Lua de Primavera escrita por Rina Cruz


Capítulo 1
Quando as flores desabrocharem




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  Olhando para a noite de primavera, meus suspiros lânguidos são arrastados pela brisa gelada e se misturam ao céu monocromo de Abril. Por mim passam indo e vindo várias pessoas de várias idades, tamanhos, cores e sonhos, mas por alguma razão eu sou invisível aos seus olhares. Parei e pensei comigo se eram eles que estavam presos em seus próprios mundos e só conseguiam enxergar um único caminho, ou se era eu que estava escondido no meu próprio mundo, desejando concluir a minha promessa.

     Mesmo o tempo estando tão frio e escuro, as cerejeiras continuarão florescendo independentes. E a imagem do seu rosto marcado por cicatrizes e sofrimentos veio em minha mente, e quando eu te perguntei se você estava bem naquele dia, você apenas me olhou profundamente com seus olhos claros e respondeu que estava tudo bem. Seu sorriso apagado e seu corpo sentado sobre o banco da praça demonstrava inquietação, e eu sabia que você não queria aguentar em silêncio enquanto observava minhas costas sumirem por entre as montanhas. Era egoísta demais.

   Sei que fui egoísta e ainda sou, mas eu queria que você soubesse que eu estaria sempre com você e que nossos laços jamais sumiriam. Oferecendo minha mão e a entrelaçando por seus dedos cálidos e delicados, a lua presenciou a marca da nossa promessa de que estarmos sempre juntos.

      Separados fisicamente, cada um buscava um pedaço que faltava da lua cheia. Uma parte da lua fora arrancada de você quando parti, o que fez com que você se sentisse incompleta e o brilho da minha lua se apagou no momento em que cavalguei em direção a uma estrada de carnificina. Eu buscava a todo custo trazer de volta a luz que iluminava a estrada pela qual meus pés traçavam incessantes. Nossos laços guiariam meu caminho, reluzindo mais que a mais pura prata e brilhando mais que a maior fase da lua.

       Agora aqui sentado no lugar em que nos despedimos, observando o céu cheio de estrelas, as memórias amargas da minha partida nublam a minha mente. Nós brigamos pelos nossos motivos, e mesmo sendo tolo você me desejou boa sorte e eu pensei que nossos laços haviam se desmanchado, como uma pétala de cerejeira voando pela brisa para longe de casa. Mas eu sabia que aquilo foi um modo de você se proteger da dor, de tentar desfazer a promessa daquela noite intensa de abril, mas eu sabia, eu queria acreditar que nossa promessa estaria firme e forte.

       Mesmo distantes, continuávamos buscando o que faltava para nós. E em um salto, comecei a correr para as maiores e mais floridas cerejeiras, onde prometemos nos encontrar sobre a lua cheia. As pessoas finalmente erguiam seus olhares para mim, seus rostos mostravam uma expressão além da vazia e sem vida que eu costumava enxergar.

      Nós dois mudamos como pessoas, mudamos nosso modo de ser e de agir, da mesma forma que as cidades mudam à medida que elas crescem e se deslocam de lugar, formando suas grandes montanhas de concreto. Pergunto-me se você está bem, o que está fazendo e muitas outras perguntas que latejam minha mente nevoada. Mesmo que eu não te encontre, quero que você tenha uma boa vida e que seja muito feliz. Mas mesmo assim... Mesmo assim, eu não conseguiria te esquecer jamais.

      O que eu tinha não era a verdadeira felicidade na qual eu tanto buscava. A luz da minha lua era você e seus defeitos e qualidades, sorrisos e amarguras e sua perfeita imperfeição que era simplesmente a mais linda já vista por meus olhos castanhos. A luz da sua alma pura e reluzente era a metade que me faltava da lua, no escuro infernal da meia noite. Quando seus cabelos reluziram lisos e dourados por entre as árvores, nossos laços se entrelaçaram e eu pude ver tudo ao redor e me sentir visto novamente. Eu reluzia mais que a prata, você brilhava mais que a maior fase da lua.

    Para nesse dia então, quando as cerejeiras desabrocharem, seus olhos cheios do mesmo sentimento de amor de quando nos separamos me fitarão e nossas mãos vão se entrelaçar como fios, e assim a lua testemunhará o cumprimento de uma promessa de amor verdadeiro.


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