“-Você...- ela falou, sem piscar. -Eu acho que eu conheço você...”.

—Conhece...?- o loiro arqueou as sobrancelhas, em expectativa.

—Vi você...- a morena falou e logo em seguida fechou os olhos, colocando a mão na têmpora, fazendo uma expressão de dor. -Ai!

—Está bem?- Apolo tentou se aproximar dela, mas ela recuou.

—Sim, estou bem.- ela respirou fundo. O loiro sorriu de canto, observando-a. “Mesmo nesse estado, ela continua se esquivando para não machucar ninguém.” A garota franziu o cenho. -Há algo de errado, senhor?

—Não, não há.- Apolo balançou a cabeça.

—Tem certeza de que não está me confundindo com outro alguém?- ela o olhou. Ele negou.

—Você realmente não se lembra de mim?- o loiro perguntou.

—Esses olhos...- ela murmurou e em seguida, mais uma vez, recebeu uma pontada na cabeça. Fechou os olhos e franziu o cenho.

—Helena?- Harry chamou-a preocupado.

—Calma, eu estou bem... Só uma dor de cabeça.- ela falou. Os semideuses do acampamento haviam percebido o clarão na praia e todos estavam se dirigindo para lá. -Acho que só preciso de um descanso. Obrigada pelo passeio, Harry.- ela sorriu para o moreno. -Com licença, senhor.- ela começou a andar na direção oposta aos semideuses que chegavam, ignorando os olhares sobre ela, mas foi parada por alguém que segurou seu pulso. Olhou para trás e viu que o loiro a segurava.

—Senti saudades, ‘Leninha’.- ele falou e foi como se o mundo todo parasse e tudo a sua volta começasse a piscar. Aquele apelido... Só uma pessoa a chamava assim. Ela arregalou os olhos e uma lágrima escorreu por sua bochecha.

—Eu também, Apolo.- sussurrou. Ele abriu um sorriso. Ela então piscou, olhando para o seu pulso, que o loiro ainda segurava e se soltou, saindo correndo, trombando com alguns semideuses.

Harry ia correr atrás dela, mas Apolo o impediu, colocando seu braço na frente do moreno. O filho de Poseidon, confuso, olhou para o loiro, que nada disse.

Os outros semideuses se aproximaram, com os filhos de Apolo na frente. O loiro mais velho sorriu para todos e os cumprimentou. Seus filhos estavam eufóricos, afinal não é todo dia que um deus visita o acampamento, principalmente Apolo, que esteve muito ocupado.

Quíron se aproximou e cumprimentou Apolo. Em seguida olhou para Harry. O moreno estava de braços cruzados e já ia se retirando e, mais uma vez, foi impedido.

—Harry, preciso conversar com você.- Quíron disse e o filho de Poseidon o olhou. -Apolo, nos acompanha?

—Com certeza. Também preciso falar com ele.- o loiro sorriu.

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—Vocês podem, por favor, me dizer o que está acontecendo?!- Harry exclamou.

Ele estava no escritório do Sr. D. que, além do mesmo, estavam Apolo e Quíron presentes. Os três mais velhos conversavam entre si há algum tempo e haviam deixado Harry de lado, confuso. Os outros pararam de conversar e olharam para o moreno mais novo.

—Você tem certeza de que é ele Apolo?- Sr. D olhou para ele, com uma expressão de desconfiança.

—Ela me disse que é ele.- Afirmou com a cabeça.

—Você sabe que ela nunca bateu bem da cabeça. Aquela maluca...- Dionísio revirou os olhos. -Pode ser qualquer outro.

—Helena não se relacionou com nenhum outro filho dele.- Apolo falou. -Ela especificou que era um Filho de Poseidon ao qual ela criou laços afetivos.

—E desde quando ela prevê o futuro? O vidente aqui é você, oras.- Sr. D cruzou os braços. Dessa vez quem revirou os olhos foi Apolo.

—Cavalheiros...- Quíron soltou um pigarro. -Vocês esqueceram Harry.

—Ah! Desculpe.- Apolo coçou a nuca, em sinal de nervosismo. Dionísio bufou.

—Sinceramente, nem sei por que temos que falar com ele.- O deus do vinho falou.

—Bom Harry, certo?- Apolo ignorou Dionísio. O mais novo assentiu. -Pois bem... O que você sabe?

—O que eu sei sobre o quê?- o moreno olhou para o deus com uma expressão de confusão.

—Helena.- disse simplesmente.

“Acho que não muito, em comparação a vocês.”-Só algumas poucas coisas.- respondeu.

—Como quais?- o loiro indagou.

—Só o que Quíron me contou, além de eu ter sonhado mais algumas coisas e aquele fantasma também deu uma ajudinha.- Harry divagou.

—Espere um segundo!-Dionísio exclamou. -Você sonhou? Sonhou o quê, exatamente?

—Foi tudo muito embaralhado.- apertou a ponte do nariz. -Lembro de uma garotinha que ceifou almas; uma moça que se revoltou contra os Olimpianos, lhes jogando algumas verdades; e de uma mulher, completamente machucada e frágil, que se revoltou contra o próprio pai. Todas elas, a mesma pessoa, em estágios diferentes de sua vida.- os outros presentes tinham seus olhos arregalados.

—Como você foi capaz de sonhar com isso?- o loiro murmurou.

—Não sei... Não controlo meus sonhos...-deu de ombros.

—Agora eu me lembrei.- pareceu que uma lâmpada se acendera na cabeça de Quíron. -Você também citou um fantasma.

—Sim... Acho que o nome dele é Nicklaus.- o moreno disse.

—Aquele...- Apolo bateu forte o punho contra a mesa do diretor do acampamento, produzindo um som alto. -Ele é o único que sabe?

—Provavelmente sim. Você não acha que se os outros soubessem, viríamos aqui um bando de deuses prontos pra uma chacina.-Dionísio comentou. O deus do sol soltou um suspiro.

—Era só uma questão de tempo.- ele murmurou.

—Como assim?- Harry estava confuso.

—Helena não iria ficar longe de suas origens por tanto tempo.- se virou, olhando o moreno de olhos verdes. -Naquela noite, quando ela fugiu, eu sabia que deveria ter impedido... Mas eu não aguentava mais.

—Nenhum de nós aguentava.-Dionísio comentou. -Zeus estava louco pelo poder. Ele não viu o que realmente estava fazendo, Apolo.

—Mas Hades é culpado também. Por ter feito aquele acordo.-o loiro disse, melancólico.

—Hades pensou que estivesse protegendo a esposa, mas foi tolo o suficiente para acreditar em Zeus.-o deus do vinho cruzou os braços. -E nós tolos por não ter contado o seu verdadeiro objetivo.- Harry olhava os deuses, estavam abatidos. -Pelo menos você conseguiu ajudar ela nesses últimos três anos...

—Três anos de setenta!- exclamou. -E os outros sessenta e sete anos? Onde ela esteve? Por que perdeu a memória? São questões que não sabemos se vamos conseguir as respostas.- o loiro discutia com o outro deus.

—Cavalheiros... Acho que temos um problema.- Quíron disse, olhando através da janela.

Rapidamente, os dois deuses e o semideus se aproximaram da janela por onde o centauro olhava. Próximo ao refeitório, uma multidão estava formada, parecendo muito aflitos. Todos saíram do escritório e foram correndo até lá.

Quando chegaram, passaram por todos até chegar ao centro. Rachel estava “convulsionando”. Ela estava prestes a fazer uma profecia.

Apolo pediu para que todos se afastassem, e todos o fizeram. Quer dizer, quase todos.

Helena permaneceu estática no lugar. Ela, que tinha fugido para seu quarto, ouviu uma movimentação e também viu Rachel caiada de joelhos. Preocupada, resolveu ir até lá, chagando um pouco antes dos homens que estavam em “reunião” no escritório do diretor do acampamento.

—Helena, você precisa se afastar.-Apolo disse, mas a mesma não deu ouvidos. Continuou estática, sem piscar, olhando fixamente para a ruiva de joelhos, que, de repente, curvou-se para frente e seus olhos ficaram verdes, um verde brilhante. Ela abriu a boca para falar, e, quando o fez, pareciam sete Rachel’s falando ao mesmo tempo.

“Ao som de uma música, um novo amor se revelará

Então... A filha das Flores e dos Mortos num sono profundo cairá

O filho do Mar, O filho do Sol e o filho da Guerra terão de encontrar...

A foice perdida antes que Ele possa se rebelar.”

Então, a ruiva desmaiou. Rapidamente, alguns foram ajudá-la, a carregando para sua gruta. Outros ficaram temerosos. Quíron tentava acalmá-los.

Apolo suspirou, passando uma das mãos pelos cabelos. Olhou para Helena e a mesma ainda estava sem reação. Ele foi, calmamente, se aproximando da morena, assim como Harry, que tinha percebido que ela ao se movia há minutos. Ambos chegaram e ficaram de frente a ela. Os olhos dela estavam opacos e ela não respirava. O deus do sol entrou em pânico por um segundo, mas não teve tempo de reagir, porque a garota focou em ambos os homens à sua frente e sorriu sem mostrar os dentes. Os olhos dela estavam completamente negros.

—Eu venci. É hora de acordar.- foi tudo o que disse, antes de cair desmaiada no chão.