Após um abraço longo e apertado nos afastamos e ela me olhou com ternura.

— Você está diferente. – ela comentou. – Mas continua linda.

Realmente eu havia mudado muito. Quando fui embora eu era uma menina. Uma menina romântica que vivia em um “mundo cor de rosa”. Agora sou uma mulher madura e que vive no mundo real e meu estilo reflete isso.

A antiga Violetta adorava saias, vestidos e cores claras, tinha o cabelo médio e escuro.

Agora meu estilo é mais adulto. Gosto de cores mais escuras, sóbrias e discretas. Meu cabelo cresceu e está mais claro.

Já Angie não havia mudado nada.

— Vamos? – pegou minha mala e me guiou até o carro. – Olga preparou um almoço especial para você.

Pelo caminho eu ia olhando a cidade. Muita coisa havia mudado, mas eu ainda podia reconhecê-la.

Eu sempre gostei muito de Buenos Aires, afinal nasci e vivi aqui por muito tempo.

Chegamos rápido em casa.

Angie estacionou o carro e nós saímos. Olhei fixamente, por uns segundos, para frente de casa. Nada ali tinha mudado.

Entramos e logo ouvi uma voz de criança.

— Mamãe, mamãe. – uma garotinha desceu as escadas meio desengonçada e quando me viu ficou tímida.

Ela tinha os cabelos claros soltos e uma franjinha. Estava usando um vestidinho vermelho que combinava com a sapatilha da mesma cor. Ela se parece muito com a Angie.

— Ju, anda, venha falar com a Vilu. – Angie segurou em sua mão.

— Oi. – ela disse ainda tímida.

— Como você cresceu! – eu fiquei emocionada ao vê-la. Ver minha irmãzinha tão crescida me fez perceber quanto tempo passou e quanta coisa eu perdi. – Eu acho que você não se lembra de mim, não é mesmo? – me agachei para ficar da altura dela.

— Eu já vi uma foto sua. – ela respondeu ainda segurando na mão de Angie. – Você é minha irmã que mora muito longe, né mamãe?

— Isso mesmo. – Angie confirmou.

— Posso te pedi uma coisa? – perguntei â ela.

— O que?

— Um abraço.

Ela assentiu com a cabeça, veio e me abraçou.

— Agora vamos levar a Violetta até o quarto dela.

...

Entrar novamente em meu quarto foi uma sensação muito estranha. Estava tudo igual, tudo no mesmo lugar.

— A gente vai te esperar lá em baixo. – Angie saiu com Julieta, me deixando um pouco sozinha.

O quarto era o mesmo, mas eu não era mais a mesma.

Em cima da escrivaninha tinha varias fotos que eu deixava ali.

Peguei um porta-retratos onde tinha uma foto de todos os meus amigos reunidos, estávamos em uma festa e eu me lembro muito bem desse dia.

— Eu nem acredito que a Ludmila conseguiu se formar. – Francesca disse e fez com que todos rissem.

— Pra sua informação eu sou muito inteligente. – Ludmila respondeu.

— Sei. – Francesca disse sarcástica.

— Tá bem, mas isso não importa. O importante agora é que todas nós vamos para a faculdade. – falei.

— Mas não vamos fazer o mesmo curso. – Camila acrescentou.

— Por isso mesmo eu quero que vocês prometam que não importa o que aconteça, sempre estaremos juntas. – propus.

— Eu prometo. – elas disseram em uníssono.

— Meninas, vamos tirar uma foto, todos juntos. – Maxi nos chamou e nós fomos.

Parecia irônico, eu propus a promessa de ficarmos sempre juntas e eu mesma não a cumpri.

A foto ao lado era da minha família no dia do aniversario de um ano da Julieta.

— Elas crescem tão rápido. – meu pai comentou com uma voz de choro. – Parece que foi ontem que ela nasceu e hoje já está completando um ano.

— Não faz drama, pai. – falei segurando ela no colo.

— Mas é verdade. Vocês crescem muito rápido. – minha avó concordou.

— Há pouco tempo você era desse tamanho. – disse Angie.

— Nem da pra acreditar que eu já fui deste tamanho. – olhei para minha irmãzinha que dormia tranquilamente em meus braços e sorri.

 No outro porta-retratos estava uma foto minha com León. A primeira lembrança que veio à minha mente foi o nosso primeiro beijo.

Estávamos caminhando em um parque. O dia não estava muito bonito, o céu estava nublado e parecia que ia chover.

Do nada ele parou perto de um pequeno lago.

— O que foi? – perguntei. – Por que você parou.

— Preciso te falar uma coisa.

— Pode falar.

— Violetta eu gosto muito de você. – ele parecia estar nervoso, estava tentando escolher as palavras certas.

— Eu também gosto de você. Nós somos amigos. – eu sabia o que ele estava tentando dizer, mas eu não queria ouvir, eu não queria estragar a nossa amizade que já era tão especial.

— Mas não é só como amigo. Desde que eu te conheci eu estou sentindo algo diferente, entende?

Neste exato momento começou a chover. E a chuva era forte.

— León, é melhor a gente ir pra casa. – tentei ir logo.

— Espera. – ele segurou meu braço e em um movimento muito rápido me trouxe para perto dele e me beijou.

Eu tentei resistir, mas não consegui. Me entreguei ao beijo. Nossas línguas se entrelaçavam e nossos corpos pareceram se fundir em um só.

Eu não podia resistir. Eu não conseguia resistir. E eu não queria resistir.

— Esquece isso Violetta. – falei a mim mesma.

Não foi pra isso que eu vim. Não posso chorar por isso. Não posso deixar essas lembranças me abalarem.

Eu sou forte agora. E nada pode mudar isso.