Astronaut: ReFlying escrita por Kaline Bogard


Capítulo 35
Extra (Oficial) - 03


Notas iniciais do capítulo

Adeus e obrigada pelos peixes!! ♥



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— E essa não é uma porra fudida de chique?! — Wade Wilson exclamou pela segunda vez, olhando ao redor com orgulho e peito estufado.

— Com certeza — Peter Parker respondeu com diversão, devidamente impressionado observando o amplo salão de refeições. E o lugar estava lotado: diversas mesas espalhadas sobre o chão de piso reluzente. Um lustre de cristal era a peça central, auxiliado na iluminação por imitações de menor tamanho, adornando o teto alto e espelhado. Cada mesa redonda acomodava pessoas trajadas formalmente, com roupas elegantes. As mulheres faziam questão de exibir joias que poderiam pagar o resgate de um rei.

— A reserva aqui tem um ano de espera — Wade ajeitou a lapela do terno azul escuro — Mas mexi uns pauzinhos...

— Tony...? — Peter matou a charada fácil.

— Leu minha mente, baby boy? Caralho, que sexy.

— Wade — Peter recriminou e fez um gesto na direção da adolescente que os acompanhava. Elle, filha de Wade, usando um vestido vermelho deslumbrante, que destacava a pele amorenada e a cascata de cabelos negros e bastos. Os três iam comemorar não apenas seu aniversário de quinze anos, mas também a decisão legal definitiva que dividia a guarda da jovem entre os avós maternos e Wade Wilson. Depois de uma longa batalha judicial de quase dez anos, desgaste e esperança que nunca vacilou; pai e filha poderiam ter um convívio mais estreito.

O maitre limpou a garganta e acenou que deveriam segui-lo. Wade segurou a mão de Peter, a aliança novinha reluzindo no anelar esquerdo, e fez uma mesura para que a filha fosse à frente.

— Mas olhem essa caralha grã fina. Se eu soubesse tinha feito faculdade pra ricaço — ia dizendo em bom tom, ganhando olhares enviesados. Tanto pelo tom de bazófia quanto pela aparência exótica. O rosto marcado por chagas sempre chamavam atenção.

Eles foram levados à mesa do centro do salão, claramente a de honra.

— O menu, cavalheiros. Aqui, jovem dama — o educado funcionário reverenciou de leve e afastou-se dando privacidade.

Wade olhou para Peter e para Elle:

— Eu disse: um dia teremos um jantar num lugar fudido de tão bom. E um jantar em família. Demorou, mas vinho bom é vinho antigo.

Peter sorriu para o companheiro, emocionado pela lembrança que resgatava anos no passado, quando Wade entrou em sua vida como se fosse um verdadeiro furacão, destruindo crenças e transformando o mundo do rapaz.

“Demorou” não era suficiente para resumir aqueles quase dez anos. E, ao mesmo tempo, explicava muito bem. Porque não foi fácil, nem rápido. Wade Wilson era esquizofrênico, seu comportamento não se encaixava em nenhum padrão normativo, era um jovem imprevisível e de nenhum filtro. E tornou-se um homem de igual comportamento. Além disso, começou um lado ainda mais misterioso ao trabalhar para a SHIELD depois de ser aprovado no programa de recrutamento junto com Jéssica Jones, com quem tinha algumas... “tarefas” secretas. Não poucas vezes Wade voltou ferido dessas investidas das quais nada podia dizer a Peter e que geraram medo e insegurança na relação do casal. Deadpool era uma ameaça constante, um fantasma que volta e meia regressava como um mau pressagio, nem sempre sozinho. Antigos rivais e inimigos de Wade surgiam de quando em quando para tentar tirá-lo do rumo.

E havia as vozes. Companheiras incansáveis e desastrosas, que certos tempos gritavam alto demais na mente do homem, e a quem Peter precisava calar com seus gestos familiares de acolhimento cheios de paciência.

Demorou. Não foi fácil.

Mas valeu a pena.

Pois toda moeda tem dois lados, lados iguais e opostos que equilibram e fazem a peça ter seu valor. A vida com Wade era uma miríade de descobertas e emoções, de momentos de paz raros e, justamente por isso, muito apreciados. Wade enxergava o mundo de um jeito único. E dividia essa visão com Peter, abrindo sua mente e expandindo os horizontes daquele jovem fotógrafo que antes dos trinta anos já visitara mais países do que poderia se gabar e que ganhara mais prêmios com suas fotografias do que um dia sonhara conseguir.

Ah, e tinham Ellie também. A menininha de excelente coração, que se tornava uma adolescente esforçada, a breves passos de desabrochar uma linda mulher.

A família era completa!

Bixufrufru — Wade resmungou lendo o menu muito perto do rosto — Parece ruim só pelo nome... Escargot? Pagar pra comer caramujo? Nãonãonão, isso a gente pega no quintal de casa — e olhou ao redor antes de berrar — Garçom! Já vamos pedir!

O funcionário chamado não foi o único que olhou para a mesa. Miradas cheias de julgamento e incômodo se fixaram nos três, alheios ao desconforto que causavam.

— Pois não, cavalheiro. Basta acenar que virei atendê-los — o homem tentou disfarçar a repreensão sem sucesso.

— Talkey, meu consagrado, no grito é mais rápido. Vamos querer três desses bufuxuxu aqui, suco de laranja para a princesa, com uma rodela de limão, gelo e açúcar. E dois drinques. Aquele fudido de elegante com uma azeitona no fundo da taça, sacou? Tipo cabo longo... bem elegante mesmo.

O garçom torceu o nariz de leve e reverenciou antes de se afastar.

— A gente tá se saindo bem, hum? Petey? De comportamento? — Wade perguntou para o companheiro. Não se preocupava muito em ser educado, mas queria que aquela noite fosse especial para os três. Sua filha era oficialmente “sua filha”, com direito a morar na casa Parker-Wilson e passar os natais com a tia May, que ia velhinha, velhinha, mas ainda cheia de energia. Ou participar das reuniões anuais com os Avengers. O grupo amadureceu e se dividiu para conquistar, mas todos arrumavam um tempo para se reencontrar e comemorar o sucesso que cada um deles alcançava na vida.

— Papai está se saindo muito bem! — Ellie elogiou.

— Sem dúvidas, Wade — Peter estendeu a mão por sobre a toalha de seda branca e tocou-lhe os dedos com carinho.

— Caralho, sou quase um príncipe — riu, antes de levar a mão ao queixo e refletir alguns segundos — Sou rei, com certeza. Do pornô na nossa cama, hum..? Petey?!

— Que horror — a mulher da mesa ao lado reclamou sem conseguir se conter.

— Vou pedir outra mesa, querida — o acompanhante da dama acenou pedindo atendimento.

— Gente fresca — Wade torceu o nariz — Falta de sexo dá nisso e...

— Hum, hum, com licença, cavalheiros, com sua permissão — o aprumado homem chegou com os pedidos e serviu Elle primeiro, colocando à frente da adolescente um grande copo de suco encorpado, com uma pequena rodela de limão adornando e alguns cubos de gelo. Para Wade e Peter, ofertou as solicitadas taças de cristal com cabo longo, com drinque transparente e uma azeitona no fundo de cada uma. E se colocou a entregar os pratos.

Enquanto isso, Peter e Ellie pegaram as bebidas e trocaram um brinde rápido, uma tradição que ambos tinham desde a primeira vez que se reuniram para jantar escondido dos avós da menina, que na época proibiam qualquer tipo de contato com Wade.  Não se importavam com as caras feias que os cercavam, estavam acostumados às reações hostis. A sociedade não estava preparada para acolher esquizofrênicos.

Bebericaram o primeiro golinho quando a voz alta de Wade se fez ouvir:

— Mas que porra é essa?!! Literalmente...

A pergunta foi formulada no segundo em que o garçom terminou colocando sobre a mesa um prato raso com um galhinho de ervas e um molho branco ralo espalhado sobre ela. Era algo tão irrisório que até mesmo Peter e Ellie se surpreenderam, ainda que não externassem o susto com tanta eloquência quanto Wade, que franziu as sobrancelhas pensativo.

— Minha porra parece mais gostosa do que isso! E olha que eu nunca me provei... ei, Petey, diz aí: a minha não parece mais gostosa? — e voltou-se para o garçom: — O bebê mama muito, sabe? Tem que alimentar bem.

— É a entrada para Boeuf Bourguignon, senhor, conforme o pedido.

— Que propaganda enganosa! PROCON!! — Wade olhou em volta indignadíssimo com a iguaria servida — Isso lá é rango que se ofereça?! PROCON!!

— Restaurante de rico é meio assim — Peter tentou contornar a situação.

O maitre, atraído pela voz exaltada e pelo alvoroço que surgia entre os demais clientes num burburinho crescente, aproximou-se:

— Senhor, peço que cuide de sua atitude. Nosso restaurante exige um nível de educação e o seu comportamento tem soado insultoso aos padrões elevados de...

Um caroço de azeitona cruzou o ar traçando uma parábola perfeita e acertou o homem em cheio na testa, estarrecendo a todos que assistiam. Olhares chocados se voltaram para Peter, que sorria meio sem graça.

— Ops! — ele exclamou. Em noventa e nove por cento do tempo não se incomodava com julgamentos nem com a opinião alheia. Mas estavam diante daquele um por cento que extrapola o limite. Irritou-se com o tom de superioridade do funcionário, tinham todo o direito de estar ali, assim como os demais fregueses.

Ellie foi rir e engasgou com o suco de laranja que enchia suas bochechas. Estava a um passo de cuspir o líquido no arrogante maitre. Peter Parker foi mais rápido!

— Caralho! — Wade riu — Sou uma péssima influência!

=====

I got a hundred guns, a hundred clips, nigga i'm from new York. New York! I got a semi-automatic that spits next time if you talk. IF YOU TALK!! Porra fudida, sou muito mano!! — Wade alardeou em bom tom — Cidade do caralho essa!

— Você não tem nada de mano, Wade — Peter riu.

— Nadinha de nada, papai — Ellie concordou.

— Eu era mano antes das queimaduras, me respeitem e respeitem meu lugar de fala.

Peter e Elle se entreolharam, confusos. Seria verdade que...

— ZOERINHA! Papai era caucasiano. Mas minha alma é de mano.

— Wade! — Peter esbravejou.

A pequena família voltou a andar pela larga calçada da movimentada rua que traçava o perímetro do Central Park. Era noite, e milhares de pessoas caminhavam por ali, com os mais inusitados e imprevisíveis destinos, objetivos. Depois de terem sido gentilmente convidados a se retirar do restaurante, foram comer no parque. Ellie caminhava com graça e equilíbrio sobre o meio fio, desfilando desenvoltura no vestido vermelho e os saltos agulha. Levava um cachorro-quente em cada mão, ora mordendo um, ora mordendo o outro. Peter também tinha um cachorro-quente consigo. E Wade devorava alguns nachos apimentados. A noite estava agradável, uma exceção na rotina de Nova Iorque.

— Nosso jantar em família foi fudido de chique... enquanto durou! — Wade refletiu com um pouco de molho gorduroso escorrendo pelo queixo.

— Wade... — Peter começou.

— A comida de lá parecia péssima — Elle deu de ombros — Eu quase soltei um pum como vingança...

—Ellie!

— Minha garota!

— Seria um pum baixinho, Peter!

— Silenciosa e mortal. Que orgulho da minha prole!

— Não incentive, Wade!! E relaxa, cara. O que importa não é o jantar chique. O que importa é a família — ele afirmou com o coração quentinho. Nunca ficaria em um lugar que não aceitasse e respeitasse Wade Wilson, ainda que o homem fosse o rei da inconveniência.

— Que isso, marido?! — Wade soltou o resto dos nachos, largando-os no chão para segurar Peter nos braços e rodopiar com ele pela calçada, quase acertando alguns transeuntes — Esse é o homem que eu fodo todas as noites, Nova Iorque!! Te amo, meu baby boy — e encheu o rosto de Peter com beijinhos apaixonados.

— Final Feliz, escrito está... Que má situaçãoooooo — Elle começou a cantar mais desafinada do que se esperaria de uma adolescente tão bonita — Sua liberdade está quase no fim! Domado está o leãoooooooooo.

— Alá, Petey, viramos mocinhos da Disney — Wade gracejou baixinho, os olhos fixos nos de Peter Parker que ria divertido de tudo aquilo. Não era um filme da Disney, claro. Mas a magia estava sim no ar.

— Eu também te amo, Wade.

— E qual é a melhor alternativa da nossa enquete?

— “Wade Wilson tem a pica grande”... — Peter respondeu corando. A brincadeira era da época do Colegial, e ainda assim ficava um tanto envergonhado

— Ah, meu garoto! Dedico essa vitória ao saudoso e querido Stan Lee, ao Tony Stark que bancou a conta e à cara de pau da autora que apareceu do nada seis anos depois pra terminar a porra toda!! Sayonara, trouxas! — terminou o monologo característico de Deadpool, o mercenário tagarela, beijando os lábios de Peter Parker com toda a empolgação que foi capaz de reunir.



PS: O sugar daddy aqui dedica aos iludidos de plantão que leram 35 fodendos capítulos querendo lemon. Digo, dedico aos leitores (que não deixam de ser iludidos) (então...) Detalhes. Não julgo, não tive chance de usar a embalagem de detergente pendurada entre as pernas. Pegaram a referência? Hã? Hã? Hã?! (eu entendi) (se preserva) (é o pinto! Tão grande que parece uma embalagem de detergente!! PINTÃOOOO) (aff, não explica a piada, perde a graça) Deadpool nunca perde a graça, hermanos. Hasta la vista, baby (e ele levantou o polegar! CLASSICÃO!!) (ah, cale a boca). NOS VEMOS NO PROXIMO EXTRA! MENTIRA, NEM TEM! SÓ QUERIA DEIXAR VOCÊ FRUSTRADO! E porque eu não quero dizer a Deus, mas a Deus tem que ser dito. É triste a dor do parto, mas Wade tem que partir. Vou-me já (que tá pingando) (e caminharam rumo ao arco-íris. Fim.). Não consigo parar de falar... (ele não consegue!!) (é... ele não para de falar)...


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Notas finais do capítulo

Ae, pessoas! Seis anos depois... passou tão rápido que eu nem consigo acreditar. Parece ontem que eu estava postando e me divertindo com as reações de vocês! Teve muita gente que pegou o espirito da coisa, teve leitor que ficou irritado com o jeitão do Wade e desistiu de ler até o fim! Teve de tudo nessa fanfic! Mas fico com a sensação de que consegui pegar bem os traços do Wade, dos quadrinhos, não dos filmes.
Enrolei bastante porque tinha uma piada ótima sobre “dark matter”, “botton” e “top”, que realmente são termos científicos usados na teoria, e tinha Tony Stark no meio. Mas desisti dessa piada e coloquei outras porque perdi o fio da meada! Mas era isso ou nunca finalizar!
Tem gente que me pergunta sobre outras fics: “vai terminar?”, eu digo: “tenho intenção, quando? Não sei”. A vida é assim: a gente escreve por diversão, às vezes tá no pique. Às vezes tem coisa demais acontecendo ao redor e as fics vão lá pro fim das prioridades. Então conhece outros fandons e certas histórias perdem o sentido. E então... do nada vem aquela inspiração e a gente termina a trama! Queria ter controle sobre isso, mas aprendi que deixar fluir é sempre a melhor opção!
Abraços e até a próxima, nos encontramos nas pronteiras do universo!! PS: eu também não consigo parar de falar! SOCORRO!



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