Who I Am? escrita por StrangeDemigod


Capítulo 8
Number Eight




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Ele havia ficado estático no lugar por muito tempo. Poderiam ter sido horas ou minutos, Harry não saberia dizer. Foi tirado de seus devaneios por um barulho de dedos estalando na frente de seus olhos. Ele piscou e olhou em volta, percebendo que o Pavilhão já estava vazio, a não ser ele e a pessoa à sua frente.

Era sua irmã. Milena Campbell. Dona de longos cabelos num tom de castanho-louro com algumas mechas negras, lábios rosados e cheios, acompanhados de pele pouco bronzeada e olhos imensamente verdes. Ela estava para na frente do irmão com as mãos na cintura e cabeça levemente tombada para o lado, olhando-o confusa.

—Você ‘tá bem?- ela perguntou.

—Sim...- falou meio hesitante e balançando a cabeça de leve. -Só... pensando.

—Okay... Isso, definitivamente, é estranho.- ela falou e ele a olhou com o cenho franzido. -Você nunca pensa, Harry.- o garoto apenas revirou os olhos, colocando as mãos dentro dos bolsos da bermuda que usava e seguindo para a saída.

Quando ambos já estavam fora do Pavilhão, Harry começou a se dirigir em direção aos chalés.

—Não vai para a fogueira?- sua irmã olhou-o.

—Não... Estou sem pique para cantorias.- ele falou com o olhar fixo em um ponto qualquer no chão. -Boa noite, Milena.- escutando um ‘boa noite’ de sua irmã e sons de vozes mais ao fundo, Harry começou a caminhar em direção ao chalé três.

Nem dando atenção aos detalhes, abriu a porta e logo após fechou-a. Passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os. Precisava de um banho e precisava pensar. Sabendo que podia fazer os dois ao mesmo tempo, pegou uma toalha e se dirigiu ao banheiro.

—_//__

A porta do banheiro foi aberta e vapor quente saía de dentro dele, assim como um jovem usando apenas uma bermuda larga, sem camisa.

Harry havia pensado muito durante o banho. Obviamente, seu principal foco fora a garota de olhos e cabelos castanhos que o deixara estático há meia hora. “Ela é estranha. Quando a vi, ela parecia tão inocente e delicada, mas, em menos de um segundo, seu comportamento, seu olhar, até mesmo sua voz, haviam mudado para um tom mais... frio, como se ela estivesse possuída... Assim como quando ela havia enfrentado o manticore...” Ele passou as mãos nos cabelos, nervoso. “Helena, Helena... O que você tem de diferente que me intriga tanto...?”

Infelizmente, Harry havia puxado a lerdeza de seu pai.

Suspirando, o garoto de olhos verdes jogou-se em sua cama, olhando para cima. Mais imagens da garota lhe vinham à mente. Ele soltou um gemido de frustração e virou o rosto contra o travesseiro.

“Pelos deuses... Por quê? Lady Afrodite, não tente nada, por favor.”

Ainda suplicando em pensamento para que nada acontecesse, Harry fechou os olhos. Ele sabia que não teria um sono tranquilo. Provavelmente sonharia com sua morte ou algo parecido.

De fato, ele realmente não teria um sono tranquilo, mas não seria consigo mesmo que ele iria sonhar.

—_//__

“Ele piscou algumas vezes, tentando se acostumar com a pouca luz do local.

Ele se encontrava em um jardim. Cogumelos gigantes e coloridos, joias preciosas ao invés de flores, gritos de dor ao fundo... Sem dúvidas, aquele era o jardim de Perséfone no Mundo Inferior. Era belo e assustador ao mesmo tempo.

Harry ouviu um soluço baixo, mesmo com os gritos das pessoas que estavam sendo torturadas, provavelmente nos campos de punição. Olhou em volta a procura da pessoa que havia soltado o soluço. Um pouco ao fundo, escondida em meio alguns cogumelos, era possível enxergar um silhueta pequena e encolhida que estava tremendo, talvez por causa do choro.

O garoto caminhou até a pessoa e parou a sua frente, se ajoelhando. Era uma garota. Devia de ter, mais ou menos, três anos de idade. Possuía cabelos castanhos e pele pálida. Ela estava com a cabeça por entre os joelhos, apoiando os antebraços neles. Seus ombros tremiam. Harry estava preocupado com a menina. O que uma garotinha como aquela fazia ali? Ela estava viva, no meio dos mortos... Por quê?

—Ei, calma.- ele falou.

 A garota ouviu uma voz masculina falar, mas esta voz era desconhecida para ela. A menina levantou a cabeça e olhou para frente. Ela viu um menino de olhos verdes. Ele tinha um olhar preocupado. A garota, que estava com o rosto manchado e molhado pelas lágrimas, arregalou os olhos. O menino tremeluzia. Ele era uma alma. Ela até poderia ver almas todos os dias, afinal ela morava no Mundo Inferior, mas ele era diferente.

—Q-Quem é v-você?- a garotinha perguntava, olhando confusa para o garoto.

—Eu é que pergunto.- Harry sorriu de leve para ela. -O quê você faz aqui? Por que choras?

—E-Eu moro a-aqui.- ela respondeu, gaguejando, ainda pelo choro. Harry franziu o cenho ‘Mora aqui?’. -E eu estou chorando por causa deles.

Eles? Eles quem?- Harry olhou confuso para ela.

—Todos eles.— ela pronunciava a palavra como se fosse algo perigoso. -Eles não param. São muitos ao mesmo tempo. Minha cabeça dói.- a menina colocou as mãos nas orelhas e começou a balançar a cabeça. -Rússia–70, Alemanha –53, Austrália–94...

—Hey! Do que você está falando?- o garoto foi encostar no ombro dela, mas sua mão ultrapassou por ele. Harry ficou assustado. Ele sentia que devia, de alguma forma, proteger aquela menina. Ele escutou som de passos.

—Filha? Onde está você?- uma voz feminina ecoou no local. A menina nem ouviu. Estava concentrada em pronunciar nomes de países e números, como se fosse um tipo de código.  -Aí está você! Filha...?

—Argentina-59, Índia–48, Japão–65...- a menina pronunciava em sussurros. Seus olhos estavam fixos em um ponto único, as mãos nas orelhas, a cabeça balançando para frente e para trás, junto com o corpo.

—Deuses! Helena, o que está...- a mulher parou de falar. Foi nesse exato momento que Harry prestou atenção nela. Usava uma túnica grega de cor preta, acompanhada de sandalhas, igualmente pretas e gregas. Cabelos e olhos castanhos e pele bronzeada. Aquela era Perséfone, deusa da primavera e das flores. Rainha do Mundo Inferior. ‘Ela chamou a menina de Helena? Seria possível?’ -Precisamos ir até seu pai agora.- a menina havia saído do transe e começou a chorar novamente. Perséfone pegou a menina no colo e começou a andar rapidamente para dentro do castelo de mármore negro.

‘Não poderia... Aquela garota que eu resgatei há alguns dias seria uma puro sangue?’

A mente do rapaz trabalhava a mil. Ele queria saber... Decidiu seguir a deusa.

Ele praticamente correu atrás da deusa, para dentro do castelo. Avistou-a entrando em uma porta, no andar de cima, logo após um lance de escadas. Harry correu degraus à cima e entrou logo atrás da deusa, que parecia não ter percebido sua presença.

Harry parou para observar o local. Era um escritório. A deusa, que estava parada com a menina ainda no colo, pigarreou.  

—O que queres, Perséfone?- uma voz grossa e rouca ecoou no local. -Estou ocupado.

—Tão ocupado que não pode nem parar para se preocupar com a própria filha, Hades?- a deusa perguntou.

O deus, que estava de costas, sentado em uma cadeira, virou-se e encarou a mulher com a criança no colo. Levantou-se e parou a frente das duas. Observou a menina, que estava chorando. Ele colocou ambas as pontas dos dedos indicadores e do meio nas têmporas e começou a massageá-las, fechando os olhos.

—Você veio até aqui para me mostrar que ela está chorando?!- ele falou meio indignado. -Por favor, Perséfone. Crianças choram, faz parte da vida delas!

—Hades, ela está estranha e isso já faz meses!- a deusa colocou a menina de pé no chão e olhou o marido. -Ela tem falado nomes de países e números... Isso não é normal.

—Perséfone... Ela não é normal! Seria impossível ela desenvolver algum tipo de dom, ela é muito nova.- ele explicou. -Agora, poderia tirar ela daqui? Essa choradeira está me dando enxaqueca... Ainda preciso saber o que está causando tantas mortes fora do comum nos continentes. E descobrir um modo de trazer todas essas almas para aqui o mais rápido possível.- ele virou-se de costas para ela.

—Como sempre... O trabalho, depois a família.- ela sussurrou. 

—Preste atenção Perséfone...- ele suspirou, virando-se para ela novamente. -Eu só faço isso para proteger vocês duas. Eu estou praticamente me sobrecarregando, então não diga que eu não me importo com vocês.

—Você pode até dizer isso, Hades... Mas, mesmo protegendo, você nunca está presente!- ela se exaltou. -Você sabe quando foi a última vez que desfrutamos de uma conversa amistosa? A última vez que você me disse ‘eu te amo’?- ela soltou tudo que estava preso em sua garganta.  -Já faz anos, Hades. Dois longos anos que mais parece que estou casada com um fantasma do que com um deus. Eu adormeço e você não está lá, eu acordo e você novamente não está lá. E isso se repete todos os dias.-ela passou as mãos pelos longos cabelos castanhos. Seus olhos estavam começando a ficarem molhados. -Eu... Eu estou cansada de tudo isso, Hades...

—Me desculpe se não sou presente, Perséfone...- ele falou baixo e friamente. -Mas essa foi a minha criação. Eu sempre fui o excluído... Aquele que sempre viveu sozinho... Você não está acostumada com isso, afinal foi criada num meio onde todos a adoravam... Onde eles a enchiam de mimos...  Mas eu sou assim, Perséfone.

—Eu pensei que, me casando com você, eu poderia até amolecer o gelo desse seu coração... Até pensei ter conseguido quando descobri que estava grávida, mas vejo que eu estava enganada.- ela deu uma leve fungada. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Hades ia retrucar, mas alguém o impediu.

—PAREM! POR FAVOR... PAREM! - a garotinha, que agora estava de joelhos no chão, gritou.

Os adultos rapidamente lhe direcionaram seus olhares. A menina estava com as mãos nas orelhas e balançava a cabeça. Ela foi envolta pro uma aura negra e começou a sussurrar palavras em grego. Seus olhos adquiriram a cor negra e ela arfava.

Hades pegou no braço da esposa e a puxou para trás, abraçando-a.

Η άδικα σκοτώθηκαν, οι ψυχές τους θα γίνει η συγκομιδή τώρα.a menina, agora sem as mãos nas orelhas e com o olhar fixo em um ponto, sussurrou. Φθάνουν μόνο τους στόχο, να φτάσουν το Elysium. a menina fechou os olhos com força e gritou. (Notas à *: Os injustamente mortos, terão suas almas ceifadas agora. Que eles alcancem o seu único objetivo, que alcancem o Elísio.)

Foi nesse exato momento que Hades sentiu a energia de novas almas adentrando em uma velocidade incrivelmente rápida no seu reino. Eram milhares, e a cada segundo chegavam mais... Até que, de repente, pararam.

O casal de deuses ainda olhavam atônitos para a menina, assim como certo semideus ao fundo da sala. A menina parou de gritar, endireitou as costas e seus olhos voltaram à cor original – castanhos – e ela começou a ofegar. Logo, o cansaço atingiu-a e ela caiu desmaiada.

—HELENA!- Perséfone se soltou dos braços de Hades, que ficou estático no lugar, e correu até a menina no chão. Pegou-a no colo e chacoalhou-a. A menina não reagia. Mais lágrimas começaram a escorrer pelos olhos da deusa. -Hades! Por favor...- ela olhou na direção do marido, esperando alguma reação dele. -Hades!- ela exclamou mais uma vez e ele pareceu ouvir. O deus piscou algumas vezes e logo seguiu até a esposa.

—Acho que você deve chamar Apolo...- Hades falou baixo. A deusa olhou para ele com os olhos levemente arregalados. -Tudo bem...- ele colocou uma mecha de cabelo atrás de sua orelha. -Só ele saberá.- limpou com os polegares as lágrimas que escorriam e deu-lhe um rápido e casto beijo na boca e beijou a testa da filha. Ajudou a esposa a levantar-se e ela seguiu para fora do escritório.

O deus apertou a ponte do nariz, fechando os olhos, nervoso. Sem dúvidas, a filha havia desenvolvido um dom muito poderoso. Ele poderia até tirar proveito disso, mas... Era errado usar a própria filha para beneficiar-se. Não, ele não cometeria esse erro e acabar magoando -mais ainda- Perséfone. Hades resolveu verificar seus gráficos.

Enquanto isso, o semideus filho de Poseidon não acreditava no que havia acabado de ver. O rapaz de olhos verdes estava com a boca entreaberta e olhos arregalados, atônito. Uma garotinha de três anos de idade tinha o poder de ceifar diversas almas ao mesmo tempo... Harry franziu o cenho. Seria possível aquela garota que ele salvara ser a garotinha ceifadora de almas...? Uma puro sangue, filha de Hades e Perséfone?

Antes que Harry pudesse raciocinar, o sonho mudou.

—_//__

Harry se encontrava agora na Sala dos Tronos, no Olimpo.

Lá, os doze olimpianos estavam dispostos em seus tronos na forma de titãs. Ao que parece, estavam para começar mais um Conselho Olimpiano, quando as grandes portas da sala foram abertas e duas figuras de preto entraram caminhando calmamente. Eram Hades e Perséfone.

Zeus, tentando não mostrar sua surpresa, assumiu uma expressão de indiferença.

—Mas vejam só! Hades e Perséfone...- era possível notar o ar de ironia em sua voz. -O que os traz aqui?

—Garanto que se fosse pro mim, nem olharia para ti, irmão.- Hades respondeu com frieza. Perséfone deu-lhe uma cotovelada na costela. -Mas, como foi a pedido de minha esposa, eu tive de vir.

—Então diga-nos! Qual o motivo de terem vindo até aqui?- Zeus perguntou.

—Digamos que nos últimos vinte anos aconteceram muitas coisas...- O deus do submundo começou. -Eu e Perséfone cremos que vocês devam conhecê-la.

Conhecê-la?- O deus dos mares perguntou. -Conhecer a quem?- Hades dirigiu um olhar a esposa, que virou-se.

—Pode entrar, querida.- ela chamou.

Logo, uma pessoa entrava na Sala dos Tronos. Tinha cabelos e olhos castanhos, que eram acompanhados de pele pálida e com bochechas levemente rosadas. Usava uma túnica grega negra, assim como as sandalhas, e o cabelo arrumado em uma trança de lado. Sua expressão era apática. Ela parou ao lado dos dois deuses e inclinou-se levemente para frente, curvando-se.

—É um prazer conhecê-los, Olimpianos.- logo após ela endireitou as costas e colocou as mãos juntas na frente do corpo.

Todos os olimpianos -menos Apolo- estavam confusos e surpresos, inclusive Harry.

— E você seria...?- Poseidon perguntou.

—Meu nome é Helena.- ela começou. -Sou a princesa do Mundo Inferior. Filha de Hades, deus do submundo, e de Perséfone, deusa da primavera e das flores. Sou a deusa da morte.**

Os deuses estavam com seus olhos arregalados. A mais surpresa era Deméter, sem dúvidas.

—C-como?- a deusa da agricultura até gaguejava. -V-Você... Filha d-desses d-dois?- ela apontou. A garota apenas assentiu com a cabeça.

—Hades! Explique isso!- Zeus falou em tom alto.

—Creio que não devo explicar como os bebês surgem, estou certo Zeus?- Hades estava com um sorriso de canto sombrio. -Mas sim, tudo o que ela falou é verdade. Ela é mesmo a deusa da morte.

—Deusa? Por favor, Hades... Só por que ela é sua filha não pode ir dando ‘cargos’ para ela.- Zeus falou.

—Eu lhe dei esse cargo devido a seus dons.- Hades respondeu indiferente.

—E estes, quais seriam?- Zeus perguntou.

—Creio que não lhe interesse, Zeus.- Hades falou.

—Hades!- Perséfone falou, indignada.

—Como ousa...- Zeus começou, mas foi interrompido pelo deus do submundo.

—Eu lhe conheço, irmão. Você provavelmente planejaria algo mirabolante para ir atrás de Helena e capturá-la.- O deus do submundo falou com raiva.

—Assim como você fez com a minha filha?!- a deusa da agricultura perguntou.

—Mamãe!- mais uma vez Perséfone exclamou, agora olhando para a mãe.

—Não me venha com essa, Perséfone.- Deméter começou. -Você me traiu. Procriou com esse ser e teve aquela coisa ali.- apontou para Hades primeiro e depois para Helena, que abaixou a cabeça.

—Não chame minha filha de coisa!- A voz de Perséfone ecoou pelo salão.

—Mas é isso que ela é!- a deusa da agricultura falou. -Assim como você se tornou para mim!

—Já chega, Deméter!- Hades exclamou. -Você pode até me insultar, mas eu não vou admitir que faça isso com minha filha ou com minha esposa.- ele apontou para a deusa no trono. A deusa ia retrucar, mas foi interrompida.

—PAREM!- eles pensaram que fora Zeus quem havia gritado, mas a voz que ecoou era feminina. Todos os deuses dirigiram seus olhares em direção da voz, inclusive Harry, que observava tudo. A pessoa que encontraram foi Helena. A garota estava com o rosto manchado pelas lágrimas que escorriam de seus olhos. Suas mãos estavam cerradas em punhos e ela tremia. Ela olhou para os deuses, piscando diversas vezes para desembaçar seus olhos, uma vez que as lágrimas lhe atrapalhavam. -Vocês não têm vergonha? Ficam aí, brigando como crianças enquanto eles morrem por vocês?- Ela apertou os olhos e mais lágrimas rolaram por suas bochechas.

—Do que você está falando, garota?- Deméter perguntou.

—É exatamente isso!- Helena exclamou. -Eles morrem por vocês! Morrem para que, ao menos, seus pais tenham orgulho deles. Mas quem disse que vocês dão atenção?! Preferem discutir por coisas bobas ao invés de se importarem com suas próprias proles!- a garota falou tudo de uma vez.

—Escute aqui, nós nos importamos com eles! Sabemos o quanto sofrem...- Zeus falou.

—VOCÊS NÃO SABEM NEM DA METADE DA DOR DELES!-  a garota berrou. Quando ela fez isso, Hades pôde sentir que, pelo menos, duzentas e quarenta e sete almas haviam adentrado ao Mundo Inferior. -Apenas eu sei o quanto eles sofrem... Eu sinto a dor deles. A cada morte de um deles é como se ácido corresse livre pelas minhas veias.- Ela arranhou a parte interna do antebraço levemente. -A garganta fecha e eu não consigo respirar...- ela tocou a garganta. -A visão fica escura e, de algum modo, ironicamente, eu acho forças para gritar...- Os deuses olhavam-na horrorizados. -Seria fácil se fosse apenas um, mas não são...- Novamente as lágrimas escorriam por suas bochechas. -De todas as almas ceifadas por minuto, pelo menos quinze por cento são semideuses...***- ela olhou para eles.

—Como você...- A deusa da sabedoria havia começado, mas logo se calou.

—Tudo precisa de um equilíbrio.- ela fungou, limpando o rosto e assumindo uma expressão séria. -Se essa norma não é seguida, tudo o que resta é o caos.

—Helena, filha...- Perséfone começou a falar, se aproximando.

—Não, mãe!- a garota se afastou. Logo olhou para os deuses. -Todos vocês são uns tolos!

—Meça suas palavras! Você sabe que eu posso...- Zeus começou, mas foi interrompido por ela.

—Me matar?- ela soltou um riso pelo nariz. -Vá em frente! Mate-me! Mate a morte, Zeus.- ela olhou para ele. Os olhos da garota estavam em uma dura batalha de cores, entre o preto e o castanho. 

—O que quer dizer com isso?- Poseidon perguntou. Helena revirou os olhos.

—Oras, senhor deus dos mares, a resposta é muito simples.- ela fora irônica. -Sou eu quem ceifo as almas. Então, tecnicamente, se aquele homem ali, que se acha o todo poderoso, me matar, estará matando a própria morte.- Helena suspirou. -Se bem que esse é um pensamento completamente estúpido. Não se mata um deus. Quanto mais a própria morte.- concluiu a garota, rindo de escárnio.

—Helena! Você está passando dos limites!- fora seu pai que lhe repreendera.

—Eu?- ela apontou para si mesma. -Eu nem sei por que você está se importando com isso!- ela cruzou os braços. -Mas adivinhe só! Durante essa discussão inútil você recebeu mil e duzentas almas! Mas quem está contando, não? Você esta no lucro por minha causa, como sempre!- ela exclamou. Mais uma vez todos os deuses olharam estupefados para a garota.- Querem diria, agora são mil trezentas e dois.-  Ela estava com uma expressão sombria e uma nuvem de escuridão passou por seus olhos. -Eu nem sei como vocês são chamados de deuses e estão no topo de tudo, tendo atitudes tão infantis.- Ela virou-se e saiu correndo.

Os deuses estavam estáticos, assim como Harry. Perséfone não perdeu tempo e foi correndo atrás da filha, sem se importar se seu marido estava em seu encalço.

—Bom...- Zeus se recompôs. -Acho que não há mais nada a falar, esse Conselho Olimpiano está encerrado.- Os deuses nos tronos se retiraram, ficando apenas Zeus e Hades. Harry estava se recuperando do choque. A garota que ele havia salvado era uma deusa. E não qualquer deusa. Era a deusa da morte, a ceifadora das almas. Aquela garota era a própria morte. O rapaz prestou mais uma vez atenção nos deuses que haviam ficado na Sala dos Tronos e percebeu que os dois começaram a conversar, mas não pode escutar o que eles falavam, pois o sonho mudou mais uma vez.

—_//__

O semideus de olhos verdes observou o local onde se encontrava agora. Parecia ser o Olimpo, mas esta área era mais escura. O garoto então percebera que aquilo era uma cela. O local exalava um cheiro de esgoto horrível e era completamente imundo.

Harry então escutou alguns murmúrios vindos do lado de fora da cela. Ele caminhou devagar até perto das grades e observou o lado de fora. Havia alguns vultos parados um pouco longe da cela, por isso o rapaz não distinguiu quantas pessoas havia, mas pôde escutar algumas partes da conversa.

—... Ela está sedada agora, mas já vai acordar.- essa voz era masculina e agradável, mas tinha seu tom preocupado. -Você precisa fazer algo. Quando ela recuperar a consciência vai começar a gritar e não vai haver nenhum jeito de pará-la.

—Eu já tentei, mas ela continua recusando-se a ceifar as almas...- essa segunda voz também era masculina, porém era sombria e parecia cansada._Se isso continuar, ela vai acabar sendo engolida pelas próprias trevas que ela carrega em seu corpo.

—Você precisa tentar mais uma vez. Ela é sua filha!- o primeiro homem falou. -Se você sabe das consequências, tem que continuar tent...- a voz fora interrompida por barulhos de correntes sendo movimentadas. Harry olhou para trás e o que viu, lhe deixou horrorizado.

Havia uma pessoa acorrentada pelos pulsos e suspendida no ar. Essa pessoa era Helena. A garota, antes com bochechas rosadas e em boa forma, poderia, agora, ser facilmente confundida com um esqueleto. O corpo da garota era só pele e osso. O rosto estava magro e em algumas partes da pele -dos braços, pernas e ombros- havia queimaduras em carne viva e sangue dourado, já seco, em volta delas. As roupas estavam rasgadas em diversos lugares e ela estava descalça.

Helena começou a piscar e olhar em volta, mas ela mal teve tempo de racionar, pois uma forte dor lhe atingiu e ela fechou os olhos com força, começando a gritar e foi envolta por uma aura negra. O local começou a tremer, tanto que algumas pedras começaram a levitar. Seus urros de dor ecoavam por todo aquele lugar, e isso logo chamou a atenção das duas pessoas que estavam a pouco tempo conversando do lado de fora da cela.

Harry escutou passos rápidos vindo em direção à cela. Ele rapidamente recuou para o outro lado, mas sem deixar de observar tudo. A cela foi aberta e duas pessoas entraram, ambos homens. Um era loiro de olhos dourados. O outro era moreno e com olhos da mesma cor do cabelo. Eram Apolo e Hades. Eles haviam entrado correndo dentro da cela, mas tiveram que se afastar, pois a energia que erradiava da garota era completamente sombria.

—Faça algo!- o deus do sol exclamou. -Dessa vez não há jeito.- o deus do submundo suspirou pesadamente.

—HELENA!- Hades gritou. -HELENA, PARE COM ISSO!- ele gritou mais uma vez e ela abriu os olhos, parando de gritar. Tudo parou de tremer. Os olhos da garota estavam assustadores. Um estava completamente negro, enquanto que o outro estava normal, porém estava opaco. Ela estava com o maxilar travado. A garota focou no homem de preto e olhou-o com raiva.

—Parar com o quê?- a voz dela saia como um rosnado.

—De torturar a si mesma!- ele exclamou. -Desse jeito você vai se sucumbir às trevas!

—VOCÊ FALA COMO SE VOCÊ SE IMPORTASSE!- ela gritou e logo arquejou de dor. A pele na região da bochecha dela borbulhou e uma queimadura apareceu ali. -EU NÃO VOU MAIS CEIFAR AS ALMAS! NÃO VOU AJUDAR-TE A FORTALECER-SE, MESMO QUE ISSO SIGNIFIQUE QUE EU TENHA QUE SUCUMBIR ÀS TREVAS!- ela gritou mais uma vez com o homem e outra queimadura apareceu em seu rosto, dessa vez em sua testa.

—HELENA!- não fora nenhum dos homens na cela que gritara. A voz veio do lado de fora e era feminina. Era a deusa da primavera, Perséfone. O rosto da mulher estava manchado pelas lágrimas e ela tinha olheiras profundas. A deusa entrou na cela, ficando um pouco mais perto da garota acorrentada do que os dois homens. -Por favor, filha... Pare com isso.- a mulher suplicava, em prantos. -Pare de me torturar e de torturar a si mesma...

—Não mãe. Ele merece sofrer!- a garota falou.

—Ele é o seu pai, Helena!- a deusa falou, derramando mais lágrimas ainda.

—NÃO! ELE NÃO É!- ela gritou e sentiu que uma queimadura surgiu em seu abdômen. -Ele mesmo disse que eu não era mais a filha dele! Eu me lembro muito bem!- a garota rosnou. -Eu não vou ceifar essas almas malditas de proles dele, Zeus e Poseidon.****

—FAÇA ISSO POR MIM ENTÃO!- a deusa gritou. -FAÇA ISSO PELA SUA MÃE QUE NÃO AGUENTA MAIS SOFRER!-  a deusa olhou mais uma vez para a filha e viu que ela estava sem reação alguma. Isso fora a gota d’água para a ela.

Ainda chorando, a deusa virou-se em direção ao marido e olhou-o. A expressão dele era de terror. O deus puxou-a contra si, em um abraço protetor e foi nesse momento que Perséfone notou a energia sombria que irradiava às suas costas. Ela conseguiu se virar e viu que a filha estava com os olhos fechados. A aura negra ainda estava a sua volta e, dessa vez, com mais intensidade. As correntes que seguravam a garota foram quebradas, mas ela não colocou os pés no chão. Ela flutuava. Seus cabelos balançavam em um ritmo frenético e ela ainda mantinha seus olhos fechados. Então, um tipo de buraco se formou embaixo dela e de dentro dele algumas sombras saíam. Eram seis no total. As sombras produziam um tipo de chiado que pareciam sussurros.

Helena abriu seus olhos. Eles estavam totalmente negros era possível até enxergar algumas veias saltadas em volta dos mesmos.

­ Η άδικα σκοτώθηκαν, οι ψυχές τους θα γίνει η συγκομιδή τώρα.A garota abriu a boca e começou a sussurrar, juntamente com as sombras.- Φθάνουν μόνο τους στόχο, ela gesticulou com as mãos, abrindo os braços.- να φτάσουν το Elysium *- olhou para cima e fechou os olhos. O buraco abaixo dela abriu-se um pouco mais e começou a sugar as sombras. Os deuses se afastaram com medo de serem sugados também. (Notas à *: Os injustamente mortos, terão suas almas ceifadas agora. Que eles alcancem o seu único objetivo, que alcancem o Elísio. PS: Mesma citação de anos antes.)

Logo, alguns vultos vindos de fora também estavam sendo sugados pelo buraco, em uma velocidade incrível. Hades sentia que almas entravam, depois de tanto tempo, no Mundo Inferior. Não demorou muito e logo o buraco fechou-se. A garota caiu de joelhos no chão, ofegando e com a mão na cabeça. Sua pele estava completamente limpa, sem nenhuma queimadura, e ela havia adquirido um aspecto saudável novamente.

—Helena...- sua mãe disse baixo, porém um grito impediu-a de continuar.

—FINALMENTE! ACHEI QUE ELA NÃO IA MAIS PARAR.-  todos viraram em direção do dono da voz. Era Zeus. Ele estava parado perto das grades da cela e Ares estava ao seu lado. -Pegue-a. Volte aos treinamentos.- ele disse para o deus da guerra, que prontamente pegou a menina pelos pulsos e puxou-a brutalmente. A garota começou a gritar.

—ME SOLTE, SEU ENERGÚMERO DESGRAÇADO!- ela tentava se soltar, sem sucesso. O deus ignorou-a e continuou a puxá-la para fora da cela, deixando os outros para trás.

—Solte-a! Por favor...- a deusa da primavera suplicou. -Hades, faça alguma coisa!

—Nem pense nisso, irmão...- Zeus falou sério. -Nós temos um trato, não há nada que você possa fazer. Você me entregou a garota. Ela é minha propriedade agora.- O deus dos deuses virou-se e saiu andando.

Perséfone começou a chorar e caiu de joelhos no chão, colocando as mãos no rosto. Hades foi tocar no ombro dela, porém ela recuou.

—Não me toque!- exclamou, ainda chorando. -Não acredito que você fez isso com a própria filha!- ela levantou-se e deu um tapa na face direita do deus, fazendo com que ele virasse o rosto. Ela correu até Apolo e abraçou-o. O deus do sol observou o outro deus, como se pedisse desculpas, porém Hades não percebera. Estava perdido em pensamentos.

Harry tinha seus olhos arregalados. Tudo que presenciara ali era assustador. O sonho tremeluziu e o rapaz acordou.”

—_//__

Ele estava suando frio e ofegante. Apertou a porte do nariz, fechando os olhos. Era informação demais para absorver.  Foi então que ele abriu os olhos, assustado. Gritos, ele ouvia gritos de dor.

Harry levantou tropeçando de sua cama e correu para fora do chalé. Quando abriu a porta, notou que havia vários outros semideuses correndo em direção à Casa Grande. Todos estavam meio atordoados, pois escutaram os gritos. Temendo que fosse um ataque, alguns até estavam com armas nas mãos.

O filho de Poseidon saiu em disparada até a Casa Grande, pois ele sabia de quem eram aqueles gritos. E ele queria saber o que estava os causando.


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Notas finais do capítulo

** Todos sabem que o Deus da Morte é Thânatos. Na minha fanfic, é a Helena.
*** Estimativa criada por mim. 15% é um número aleatório, mas, se fossemos fazer uma conta, seriam, de 102 pessoas, 15 seriam semideuses.
**** Se não me engano, em um dos seus livros, Rick Riordan citou que umas das Grandes Guerras foi travada por filhos dos três grandes. Esse acontecimento, então, teria se passado nessa época.
Kissus, ~StrangeDemigod



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