadinha maléfica, Mashiro se limitou a responder, “É por isso mesmo que estou fazendo uma massagem. Para de ser reclamão que logo para de doer.”

Em questão de alguns segundos, o escritório foi preenchido com o som da respiração ritmada de Mashiro; Kensei respirava pesadamente e ocasionalmente soltava alguns grunhidos que faziam sua co-tenente rir. Não fosse pela sensação de profundo relaxamento que tomava conta de si a cada vez que ela massageava os nós em seus músculos, ele já a teria xingado. De novo.

Embora preferisse não ser motivo da risada de ninguém, não podia negar que havia algum tempo que não sentia tamanha paz e conforto na companhia de outra pessoa.

E pensar que essa pessoa era ninguém mais, ninguém menos do que Mashiro: a papagaia mais brega da Soul Society. O hollow dentro de si discordou veementemente. Mashiro até podia ser brega e escandalosa, mas a shinigami com quem vivera por mais de meio milênio era mais do que uma co-tenente desastrada ou a amante por quem ele agora tinha dificuldade em controlar seus impulsos.

Mashiro era sua família.

E separá-los era inadmissível.

Um som parecido com um rugido reverberou em seu peito, mas o Capitão logo tratou de abafá-lo.

Tais pensamentos o encheram, novamente, de desconforto. Kensei se viu apertando os braços da cadeira e cerrando as pálpebras com força.

“Huh? Tá doendo ainda?” perguntou ela com um franzir de sobrancelhas. “Kensei fracote!”

Kensei rangeu os dentes, mas decidiu não dar a resposta que estava na ponta de sua língua. Ao invés disso, voltou-se para o assunto que deveria ter abordado tão logo adentrara seu escritório.

“O que você viu no Rukongai e no Mundo Real?”

As mãos de Mashiro pararam por um momento sobre seus ombros, mas logo ela fez um som de escárnio e voltou a apertar um dos nós em seu ombro direito que quase o fez abrir os olhos e xingá-la.

“Ora, Kensei bobo!” Deu de ombros. “Eu vi o que eu descrevi no meu relatório. Você chegou a ler?” Fez um biquinho chateado e apertou com mais força do que deveria o ponto dolorido. “É claro que não, se tivesse lido, saberia o que eu vi!”

Dessa vez, Kensei segurou a mão que estava sobre seu ombro com força. Mashiro até tentou se desvencilhar de seu aperto, mas ele não permitiu.

“Droga, Mashiro! Eu tô falando sério.” Abriu os olhos e a encarou. Mashiro tinha o rosto posicionado sobre o seu, mas a diferença de suas alturas era imensa, fazendo com que ela, que estava de pé, tivesse a mesma altura que ele, que estava sentado. “Eu li a droga do seu relatório, mas tô pedindo pra você me falar o que você sentiu quando esteve no Mundo Real e aqui no Rukongai.” Soltou a mão dela e voltou a fechar os olhos. “Dá pra colaborar?”

Mashiro engoliu em seco.

Mordeu os lábios.

Detestava quando Kensei queria falar sério.

Perdia toda a graça.

Mas fez o que ele pediu.

Inalando profundamente, viu-se colocando as mãos novamente sobre os ombros dele, massageando os nós com mais concentração dessa vez. Mas parou rápido. Estava cansada daquilo.

A massagem era para distrai-lo — e para seduzi-lo, precisava se lembrar —, sendo que suas tentativas foram completamente fracassadas. Sentou-se na mesa dele e começou a mexer no próprio lenço.

Ainda usava o mesmo lenço rasgado do dia anterior. O mero pensamento fez suas bochechas corarem e um suspiro de pura frustração deixar seus lábios.

Sacudiu a cabeça. Kensei fizera uma pergunta e Mashiro sabia o quão irritado ele ficava ao não ter respostas. Concentrou-se no que vira no Rukongai e no Mundo Real algumas semanas atrás. O que continuava a ver sempre que saía em missões.

Um arrepio perpassou sua espinha. 

Arrepio este que ela sequer sentira quando foram atacados no Rukongai cem anos atrás... Quando tudo em suas vidas mudara drasticamente. 

“Desespero,” sussurrou. “Eu vi desespero. Medo.”

Por um momento, não soube se estava falando do que percebera nos Hollows ou do que sentia toda vez que os confrontava e era forçada a se lembrar do que acontecera.

“Das pessoas ou dos hollows?” ele perguntou.

“Das pessoas já é óbvio, Kensei bobo.” Mordeu os lábios mais uma vez. “Mas, sim, dos hollows.”

Houve um momento de silêncio enquanto Mashiro e Kensei pareciam perdidos em seus pensamentos, cada um em sua própria mente. As mãos dela continuavam a se mover sobre seu lenço sem que ela pensasse muito no que estava fazendo e ele tamborilava com os dedos sobre os braços da cadeira.

Medo.

Desespero.

Essas duas palavras constavam também no relatório da Oficial Kuchiki Rukia. Shuuhei corroborara com essa opinião. E essas eram as suas percepções de quando visitara o Rukongai, dias atrás.

O Rukongai sempre fora invadido por Hollows famintos atrás de almas. Mas a verdade é que poucos tinham a ousadia de invadir a Soul Society. O risco era muito grande.

Mas o que hollows podiam temer mais do que o risco de serem purificados por Shinigami?

Sem que percebesse seu pensamento foi transformado em uma pergunta em voz alta, a qual Mashiro prontamente respondeu.

“Ora, isso é óbvio, Kensei bobo.” Seu tom de voz denotava desinteresse. Tédio. “Destruição.”

A ideia já tinha passado por sua cabeça, mas Kensei a achara muito estúpida na ocasião. Agora, com Mashiro a reforçar sua ideia inicial... A questão com Mashiro é que mais do que achá-la burra, ele sabia que havia um nível profundo de preguiça em sua pessoa. Chegava a acreditar que nem Kyouraku, Matsumoto e Renji juntos conseguiam ser mais preguiçosos do que sua co-tenente. Não fazia os relatórios, só pensava em comer, transformava a Divisão inteira num caos, e ainda dormia no escritório — dormia até mesmo em situações de extremo perigo. Talvez justamente por isso — não, justamente por isso — Mashiro conseguia encontrar soluções simples e rápidas para problemas complexos.

Havia também seu jeito de ser. Mashiro raramente se estressava com algo. Seu senso de desligamento do mundo a sua volta a fazia chegar a conclusões que outras pessoas não chegariam. Seu senso de desligamento a impedira de sofrer tanto quanto os demais Vizards.

Por mais que muitas de suas respostas parecessem estúpidas, Kensei aprendera que raramente ela estava errada. Só gostaria de acreditar que ela estava porque, admitia, o modo de pensar de Mashiro o irritava em demasia.

“Só Quincies podem destruir Hollows. Aquele fedelho amigo do Ichigo—

Mashiro deu bateu com dois dedos em sua testa. Kensei abriu os olhos e a encarou com os lábios posicionados numa linha reta.

“Não é o único Quincy.”

Silêncio se fez entre eles.

A ideia era absurda.

Completamente absurda.

Absurda em todos os níveis.

Até onde sabiam, a Soul Society havia destruído os Quincies há dois séculos. Mas quando fugiram para o Mundo Real apenas um século depois, perceberam que eles não haviam sido completamente erradicados...

Se havia um Quincy — uma família de Quincies — poderia haver muito mais.

Mashiro cutucou sua testa de novo, dizendo, várias vezes, que ele era idiota. E de novo. E de novo.

“Kensei idiota. Parece que não pensa!”

Quando Kensei se cansou de ser atacado pela marmota sem senso de moda, segurou-lhe o pulso com força. O gesto fez com que Mashiro perdesse o equilíbrio e acabasse se inclinando para frente, até que os dois estivessem praticamente grudados. O rosto dela ficou muito próximo ao dele. E suas respirações estavam entrelaçadas.

Ele sabia que não devia...

Sabia que deveria se controlar...

Sabia que deveria permanecer longe...

Mas quando percebeu, já a havia puxado para si e a beijava com paixão avassaladora. Um som de surpresa foi abafado pelos lábios dele. A ela só coube deslizar as mãos por sobre seus ombros largos — não pode evitar pensar no post-it de Matsumoto: que homem! — até seu pescoço e fios prateados.

As mãos de Kensei percorreram suas costas e então seu pescoço antes de deslizarem de volta para sua cintura e puxá-la para si, até que não houvesse nenhum espaço entre seus corpos. Na posição em que se encontravam, com Mashiro de pé e ele sentado, era muito fácil se distrair com a forma da coxa dela posicionada ao lado do seu quadril.

Quando ela se afastou para tomar ar, sua visão foi invadida pela imagem seus seios perfeitamente delineados contra o shihakushou; os mamilos roçando contra o uniforme.

Kensei respirou profundamente, tentando acalmar o Hollow dentro de si, mas tudo foi por água abaixo quando Mashiro resolveu se inclinar sobre ele, praticamente sentando-se em seu colo e percorrendo com os lábios a extensão de sua mandíbula.

Um grunhido de pura necessidade se formou em seu peito — ele já tinha plena noção de que neste momento, seus olhos deveriam estar completamente enegrecidos, com pupilas douradas.

Suas mãos agarraram os quadris de Mashiro e ele se levantou da cadeira. As penas dela se enlaçaram ao redor de sua cintura e os lábios dela se moldaram aos seus num beijo sôfrego.

Kensei sabia que precisava parar.

Parar logo.

Antes que fosse tarde demais.

Mashiro, por sua vez, só conseguia pensar que finalmente perderia sua virgindade. Seu coração palpitava num ritmo frenético e sua respiração foi ficando mais irregular.

Mas a felicidade que a preenchia era suficiente para compensar seu nervosismo.

Quando ele parou de beijá-la, e a encarou com seriedade, num misto de desejo e desespero — desespero de quem temia perder uma luta de vida ou morte — Mashiro se viu sussurrando:

“Eu confio em você, Kensei malvado.”


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Notas finais do capítulo

Bem é isso...

Será que rolou? Será que a papagaia brega finalmente vai perder a virgindade?

E o que o Hisagi andou tramando com a Nanao?

Vou tentar atualizar assim que der, gente!

Beijinhos,
Nymph_L



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